A Saga de Tanya, a Maligna Japonesa

Tradução: Matheus Hensley


Volume 1

Capítulo 2.2: O Orbe Operacional Elíneo 95

QUARTEL-GENERAL DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA DO EXÉRCITO IMPERIAL, DIVISÃO DE TECNOLOGIA.

 

A solicitação seguiu de acordo com o formato oficial. O pedido da Segunda-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff passou uma grande sensação de urgência. Pela burocracia sofisticada que era, a Divisão de Tecnologia do Quartel-General de Suprimentos e Logística tinha que aceitar e processar qualquer pedido de transferência submetido por via oficial.

O certo era que ela estava bastante séria quanto a sua vontade de se transferir. O que não foi nenhuma surpresa, já que esta era a sua quarta solicitação se incluíssem as tentativas não oficiais.

Aquelas tentativas anteriores vieram sem documentação, então a equipe conseguiu resolver apenas acalmando a menina, mas a cada solicitação, suas súplicas e fervores aumentavam. Era de se esperar que esse pedido viria. Apesar disso, ao lerem o requerimento para transferência de Degurechaff, todo o pessoal de gestão da Divisão de Tecnologia levou as mãos à cabeça em frustração.

— E então, o que vamos fazer? Vocês sabem muito bem que esses são formulários oficiais. Damos a ela?

A soldada havia se portado de forma digna e permitira ser apaziguada todas as vezes no passado, porém o envio deste pedido mostrava que sua paciência tinha chegado ao limite. No lado do Departamento de Pessoal, as coisas melhoraram na fronte Norden, portanto, em consideração às posições políticas e internacionais, eles estavam no meio do processo de atribuir postos aleatórios na retaguarda aos jovens soldados.

Por conseguinte, não seria problema algum para o QG de Suprimentos e Logística realocar a Segunda-Tenente para um posto qualquer. No entanto, embora fosse uma tarefa fácil, a soldada era valiosa demais no posto em que estava para tirá-la de lá.

— Nem pensar. Eu duvido que exista outro igual a ela capaz de satisfazer as exigências de Schugel.

O engenheiro-chefe von Schugel tinha uma competência incrível, apesar de carecer das demais qualidades, além de seu talento, para poder se vangloriar. O desenvolvimento da próxima geração de orbes juntava o nível básico de coleta de dados com os objetivos de criar e comprovar tecnologias avançadas. Ele havia conseguido cumprir os requisitos delineados pela Divisão de Tecnologia, ao menos nos documentos de planejamento, por mais ambiciosos — para não dizer outra coisa — que fossem.

— Bem lembrado. Não seria melhor também levarmos em consideração a possibilidade que a pesquisa dele finalmente dê certo?

Sua genialidade era proeminente por todo o Império, que fora pioneiro na pesquisa de tecnologia mágica com observação científica. Ao mesmo tempo que a engenharia mágica ganhara reconhecimento como um campo independente da ciência, ainda havia margens de erros e diversos elementos permaneciam relativamente desconhecidos. Schugel fizera enormes contribuições ao levar o campo para o caminho correto, apesar de complicado, e aperfeiçoá-lo.

Se for considerado apenas o elemento de pesquisa, estava mais que claro que os dados e valores teóricos conquistados pelo Arquétipo 95 deram grandes passos. Tal avaliação, entretanto, só era verdade em termos científicos. Avanços revolucionários poderiam ser suficientes para um instituto de pesquisa, mas o Quartel-General de Suprimentos e Logística queria um produto que sustentasse operações militares, então eles precisavam julgar essas questões de forma mais abrangente.

— Por outro lado, mesmo que ela consiga operar o protótipo, seria uma pena acabar com o futuro de alguém tão talentoso.

— Precisamos ter em mente algo a longo prazo. Não há como substituir uma pessoa como ela.

As vozes ecoando dos chefes do departamento expressavam suas preocupações em perder um valioso feiticeiro de talento impressionante. Na realidade, era a competição entre as nações que impulsionava os rápidos avanços na inovação e desenvolvimento da tecnologia militar, tornando raro sacrificar vidas valiosas em nome do progresso científico. Mas acontecia.

O desenvolvimento armamentista foi intensificado em curtos prazos por conta de receios com a defesa nacional, resultando no fortuito acidente em um dos setores sobrecarregados. A lista de pessoas mortas em serviço de jeito nenhum era pequena.

— Concordo. Se olharmos para o futuro, a aquisição, o treinamento e a permanência de feiticeiros competentes também é um motivo de preocupação para o Império.

— Agora eu gostaria de acrescentar uma coisa… tenho noção que a sua idade não pode ser levada em consideração, mas mesmo sendo muito talentosa, ela ainda não passa de uma garotinha. Pesa na minha consciência ter que enviá-la para servir de brinquedo do doutor von Schugel.

Outro fator importante para o Império era que nas forças mágicas e marinhas, ambas com necessidade de se expandir, o aprimoramento do indivíduo só poderia ser feito a partir de treinamentos a longo prazo. Eles podiam produzir orbes operacionais ou navios de guerra em massa, mas não chegavam nem perto de formar uma equipe principal competente e experiente.

Nesse ponto, Degurechaff além de se enquadrar na faixa etária mais nova do exército, também era uma graduada da academia com reais experiências de combate. Tudo isso somava para torná-la um recurso valioso. Seria um desperdício acabar com seu futuro. Ademais, a Armamento Elíneo não era a única fábrica lutando para ser escolhida na intenção de produzir a nova geração dos orbes operacionais do padrão imperial, o que levou a uma situação política problemática. Todos ali presentes tinham a intenção de impedir o escândalo que surgiria com a mídia caso deixassem a promissora portadora da Ataque de Asas Prateadas morrer em serviço.

Sobretudo, a garota era jovem demais aos olhos de qualquer pessoa sensata. Ainda que não levassem isso para o lado da moralidade, era possível que seus talentos melhorassem de modo substancial com o tempo. As habilidades que demonstrara tornava nítida a carreira promissora que ela teria no exército. Se esses homens perguntassem a si mesmos se deviam sacrificá-la, a resposta era um óbvio não.

Os superiores até poderiam ter permitido a transferência temporária da menina, porém sua mensagem foi alta e clara ao nomeá-la para uma posição na unidade de instrução: "Vocês estão livres para fazer uso dela da maneira que preferirem, mas a tragam de volta. E viva."

— O problema é que o Arquétipo 95 é muito promissor para perder, por isso que estamos aqui sem saber o que fazer! — As palavras escaparam da boca de um dos oficiais cuja a cabeça permanecia enterrada entre as mãos, resumindo o dilema ao qual o grupo se encontrava.

— Falando nisso, os experimentos até deram retornos. As conquistas tecnológicas foram significativas, na verdade.

Os retornos esperados da pesquisa foram grandes o bastante para que o Império estivesse disposto a autorizar um certo nível de risco. Por este motivo que colocaram ainda mais dinheiro nas verbas do Arquétipo 95 como se estivessem derramando água. E após investir uma grande quantia de capital, eles por fim começaram a ter um pouco de esperança.

Quando o assunto era tecnologia militar, o Império tinha a vantagem. Um dos pilares fundamentais de sua supremacia tecnológica era seus avanços revolucionários na tecnologia mágica. Tamanho potencial também trazia repercussões. Os retornos seriam impressionantes, então não valeria a pena investir no desenvolvimento do projeto? Eles já tinham a prova de conceito¹ da tecnologia de sincronização de núcleo do orbe. Só isso seria o suficiente para impulsionar em muito as capacidades dos feiticeiros.

— Reconheço a importância da sincronização quádrupla de núcleos, mas nem sequer temos ideia se isso um dia poderá vir a ser algo prático!

Como era de se esperar, até aqueles em oposição estavam dispostos a reconhecer o que essa tecnologia representava. Eles compreendiam sua natureza revolucionária, e não negavam que o Império havia lucrado bastante se dedicando a apoiar a análise e estudo científico da magia. No entanto, em sua opinião, alguns aspectos acerca do desenvolvimento do Arquétipo 95 acabaram o deixando muito caro.

Afinal de contas, independente de seus valores teóricos, a resposta do usuário indicava que o objeto era problemático demais para fazer uso prático. Além disso, estava tão cheio de mecanismos revolucionários e de ponta que era mais fácil ultrapassar não só a "nova geração" como talvez até a próxima depois dela. Quando a possibilidade de implementá-lo de maneira prática surgiu, pareceu mais uma história pouco provável de acontecer. Era por isso que estavam andando em círculos.

No final, o que interrompeu esse debate foi a observação de um único relatório.

— Vocês chegaram a ler o parecer técnico? A análise da Tenente Degurechaff é bem criteriosa, na minha opinião. Não importa o quanto de mana a pessoa tenha, não dá para sustentar o orbe.

O relatório de teste enviado sobre o Arquétipo 95 apresentava fortes habilidades analíticas e até uma sugestão de profundidade que parecia ter levado experiência como fundamento. O escritório inteiro havia ficado em choque só de imaginar que uma criança de dez anos poderia tê-lo escrito. Outros ainda questionaram se foi ela mesma quem fez.

Dito isso, o conteúdo do documento era adequado e extremamente perspicaz. E, até onde puderam descobrir, ela própria que o escrevera. Com a pouca idade de dez anos, Degurechaff era muito nova para frequentar a escola preparatória militar e uma feiticeira que tinha uma capacidade de mana mediana. Baseado no seu talento e quantidade de mana, era quase certo que a menina teria um futuro promissor. Entretanto, esta mesma feiticeira oficial competente e além de seu tempo reclamava dizendo que não conseguia fazer com que o protótipo funcionasse direito.

— Seu alcance, poder elevado e capacidade de ativar várias fórmulas são ótimas melhorias, porém se essas coisas só fazem diminuir seu tempo de utilidade a um nível crítico, não vejo porque o usaríamos em combates prolongados.

O objetivo poderia ter sido inspecionar a tecnologia, mas uma taxa de consumo de mana que tornava impossível realizar manobras de combate significava simplesmente um grande fracasso na concepção do motor de quatro núcleos. Talvez tivesse ampliado o poder de fogo imediato, porém seria inaceitável se a troca para isso fosse uma redução drástica no período de tempo que o combate incessante poderia ser mantido.

De certa forma, dava para se dizer que isso era um bom mecanismo de avaliação. Parte do que fazia as inspeções de tecnologia serem importantes era detectar as falhas em equipamentos avançados como este. Contudo, se o problema vinha do consumo mágico excessivo por causa de um erro estrutural com o direcionamento da mana para os múltiplos núcleos do orbe, não havia nada que pudesse ser feito.

— Desde o começo, nosso objetivo é verificar e testar tecnologias avançadas. Ainda estamos dentro dos parâmetros aceitáveis.

Por outro lado, aqueles a favor do desenvolvimento estavam dispostos a admitir que de fato o projeto pecava quando se tratava de sua sustentabilidade em meio ao combate. No entanto, isso não traria nenhuma preocupação em particular, no que dizia respeito à inspeção, se deixassem especificado que o objetivo era apenas mostrar a prova de conceito. Os engenheiros do lado daqueles a favor acreditavam que as restrições de uso não eram muito importantes.

A corrida tecnológica com as potências vizinhas estava tão acirrada que todo mundo tinha o desejo no fundo do coração de que o Arquétipo 95 viesse para assegurar a superioridade tecnológica da pátria. Se ficar para trás em inovação representava um grande risco e sair na frente garantia retornos extraordinários, eles preferiam continuar seguindo adiante. Caso avaliassem o projeto com base no seu potencial, poderiam aprovar todos os seus custos na mesma hora.

— Tirando sua importância tecnológica, não tem como o exército utilizar isso.

A questão era que somente os engenheiros envolvidos no desenvolvimento e os pesquisadores que lhes davam apoio pensavam assim. As tropas, pelas quais usavam uma boa variedade de armas e não eram lá muito gentis com elas, tinham suas dúvidas. Os orbes operacionais já custavam o preço de suas armas mais poderosas. Esse protótipo único e especial parava de funcionar com frequência e fazia tempos que ultrapassara seu orçamento inicial.

Já havia gastado quantias inacreditáveis de dinheiro, e eles estavam cada vez mais hesitantes em aumentar o investimento. Se transferissem logo o orçamento para outro lugar, não seria mais eficaz em termos de custo-benefício? Tais opiniões faziam perfeito sentido. O Império era poderoso, porém sua verba militar, apesar de abundante, tinha limites. E era por essas limitações que precisava-se de maior eficiência.

— Mas e sobre a possibilidade de converter mana em um estado permanente? Não é motivo suficiente para continuar o desenvolvimento?

— E você quer que a gente continue isso em uma busca cega pelos mitos da alquimia? Não podemos ficar jogando fora nosso orçamento e mão de obra limitados para sempre.

Nunca haviam chegado a um entendimento quanto à hipótese de sustentar e armazenar mana. Em teoria, tinha lógica nisso. O próprio Schugel admitira que o consumo insaciável de poder mágico do orbe impediria qualquer combate constante.

Como contramedida, ele teve a ideia de que se fosse possível conservar mana do mesmo jeito que energia química era armazenada nas baterias, todos os seus problemas seriam resolvidos. Na verdade, havia um monte de pessoas que estavam sempre na corrida para conseguir sequer algum progresso na transformação de mana em um estado permanente, apenas para desistir da tarefa inviável.

Otimizando mana por meio de um orbe operacional, um feiticeiro era capaz de sobrepor e provocar efeitos de interferência na realidade a partir de sua vontade. Essa interferência então criava um fenômeno concreto. Este era o princípio por trás das fórmulas usadas pelos feiticeiros.

Claro, a magia que eles conjuravam era temporária. Supondo que uma pessoa quisesse fazer uma explosão e esse desejo criasse uma, o fenômeno não somente seria temporário, como também a mana responsável por provocar a explosão se dissiparia, tornando impossível manter seu estado. Se isso fosse possível, o feiticeiro precisaria apenas desejar que o fenômeno permanecesse no mundo para conservá-lo no lugar.

Conceitos iguais a este foram considerados pouco tempo depois do uso prático de orbes operacionais entrarem em vigor. Porém, toda vez que tentaram utilizar mana para deixar ela mesma permanente no mundo material, os fracassos só multiplicaram.

Embora os pesquisadores fossem por muitas vezes otimistas, existiam montanhas de documentos descrevendo as várias implementações malsucedidas. Todas as grandes potências que investiram seriamente nessa ideia até então, já a haviam abandonado.

Ao interferir no mundo com a vontade de uma pessoa, um objeto podia ser criado. Soava fácil, mas era o mesmo que falar para um feiticeiro desafiar perpetuamente as leis da natureza e da física. A essa altura, estava mais para se aventurar no reino da alquimia dos contos antigos.

Em outras palavras, isso era o quão absurdo parecia, pelo menos na perspectiva de soldados pragmáticos. Na concepção deles, estava na cara que essa nova tecnologia exagerada era duvidosa. A teoria em si já estava obsoleta.

De certo modo, essa teoria provinha de um ideal tecnológico que deveria ter sido deixado para as futuras gerações, assim como a alquimia, mas havia se tornado tão notória que tanto os soldados envolvidos no desenvolvimento de armas quanto qualquer pessoa trabalhando na área da magia ouviram falar sobre.

Interferir com as leis da natureza e manter seu estado exigia uma enorme quantidade de mana. Para conseguir aumentar a quantia que poderia ser utilizada de uma só vez, os fenômenos precisavam ser conjurados com no mínimo dois núcleos. Da mesma maneira, tornar um fenômeno permanente necessitava de mais outros dois núcleos. Como resultado, manter esse estado requeria controle perfeito de pelo menos quatro núcleos sincronizados que também executavam suas próprias funções em paralelo. Até o presente momento, tudo isso havia ficado apenas na teoria.

— O doutor conseguiu concretizar a sincronização de quatro núcleos. Você não pode negar que exista essa possibilidade.

— Na sua condição atual, não podemos esperar que chegue numa sincronização perfeita. A Tenente Degurechaff foi a única que teve alguma chance com ele, e nem ela foi capaz de obter uma taxa de sucesso satisfatória.

Era por isso que aqueles a favor do desenvolvimento e o grupo que achava melhor parar a pesquisa chegaram a conclusões completamente distintas, apesar de terem observado os mesmos resultados. Os que estavam a favor tinham esperanças, enquanto os que estavam contra consideravam algo inútil, e as duas opiniões faziam sentido até certo ponto. Na prática, um orbe que apresentava problemas com todo e qualquer teste realizado não era nada confiável. Obviamente, ainda estava para aparecer um primeiro protótipo que fosse de fato perfeito, então era de se esperar um determinado número de problemas.

Mas tamanha frequência de acidentes graves era sem precedentes. De acordo com o que eles perceberam lendo os relatórios, tudo indicava que Degurechaff quase havia partido desta para a próxima. E mesmo depois de arriscar sua vida nesses experimentos, a menina por pouco não falhara em operar o orbe.

O que foi tomado como uma melhoria marcante no progresso existente, deixando evidente o quão "bem" as coisas estavam caminhando. Então, quando um grupo de soldados surgiu para protestar quanto ao desperdício gigantesco de dinheiro, um certo oficial de média patente do Departamento de Pessoal que estava presente na reunião levantou um questionamento de uma perspectiva um tanto diferente.

— Mas por que ela? Eu me pergunto.

Foi apenas uma pergunta inocente que, no entanto, abordava um ponto intrigante. A carreira da Segunda-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff nem de longe era ruim, mas havia soldados de sobra com currículos melhores. Se a comparassem com o testador anterior para identificar o porquê dela ter sido a única que conseguiu, talvez encontrassem a resposta. Quando eles pensaram nisso, perceberam o valor de se aprofundar nesta questão.

— Não, essa sua linha de pensamento está incorreta. Devemos nos concentrar no motivo que a fez obter sucesso.

Nesse ponto da conversa, o diretor do Quartel-General de Suprimentos e Logística, que conduzia a reunião, levantou um dos questionamentos mais óbvios.

— Por que ela foi selecionada. Quem a escolheu?

Sem sombra de dúvidas, havia sido a Divisão de Pessoal do QG de Suprimentos e Logística quem aprovara o posto, portanto, alguém devia ter submetido a papelada. E era nesses documentos que provavelmente tinha a razão por trás da seleção da menina.

Perante a pergunta de seu superior, os administradores mais jovens correram para folhear a papelada e encontraram o formulário de designação. Passara despercebido até então, mas continha todas as respostas.

— O próprio engenheiro-chefe von Schugel a escolheu. Ao que parece, ele alegou que a Tenente tinha maior chance de conseguir operar o orbe.

— E como ele ia saber disso?

Considerando as falhas dos testadores anteriores, tinha de haver alguma coisa para convencê-lo de que Degurechaff poderia cumprir a tarefa. Por que ele queria em específico alguém das linhas de frente como a Segunda-Tenente? Era algo que ela tinha de especial? Suas habilidades? Ou outra coisa nada a ver? Era uma pergunta intrigante.

Mas a resposta escrita no formulário pelo engenheiro-chefe foi bem simples.

— Aqui consta que… Pelo fato dela não estar muito apegada aos orbes convencionais, ele acha que a Tenente não trataria o protótipo do jeito que os outros soldados cuidam dos seus.

Bom, o orbe era novinho em folha. Esse pensamento do doutor fazia sentido. O sistema de sincronização quadrupla de núcleos era um modelo distinto, logo, tentar conduzir mana da mesma forma que antes seria difícil.

Foi preciso a flexibilidade de pensamento de uma criança para eles entenderem que por mais que a condução de mana parecesse estranha, não era certo ir contra essa estranheza. Alguém precoce como a Degurechaff teve noção disso e compreendeu a lógica por trás, sem falar que ela conseguiu operar o protótipo. O raciocínio estava correto.

Assumindo-se que eles entenderam tudo até agora, uma fileira inteira de participantes deixou escapar o mesmo suspiro. Um lamento emanado diante de uma dura verdade.

— Ei… não existem muitos feiticeiros por aí desacostumados com os orbes convencionais, né?

Isso era evidente. Mesmo se revirassem os recursos humanos de cabeça para baixo à procura desses feiticeiros, poucos apareceriam que atendessem a essas condições. Naturalmente, a exigência mínima para o orbe ser lançado como o modelo de nova geração era se a maioria dos feiticeiros existentes fossem capazes de utilizá-lo. Caso não chegasse a sua capacidade operacional total, não valeria a pena.

As implicações ditavam que usar o Arquétipo 95 era um obstáculo muito grande. Até que o sistema de treinamento fosse reformulado e todos os feiticeiros ativos e em serviço retreinados, o modelo de nova geração permaneceria sem utilidade. Usá-lo se mostrava mais trabalhoso do que os demais orbes operacionais, então os treinos de novos recrutas também precisariam ser reavaliados.

E supondo que conseguissem realizar tudo isso, a eficiência, confiabilidade e custo do orbe eram suficientes para eles pensarem duas vezes antes de saírem fazendo uma distribuição em massa. Considerando o nível de perícia que os dispositivos precisavam para poder funcionar, tornariam-se desastres em potencial.

— Nosso orçamento não é infinito. Estamos dando ênfase demais na versatilidade?

— Também obtivemos sucesso com outras inovações, como os mecanismos de segurança dos orbes. Não acham que já passou da hora de terminarmos?

Em suma, talvez fosse melhor parar o desenvolvimento ou pelo menos reduzi-lo. Não foi nenhuma surpresa quando essa opinião se tornou a dominante no salão de conferências.

Não importava o quão fascinante fosse a tecnologia, a única alternativa para o exército era abandonar o projeto caso não pudesse ser implementado em um futuro próximo. O Exército Imperial carecia de orçamento, mão de obra e recursos para gastar.

— A possibilidade de amplificar o poder de fogo é tentadora. Não funcionaria só com dois núcleos ao invés de quatro? — Claro, aqueles que lamentariam o término do desenvolvimento ainda não podiam se livrar do que restava de seu apego.

— Um ponto interessante. Se usássemos apenas dois, a sincronização não seria mais fácil?

— Relativamente, sim. — Comparado à sincronização de quatro núcleos, era óbvio que acoplar somente dois deles seria mais fácil. Por ironia, a solução veio de um membro do departamento de tecnologia atrelado àqueles que eram a favor do desenvolvimento. — Entretanto, acreditamos que nem isso daria para evitar a sua ineficiência devido à estrutura complexa que possui.

Desde o início, a mecânica de sincronização era inovadora e complicada. Eles não podiam esperar por uma taxa de eficiência melhor.

— Então vai ser mais rápido mandar os feiticeiros carregarem dois orbes operacionais.

— Eles perderiam sua utilidade na fronte se a operação do orbe for fraca. Creio que ainda não estamos preparados para explorar a tecnologia de sincronização.

Eles decidiram não dar mais continuidade ao desenvolvimento. Nessa altura, foi a decisão natural a se tomar.

 

ALÉM DO REINO DA PERCEPÇÃO.

 

— Senhores, receio que a situação esteja grave.

Em um canto deste reino divino, os deuses se encontravam genuinamente perturbados. O desconforto que sentiam era verdadeiro, até mesmo benevolente.

— Como sabem, o número de crentes tem diminuído em um ritmo acelerado.

— É extremamente difícil encontrar o equilíbrio entre religião e avanço civilizatório.

Alguns guiavam os homens para planos maiores de existência. Outros intervinham o mínimo possível. Mas qualquer que fosse o método adotado, uma quantidade crescente de limitações ameaçava a continuidade do sistema de ciclo de vida e morte.

Em particular, quanto mais avanços as pessoas fizessem, mais felizes ficavam e maior era o declínio de sua fé. Para o sistema, não havia pesadelo pior.

— Qual foi o resultado?

— Péssimo. Até chegaram a encarar como fenômeno sobrenatural, mas além disso…

Um arcanjo com ideias mais radicais e alguns outros haviam defendido a criação de fenômenos sobrenaturais no intuito de restaurar a fé no coração das pessoas. Acreditando que deveriam seguir o que acontecera com Moisés, eles passaram a fazer experiências, porém os resultados foram decepcionantes. Era provável que a ciência explicaria essas coisas algum dia.

Os fenômenos excederam a compreensão das pessoas naquela época. Ficaram apenas sem explicação e, portanto, nada mais do que uma questão para ser investigada e pesquisada.

— Algo já me dizia que não iria bem.

— Eu gostaria de saber onde se encontra o problema. No passado, tudo o que precisávamos fazer era nos comunicar e logo entenderiam que somos deuses.

— Vez ou outra até nos chamavam.

Sim. Deveriam ter conversado com as pessoas quando a fé delas ainda permanecia alta. Assim, poderiam comunicar melhor sua vontade divina. Não só isso, alguns chamariam seus deuses por conta própria. Agora não existia mais ninguém, praticamente. Poucas eram as vozes que de verdade clamavam por salvação.

Como as coisas chegaram a esse ponto? Quando uma resposta se mostrava evasiva mesmo depois de longas considerações, o ideal era voltar atrás e reexaminar os resultados. Era uma abordagem de extrema lógica. Desse modo, seus ideais nobres e senso de dever levaram-nos a tomar providências, e eles investigaram tudo, desde os tempos mitológicos até a modernidade. Para eles, aqueles tempos eram apenas memórias do passado. Claro, se quisessem, também podiam recordar caso por caso a fim de examiná-los.

— Isso não adveio da graça divina…?

De certa forma, essa foi uma conclusão bastante pragmática.

— Como assim?

— No passado, quando a civilização humana se encontrava em um estado terrível de seu desenvolvimento, nós aparecemos para intervir e protegê-los de catástrofes que eles jamais conseguiriam resistir sozinhos.

Na contemporaneidade, tempestades já não representavam mais uma ameaça significativa para os países desenvolvidos. Nem um furacão seria capaz de derrubar suas bases, muito menos destruí-las. Na verdade, para a maioria das nações, ventos fortes e chuvas intensas só dariam conta de paralisar as cidades.

Era um ambiente completamente distinto da época onde uma única tempestade podia devastar fazendas, arrastar pessoas e deixar famílias desabrigadas. Portanto, os deuses fizeram o possível para não intervir além do que os humanos desejaram e, por causa disso, estavam caindo no esquecimento.

O fundamental era encorajar a independência da humanidade para que desenvolvesse uma ordem maior de cognição. No entanto, por muito tempo, ninguém previu que isso daria origem a uma falta de fé.

Na antiguidade, o povo louvava progresso como uma forma de graça divina e o Império Romano existiu em comunhão com os deuses. Após a queda de Roma, a Igreja reinou durante a Idade Média em nome de Deus; entretanto, os defensores do direito divino dos reis alegaram que a soberania provinha da vontade de Deus. Isso trouxe uma mudança gradual da doutrina da Igreja. Então, pela fé religiosa, os cientistas começaram a buscar a verdade do mundo criado pelo ser supremo. Antes de perceberem, a humanidade havia perdido a sua crença, apesar de não ter sido a intenção deles.

— Exato, nos últimos tempos, as civilizações do reino dos mortais vêm progredindo em um bom ritmo, por este motivo decidimos que intervir poderia retardar seu desenvolvimento e que seria melhor deixá-los em paz.

— Não é exatamente isto que está impedindo eles de reconhecerem nossa existência?

Sua intenção não era prejudicar o desenvolvimento da humanidade. Na realidade, tendo em vista o plano original, queriam que ela progredisse.

"Devemos tentar entender a ordem criada por Deus." As ciências naturais surgiram desse objetivo, logo, os deuses se puseram todos a favor. A humanidade evoluiria de uma veneração cega para uma devoção racional. Essa lógica iria permitir que eles chegassem a um entendimento de ordem superior. Os deuses até consideraram isso um primeiro passo digno de comemoração.

Porém, se o efeito desejado era o oposto, os problemas acarretados seriam gravíssimos e inevitáveis. Havia muitos mundos que nutriram somente as ciências naturais.

Hrm, isso deixa as coisas mais complicadas.

O grupo ficou pensativo. Se não resolvessem o impasse com correções simples, eles temiam que viria a ser trabalhoso demais. Estavam num aperto. E previram que só iria piorar quanto mais tempo o ignorasse.

— Alguém gostaria de propor uma solução para isso?

Os querubins nunca decepcionavam, e um deles explicou o plano pelo qual havia quebrado a cabeça para bolar. Afirmando que, no geral, sua política básica estava de bom tamanho. Em essência, se tivessem um sistema capaz de compensar a fé religiosa perdida, não teriam problemas.

— Assim, precisamos realmente aprimorar um ponto e revitalizar sua fé.

A proposta foi aceita de forma unânime. Contudo, considerando suas medidas anteriores, passava mais a impressão de que eles ficaram sem ideias concretas.

— É um ótimo plano, porém, o que de fato devemos fazer?

— Não tenho certeza, mas que tal entregarmos ao mundo uma nova relíquia sagrada?

Hmm? O que queres dizer?

Eles já haviam concedido tantas delas aos reinos dos mortais quanto havia estrelas no céu. Os números diferiam um pouco dependendo da nação ou região, mas investiram mais do que o suficiente. A nível de elevar a fé, não foi um método muito bom. No máximo, elas foram valorizadas como curiosidades históricas.

— As relíquias atuais são conservadas e guardadas a sete chaves, impedidas de cumprir seu papel de espalhar a graça divina para todos.

Os deuses não tinham conhecimento disso. Afinal, sua vida era longa. Ainda se lembravam de conceder relíquias sagradas às pessoas, porém não era como se ficassem de olho nos artefatos depois. Ao averiguar a situação atual, eles enfim descobriram que os objetos haviam sido reduzidos a enfeites.

— Entendo. Não me surpreende que tenham se esquecido da religião e das orações. Nesse sentido, chega a ser irônico…

Os deuses estavam se tornando desnecessários. Apenas isso. Mas mesmo assim, eles não conseguiam evitar de sentir uma enxurrada de emoções complicadas. Não tinham intenção de sair forçando a religião em cima das pessoas. Todavia, caso falhassem em aumentar a fé, o sistema passaria por maus bocados. Então, para ajudar as pessoas a compreenderem por si mesmas que a fé era indispensável, não deveriam de tempos em tempos oferecer relíquias sagradas onde fizessem falta?

Os deuses concordaram que valia a pena tentar.

— Sendo assim, concederemos ao mundo a relíquia sagrada que eles precisam e os ensinaremos a orar.

— Perfeito. Faremos isso o quanto antes.

— A propósito, eu tenho a coisa certa.

A decisão foi tomada imediatamente. Embora os deuses fossem pacientes e tranquilos por natureza, estavam levando a situação a sério. Dessa maneira, executaram todo o processo com convicção, sem fazer o trabalho de qualquer jeito nem se entediar na metade do caminho do modo como os deuses faziam de vez em quando.

— Sim?

— Há um humano no reino dos mortais pesquisando um objeto que está a um passo do reino divino. Com mais uns mil anos, quem sabe se não daria certo?

Ah, uma singularidade, eu vejo. Conseguiu se comunicar com esse humano?

Os casos eram raríssimos, porém no passado, também, em todos os mundos, surgiram humanos que se aproximaram do reino divino com seus estudos das ciência naturais. Tais fenômenos incomuns eram admiráveis nos últimos tempos, mas não sem precedentes. E este humano parecia ser o espécime mais apropriado para o teste.

— Deve ter percebido que ainda tem um longo caminho pela frente. Pois quando o alcancei a fim de explicar as obras de Deus, ele ficou bastante impressionado.

— Então está dizendo para enviarmos uma relíquia sagrada para lá?

— Não, faremos um milagre.

— Um milagre?



Pelo visto, realmente existem notícias que são boas e ruins ao mesmo tempo. Este é o puro sentimento da Segunda-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff ao receber o comunicado.

Embora seja apenas uma notificação não oficial, os superiores estão indicando que não irão fornecer verbas adicionais. A sugestão implícita provavelmente vem de sua intenção em cessar o desenvolvimento do Arquétipo 95. Por outro lado, a Divisão de Pessoal está compartilhando suas pretensões de me fazer concentrar em minhas obrigações para com a unidade de instrução. E é isso mesmo o que eu quero.

Deveria estar animada com a interrupção do desenvolvimento desse orbe defeituoso e meu retorno à unidade de instrução. O único problema é que esta é só uma notificação informal, não uma decisão oficial. No entanto, tenho certeza que já está tudo decidido. Posto que eu não precisarei mais jogar minha vida fora, a notícia não podia ser melhor.

Mas a má notícia é que, pelo fato da pesquisa não poder mais ser continuada de qualquer maneira a essa altura, o cientista maluco se rebelou e decidiu que seu próprio departamento irá conduzir os experimentos anteriormente suspensos por serem perigosos demais. Se ao menos ele tivesse ficado deprimido ou desmotivado e parasse de encher o saco dos outros! Porém essas enormes expectativas se mostraram inúteis e aquele lunático parecia estar equipado com a habilidade de sintonizar ondas de rádio sabe-se lá de onde.

Do nada, ele saiu berrando, dizendo que teve uma inspiração divina dos céus e depois ainda gritou: — Agora vai!

Em sua costumeira disposição mental, entretanto, o cientista chegou até a julgar que esse experimento seria muito arriscado. Se no estado agitado em que está ele insiste em continuar com isso, duvido que as coisas corram bem.

Não ajuda que os outros engenheiros tenham ficado abalados devido ao fim iminente do desenvolvimento. Que engenheiro não ficaria ansioso para ver os resultados de seu projeto? Carregados com esse sentimento, seus protestos foram apenas irresolutos. Dando brecha para o cientista maluco conseguir o que quer.

Eu sobrevivi até agora, mas não sou capaz de impedir que me forcem a conduzir um experimento pelo qual qualquer cientista sensato decerto veria como suicidio. Vamos testar a permanência do fenômeno da materialização de mana em coordenadas espaciais através da sobreposição de interferências de multicamadas. Para facilitar: "Mana em um estado permanente". É o produto da imaginação louca de uma pessoa.

Aparentemente, o principal objetivo em desenvolver o Arquétipo 95 era conduzir esse experimento com êxito, porém foi algo tão improvável que ninguém o levou a sério. É difícil imaginar que isso dê certo. A teoria em si é bem conhecida por ser plausível. Não é como se Tanya nunca tivesse ouvido falar dela antes.

A delicada estrutura interna do protótipo o tornava frágil por natureza e com uma péssima capacidade de operação e manutenção. Se quiser resolver essas deficiências, eu precisaria usar mana para tornar um fenômeno reconhecido neste mundo, depois prender e manter a energia por meio de sua afixação.

Teoricamente, o próprio sistema da sincronização quádrupla de núcleos do Arquétipo 95 significa que a base tecnológica para viabilizá-lo já foi definida. A próxima tentativa de Tanya, destinada a dar errado, de atingir o último objetivo tecnológico do protótipo ainda terá a importância de expor suas falhas.

Quando os engenheiros me falaram isso, a primeira coisa que pensei foi que parecia mais uma explicação burocrática de provisões orçamentais. Essas costumam soar bem inteligentes. Mas agora não restam dúvidas de que eles só estão conduzindo esse experimento porque o cientista maluco ficou curioso. Mesmo se eu inventar um argumento para apontar os óbvios obstáculos envolvidos, seria em vão; é claro que o lunático não pretende cancelar o teste. Ele está desesperado para que dê tudo certo e precisa seguir adiante com base em um julgamento louco que depende somente da sorte.

— Está pronta, Tenente?

Obviamente, ele entende o nível de perigo associado. Então como diabos este homem consegue esboçar um sorriso tão alegre? De súbito, me vejo questionando a sanidade de Schugel. Sinto um impulso de dizer para ele dar uma boa olhada em volta.

Estamos em um canto de uma vasta área de exercícios com tiro real e completamente despovoada até onde se pode enxergar. Se eu me der o trabalho de procurar por alguma evidência de atividade humana, tudo o que chama a minha atenção é o aparelho de gravação e o doutor. Parece que o resto da equipe calculou corretamente o grau de perigo; neste exato momento eles se encontram em uma estação de observação bastante afastada do campo de teste, monitorando a situação utilizando apenas um dispositivo de visualização no local. Ninguém está disposto a passar pelo padrão de fiscalizações de sinalização. Em outras palavras, a equipe inteira se abrigou esperando que o Arquétipo 95 explodisse.

É daí que vem a infelicidade aparente de Tanya enquanto ela continua a insistir em cancelar o experimento.

— Por favor, doutor, não podemos só parar com isso? Segundo os cálculos, o pior caso é toda a área de exercícios indo aos ares.

Schugel é o único com a fé resoluta de que Tanya vai conseguir realizar o impossível de obter o controle perfeito. A atenciosa equipe de desenvolvimento foi suficientemente gentil para ter um grupo de médicos bem equipados a postos. Seus ótimos preparativos incluem uma equipe experiente de tratamentos críticos e um hospital de campanha em larga escala.

— A marcha do progresso científico sempre deixa suas vítimas. Claro, você não estará sozinha, também ficarei aqui. Então me diga, qual é o problema? — Ao passo que todo mundo se sente apreensivo quanto ao experimento, este homem, o engenheiro-chefe Adelheid von Schugel, mantém seu sorriso alegre ao fazer essa afirmação transbordando confiança.

Como seria maravilhoso dar um soco nesse maldito sorriso dele. É bem capaz de você querer se explodir junto de sua própria invenção.

Vai ter o que merece, eu diria. O que quero saber é qual a razão de eu estar presa com este cientista maluco prestes a nos matar. Um suicidio duplo compulsório não é um pouco exagerado não? Mas Tanya tem a capacidade de expressar tais sentimentos de forma genuína, indireta e socialmente apropriada.

— Para ser sincera, gostaria que usasse essa sua paixão em outra coisa.

Hm? Um cientista deve ser leal à sua pesquisa. Agora pare de se queixar e comece o teste.

Porém, evidentemente, o lunático moralista é um caso perdido para Tanya. Se quer ser assim, então vá em frente e morra sozinho. Só faça o melhor para não perturbar aqueles ao seu redor. Se isso for pedir muito, pelo menos pare de me incomodar.

— Sou uma soldada, não uma cientista.

O trabalho de Tanya é o de um soldado, nada mais. Em hipótese alguma a descrição dele contém cometer suicídio ao lado de um cientista.

E, de certa maneira, o cientista em questão tem a resposta perfeita ao seu protesto.

— Então te darei uma ordem. Agora, vamos. — Se Tanya for uma soldada, deve obedecer às ordens conforme a linha de comando. Ele a prendeu com isso, mas tinha toda a razão.

— Fornecendo mana para o Arquétipo 95…

Tendo resistido de toda forma possível, Tanya lamenta seu azar à medida que começa a injetar lenta e cuidadosamente energia para dentro do protótipo.

— Equipe de observação na escuta, entendido. Estamos rezando por você.

Dizer palavras assim é uma questão de educação, porém agora elas soam mais sinistras do que qualquer outra coisa. O medo de que o Arquétipo 95 possa explodir do nada está escrito em meu rosto. Sério, minha vida corre um risco maior aqui do que no campo de batalha.

Tanto o escudo defensivo resistente quanto a membrana protetora para desvios de ataques diretos de um feiticeiro são conjurados utilizando orbes mágicos. O fato de eu não ter proteção quando esse treco sair explodindo está me deixando louca.

Mas ao ver a emoção indescritível contorcendo a face de Tanya em resposta à ansiedade causada por esta situação absurda, Schugel tem a coragem de sorrir. Tanya tem a sensação de que essa é a primeira vez que vê o doutor agir de modo tranquilizador em sua consideração. A expressão do homem parecia estar dizendo para ela relaxar.

— Que foi? Não se preocupe. Nada vai dar errado dessa vez.

Quando Tanya percebe o olhar puro, inocente e perigoso de um cultista no doutor, o ceticismo se transforma em uma série de alarmes a bombear sua cabeça. Eu devia me afastar de gente assim…

— Doutor… de onde vem toda essa sua confiança?

Não seria surpresa alguma se ele fosse realmente um psicopata. O problema é que a sua insanidade traz o risco de envolver Tanya em uma catástrofe.

— É simples, ora.

O doutor abre os braços de forma exagerada, agindo como se estivesse a ponto de proclamar uma simples verdade. Só isso é o suficiente para dar arrepios em Tanya. Pregar firmemente as verdades do mundo com olhos inocentes? Esse é o sintoma de um fanático. O do tipo que está metido com alguma religião perigosa.

— Sim…?

A pior coisa a se fazer ao lidar com um crente cego é expressar concordância ou negação. Quando estava trabalhando no RH, aprendi que se algum dia precisasse demitir pacificamente um funcionário sob a influência de uma seita duvidosa, o certo a se fazer era evitar aprovar ou negar suas crenças. A ideia é ficar longe e não deixar brechas para mal-entendidos.

Por consequência, tudo o que Tanya pode fazer nessa situação é tentar prolongar a conversa usando a voz mais gentil que ela é capaz.

— Eu sou o engenheiro-chefe, Tenente. E você é a testadora principal. Quer dizer, se trabalharmos juntos ao invés de ficarmos sempre discordando um do outro, não haverá limites para o que podemos fazer.

Membros de cultos são exatamente assim. Eles falam coisas razoáveis em tom regular com uma expressão inocente no rosto apenas no início de uma conversa.

— Uns dias atrás tive uma revelação divina.

— Uma revelação divina…?

É, vai entender. Pior que eu tinha receios quanto a isso. Hmm. Quem sabe seja só um modo de falar, mas essa premonição sinistra — a voz da razão — não para de gritar. Estou com um mau pressentimento, tipo, mau mesmo.

— Isso. Se rezarmos a Deus pedindo por sucesso, aqueles que Nele crêem terão a salvação.

Argh………

Deixo escapar um gemido contra a minha vontade, apesar de ter me preparado para isso. Antes de perceber, também dou um suspiro profundo.

Ele acabou de dizer para pedir sucesso a Deus? Para rezar? Um cientista? Parando para pensar, logo ocorre a Tanya o quão improvável é o que está acontecendo. O engenheiro-chefe perdeu o juízo de vez depois do cancelamento do projeto? Isso é bem provável.

Ao me dar conta, determino que, independente das ordens, será perigoso continuar esse experimento. Em uma decisão repentina, eu limito o fluxo de mana e inicio a ativação do mecanismo de segurança para impedir que os núcleos do orbe fiquem fora de controle.

— Dizem que o importante é ser humilde, livre de arrogância.

No entanto, os mecanismos não estão ativando. Fingindo estar calma por fora, Tanya não consegue conter o espanto conforme desvia o olhar para o orbe em sua mão novamente. É o mesmo protótipo familiar ao qual ela conduziu tantos testes antes. Dá para ver com clareza várias funções de segurança… E ainda assim não ativaram? Então quer dizer que foram desativadas…?

Esse lunático tinha que bagunçar o protótipo, né?

O único que poderia ter feito isso é o engenheiro-chefe sorrindo tranquilamente diante de mim. Ele está falando sério. O cara já era tão louco que acabei demorando para perceber.

— Uma oportunidade maravilhosa, não? Vamos rezar juntos pelo sucesso.

— Doutor, você não era ateu?

— O deus das invenções veio a mim. Agora sou um crente devoto.

Merda. Não vejo como sair dessa.

O Arquétipo 95 começa a perder o controle, igual a quem o construiu. Estava utilizando mana para controlar seu revestimento, mas não dá mais. Algo a respeito dos circuitos também não parece certo. Desse jeito, a mana vai entrar em colapso. E as funções de segurança que eu costumo depender não estão funcionando.

Se eu tentar extrair a mana manualmente, ela vai desequilibrar o sistema todinho, provocando um colapso absoluto. Portanto, embora tenha notado o nível alto de perigo, não tenho escolha a não ser continuar alimentando o motor com energia. Porém, nesse ritmo, vou ficar sem controle. Acabei nesse dilema, mas já é certo que o orbe vai explodir em breve.

Numa hora dessas… não consigo parar de imaginar em detalhes o destino horrível que me reserva.

— Nós teremos êxito se orarmos e crermos em Deus.

— Aliás… o que acontece se eu não fizer isso?

— Bem, suponho que ambos seremos mártires aqui. — O lunático retruca sem pensar duas vezes. O sorriso perigoso em seu rosto mostra que ele decerto aceitaria o martírio com orgulho, tal como o sorriso eufórico de um homem-bomba.

— Então precisamos chamar um médico imediatamente. Ou você acha melhor que eu acabe com o teu sofrimento? — Do ponto de vista de Tanya, se ela está fadada a morrer de qualquer maneira, matar esse lunático com suas próprias mãos dá para o gasto. Caso o elimine enquanto está sendo morta pelo orbe defeituoso dele, ao menos não será a única a sair perdendo. Claro, não é um acordo muito justo, mas os princípios do mercado me garantem que é melhor do que terminar com a conta no vermelho.

— Tenha calma, Tenente. Você mesma não conheceu Deus? Se ambos tivermos fé Nele, a salvação virá.

Ele diz isso no instante em que estou preparando para tornar meu desejo de matá-lo em realidade. Tanya para de repente. Whoa, espera aí.

— O coeficiente de energia está se desestabilizando a toda velocidade! A mana está fora de controle!

— Isso é loucura! Os núcleos estão prestes a entrar em estado de fusão! Evacuar todas as equipes!

A equipe de observação não para de berrar. Aos ouvidos de Tanya, parece mais uma gritaria sem sentido, porém um segundo antes de cair inconsciente, ela tem certeza de sentir...

É aquele Diabo. Existência X. Juro que consigo sentir esse maldito sorrindo para mim. Ah, sim. Ele é um ser sobrenatural que gosta de brincar com as leis da natureza. O Diabo desprezível que brinca com vidas humanas.

— Isso é coisa sua?! Seu Diabo maldito!!!



— Depois de muito deliberar, o Senhor aprovou a consagração de um milagre durante… qual o nome daquilo que vocês estão desenvolvendo? Arquétipo 95? Que seja, durante o experimento de ativação daquela coisa.

Quando dou por mim, estou em um espaço familiar com uma entidade um pouco mais intelectual do que o Existência X se aproximando. Desta vez, o motivo de minha visita deve está diretamente relacionado às exigências daquele lunático de conduzir um experimento tão imprudente.

Mas o cara é apenas um cientista maluco, não um religioso fanático. Tendo em vista o modo como estava agindo antes do acidente, ele também é uma vítima. Isso está cheirando ao Existência X e sua seita se intrometendo. Devem tê-lo manipulado, pelo menos no que diz respeito a este experimento. Não que eu sinta um pingo de simpatia por ele.

Ahh, compreendo.

A entidade na minha frente aparenta ser no máximo decente se comparado àquele que veio anteriormente. Em outras palavras, esse aí é um fanático que parece ter a capacidade de conversar. Não posso baixar a guarda. Estou basicamente lidando com alguém impregnado de uma religião ou outra. No momento, não ligo se ele é um deus ou um diabo.

O que preciso é me atentar à possibilidade muito provável dele tentar empurrar seus valores para cima de mim, ao invés de optar por uma discussão racional. Pois seus valores são insanos. Ele pode ter os semblantes de uma pessoa inteligente, mas a sua essência não é diferente da de um funcionário incompetente.

Eu deveria eliminá-lo de imediato. Se ele ao menos for um preguiçoso qualquer, ainda posso aturá-lo. Todavia, independente da competência, todos os religiosos fanáticos são trabalhadores diligentes. De verdade, seria uma virtude impressionante se não fosse a insanidade para arruinar.

— Permita-me te parabenizar. O Senhor determinou que levastes uma vida cheia de pecados advindos da ignorância. A Sua decisão foi guiá-la pelo caminho correto.

— Quero não, agradeço.

Uau… Direto ao ponto assim? Pensei que estavam tramando alguma coisa, mas essa foi rápida. Sendo franca, admito que mexer com a vida dos outros possa ser divertido, agora é completamente inadmissível isso acontecer comigo. Por que não posso decidir como quero viver? Minha existência como um indivíduo não é o mínimo que eu deveria ser capaz de controlar?

Oh, fique tranquila. Tua aflição provém do receio de ser forçada a agir contra vontade, estou certo?

Bom, é difícil dizer. Não tenho certeza de como descrever essa sensação de apreensão. É verdade que resisti à ideia de ser forçada a seguir um caminho escolhido por outra pessoa.

Também seria humilhante para caramba ter esses seres controlando minha mente ou me levando a pensar de um jeito diferente. Alucinações em massa devem ser somente compartilhadas entre aqueles que querem ficar embriagados com histórias mitológicas. Se houver benefício em ter ilusões, investiremos nelas; senão, nem vale a pena mostrar interesse. E se algum louco se tornar uma ameaça, sempre posso acordá-lo com um chute e fazê-lo engolir a triste realidade.

Como indivíduo, tenho que resistir firmemente a esse atentado ao livre arbítrio que obriga a participação de alucinações em massa. Liberdade. Eu sou livre. Não preciso que ninguém viole minha liberdade.

Eu iria odiar agir contra meus próprios princípios e infringir a liberdade dos outros, mas honestamente, posso lidar com isso. No entanto, pensar em outra pessoa violando a minha liberdade individual é algo inaceitável. Já tive os recursos e conexões para proteger essa liberdade. Agora possuo certos poderes para protegê-la, e aprecio a importância de seu valor.

— Por isso não deves se preocupar. Abençoaremos teu orbe operacional para que possa fazer milagres. Irás usá-lo e por ele sentir a graça divina. Sem dúvida isso permitirá que ofereça tuas palavras de oração ao Senhor.

— Palavras de oração?

— Exatamente. As palavras para louvar ao Senhor foram esquecidas por teus ancestrais. A culpa não é sua que elas não foram passadas a ti.

— Bem, é óbvio. Embora eu creia que tenha mais coisa além disso.

De onde diabos vem esse raciocínio? Alguém me explique, por obséquio. De preferência, agora. Pode interpretar ou passá-lo por uma ferramenta de tradução, se quiser. Como é um serviço rápido, pagarei um valor a mais e ainda darei uma gorjeta, então alguém, por gentileza, esclareça o que esse cara está querendo dizer.

— Como falei, o Senhor fez com que as palavras de oração saiam de teus lábios, que a voz Dele seja ouvida por teu coração e que você creia em milagres.

— Isso me parece um tipo de lavagem cerebral bastante desagradável...

Eles podem muito bem ter me sequestrado. E como não cedi, inventaram um novo plano. Vão me fazer utilizar um orbe operacional amaldiçoado. E quanto mais usá-lo, mais vai consumir minha alma? Hmph, que se dane isso.

Como se já não fosse ruim o bastante, eles vão e me jogam numa situação desagradável dessas. Me deram um xeque-mate no instante em que percebi que aceitar sua oferta poderia ser a única forma de eu sobreviver à guerra, apesar do preço a se pagar.

Esses seres devem se achar um bando de heróis, criando problemas apenas para aparecer e salvar o dia depois. O tráfico de informações nem se compara com esta armação sem escrúpulos. Para eles se safarem desse absurdo seria igual a apagar a lei e a justiça da face da terra. Talvez eu deva tentar ser a representante dos valores fundamentais do reino dos mortais.

— Não vamos te forçar a fazer nada. Serás capaz de oferecer orações com sinceridade ao experimentar os milagres de Deus, apenas isso. Tal é a benção que o orbe operacional em tua posse adquiriu.

Imagino que é preciso muita coragem para dizer isso. Me tacaram num lugar onde eu posso morrer a qualquer hora em alguma guerra e depois vêm falar que não estão me forçando? É como dizer para uma pessoa não beber água no meio do deserto. Fica melhor para vocês falarem de uma vez que querem me matar. Ou seja, é mais fácil ameaçar logo.

— Estou vendo. Por sinal, o que aconteceu com meu corpo?

— Vocês estão protegidos pela graça divina. Agora vá, continue a tua jornada e propague o nome do Senhor.

E com esse desfecho assustador, minha consciência retorna ao reino dos mortais. Em uma infeliz reviravolta do destino, quando acordo para a realidade, sou recebida pelo rosto e pela voz da última pessoa no planeta que quero ver. Se eu fosse um funcionário judicial do Império, criaria imediatamente uma lei declarando que cientistas malucos devem ser executados pelo pelotão de fuzilamento. Seria minha obrigação aprovar esta lei para o bem do Império, tenho certeza.

— Estávamos na presença do Senhor! É um milagre! Bem-aventurados aqueles que Nele crêem!!

O brilho perigoso nos olhos do cientista me deixa preocupada que possa sair gritando: "Eu sou o novo profeta!" Não, agora ele realmente deve acreditar que é.

— Acalme-se, doutor.

Eu imploro, cale essa boca. Não precisa ficar se gabando de ter conseguido provar cientificamente como um cientista maluco pode trocar de emprego para "religioso fanático". Por favor, suma da minha frente.

Oh, Tenente Degurechaff. O experimento foi um sucesso! Exaltemos o nome de Deus, juntos!!!

Infelizmente, embora tenha virado um religioso fanático, ele ainda é um cientista maluco. Suas crenças o deixaram demente.

— Vamos, vamos! Quero ver o presente milagroso de Deus!

— Degurechaff para Controle. A fórmula de controle do Arquétipo 95 está funcionando normalmente?

Espero que possam suspender toda essa bagunça por conta de dificuldades técnicas. Contudo, uma maldição foi colocada neste aparelho por obra de seres mais ou menos sobrenaturais. Quão fácil foi para eles esmagarem meus sonhos e esperanças. Para minha infelicidade, como os humanos são fracos... 

— Sim, até onde eu sei. Mas isso pode ser por causa de problemas com o aparato de observação.

— Talvez. Acho que não temos muita escolha. É melhor fechar o Arquétipo 95 e examiná-lo no laboratório.

Excelente. Cuidado é uma qualidade ótima para se ter como engenheiro. Apesar de ser difícil perdoar a maneira pela qual todos me abandonaram e correram para as colinas, eu posso aceitar. Se a sobrevivência deles leve ao fim deste experimento, permitirei isso.

— Que conversa é essa? Ative o orbe agora mesmo, Tenente!!

E assim inicia a briga. Fala sério, não dá para esse infeliz levar um tiro de algum aliado ou sofrer um acidente em qualquer dia desses? Na verdade, estou certa de que ele já deve ter se deparado com alguma situação parecida, então por que esse cientista maluco ainda está vivo? Duvido que seja verdade, mas será que ele é um servo de Existência X e seu grupinho? Sei que a gente é inimigo, porém somos arqui-inimigos também?

— Tudo bem, estou ativando… Teoricamente, ou vai funcionar ou vamos explodir junto de toda a instalação.

— Temo que essa piada não tenha sido engraçada, Tenente.

Não foi nem um pouco engraçada. Isso porque eu estava falando sério. Mas considerando que esse treco está amaldiçoado, não sei como as coisas podem acabar bem.

Eu faço a mana correr pelos circuitos do orbe e começo a sincronização dos quatro núcleos. A energia flui suavemente, sem qualquer dificuldade. Quanto à sincronização, está progredindo de forma tão espontânea que pareço estar fazendo sem pensar. Sem sombra de dúvida a perda de mana é semelhante ao valor projetado na teoria.

Agora entendi. A julgar pelas suas especificações, devo admitir que isso é realmente incrível. Digno de elogios. No entanto, é uma pena, esse treco está amaldiçoado.

— Ó, grandes são as maravilhas do Senhor. Louvado seja o Seu glorioso nome! — Eu grito, as palavras sentimentais saindo de minha boca. Cada célula do meu corpo de repente anseia em louvar ao Senhor.

— Deu certo? Não pode ser… Deu certo mesmo?!

Quando a equipe de observação entra em estado de choque, seus berros de admiração finalmente me trazem de volta à realidade.

— Veja só, Tenente. Parece que compartilhamos a mesma fé, hã? É um milagre! Um milagre!

— Milagre?

— Dai glória ao Senhor e testemunhe os Seus milagres.

Tudo que se sucedeu depois disso foi um verdadeiro pesadelo. No fim das contas, estou amaldiçoada, passo tempos horríveis e então finalmente — finalmente — sou liberada após terminarmos de coletar uma certa quantidade de dados. Não me importo mais para onde eu vou, contanto que não seja aqui. Só quero ir embora.

Como se para realizar meu desejo, a República a oeste do Império declara guerra. O aviso que eu estava esperando. E bem quando estou ficando desesperada. Minha mente está salva, devo dizer.

Mas creio que vida fácil seja difícil de se encontrar.


Nota:

1 – Uma Prova de Conceito é um modelo prático que possui o objetivo de provar o conceito teórico estabelecido por uma pesquisa. Pode ser também uma implementação, em geral resumida ou incompleta, de um método, realizado com o propósito de verificar que o conceito/teoria em questão é suscetível de ser explorado de uma maneira útil. Sendo um passo importante no processo de criação de um protótipo que realmente possa ser operado.



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