A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 22: A reunião (2)

 

 

 

Quantas vezes em minha vida passada esperava presenciar esse lado do meu pai? Mesmo após viver muitas décadas, sempre pensei como seria a minha vida se as coisas tivessem sido diferentes.

Talvez, lá no fundo, desejava profundamente a sua aceitação, o seu reconhecimento, querendo que ele se orgulhasse de minhas conquistas e escolhas.

Mas então as lembranças do passado vieram à tona, me lembrando como essa pessoa poderia ser fria, cruel e indiferente. Desta forma, acabei tornando esse breve sentimento misterioso a se extinguir completamente.

Me recompondo, não deixando que suas palavras suaves abalassem minha determinação, vagarosamente dei evasão aos meus planos.

— Pai. Eu não tenho problemas em dizer detalhadamente o que andei exercendo nesses poucos meses. Entretanto, também tenho meus desejos egoístas com essa visita; portanto, desejo propor uma aposta…

— Se eu vencer, gostaria de pegar o Terceiro Pelotão emprestado, como também alguns itens no Salão de Tesouros da Família Fayfher.

— E no caso que eu venha perder, direi tudo o que deseja saber, como prometo não deixar um único detalhe de fora, seguindo absolutamente as suas ordens — declarei, vendo a sua surpresa.

Ouvindo o seu tom indiferente, Lytian Fayfher por um momento sentiu um sentimento irreconhecível em seu coração.

Era verdade que nunca foi um pai amoroso ou atencioso com seu filho. Entretanto, nesses últimos meses, sentiu que a distância que detinha com seu filho estava se tornando cada vez maior. Chegava a um ponto que sentia que seu filho guardava inesperadamente um grande rancor em sua direção.

Contudo, Lytian não conseguia entender o motivo que o levou a ter essa atitude. No entanto, se isso o fizesse mais forte, mais astuto e capaz, aceitaria seu destino, pois seu maior desejo era que seu filho tivesse o necessário para herdar sua família e responsabilidades.

— Hyan. Por mais que esteja intrigado com essa aposta e suas intenções, despachar o terceiro pelotão a suas ordens me traria muitos problemas, tenho primeiramente dúvidas se conseguiria realmente comanda-los com sucesso — explicou Lytian, colocando assim uma aparência séria.

— Além disso, usar o poder de sua família para resolver problemas pessoais poderia desgraçar a nossa reputação, não é algo que descartaria facilmente somente para sanar a minha curiosidade. — Concluiu Lytian decididamente, reparando minunciosamente em minha reação.

— Oh! Eu entendo, pai. Na verdade, compreendo perfeitamente o seu ponto de vista. Portanto, faço uma promessa aqui e agora — declarei, colocando também uma aparência severa e determinada.

— O meu objetivo com o terceiro pelotão não é por motivos egoístas; pelo contrário, acredito que aumentarei consideravelmente nossa influência se os meus planos ocorrerem com sucesso…

— Além disso, minha sugestão pode ser simples, mais acredito que tenha muito a ganhar com esse acordo — declarei sutilmente, desamarrando a espada em minha cintura, desembainhando parcialmente sua lâmina.

— Isso…?! — Assim como Lytian estava determinado a recusar a oferta do seu filho, seus olhos pararam coincidentemente no padrão em sua lâmina.

E vendo a cena diante os seus olhos, seu coração nesse momento não conseguiu manter sua calma.

Atualmente, somente uma pessoa tinha a capacidade de fazer espadas de aço damash, e esse indivíduo não queria ser visto por ninguém; portanto, como o seu filho poderia estar ciente dessa figura importante?

— Hyan… — falou severamente Lytian Fayfher, mas foi prontamente interrompido.

— Deixei claro minhas intenções, tudo o que tenho a dizer é se aceita ou não a minha oferta — expressei.

— Mas posso dizer que seus pensamentos estão corretos, estou relacionado com aquele Mestre Ferreiro. — Expus, vendo sua expressão se distorcer, expressando uma indescritível severidade.

— Tudo bem. Digamos que eu aceite sua aposta, como definiremos um vencedor? — falou Lytian Fayfher seriamente, batendo seus dedos sobre a mesa, tentando colocar suas emoções em ordem.

O Mestre Ferreiro era algo que poucas pessoas em sua família estavam cientes, e ter sua colaboração era algo indispensável, seja em questão ao desenvolvimento do seu território, como a obtenção de uma força maior para vencer seus inimigos.

Portanto, Lytian Fayfher jamais imaginaria que seu filho, alguém com talento, mas com uma atitude desfavorável, estaria inesperadamente próxima a essa figura.

Nesse momento, essa oferta se tornou extremamente atraente, e Lytian queria saber como seu filho se aproximou do Mestre Ferreiro, assim como sua identidade.

— Simples, vamos ter um duelo, escolha alguém para ser o meu oponente, e deixe o Terceiro Pelotão assistir a essa disputa. Acredito que tal ação, um costume frequente entre os integrantes da milícia, seja o suficiente para convencê-los a me obedecer — comentei, vendo a sua perplexidade.

— Hyan. Você está ciente do que acabou de dizer? Ter o apoio do terceiro pelotão com esse seu planejamento precisa no mínimo vencer um guerreiro renomado da nova geração…

— Entretanto, todos eles são cultivadores que alcançaram o Reino Corporal, realmente acha que pode vencer tal adversário? — perguntou Lytian com ceticismo, não conseguindo entender as intenções do seu filho.

— Porquê se preocupa? Isso não é vantajoso para você? — Expus, presenciando seu choque e completo silêncio.

Realmente a situação era vantajosa. Mas Lytian não era alguém que se aproveitaria descaradamente da fraqueza de um indivíduo, pelo menos, não de alguém que não era seu inimigo, essa era a sua linha de fundo, ainda mais quando se tratava do seu próprio filho.

Além disso, qual era a honra de colocar alguém do Reino Corporal para duelar com alguém que nem se quer despertou? Do seu ponto de vista era uma atitude desprezível.

Porém, Lytian também não conseguia deixar de lado os benefícios; ainda mais vislumbrando sua atitude, percebendo que mesmo após mencionar o assunto, seu filho parecia não se importar.

Na verdade, ele parecia desdenhoso com tudo isso, como se estivesse confiante em sua vitória.

— Tudo bem. Desde que deseja se testar dessa forma, por que não duela com o próprio Tenente Xim? Ele é um homem talentoso, e tem bastante influência entre a milícia. Se vencer, não terei nada a dizer, como terá o apoio completo do terceiro pelotão — esclareceu Lytian, continuando.

— Mas se perder, mudarei sutilmente os termos… Permitirei que escolha mais dois adversários de sua escolha, dessa forma acredito que não será injustiçado, está de acordo? — declarou Lytian, percebendo que a expressão do seu filho mudou sutilmente, quase como se quisesse formar um leve sorriso.

— Muito bem. Irei me dirigir ao campo de treinamento, peço que somente o terceiro pelotão compareça, então realizaremos nossa disputa. — Ordenei, indicando para Elise que estávamos saindo.

 

 

— Hyan. Eu sei que você já despertou, também acredito que esteja confiante em vencer essa disputa. Mas o que o lorde quis dizer com um cultivador do Reino Corporal? — indagou Elise curiosamente, enquanto andávamos pelos corredores do castelo.

— Hã? Eu não te expliquei anteriormente sobre os reinos de cultivo? — expressei surpreso.

Mas vendo sua expressão confusa, logo me toquei que Elise não teve a oportunidade de aprender sobre os diversos conceitos que envolviam os cultivadores.

— Suspiro. Os reinos de cultivo nada mais são que as categorias retratadas pela diferença de poder entre os cultivadores…

— Assim, toda vez que você supera um reino de cultivo, acaba alcançando um novo nível de força, como compreende uma parte dos mistérios que envolve o céu e a terra, como sua própria afinidade.

— Enfim, um cultivador, logo após o despertar, entra formalmente no Reino do Despertar, e cada reino é dividido em três estágios, aos quais representam alguns conceitos da cultivação, algo deixados por nossos ancestrais…

— Eu, por exemplo, ainda estou no Estágio do Despertar Fundamental, do Reino do Despertar.

— Neste estágio, o cultivador deve se concentrar em estabelecer a base para o seu Centro de Energia, assim como estabilizar sua formação.

— E após esta etapa, constituindo a fundação do seu Centro de Energia, vem o Estágio da Fundação Integra, onde você irá harmonizar seus canais de energia com o seu Centro de Energia, assim como aprimorar as suas limitações, aumentando seu controle e quantidade de energia interna.

— Então, por último, o Estágio Profundo. Nesse estágio, você deve não somente harmonizar o seu Centro de Energia com seus canais, mas com a totalidade da sua própria existência, como o espírito, fundindo sua própria vontade em seu centro de energia, convergindo sua energia com um simples pensamento.

— Assim, superando o primeiro reino de cultivo, quebrando as limitações do Estágio Profundo. O cultivador passa por uma barreira, chegando ao Reino Corporal, esse é também o reino mencionado por meu pai, onde encontra-se os melhores soldados da nova geração em nossa família.

— Nesse reino, entrando formalmente no Reino Corporal, Estágio do Corpo Primal. Primeiramente o cultivador deve imbuir sua energia interna em sua própria pele, sangue e músculos, tornando-os a se acostumarem com a força estrangeira, aprimorando e fortalecendo sua própria força física e resistência.

— Em seguida, vem o Estágio do Corpo Consolidado. Tendo sua pele, sangue e músculos acostumados com a energia interna, o cultivador começa a infundir sua energia em sua própria estrutura óssea, conseguindo dessa forma estimular o potencial adormecido dentro do corpo, como amplificar sua força física, o transformando lentamente, exercendo assim uma força muito mais formidável.

— Então tem o último estágio, o Estágio do Corpo Perfeito. Nesse ponto, o corpo quase foi totalmente transformado a partir da sua própria energia interna, exceto o mais importante, o coração.

— Nessa etapa, quase alcançando um corpo perfeito, o cultivador deve refinar seu próprio sangue, mudando sua essência e convergindo essa força para formar um Núcleo Vital dentro do coração.

— Esse Núcleo Vital é o que sustenta toda a vitalidade do cultivador, como aumenta sua longevidade, aumentando assim drasticamente a sua expectativa de vida.

— Superado, completando todos os estágios do Reino Corporal. Depois de romper esse último passo, vem o Reino Espiritual. Um reino centrado na personificação da alma, reforçando o alicerce da espiritualidade.

— E entrando formalmente no Estágio da Alma Crescente, o cultivador utiliza de sua energia interna, assim como seu corpo fortificado para reforçar seu próprio espírito, um processo árduo, onde o cultivador deve dominar suas emoções, concentrando e materializando assim sua própria alma em uma Chama da Vida.

— Em seguida, vem o Estágio da Alma Integra. Ao qual o cultivador após dominar suas emoções, formando assim sua Chama da Vida; deve nutrir e fortalecer sua pequena chama, fortalecendo assim sua convicção, elevando respectivamente sua força a um novo patamar.

— E então vem o Estágio da Alma Ascendente. Onde após materializar sua Chama da Vida, como a fortalecendo respectivamente. O cultivador deve conectar sua vontade com o Núcleo Vital e o Centro de Energia.

— Assim, formando esse ciclo natural, onde essas três existências iram instigar o crescimento um do outro, o cultivador consegue naturalmente transcender toda a sua existência.

— Enfim, esses são os desafios que um cultivador deve passar para se distinguir diante tantos indivíduos, já que esses três reinos de cultivo são um divisor de águas. — Conclui, vendo a sua perplexidade.

— Eu… eu não esperava que a cultivação fosse algo tão extraordinário e complexo.

— Mas, Hyan. Se os reinos de cultivo são uma definição da força alcançada por um cultivador, isso não significa que você é muito mais fraco que seu próximo adversário? — indagou Elise confusamente, tendo muitos pensamentos em sua mente.

— Bem, você pode dizer de um modo superficial que esse é o caso. Entretanto, o reino de cultivo não é algo que defini corretamente a força de combate de um cultivador, mas sim a etapa que ele está passando atualmente…

— Assim, veja um exemplo simples… No Reino Corporal, temos que usar nossa própria energia interna para aprimorar nossos corpos. Contudo, quem pode dizer a forma correta de utilizar a energia interna para aprimorar o próprio corpo?

— A verdade é que temos diversos métodos a disposição. Além disso, ainda temos o fato que cada indivíduo nasce com uma constituição diferente, ninguém tem um corpo igual.

— Essas ocorrências acabam gerando diferentes resultados durante a cultivação. Portanto, também temos diferentes tipos de força de combate — expliquei, sendo um tema bastante complicado.

— Enfim, nunca podemos ser descuidados ao enfrentar alguém com um reino de cultivo inferior, isso é um discernimento básico que qualquer cultivador deve ter. — Aconselhei seriamente.

— Além disso, apesar de ser um pouco insultante, minha família não tem uma boa base de cultivação, seus conceitos estão incompletos ou distorcidos.

— Sinceramente, não tem um cultivador nesse lugar que realmente vale a pena valorizar — falei, balançando a cabeça em desapontamento.

— Isso…. está tão ruim assim? — perguntou Elise estranhamente.

— Como não estaria? Realmente acredita que é fácil para um não-praticante vencer um cultivador? — perguntei sarcasticamente, vendo sua estranha expressão.

— Mesmo que um cultivador estivesse no primeiro estágio do Reino do Despertar, é um resultado evidente que qualquer não-praticante morreria no próximo movimento. — Expus, vendo o seu silêncio.

— Claro, entendo seus pensamentos; e talvez para você, Elise, minha explicação seja confusa, já que está se usando como referência.

— Porém, acredite, sua força é maior do que aparenta, quando despertar… Heh! Dificilmente esses cultivadores serão páreos para você — expliquei, contendo assim o meu orgulho.

— No entanto, não permitirei que se torne arrogante, o mundo é vasto, e não faltam pessoas talentosas — comentei, vendo o seu aceno sutil, tendo a pensar profundamente sobre o assunto.

Enfim, sem mais conversas, saindo do castelo, andamos em direção ao campo de treinamento, uma área vazia bem ao lado, usada para o treinamento da milícia.

 



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