A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 31: O Milagre

 

 

 

— Urgh!! — Grunhindo com dificuldades, acordei em meio à noite, ouvindo assim o barulho de conversa e o som crepitante da fogueira no centro do acampamento.

Um pouco confuso, tentando me levantar, senti que alguém estava deitado ao meu lado, e olhando inconscientemente nessa direção, percebi que era Elise, vestindo o mínimo de roupa possível, enquanto compartilhava a cama ao meu lado.

Surpreso, vendo a cena bastante íntima em minha frente, inconscientemente senti meu rosto avermelhar, querendo assim me levantar apressadamente. Porém, a dor não me permitiu, tornando-me a grunhir dolorosamente.

Abraço! Choque!!

Sendo abruptamente abraçado, impedido de me mover descuidadamente. Ouvi Elise falando inesperadamente ao meu lado:

— Hyan. Não aja imprudentemente, seus ferimentos não são levianos. Se não fosse sua espada e a armadura suportando a maior parte do golpe do Lasgotan… Então você teria definitivamente morrido. — Repreendeu Elise, quando seus olhos demonstravam a raiva escondida em seu coração.

— Isso… a situação não é um pouco ambígua? — murmurei inconscientemente, deixando escapar descuidadamente minhas palavras, vendo assim sua expressão desagradável.

— Os seus ferimentos foram graves, você estava perdendo sua temperatura corporal, eu fiz o necessário para proteger sua vida — respondeu Elise indiferentemente.

— Eu… — Sabendo que acabei falando algo desnecessário, deitei-me comportadamente na cama, abraçando-a gentilmente.

— Me desculpe. Obrigado por cuidar de mim, Elise — murmurei honestamente, fechando assim os meus olhos.

E sem ter nenhum de nós dois falando mais nada. A sonolência e o cansaço começaram a se abater sobre meu corpo. Quanto a Elise, vendo Hyan novamente voltar a dormir, sem perceber, seus olhos se avermelharam.

Elise realmente estava com medo de perder seu companheiro. Hyan era a única família que detinha atualmente, e somente de relembrar a solidão, o desespero que sentiu no passado, tornava a perceber como ele era importante em sua vida.

Assim, também cansada com todo o incidente que ocorreu durante a viagem, Elise dormiu ao seu lado; pedindo assim a deus que não castigasse mais as pessoas em sua volta.

 

 

Acordado, me levantando cuidadosamente, olhei para meu corpo coberto de bandagens, quando não consegui evitar de sorrir impotente, percebendo como detivemos sorte nesse incidente.

Assim, imaginando inconscientemente se poderíamos realmente salvar os sobreviventes da Vila Montales; tive uma breve perda de compostura, quando tentei não pensar negativamente sobre o assunto.

E conforme tentava atrair minha mente para outras questões. Acabei olhando por um breve período a minha companheira, que dormia pacificamente, quando a cobri gentilmente, saindo assim eventualmente da minha tenda.

No entanto, assim que dei alguns passos para fora, rapidamente me tornei o centro da atenção de todo o acampamento, vendo como seus olhares eram frenéticos e fervorosos, era quase como se estivessem adorando uma santidade.

E conforme eu não sabia como me sentir diante seus olhares; Tenente Xim rapidamente me cumprimentou, dando assim seu relatório.

— Jovem Mestre Hyan. Fico feliz que conseguiu se recuperar com segurança, todos estavam esperando ansiosamente por sua recuperação — declarou Tenente Xim, quando percebi que mesmo sua atitude tinha mudado ligeiramente.

— Hmm... obrigado. Como estão os feridos? Espero que não tenhamos tido nenhuma fatalidade — perguntei seriamente, tendo o seu sorriso lentamente a sumir.

— Graça aos deuses ninguém morreu. Entretanto, muitos tiveram ferimentos graves, também perdemos oito cavalos, e nossa força foi cortada praticamente pela metade — esclareceu Xim, quando vislumbrou a expressão de seu Jovem Mestre escurecer.

— Mas não se preocupe, todos estão gratos por ainda estarem vivos. O Lasgotan era um adversário extremamente difícil, mesmo o nosso lorde e seus cavaleiros não teriam uma batalha fácil, já foi um milagre que conseguimos sobreviver — respondeu honestamente Xim.

— Ninguém morreu, hein… — murmurei, enquanto não conseguia vislumbrar essa situação como algo fortuito. Na verdade, me sentia um pouco culpado, não tendo me preparado melhor para eventuais adversidades.

Assim, uma ideia surgiu em minha mente, quando pensei em algo para aliviar essa culpa que sentia.

— Urgh! Estou um pouco fraco, mais ainda consigo me mover, venha! Me ajude a concluir um pequeno trabalho. — Ordenei de repente, ignorando assim sua confusão, quando acabei chamando outros soldados a disposição

 

 

— Isso… isso realmente vai funcionar? Nunca ouvi falar de tal milagre — exclamou um soldado com grande dor, tendo seu braço praticamente pendurado ao lado do corpo, somente suportando a dor graças aos medicamentos.

— Hmpf! Simplesmente feche a boca e espera as ordens do Jovem Mestre. Se ele diz que é capaz, então não sou eu que ira contra sua declaração — resmungou outro soldado ferido, olhando com desagrado para o seu companheiro.

Mas seja dito a verdade, muitos estavam céticos. O seu Jovem Mestre falou que poderia os curar rapidamente, mesmo aqueles que perderam um membro, enquanto o tivessem intactos a sua disposição ainda tinham a esperança de serem curados.

E diante de tal anormalidade, para muitos, isso só era o apelo de um jovem que se sentia culpado por suas vidas.

Na verdade, nenhum dos soldados culpava Hyan por seus destinos.

Talvez fosse diferente se ele fosse o primeiro a fugir, mas todos presenciaram como ele bravamente tomou a dianteira, sendo o primeiro a se colocar em perigo.

Claro, tal sentimento não impedia o medo que sentiram ao pensarem como seria o futuro de suas vidas. Ser um soldado era a única coisa que sabiam fazer para ganhar seu sustento, esperar que sobrevivessem pela simpatia e compaixão dos outros era um completo equívoco.

Portanto, todos sentiram um pouco de esperança nesse momento; esperando assim pacientemente pelas palavras de seu Jovem Mestre.

— Todos! O transporte dos feridos para a Matriz do Revitalizamento já foi concluído? — perguntei solenemente, vendo a expectativa dos soldados.

— Sim, independentemente da gravidade de seus ferimentos todos se encontram presente dentro do círculo da formação, mesmo os animais foram incluídos — declarou Xim com grandes expectativas.

— Tudo bem, bom trabalho — respondi, tentando suportar o cansaço que me abateu.

Assim, criando a Matriz do Revitalizamento. Essa formação se concentrava na utilização de vários medicamentos, como na utilização de pedras elementais contendo grandes quantidades de energia florescente.

Desta forma, instigava as células do corpo a se multiplicarem, acelerando o processo regenerativo, tendo até mesmo a capacidade de regenerar e reunir ossos e nervos rompidos ao ter um membro decepado.

Enfim, ativando a formação, utilizando de uma quantidade assustadora de energia e pedras primitivas, um brilho esmeralda acabou sendo emanado maravilhosamente de seu perímetro, quando uma forma humanoide se formou embaraçadamente acima da formação.

Era como o abraço de uma mãe calorosa, envolvendo todos os seus filhos amados em seu abraço, quando uma energia suave, calorosa e gentil penetrou em seus corpos, incluindo o meu.

E diante os olhos chocados dos poucos soldados que observavam atentamente da parte exterior do perímetro. Muitos começaram a se ajoelhar diante aquela pressão pura e gentil, era como ver um milagre bem diante de seus olhos, presenciando assim a descida de uma deusa sob a terra.

Mesmo os soldados dentro da matriz não detiveram uma reação diferente. Aqueles que tiveram graves ferimentos sentiram a dor lentamente desaparecer, presenciando perplexamente sua carne se regenerando em uma velocidade visível ao olho.

Enfim, toda a cena era algo imprescindível; onde mesmo aquele que tivera seu braço parcialmente decepado viu como seus nervos estavam sendo inesperadamente religados, voltando a mexer milagrosamente seus dedos.

Grito! Louvor fervoroso!!

Assim, em um curto período, homens começaram a louvar os deuses, e soldados que eram normalmente céticos sobre existências onipotentes começaram a derramar suas lágrimas, duvidando assim de suas próprias crenças.

Somente duas pessoas não se sentiram tocadas com toda a cena se desenrolando em sua frente, esses dois eram Elise e Xim.

Afinal, sabendo de sua habilidade em formações. Ambos inconscientemente se mantiveram observando Hyan, que se tornava cada vez mais pálido, quando sua postura começou lentamente a ceder, mesmo quando seu corpo era recuperado.

E diante essa cena, vendo como Hyan tinha dificuldade em se manter de pé, onde mesmo sangue começou escorrer repentinamente de sua boca.

Ambos com suas mentes perspicazes, assim como seu conhecimento sobre seu personagem, facilmente descobriram que não se tratava da descida de nenhuma divindade, mas o sacrifício de seu Jovem Mestre.

Movidos, entendo agora plenamente a situação. Concluíram que a situação não poderia continuar, quando avançaram apressadamente em sua direção, convencendo Hyan a interromper imediatamente a formação, antes que sofresse efeitos colaterais.

— Urgh. *tosse* … *tosse*… Patético, não tenho nem forças para exercer uma formação curativa — resmungou Hyan depreciativamente, percebendo aliviadamente que a maior parte dos ferimentos dos soldados foram curadas com sucesso.

Desta forma, se sentindo exausto. Hyan sabia que não devia nada a essas pessoas, não tendo a necessidade de se pressionar dessa forma. Porém, lá no fundo, escondido profundamente em seu coração, algo parecia dizer que isso era o mínimo a fazer por essas pessoas.

Em primeiro lugar, esses homens não eram obrigados a lhe acompanhar, sua obrigação estava com a Cidade de Eydilian, não com Hyan Fayfher.

Além disso, quando o Lasgotan surgiu, era inevitável que a maioria deles fugissem por suas vidas; se tivesse em seus lugares não olharia para trás, fugindo imediatamente.

No entanto, lá estavam quando sua vida estava em risco. Hyan não era uma pessoa boa, nunca pensando o oposto em seus muitos anos de vida.

Entretanto, era alguém que sabia corresponder a atitude sincera das pessoas. E por mais que odiasse atualmente os presentes da Cidade de Eydilian, que viraram as costas para sua existência em sua vida passada.

Essas pessoas lutaram ao seu lado para mudarem seus próprios destinos.

Quando Hyan fechou os seus olhos, perdendo a consciência, antigas figuras inconscientemente vieram em sua mente, esses eram seus companheiros que morreram ao seu lado, lembrando-se de cada um dos que partiram desse mundo com um sorriso no rosto, instigando-o a continuar em frente.

 

 

Mais tarde, recuperando minha consciência somente no começo do entardecer, assim que abri meus olhos, vislumbrei Xim cultivando silenciosamente do outro lado da tenda.

E sentindo meu despertar, ele calmamente abriu seus olhos. Mas naquele momento, vendo seu olhar, aqueles olhos serenos, consegui ver admiração genuína. No entanto, não me senti realizado ao perceber suas emoções, pelo contrário, senti um sentimento completamente oposto.

— Se você esperou aqui para me agradecer de antemão então não o faça. Não me coloquei em perigo por simples bondade…

— Na verdade, se soubessem verdadeiramente do meu objetivo, acredito que nenhum de vocês seriam verdadeiramente gratos. — Bufei, vendo sua serenidade, enquanto me levantava com dificuldades.

— Já sabemos… enquanto estava inconsciente, Dylan veio diante o grupo enquanto se desculpava conosco. Afinal, depois de tantos incidentes, era difícil se manter em silêncio sabendo que todos poderiam morrer na mera esperança de salvar alguns sobreviventes — comentou Xim, me olhando estranhamente.

— Quando ele contou sua história, muitos soldados realmente não sabiam como corresponder diante tal situação. Na verdade, não seria estranho se ficassem furiosos, isso não era diferente de suicídio, onde ninguém esperou que essa viagem seria tão perigosa.

— No entanto, diferente do que você esperava, nenhum deles decidiu recuar. Todos estão dispostos a ir até o fim ao seu lado, e como Tenente desse pelotão, fico até um pouco enciumado.

— Seja dito a verdade, eles nunca demonstraram tamanha devoção a mim… — Recontou Xim calmamente, vendo a expressão indiferente do seu Jovem Mestre Hyan.

— E você? O que acha de seu futuro lorde? Talvez eu valha a pena ter sua lealdade? — perguntei secamente, atordoando Xim com a minha repentina pergunta.

— Eu não sei. Servir a milícia da Família Fayfher era somente minha forma de ganhar o pão de cada dia. Nunca pensei em apostar minha vida seguindo alguém — respondeu Xim honestamente.

— Mas, pelo menos, posso afirmar algo… Por suas ações, não consigo ver você tratando seu povo como se fossem de uma espécie diferente… nenhum nobre se colocaria daquela forma em perigo — disse Xim sinceramente, vendo Hyan gargalhar inesperadamente.

— Eu realmente me sinto tocado pela sua sinceridade. Mas seja dito a verdade, pensei que me odiaria após saber das minhas intenções, assim como teria raiva pelo que aconteceu no passado — comentei, não sabendo como lidar adequadamente com a situação.

— Quanto a questão da lealdade, nada pode ser feito a respeito.

— Mas quero que saiba, o presente que lhe dei realmente é algo extremamente valioso, não pense que aquilo é algo prejudicial. Se conseguir domina-lo, então irá se tornar a base para possuir um poder realmente formidável — expliquei, me levantando por completo da cama, quando caminhei até a saída da tenda.

— Além disso… no mundo que almejo, não existem nobres ou plebeus… somente pessoas — murmurei estando parado por um instante na saída da tenda, saindo sem mais nada a dizer.

 



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