Volume 1

Capítulo 4: O Acordo Demoníaco

Depois que Yaga, o Goblin Xamã, se levantou, todos os outros que nos observavam à distância ficaram em silêncio – até então, estavam murmurando um para o outro, se perguntando o que estávamos discutindo.

Ele se aproximou de mim e deu um sorriso sincero, porém, também colocou a mão na minha cabeça, afagando meus cabelos como alguém que acaricia um cão.

— O que você acha que está fazendo? — perguntei de forma ríspida.

Oh! Perdoe-me, senhorita Yamitsuki. Mesmo que fale como adulta, eu pensei que gostaria disso. — Ele tirou as mãos, e fez um pedido de desculpas, depois continuou: — Mas, não crie problemas, pois levarei este aviso como o último.

Deu alguns passos para que ficasse diante dos outros goblins.

Wow, agora que desativei alguns avisos do Sistema, vários outros goblins se reuniram na entrada da galeria e sequer pude percebê-los se aproximar.

Yaga deixava seu cetro de lado, porém, o cetro continuava em pé – flutuando para falar a verdade. Estava manipulando o objeto com magia?

Depois disso, deu mais alguns passos e ficou diante daquela “escadaria” natural. Ergueu seus braços e começou a falar para todos outros goblins:

— Meus companheiros, a profecia da chegada do próximo Rei Demônio era verdadeira! — Me observou por um momento, antes de continuar: — E aqui está a verdadeira Princesa Demônio, legítima para tomar o poder e controle do Reino dos Demônios.

Ele está falando de mim? Sequer sei como vim parar neste mundo louco, imagina ser o que ele está esperando. Porém, não posso discordar de nada se preciso me manter nesse papel.

Yaga ainda continuava:

— Nós, como Goblins, estamos ligados à magia sombria e é nosso dever proteger e servir a Princesa Demônio. Ela irá nos liderar para um mundo onde governaremos sobre tudo e todos...

— Espere, Yaga! — falei baixinho, segurando suas vestes para que ele parasse o quanto antes.

Ele apenas se virou, inclinando-se um pouco para baixo e para meu lado.

— Sim, minha majestade?

— Corte essa de majestade... — suspirei. — E não quero tirá-lo do seu cargo de líder, guia espiritual, seja lá o que você for.

Ele ficou com uma expressão de dúvida e ainda estava com os braços levantados.

— Não é de se interesse nos liderar para conquista? — E baixou os braços. — Certamente nossas forças não se comparam às outras criaturas sombrias, porém, somos fiéis ao pacto sombrio.

— Não é isso. — Olhei para os outros que também estavam com aquelas expressões de dúvida já que o discurso foi pausado na metade. — Só não gostaria de removê-lo da liderança. Ainda quero que os mantenha sob seus cuidados.

— Se é o que deseja...

— Sim... Como eu disse antes, ainda sou novo e não sei muito, gostaria de aprender mais sobre o mundo primeiro.

Yaga então, me encarando de cima para baixo, comentou baixinho:

— Não considere minhas palavras ofensivas, senhorita Yamitsuki, porém, com sua aparência, enquanto não mostrar seu poder, nenhuma criatura ou monstro irá te levar a sério.

Essa cena me parece muito com uma criança envergonhada recebendo conselhos de seus avós, e por isso estou me sentindo um tanto contrariado. De qualquer forma, se ele é o chefe daqui, enquanto não souber como funcionam as coisas, quero todo o tempo necessário para analisar e me situar.

Acerca do comentário dele, concordei:

— Sim, eu estou ciente disso. Quero me manter oculto o máximo que conseguir... — Soltei as vestes dele. — E você parece muito um líder para mim, logo, acho melhor que continue da maneira que está.

Ele deu um sorriso largo, concordou com a cabeça e voltou a levantar os braços – por acaso isso era necessário para falar com os outros goblins?

— A Princesa Demônio, Yamitsuki Ottoe, supervisionará nossas ações e eu serei um de seus Generais Sombrios. Os Goblins da Montanha continuarão sob meu comando, mas não esqueça quem nos julgará — disse enquanto virou-se para mim, e depois de um momento, continuou a falar: — Espalhem para os outros Goblins da Montanha, para os que estão no ninho e para todos que se estão pela floresta. Qualquer um que ir contra a princesa pagará com sua vida.

Generais Sombrios? O que significaria isso? Além disso, da forma como ele disse tais palavras, até mesmo eu senti o tom ameaçador. Quando olhei para os outros goblins, pude ter certeza, isso eram palavras intimidadoras, não só para divulgar as novidades, como também demonstrar poder.

Apesar de não ter gritado nenhuma vez, os outros goblins o entenderam perfeitamente e isso me fez questionar como. Eu possuo minha [Percepção Passiva] e poderia escutar sons mesmo de longe, mas os outros goblins não pareciam tê-la. Então, como?

Yaga que tinha terminado seu discurso, arrumou suas vestes e segurou seu cetro que ainda estava voando.

— Espero que tenha sido de seu agrado, princesa Yamitsuki.

Concordei com a cabeça e quando ele começou a andar, continuei:

— Yaga.

— Sim, minha pequena?

— O que você fez para que os outros o escutassem? — Como posso perguntar isso sem parecer-me um completo ignorante? — Foi algum tipo de magia?

Oh! Vejo que seus olhos são bem atentos — comentou enquanto observava os outros goblins sair do salão. — Sim, amplifiquei minha voz com magia, ou melhor, os fiz escutar com clareza.

— Há diferença? — perguntei curioso. Magia... seria a primeira vez vendo-a funcionar.

— Claro. — Apontava para uma das paredes, aquela mais próxima de nós. — Está vendo aquela parte? Ela está sedimentada, qualquer impacto, até mesmo do som, seria capaz de derrubá-la... Ao menos parte dela.

— E o que tem?

— Vou te mostrar a diferença entre se fazer escutar, e aumentar o som como um grito.

Mesmo que estivéssemos afastados, quando comecei a caminhar para aquela direção, ele me impediu. Então percebi que ele queria demonstrar o que estava dizendo dali mesmo.

— Essa é uma mensagem influenciada com magia — Yaga sussurrava.

Ainda não conseguia distinguir tão bem o que era ou não magia, mas, pude notar seus olhos brilharem brevemente. Seria esse o sinal de magia?

Nada aconteceu.

AGORA ESTOU GRITANDO! — Yaga gritava.

Também não tinha acontecido nada. Então, veio a terceira demonstração:

— Esse é um grito amplificado! — gritou, mas também usou daquela “magia”.

Não só eu o escutei gritar, obviamente, como a coluna foi destruída como se levasse um golpe certeiro, no entanto, nada tinha batido naquele local se não o “ar das palavras”.

— Incrível, dá para fazer da voz uma arma?

Haha — riu como se uma criança o tivesse contado uma piada. — Sério? Como uma arma? Sim, até dá. No entanto, gastar poder mágico para isso seria ineficiente, minha pequena.

— Corte essa de pequena, também não precisa me chamar de princesa. Basta dizer meu nome... — Meu nome é muito longo se compararmos os dos goblins, suspirei e continuei: — Me chame de Yami.

— Como você queira, Yami. — Começou a andar para aquele “trono”. — Então, entendeu a diferença?

— Sim. E... — Acompanhei Yaga e esperei ele se sentar para continuar. — Gostaria de pedir outra coisa.

— Pedir? Considere o seu pedido uma ordem, princesa...

— ... — Olhei para ele.

— Yami. — Corrigiu.

Levantei minhas mãos e olhei para meu corpo, também o encarei por um momento já que estava trajando roupas dignas de um “chefe”, além de ser bem diferente das que os outros goblins estavam utilizando, eram roupas sob medida. Se ele tem roupas nesse nível, significa que ele também pode arranjar algumas para mim.

Me aproximei dele depois da análise e comecei:

— Enquanto caminhava para cá, vi alguns goblins com roupas... E você mesmo, está usando belas roupas... — Por que estou me enrolando aqui? Peça logo! — Não quero continuar do jeito que estou, gostaria de algumas... algumas... roupas para mim! — gritei, e logo suspirei.

Haha — riu novamente, e depois de se acalmar, continuou: — Isso te preocupa, minha pequena? Sim, de certo que sim. Por um momento achei que não era problema visto que até então não estava envergonhada.

— Não é bem tipo vergonha... só algo como uma segurança adicional — disse baixinho essa última parte.

— Não se preocupe.

Ele se levantou e pegou seu cetro. Mais uma vez utilizava da “magia” para amplificar sua voz, porém, assim como antes, não estava gritando. Chamava pelo Togo, o goblin comandante.

Depois de um tempo, Togo apareceu.

— Chame Tina e Saga — ordenou Yaga.

— Sim, líder Yaga — respondeu Togo.

Togo me observava do lado do trono e fez um sinal de reverência, antes de partir.

— Ele é o comandante, certo? — perguntei, enquanto estava do seu lado.

— Sim. Ele comanda e supervisiona os outros goblins — respondeu e deu um sorriso. — Tens olhos afiados, Yami.

— E os outros dois que chamastes, quem são?

— Tina e Saga, duas goblins do clã. São elas que fazem as roupas por aqui. Afinal, como a senhora deseja, podemos pedir para que elas façam algumas peças para você.

— Vi que costumam usar couro de animal.

— Sim. Há também seus pelos e alguns tipos de plantas capazes de confeccionar roupas, porém, não igual àquelas delicadas feitas pelos humanos.

O que ele quis dizer com isso?

Hmmm? — murmurei em dúvida.

— Percebi que assim que olhastes minhas vestes, lhe trouxe um certo alívio, e, por não se surpreender, me pergunto se já viu roupas iguais a estas.

— Podemos dizer que sim.

— Entendo. — Ele segurou sua própria gola e continuou: — Creio que as duas não conseguiriam reproduzir esse tipo de vestes. Então, se não se importar, gostaria das minhas?

— Quê? Não... Apenas preciso de algumas peças temporárias, depois, vejo quais seriam minhas outras opções.

— Como desejar, Yami.

Levou-se alguns minutos até que as “garotas” goblins se aproximaram. Então, estas são as fêmeas da raça? Por que elas parecem muito mais humanas que os machos? Quero dizer, há uma diferença gritante aqui em relação à beleza como um todo. Aff, quer saber, por que eu deveria me importar?

As duas caminharam até o trono e ficaram paradas na nossa frente. Yaga apenas apontava para elas enquanto afirmava:

— Estas duas são aquelas que confeccionam nossas roupas, Tina e Saga.

Elas ergueram as mãos como se estivessem se apresentando e logo se aproximaram – ainda mais – de mim. Seguraram minhas mãos como se já fossem minhas amigas e sorriram.

As duas eram menores que os outros goblins, no entanto, seus status mostram que elas eram mais velhas.

Tina possui cabelos roxos, pele menos rugosa e olhos sérios. É mais alta que Saga e tem uma estrutura mais atlética.

Saga por outro lado até parece uma criança humana, exceto pela pele esverdeada, os grandes olhos amarelos e algumas marcas no rosto. Ela possui o cabelo longo preso em duas marias-chiquinhas e usa um vestido feito de trapos brancos.

Aparentemente não estão ligadas ao combate pois sequer tem uma classe, no entanto, pela lista de Habilidades, possuem conhecimentos em várias áreas, incluindo artesanato, alfaiataria e até mesmo joalheria.

Sistema: [Artesanato – habilidade utilizada por artesãos, alfaiates e joalheiros. Outras habilidades como Alquimia e Forja também são afetadas por Artesanato. Melhora a qualidade dos itens, a velocidade de criação e seus poderes de maneira geral].

Apareceu um aviso sobreposto ao que já estava vendo. O que há com esse popup saltando do nada?

Sistema: [Você concluiu os requisitos, deseja aprimorar o Sistema?][Sim][Não].

Aprimorar? No sentido de melhorar o Sistema? , por que não? Até então isso está se mostrando realmente conveniente e fora da curva, que mal tem deixá-lo ainda mais forte e poderoso?

Sim, pensei.

As garotas ainda estavam segurando minhas mãos.

Sistema: [Agora você pode distribuir seus Pontos de Habilidades em Habilidades Disponíveis ou Habilidades à Aprender].

[Habilidades serão aprendidas se você estiver próximo ou saber acerca delas a partir de um conselheiro ou atingir certas condições].

O que há com tudo isso? Por que várias telas surgiram do nada? Para com isso porra!

Acabei ficando confuso e quase perdi tudo. Ainda bem que o Sistema as fechou. Em primeiro lugar, se essa merda vai acontecer, por que abrir todas de uma vez?

— Tudo bem Princesa? — perguntou Tina.

— Está com fome? Deseja algo? — perguntou Saga.

— Tudo bem, não é nada — respondi.

Elas que ainda estavam segurando minha mão, começaram a me puxar.

— Por aqui Princesa Demônio.  Teremos que ir até a sala das roupas — comentou Tina.

— Sim, lá iremos tirar suas medidas e fazer uma roupa para você, Princesa Demônio — afirmou Saga.

Acabamos de sair de uma reunião em que foi deixado claro que eu seria o tal “líder absoluto” do Reino de Demônio, porém, olhe as duas goblins me tratando como uma criancinha. Apenas sorri – falsamente – e as segui.

Durante todo o percurso elas ficaram de mãos dadas comigo.

— Nem acredito que iremos fazer as roupas para a Princesa Demônio! — afirmava Tina.

— Sim, também fiquei surpresa — respondeu Saga.

— Me chamem de Yami — disse enquanto caminhava ao lado delas. — Vejo que vocês não têm problemas em se comunicar.

— Ah, isso? Não se preocupe. — Tina parou e começou a explicar: — Se está nos comparando aos outros goblins machos, nós sabemos nos comunicar muito bem. O Líder Yaga também nos ensinou como se expressar melhor.

— É? E por que ele não fez o mesmo com os outros? — perguntei apenas por educação.

— Eles são muito burros — respondeu Tina.

— Sim. Não entendem nada direito — comentou Saga, e logo foi até minha frente. — Se precisar de qualquer coisa, é só pedir, Princesa... Yami!

O que há com essa conversa? Por acaso virou o clube da Luluzinha? Fiz com que elas soltassem minhas mãos.

— Sim, preciso de roupas — comentei.

— Ah, sim. Vamos para a sala das roupas.

Tina então voltou a pegar minha mão e continuamos o caminho.

Saga não parava de me examinar.

— Você é muito fofinha Yami — disse Saga.

— E, não é? — afirmava Tina.

Não sei se elas são ingênuas ou realmente querem se tornar minhas “melhores amigas”, porém, ainda não perceberam que eu não quero conversar com elas?

— Olhe... “garotas” — suspirei e com uma pausa, continuei: — Vamos resolver “meu problema” primeiro?

— Me desculpe Yami — respondeu as duas.

Eu já notei que meu novo corpo é “fofo”. Não precisa ficar me chamando de “fofinha” quando eu percebo os olhares famintos vindo detrás das sombras da caverna. Tenho toda certeza de que, se não demonstrasse minha aura antes, esses malditos iriam pular em cima de mim.

Além disso, como elas podem ser tão educadas? Mesmo que o Yaga estivesse ensinando-as, não há muita coisa que pudesse afetar a forma de comunicação. Ainda estão usando [Linguagem de Monstros], certo?

Durante o caminho, pude ver outros tipos de corredor e quartos, então perguntei para as duas do que se tratava, basicamente – e resumindo – eram dormitórios, depósitos e uma área onde seria o “berçário” ou algo como uma creche para as crianças goblins. Elas disseram que havia mais lugares para o outro lado da caverna, porém, apenas os machos poderiam ir até lá.

— É? E por quê? — questionei.

Ah... err, hmmm...

— O que houve? Até então estava se comunicando bem, agora travou?

— Não, não travei — Tina respondeu rapidamente, mas logo começou a olhar para o corredor no qual eu apontei. — É que lá, Yami, é onde fica a sala do tesouro e a sala das escravas. A gente não pode ir para lá sem permissão do Togo ou do Líder Yaga.

— Sim, os outros goblins ficam enfurecidos se formos para lá — respondeu Saga.

Sala com escravos? Sério isso?

Sistema: [Você deseja utilizar Teste Intimidar?][Sim][Não].

Quê? Não. Sisteminha... Você não precisa intimidar tudo que aparece na minha frente.

Sistema: [Você deseja ativar Aura Demoníaca?][Sim][Não].

Não porra! Se não quero usar intimidação, por que motivos você acha que eu gostaria de ativar a Aura Demoníaca?

— Algum problema, Yami? — perguntou Tina.

— Não. Tudo bem, já entendi. Vamos continuar, ainda quero minhas roupas hoje.

Ah, certo. Vamos, estamos quase chegando — voltou a segurar minhas mãos. Eu mereço.

Apesar de não termos caminhado por bastante tempo, ainda era um tempo considerável em relação a sala do trono, porém, finalmente chegamos até aquela “sala das roupas”. Na verdade, essa sala era apenas outro quarto natural feito dentro dessas cavernas.

Finalmente “o cômodo”, para minha surpresa, havia de tudo um pouco. Desde linhas até ferramentas únicas, tal como uma máquina de costura antiga e alguns suportes para armadura e roupa. Isso certamente não foi feito pelos goblins. Dei alguns passos para dentro e elas fizeram o mesmo, já indo em direção a uma estante repleta de tecidos e pedaços de armadura.

Nada dentro dessa sala parece ter sido feito pelos goblins, e mesmo não tendo rastros humanos, ainda há mesas e estantes aqui, então, de onde veio essa mobília?

Se não me engano, normalmente goblins e aventureiros costumam se enfrentar, e se eles realmente ficaram mais inteligentes como aquele outro grupo comentou, então eles seriam capazes de derrotar os aventureiros ou até mesmo saquear viajantes pela estrada.

Fui até uma mesa que estava à minha direita e observei um pedaço de pergaminho. Ele estava enrolado. Junto com ele, havia folhas de papel e uma mesa de tinteiro.

— Vocês também usam isso aqui? — perguntei apontando para a mesa.

Oh? Não... Não usamos isso. Apenas essa parte Yami — respondeu enquanto apontava para a área onde estavam.

— É, certeza.

Apesar de elas estarem falando tão bem comigo, não significa que são cultas ou inteligentes o suficiente para usar essas ferramentas de escrita. Na verdade, ainda é difícil explicar, mas tenho a certeza de que se trata da [Linguagem de Monstro], essa capacidade de falar tão bem, afinal, ela está atuando igual a [Tradução Mágica].

Deixei aquilo de lado, até porque não quero cutucar um ninho de vespas sem ao menos estar protegido.

Tina veio rapidamente na minha direção, carregando consigo um banquinho. Ela sorriu e pediu que eu me sentasse.

Fazer o que, me sentei.

Depois, tanto Tina quanto Saga vieram trazendo vários tipos de ferramentas para medição, desde cordas até mesmo o que parecia uma régua improvisada.

Elas usam trajes que me lembram os índios americanos. Se possuíssem um cocar de penas ou mesmo tatuagens coloridas, bastaria ignorar a pele esverdeada e os traços de goblin para chamá-las de indígenas.

Fico me perguntando, elas vão me fazer usar o mesmo estilo? Bem, agora tão pouco importa, desde que seja algo que me dê uma proteção extra e me faça parar de andar por aí totalmente nu, já agradeço.

Apesar das duas trabalharem intensamente, pelo jeito iria levar um tempo.

Fiquei observando essa área da caverna e imaginando o que deveria ter acontecido para que essas coisas tivessem parado aqui, além disso, acompanhei por alguns momentos os movimentos das goblins: como puxavam os tecidos e o couro, como cortavam e costuravam as partes do meu novo “uniforme”, como o [Artesanato] funcionava.

Enquanto elas ainda continuavam trabalhando, novamente o Sistema me avisou: [Você concluiu os requisitos, deseja Aprimorar o Sistema?][Sim][Não].

Outra vez? E que condições são essas? Sequer consigo vê-las.

Tanto faz, Sim.

[Habilidades reconhecidas, mas, não evoluídas, ficarão na aba: Habilidades à Aprender].

Novamente esse “Habilidades à Aprender”. Ei, Sistema, você não está se confundindo não, ? Pois já tinha avisado isso antes, mesmo que não houvesse botão ou aba alguma.

Então analisei as janelas novamente. Oh, agora o botão apareceu.

Sistema: [??? – Habilidades a Aprender]

  • [Golpe com Lança – um ataque simples que utiliza uma lança e um salto para amplificar a força do ataque].
  • [Apaziguar – habilidade utilizada por aqueles que desejam acalmar uma criatura ou monstro]
  • [Artesanato – habilidade utilizada por artesãos, alfaiates e joalheiros. Outras habilidades como Alquimia e Forja também são afetadas por Artesanato. Melhora a qualidade dos itens, a velocidade de criação e seus poderes de maneira geral].

Hmmm. Pelo jeito são todas habilidades que eu tive contato até então e parecem estar em ordem de aparecimento. Esse Golpe com Lança... Foi daquela vez quando Togo tentou me atacar? E esse Apaziguar, quando Yaga mexeu no meu cabelo? Espere aí, isso não seria o sistema me chamando de cachorro?

Fiz um sinal de punho serrado para o “céu” imaginando que algum deus idiota estivesse me vendo agora, porém, as duas olharam para mim e sorriram, fazendo o mesmo. Merda.

Suspirei e continuei.

Por último é o [Artesanato], que deve ser acompanhado durante boa parte do processo. Parece que ganhei elas apenas por estar perto, o que não é tão ruim.

Bem, na outra mensagem tinha dito que eu tinha pontos para usar nestas habilidades, então, quantos pontos eu tenho para evoluir?

Sistema: [Você atualmente tem 999.999.999... Pontos de Habilidade para gastar].

Que... porra... é... essa? Sério isso? O número inclusive está saindo da janela. Talvez seja aquela outra habilidade [Boa Sorte]? Não, o que isso importa agora. Quer saber, foda-se. Vou nem queimar meus neurônios com isso.

Olhei para minhas outras habilidades:

  • [Boa Sorte] • [Aura Demoníaca] • [Poder Demoníaco] • [Linguagem de Monstros] • [Analisar]

Todas estão no nível máximo, exceto [Analisar]. E pelo jeito elas só podem ser evoluídas até o nível 10. Isso significa que eu tenho praticamente pontos infinitos. Se isso não é considerado um bug, então os desenvolvedores desse jogo são um bando de incompetentes.

De qualquer forma, irei comprar [Apaziguar] e [Artesanato] e evoluir estas habilidades até o máximo.

Enquanto estava mexendo nas minhas Habilidades e verificando outras janelas do Sistema, Tina se aproximou com três conjuntos: um vestido acinzentado, mas cheio de terra; uma blusa e calça que mais parecia roupas de pirata e por fim, um conjunto de proteção de couro que me lembrava vagamente o mesmo uniforme que aqueles aventureiros de antes estavam usando.

Que merda, por que não me trouxeram apenas uma opção? Agora eu tenho que decidir... O que será bom para mim? Parecer uma criança indefesa, um retardado fantasiado de pirata ou uma criança que sonha ser aventureira?

Pelo amor... Então, vamos usar esse aqui...



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