A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 62: Os Lobos

 

 

 

Satisfeito, observando suas atitudes, após presenciar por um tempo seu treinamento. Me sentei, começando a processar a Flor do Luar que tinha obtido em conjunto com minha companheira.

— Elise. Por favor, mantenha a vigilância, desde que podemos ser atacados por bestas monstruosas. Além disso, desejo também que fique de olho nos filhotes, avisando caso desistam prematuramente do treinamento — declarei, solicitando sua ajuda. Concentrando-me assim que presenciei o seu consentimento.

Enfim, a fórmula que estava prestes a trabalhar era bastante especial, era um tipo de pomada medicinal que ajudaria seus corpos a se adaptarem mais facilmente a energia elemental, ao qual ajudaria os pequenos lobos a progredirem em seu desenvolvimento.

E conforme o tempo passava, chegando quase na etapa final na elaboração do medicamento, com o passar de um pouco mais de uma hora, Elise me chamou hesitantemente; dizendo:

— Os lobos ainda não concluíram sua tarefa. Mas… suas garras estão sangrando, como lascaram em sua maior parte devido a quantidade de golpes. Talvez devêssemos para-los? — indagou Elise, observando atentamente a minha expressão.

E suspirando internamente, estando aparentemente calmo com a situação, decidi não dar uma resposta imediata a Elise. Assim, me levantando, andei até a direção onde estavam os filhotes, que imediatamente concentraram sua atenção em minha chegada.

E olhando-os minunciosamente, estava claro que suas disposições estavam praticamente esgotadas, onde suas patas dianteiras estavam sangrando, trêmulas.

Devo dizer, suas aparências eram lamentáveis, e por um mero instante senti um pouco de compaixão, não querendo mais levar esse treinamento adiante. Contudo, se assim o fizesse, então simplesmente estava descartando seus futuros como grandes Reis Bestiais.

— Continuem, o treinamento ainda não acabou. — Ordenei, vendo os lobos olharem-me indignadamente, se mantendo parados em seus lugares. Mesmo Elise parecia querer dizer algo, mas vendo minha expressão hesitou, permanecendo em silêncio.

— Se vocês não têm essa convicção, então voltaremos a Cidade de Eydilian. Porém, esqueçam em permanecer ao meu lado, será mais fácil se vocês dois se tornarem meramente animais domésticos. Desta forma, não terão que sofrer, nem se esforçarem — Zombei, vendo seus olhares me encarando intensamente, podendo até mesmo sentir a raiva e o ressentimento em seus pequenos corações.

Latido aprofundado!!!

Latindo indignadamente, Feng rosnou em minha direção. Mesmo a pequena Lya, apesar de não demonstrar abertamente, resmungou sutilmente, sentindo-se triste em seu coração.

— Se vocês não são tão incompetentes, então demonstrem com ações! Terminem de derrubar essas árvores, mostrem a sua determinação, o orgulho de sua raça! — gritei, vendo os dois pequenos lobos latirem violentamente, quando avançaram, golpeando freneticamente a árvore, mesmo diante a dor angustiante.

Desta forma, vendo que minha provocação surtiu efeito; não voltei a terminar o medicamento, mas fiquei parado, os observando em cada passo, em cada golpe, vendo-os rosnar indignadamente diante a dor de ter suas garras destruídas.

Mesmo Elise me olhava intensamente, e apesar de se manter em silêncio, poderia sentir o desgosto e a insatisfação ao ver os adoráveis lobos naquele estado.

Rachadura! Baque!!

Finalmente tendo as duas árvores caindo em meio a floresta, suspirei aliviadamente em meu coração, sabendo que finalmente esse treinamento tinha chegado ao fim.

Querendo avançar, confortar os pequenos filhotes; vislumbrei Elise avançando em minha frente, quando confortou os pequenos lobos, que se sentaram sob a terra, lambendo com dificuldade suas pequenas patas.

E observando essa cena por um instante, entendi que não tinha um lugar que me pertencesse, quando me retirei em silêncio, voltando a terminar o medicamento.

Entretanto, suspirando ao sentir seus olhares contínuos, sabia que uma pequena mancha surgiu em seus corações.

Enfim, terminando a pomada medicinal; sem quaisquer palavras, me aproximei mesmo diante sua clara inimizade, quando peguei as patas feridas de Feng, quando comecei a aplicar o medicamento.

Rosnado! Mordida!!

Sentindo a dor ocasionada pela reação do medicamento, Feng não pensou duas vezes ao morder minha mão com agressividade. Contudo, não recuei, também não falei palavras repreensivas, pois, lá no fundo, poderia mais do que qualquer um entender seus sentimentos.

Portanto, apesar do sangue, continuei a aplicar o medicamento, convergindo assim vagarosamente a minha energia, tornando a mistura se fundir por meio dos ferimentos, quando enfaixei suas patas, terminando o procedimento.

Assim, em silêncio, levantando-me, ignorando o olhar complexo de Feng. Desta vez andei até Lya, repetindo o mesmo processo, quando enfaixei suas patas.

Assim, terminando o meu objetivo ao vir para a floresta, pegando Lya gentilmente em meus braços — mesmo diante sua clara indisposição — indiquei para Elise, que entendeu, pegando Feng em seus braços, quando voltamos para a cidade, sem nenhum de nós dizendo quaisquer palavras.

Chegando, parando em frente à residência de Colak, observando ainda um pouco impotente suas expressões insatisfeitas; pensei um pouco, enquanto orientei:

— Elise, fique com os lobos por esses dias, acredito que eles não querem estar em minha companhia. Além disso, mantenha os curativos por enquanto, não deixe que os tirem ou lesionem novamente suas patas, retornarei durante esse período — expliquei, suspirando diante suas expressões, quando me despedi.

 

 

— Suspiro… — Suspirando exaustivamente, olhei para o céu estrelado, enquanto estava nitidamente sem sono; estando assim pensando em como proceder em meus problemas.

Ondulação! Presença!!

E enquanto pensava silenciosamente, Celine surgiu das sombras, ficando ao meu lado, enquanto me observava atentamente, finalmente dizendo:

— Hyan, alguma coisa o incômoda? — indagou Celine.

— Suspiro. Não… somente estou um pouco sentimental, desde que a cada dia estamos mais perto do Ritual do Despertar — expliquei, considerando como as coisas ocorreriam no futuro.

— Sinceramente, esperei por muito tempo por esse dia, mas também… esperava que nunca chegasse, pois, a partir daí, nossas vidas se tornarão bastante turbulentas — expliquei, voltando a olhar o céu estrelado.

E vendo sua atitude distante, Celine queria dizer algo. Contudo, pouco sabia da história que o envolvia. Portanto, ficou em silêncio, enquanto observava aquele homem silenciosamente em seu coração.

— Hyan, posso te perguntar algo? — indagou Celine hesitantemente depois de um longo tempo.

— Pergunte — respondi.

— Como você sabia das minhas origens? — perguntou Celine, querendo muito saber a resposta.

— Sorriso. Não precisei de muito, sou detentor da energia mental, portanto, não é muito difícil perceber a afinidade de outros cultivadores que estão abaixo do meu nível.

— Além disso, apesar da cor da sua pele não ser muito raro entre mercenários e aventureiros, seu cabelo branco é uma característica única de seu clã em conjunto com a energia sombria.

— Assim, com uma quantidade adequada de dunares, não é difícil encontrar relatos sobre o Clã das Sombras independentemente de sua localidade, desde que são uma facção de renome no submundo, como uma das principais facções que governa nas sombras da humanidade, executando todo tipo de atrocidades… — recontei, vendo sua expressão se tornar conflituosa.

— Você… você não tem medo, ou nojo de mim por ter nascido de tal linhagem? — indagou Celine, olhando nervosamente para o chão, como se estivesse com medo da minha resposta.

— Não. É verdade que o Clã das Sombras fez incontáveis atrocidades, matou inumeráveis inocentes, e provavelmente nada impediria da minha lâmina matar cada um deles…

— Contudo, os julgo por seus atos, não por sua origem ou por seu passado distante — declarei, quando pedi que levantasse o rosto, olhando assim diretamente em seus olhos.

— Celine. O seu passado não lhe traz nenhum orgulho, sua vida foi cheia de dificuldades. Mas não deixe que isso defina quem você é… mesmo que no futuro alguém lhe aponte o dedo trazendo seu passado átona. Lembre-se… Agora, você é Celine, minha companheira, e alguém que confio profundamente — declarei, dando-a um sorriso caloroso.

Emocionada, sentindo seus olhos avermelharem sutilmente, Celine não conseguiu se conter, abraçando aquele homem ao seu lado.

Quando em sua vida teve alguém que pudesse confiar? Alguém que pudesse depender? Celine tinha sido treinada desde pequena para ser uma assassina. Porém, acabou falhando no teste de seu clã, sendo posteriormente descartada.

E diante esse resultado, sua morte era algo definido. Mas por escolha do destino, acabou se tornando uma escrava, vivendo uma vida pior que a morte.

E por mais que persistiu, sem ter nenhuma esperança para se apegar, nenhum conhecido para contar e confiar. Celine não sabia ao certo como chegou até aqui. Porém, de uma coisa ela sabia, um sentimento persistente que a forçava a se apegar a sua vida existia.

Talvez isso era o resultado da visão que presenciava das pessoas em sua volta, mesmo que não pertencesse a esse mundo, de alguma forma despertou uma pequena luz em seu coração.

E sentindo aquele calor a envolvendo, aquelas mãos que silenciosamente lhe abraçavam, Celine se tornou ainda mais convicta em sua escolha, decidida a impedir que esse sonho terminasse prematuramente.

Assim, naquela noite, apesar de seu encontro ser meramente um demonstrativo para as pessoas que os observavam, Celine realmente gostou desse breve momento, onde pode conversar honestamente sobre as questões que atormentavam seu coração.

 

 

Latido! Indignação!!

Depois de dois dias inteiros terem se passado, voltei para a residência de Colak, encontrando Elise e os filhotes, que ao me verem, demonstraram uma expressão nada contente.

Infelizmente nada poderia ser feito, o medicamento deve ter causado algumas reações que o incomodavam profundamente, e impedidos de continuarem normalmente com sua rotina, o descontentamento deve ter se acumulado em seus corações.

No final, nada poderia ser ganho sem algo a ser sacrificado. E mesmo que acabe sendo odiado, ainda estava determinado a torna-los mais fortes.

— Venham. Vamos retirar os curativos, acredito que suas garras conseguiram absorver por completo a substancia medicinal. — Ordenei, me sentando, quando indiquei que um dos filhotes subisse no meu colo.

Um pouco contrariado, Feng avançou, deixando que retirasse lentamente seus curativos. Mas quando acabei, vendo a desnecessidade em continuar ao meu lado, Feng apressadamente escapou, tornando-me a sorrir rigidamente.

— Suspiro. Feng, conduza sua energia por suas garras, sinta vagarosamente a diferença, acredito que por agora sua utilização da energia elemental deve ter progredido grandemente — Aconselhei, vendo-o rosnar sutilmente, indisposto.

Entretanto, mesmo mostrando sua insatisfação; Feng ainda estava curioso, quando concentrou sua energia, tendo seus olhos se ampliando surpreendentemente, quase não acreditando no que presenciava.

E diante seu choque explícito, suas garras antes totalmente brancas, no momento que conduziu sua energia, se tornaram completamente em um azul índigo. Era tão impressionante, que um simples toque no chão era capaz de chamuscar a madeira revestida no interior da residência.

Desta forma, vislumbrando essa cena, mesmo que os pequenos relâmpagos não surgissem mais como antes, Feng instintivamente sabia que o motivo era devido a concentração de energia comprimida em suas garras, não deixando que nenhuma energia se dispersasse desnecessariamente na atmosfera.

— Certo. Esse resultado foi muito melhor que o esperado. Afinal, quanto mais suas garras fossem danificadas durante o processo, mais profundamente a substância medicinal poderia se infiltrar em seu interior, levando sua força a se desenvolver… — expliquei, vendo sua reação complexa.

Assim, por mais que não conseguisse dizer nada, seu olhar, as orelhas abaixadas, e aquelas emoções complicadas presente em seus olhos, era o suficiente para me dizer muitas coisas.

E como o mais velho dessa relação, não precisei que se desculpassem, quando avancei, acariciando gentilmente sua cabeça.

Rosnado!

Rosnando sutilmente, Feng lambeu gentilmente minha mão, como se sentisse culpado ao ver ainda os vestígios de sua mordida.

Pulo! Latido!!

Se sentindo excluída, Lya forçou seu caminho em meu colo, quando apressadamente esfregou sua cabeça em meu peito.

E sorrindo rigidamente diante suas intenções, acariciando-a gentilmente, comecei a retirar seus curativos, quando, pulando do meu colo, convergiu sua energia, vendo suas garras se tornarem um azul celeste maravilhoso.

— Sabe, originalmente seus corpos não foram criados para conduzir esse tipo de energia, resultando em sua utilização como no máximo uma existência auxiliar. Mas agora, com suas garras nesse estado, isso se tornou algo completamente diferente…

— Usando suas garras como um meio de condução, não importa como decidirem utilizar sua energia elemental, isso não irá mais prejudicar seus corpos.

— Porém, ainda podemos melhorar ainda mais seus físicos, esse processo pode ser exercido em suas garras traseiras, assim como em suas presas — declarei, os olhando severamente.

— A questão é, vocês têm a coragem e a determinação? — perguntei, esperando suas decisões.

Surpresos, sem responder de imediato. Feng olhou para suas garras em silêncio, enquanto observava a madeira sendo chamuscada por sua energia elemental.

E diferente do passado, quando sentia uma sensação de entorpecimento sempre que usava sua energia para fortificar seu corpo. Agora, nada disso era mais encontrado, o agradando profundamente, percebendo como tinha progredido grandemente.

No entanto, ainda não era suficiente. Se lembrando de seus antecessores, da força descomunal que possuíam, desde que essas lembranças despertaram em seu âmago desde o nascimento, Feng sempre desejou supera-los, essa era sem sombra de dúvidas sua mais profunda ambição.

Portanto, agora, nesse momento, olhando para o rosto do seu irmão mais velho, daquele sentimento profundamente adormecido dentro do seu corpo, Feng sabia que se o seguisse cegamente, um novo caminho definitivamente poderia surgir em sua vida.

LATIDO ESTRIDENTE!!!

Latindo com todas as suas forças, Feng demonstrou sua convicção, tendo a loucura envolvendo gradualmente o seu olhar, quando golpeou o piso de madeira, deixando uma grande fissura, como se quisesse demostrar que estava preparado para remover quaisquer obstáculos em seu caminho.

Baque! Presença!!

Entretanto, exatamente nesse instante; um corpo esbranquiçado colidiu com seu corpo, empurrando-o a distância, quando uma sensação fria lentamente tentou penetrar em seu corpo através do impacto.

E olhando indignadamente para o sujeito que ousadamente lhe provocou, Feng viu perplexamente sua pequena irmã de pé em sua antiga posição, quando a madeira em sua volta começou a congelar.

Desta forma, imitando sua postura habitual, Feng vislumbrou sua irmã estufar seu peito, quando demonstrava igualmente sua determinação, a loucura escondida em seu coração, desejando incontrolavelmente a chance de se tornar mais forte.

Elise, que observava tudo silenciosamente, não sabia como expressar seus sentimentos.

Em um breve instante, percebeu que aquelas intensas emoções de raiva, indignação e ressentimento, que tinham praticamente envolvido os pequenos lobos desapareceram completamente. Tudo o que restou foi a mais pura admiração diante os olhos dessas pequenas crianças.

Na verdade, Elise percebeu que ela mesma não era diferente, sabendo como no começo de seu relacionamento compartilhou definitivamente desses sentimentos, tendo simplesmente se acostumado com sua disposição, assim como seus constantes milagres.

Afinal, Elise não sabia porquê, mas deixando seus próprios sentimentos de lado, as pessoas inconscientemente tinham essa vontade de segui-lo, de estarem ao seu lado, compartilhando de suas experiências e perspectivas.

E sem que percebesse, vendo aquele desejo incontrolável nos olhos dos pequenos lobos, Elise cerrou violentamente os punhos, quando um desejo semelhante começou a bater profundamente em seu peito.

Ansiosa, desejando se tornar mais forte, sabia que tudo o que podia fazer naquele momento era esperar pelo Ritual do Despertar, que estava cada vez mais próximo.

 

 

 

                      



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