Volume 2

Capítulo 70: BIO-EXPLOSÃO MOLECULAR

 

Os gritos de Batista ecoaram por todos os lados, indo acima e abaixo e voltando, como se resvalassem em algo, as ondas sonoras irritando Kai pouco a pouco.

Este, no entanto, tentou ficar calmo, mas a queda era brusca e causava tontura. Ele só pôde deduzir que a gravidade estava diminuindo. E isso dificultou na hora de usar o seu sonar, pois não havia luz.

Girando e girando – fosse sua cabeça ou seu corpo – Kai não conseguia parar a queda ou diminuir a quantidade de voltas que ele mesmo dava. E parecia que não ia acabar nunca, era como se caíssem eternamente.

– Acha... acha que consegue fazer aquele truque de antes? – Indagou Kai, a plenos pulmões.

Ele apostaria o quanto tivesse que Batista ficou ofendido com a pergunta. O sujeito era sentimental assim.

– Que tola a sua pergunta! Minha habilidade, no entanto, de-

– Guarde suas gabarolas para si, homem! – Kai tolheu, irritado. – Pode ou não?

Batista pigarreou.

– Sim, inferno! Sim!

Alguns segundos se passaram e Kai finalmente sentiu um repuxo. Depois um forte vento, diferente daquele que o açoitava em queda, envolveu a ele e, como bem deduziu, a Batista.

A escuridão não se tornou menos densa; no entanto, tornou-se mais fácil de enxergar dentro dela. Caíram rolando por um chão pedregoso, que arranhava e machucava. Rolaram e rolaram, até que Kai ouviu um baque seguido de uma lamúria. Daí foi sua vez de se estabacar em algo que lhe arrancou longas queixas.

Ele sondou com o chi, e não houve resposta. Era incomum quando isto acontecia. Será que existia algum tipo de força que bloqueasse os sentidos dele? Se sim, isto tornava a situação ainda mais delicada que antes.

Estava no escuro, e não gostava nem um pouco disso. Não sabia o que esperar, nem sabia como se preparar para o que viesse. Remeteu a ele o inconveniente de antes, quando foi capturado por Gorilas e quase morreu.

Afastou os pensamentos quando, ao menos, percebeu que sua audição estava em ordem. Fez uma checagem rápida no próprio corpo. Como estavam indo a uma rápida velocidade para baixo, iriam se estatelar no chão sem nem perceber a hora da própria morte. Com a mudança de direção através do sortilégio de Batista, conseguiram reverter mesmo que um pouco para aquilo que seria o fim derradeiro.

Não foi menos doloroso, mas estavam vivos. Ele sabia que tinha sofrido menos do que o outro, pois havia revestido o próprio corpo com um fino manto de chi – não queria gastar suas reservas, e duvidava que o processo de recuperação e meditação fossem tão rápidos quanto na superfície. Doeu, isso é fato.

Mas como dito antes, Kai conhecia muito bem seu corpo; já quebrara ossos o suficiente no passado pra saber que essa dorzinha não chegava nem perto da real dor de quebrar uma costela. Estava tudo em ordem, pelo menos internamente.

Pelos resmungos de Batista, soube que ele não dera tanta sorte.

– Tudo bem aí? – Indagou, mesmo sabendo que não.

– Inferno! Tinha que ser desta maneira? – Sua voz fez eco.

Kai suspirou, logo depois a lufada de ar retornou por suas narinas. Apesar de não ser tão renovado, o rapaz ficou grato, aproveitando cada partícula de ar que fortaleceria seus pulmões em instantes. Ficou inebriado.

– Não fosse por isso, você estaria partido em mil pedaços neste exato momento – Kai ergueu o rosto, sabendo que estavam numa grande distância da outra superfície. – Ou quem sabe daqui dez horas. Nunca se sabe.

Batista praguejou, e Kai pode jurar que algum osso ali havia quebrado. Não se importou o suficiente para checar a situação do outro ou fazer algo para ajudar. Já tinha problemas demais para bancar o curandeiro.

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Meio segundo mais tarde, uma parte diminuta de Eliyahu surgiu, iluminada por uma pequena e fraca chama, sobre um estranho objeto de metal carcomido. Era uma liga estranha, na verdade.

O fogo logo ficou maior, iluminando o rosto de ambos. O Firenze ergueu a mão e iluminou os arredores.

Kai não tinha certeza, mas era certo que estavam muito, mas muito no fundo. Não viam a borda do túnel, nem viam o teto. Batista virou-se, iluminando a parede escarpada que se chocaram. Um líquido caía.

– Pode remover a máscara. – Garantiu o Firenze.

Um quê de dúvida surgiu no rosto de Kai.

– Na superfície, principalmente próximo das capitais caídas, existe um ar bolorento que tu deves ter notado. Diria que é resultado do sortilégio do terceiro rei. Tanto faz. Aqui embaixo o poder dele não chega, por se tratar de um ambiente encafifado. Não me indagues a razão, temos coisas demais a pensar para buscar respostas. Vamos.

Kai tirou a máscara logo após a rápida resolução – e também arrogante – do Firenze. Ficou surpreso por notar que o ar não era tão poluído, e que rapidamente sua energia era reforçada. Não precisou de muito para descobrir que o chi estava tão presente ali quanto sal no mar. Aquele ambiente era rico em energia vital.

Ele não ligou muito para os detalhes, apenas para o caminho que se erguia diante deles. Viam pelo menos um metro adiante, o que os ajudaria caso dessem de cara com mais uma abertura – pelo menos até um segundo antes do fim derradeiro.

Caminharam pelo chão bruto, com Batista na frente.

– Quer dizer que tinha fogo desde o início? – Perguntou Kai, a voz menos abafada do que antes.

Batista virou a cabeça, encarando o rapaz por cima do ombro.

– Não preciso explicar isto, tu és um rapaz inteligente.

Kai ergueu um sorriso amarelo. Não gostava de agir feito um imbecil, fingindo ser o que não é, mas queria ter apenas certeza sobre suas deduções. Não estava errado.

Em outras palavras, acender fogo ou algum tipo de iluminação na superfície era como pintar um alvo nas próprias costas. Quem quer que fosse alertado sobre isso, era perigoso o bastante para Batista manter um perfil baixo quando em terras desoladas; quando nas terras de cima.

Fossem as ‘criaturas do cisco’, como Batista se referia aos monstros que acompanhavam as Tempestades Ciscas; fosse os Kawa Kale ou mesmo um dos quatro reis, Kai não sabia ao certo. Sabia, no entanto, que teria grande atraso na vida se ficasse para descobrir.

Caminharam por longo tempo. Batista riu. Kai não quis saber o motivo, e nem ligou para cerimônias veladas como “perguntar por educação.” A melhor coisa de não estar filiado a ninguém é que podia ignorar esse tipo de bobagem. Coisas como se preocupar com alguém e deixar transparecer, mesmo que não estivesse realmente preocupado; ou não respeitar nem gostar de alguém, mas devido ao seu papel, ter de demonstrar o contrário. Deixou tudo de lado; esquecera; apagara esse passado. Era libertador.

O Firenze continuou rindo, como se esperasse que Kai fizesse a pergunta. O rapaz ignorou até certo ponto; isto é, até onde a risada de Batista estava incomodando tanto, que ele, Kai, não conseguia pensar.

– Que é? – Falou, tentando disfarçar a antipatia.

Batista suspirou, forçando-se a parar seu riso.

– O modo como tu disse que eu seria feito em pedaços se não tivéssemos feito o que fizemos. Se eu não tivesse feito isso, salvado nossa pele, nós estaríamos mortos.

– E o que tem de engraçado nisso? Você teria morrido.

Batista pigarreou.

– O modo como disse, como se tu não tivesses dentro desta equação. Tu também serias feito em pedaços.

Kai pigarreou.

– Pouco provável.

Batista riu em tom de escárnio.

– Ah! Certo. Fingiremos que tu sobreviverias sim a esta queda caso eu não tivesse salvado nossa pele.

Kai não gostou do tom do sujeito mais uma vez.

– Pare de dar ênfase a isso. Eu não morreria.

– Ah, bom! – Batista pigarreou outra vez. – És feito de ‘pasta nuclear’? Que é que escondes aí?

Kai respirou.

– Tenho meus métodos.

O Firenze parou, virando-se para o outro. Ele inclinou a cabeça.

– Sério? O que, consegue impermear seu corpo ao ponto de não levar danos? Pode se teletransportar? – Sua voz se encheu de deboche. – Pode voar?

Um pequeno traço de sorriso surgiu no canto da boca de Kai. Batista notou e se aproximou.

– O que? Você pode voar?

No início isso pareceu engraçado aos olhos de Batista, que pensou que o outro estivesse apenas brincando com sua cara. Mas ao passo em que Kai não respondeu, mantendo mantinha aquele ar imponente e tão superior que Batista odiava, este soube que não era brincadeira.

Ele se adiantou, pegando Kai pela gola. Sua voz adquiriu um novo tom de cólera.

– Estás a dizer que poderia ter nos tirado desta sem que fosse necessário o uso do Onipsior?

Kai segurou o pulso de Batista, erguendo uma sobrancelha.

– Primeiro: me solte. Segundo: não tenho que lhe dar nenhuma explicação, mas voar pleiteia muita energia, e depois de usar aquele golpe – disse Kai, tomando cuidado para não dizer o nome de tal habilidade. Somente a palavra detinha grande força, só em dize-la, sabe-se lá o que poderia acontecer. – Minhas reservas não voltaram completamente.

Batista soltou a gola de Kai, irritado. Grande novidade. Ele seguiu seu caminho, iluminando-o com a pequena chama.

Kai se ajeitou, limpando as pregas dobradas de sua capa. Olhou novamente ao redor e suspirou.

– Pelo menos aqui embaixo estamos livres do olhar de viajantes indesejados. Sabe me dizer que lugar é este?

– Que é que você disse? – Indagou Batista, após tornar a se virar.

– Que lugar é este?

– Não isso! – Vibrou o Firenze. Parecia que ia entrar em combustão a qualquer momento. Kai ficou tentado a sugerir um livro de autoajuda; duvidava que existisse isso naquele lugar. – A primeira parte.

– Estamos livres de visitantes indesejados.

– Que quer dizer com isso?

– Ah! – Sobressaltou-se Kai, como se lembrasse de uma história antiga e importante. – Estávamos sendo seguidos. Vai continuar?

O rapaz se adiantou e pegou o isqueiro da mão do Firenze, que ficou parado observando a calma do outro.

– E em que momento pensou em compartilhar esta informação?

Kai não respondeu de imediato, parou para observar o líquido nas paredes. Chegou mais perto. Era bom poder voltar a ver sem algo que impedisse sua visão. E também podia sentir o cheiro, o que era circunstancial neste momento em que estava com pouca energia.

O líquido era espesso e grosso e vermelho, detentor de um cheiro incomum. Era intenso.

“Isso...” Kai tinha lido sobre isso. Era cloreto de cromilo. O cheiro e a cor entregaram; um composto químico de temperatura e pressão ambiente. Ele não se surpreendeu de encontrar ali. Meteu a mão dentro da bolsa, buscando algum tipo de frasco.

– Kai! – A voz irritante de Batista soou.

O rapaz se virou, a testa franzida.

– Que é?

– Responda minha pergunta.

Kai se virou de novo, finalmente encontrando um frasco naquela bolsa funda. Puxou um vidro transparente de tampa preta.

– Pergunta? Que pergunta?

Batista deu um passo, ainda mais impaciente. Não conseguia entender como alguém poderia ser tão cínico e cara de pau ao mesmo tempo e com tanta frequência. Era óbvio que Kai sabia do que ele estava falando; não foi bom o suficiente em esconder isso em seu rosto ou no seu tom. Batista desconfiava que ele ao menos estivesse tentando esconder.

– Não se faça de bobo, garoto!

– Ah... – Kai suspirou, após conseguir colocar boa quantidade do líquido no frasco, cansado da ladainha. – Na verdade, não pensei em compartilhar contigo.

– E por qual razão? – Incapaz de suprimir a ofensa através da voz.

Kai se empertigou e iluminou o rosto mascarado do outro propositalmente.

– Por qual motivo não me mostrou seu rosto, Batista?

O Firenze se afastou da luz.

– Nunca foi motivo de muito importância, Kaule.  

– Pois bem. – Kai se virou, andando novamente.

– Esta é sua resposta?

Kai parou novamente. Essa conversa já estava irritando-o.

– Pelo amor de Deus. Eliyahu! Que é que você quer de mim?

– Uma resposta pouco lacônica.

Kai sorriu histericamente.

– Vamos deixar as coisas claras aqui. Tanto você quanto eu temos coisas que não contamos um ao outro. Eu decido quando devo ou não revelar informações que podem ou não ser pertinentes. Assim como você achou que revelar seu rosto era pouco importante – bem como eu não tive qualquer vontade de saber como ele é por baixo dessa máscara – também julguei pouco apropriado dizer que vínhamos sendo seguidos até cairmos nesse fim de mundo.

– Pouco apropriado para quem? – Berrou o Firenze.

– Para nós. Para nossas vidas.

– Já parou pra pensar que a pessoa a nos seguir poderia ser um dos seguidores de Abeeku? E se chegássemos à Troas com um dos lacaios do Indigno no nosso calcanhar? Não percebe que tuas ações são desleixadas e geralmente suicidas? Como isso não poderia me ser importante?

Kai se virou.

– Na verdade você que é muito cauteloso e hesitante.

– Pare de ser tão egoísta.

Kai sorriu de novo. Parecia a um passo do colapso.

– Eu não sou nada seu para considerar seus sentimentos, Eliyahu. Este é o motivo pelo qual não revelei essa informação. Está se preocupando atoa, deixamos de ser seguidos no momento em que caímos aqui, agora vamos descobrir um jeito de sair daqui.

– Só fico pensando se tivéssemos seguido caminho. Como lidaríamos com o perseguidor?

– Eu daria um jeito na hora.

– Esta é sua resposta?

– Estou me estressando.

– Isso é uma ameaça?

– Pare de encher meu saco, porra, ou eu corto sua cabeça fora. – Kai disse se virando e vazando uma densa aura de chi. Batista deu um passo para trás, sabendo que esse fora um ultimato. – Isso foi uma ameaça! Eu não sou o tipo de pessoa que amedronta os outros, Eliyahu, mas você tem levado minha paciência ao limite por diversas vezes. Então por favor, cale a boca durante os próximos duzentos anos, que talvez minha irritação esfrie.

Kai começou a andar, se distanciando de Eliyahu. Estava cansado do homem. O quanto antes fosse embora dali melhor seria.

Era como se a casca calma e a estranha sensação de se sentir bem tivesse sido rompida por Batista. Os dois meses de meditação foram por água abaixo. E aquela raiva que conseguiu conter dentro de si, deixada por Greylous, tivesse para ser libertada.

Só de pensar nas noites ruins de sono, que estranhamente foram deixadas de lado quando foi sugado para aquele lugar, voltariam a retornar. Ele havia conseguido controlar as rajadas de energia enquanto dormia; mas lembrou-se dos pesadelos, das noites mal dormidas, apesar do alivio que sentia ao acordar e não ver nada destruído. Uma noite ruim era pior do que tudo.

E ele não conseguia afastar a sensação de que não gostava de Batista. Se sentia mal ao lado dele, com essa latência vibrando, a irritação de só estar ao lado do sujeito. Por diversas vezes ele resistiu ao impulso de apaga-lo. Não era alguém que assassinava levianamente, mas ficou tentado a agir assim. Depois lidaria com o remorso.

Seguiram por um caminho onde as paredes das cavernas iam se estreitando. Kai não viu mais cromilo nas paredes, não sabia ao certo o que aquilo significava, visto que não existia muita explicação para as coisas que ali aconteciam. Também não estava interessado o suficiente para parar sua vida afim de descobrir.

– Por que pegou aquele líquido da parede? – Indagou Eliyahu.

Kai não respondeu imediatamente. Seu estresse diminuíra, mas ainda não estava pronto para mais diálogo. Parou diante de uma pedra, que pingava outro tipo de líquido viscoso. Óleo.

– Esse lugar é rico em componentes químicos e recursos naturais. O líquido de antes se chama cloreto de cromilo, muito útil em queimaduras graves. – Ele se virou e apontou para a parede diante deles. – Isso é muito favorável na alimentação e combustão. Até agora não há nenhuma conexão entre os componentes que encontrei, e não pretendo descobrir qual é caso exista uma.

O Firenze assentiu.

Retomaram caminho, e as paredes se estreitaram mais, ao ponto de terem que passar por elas de lado. Kai colocou a bolsa de lado e fez o maior esforço para diminuir a barriguinha. Após uma quantidade de tempo indeterminado finalmente chegaram ao fim.

Estavam na beirada da saída, logo abaixo uma enorme caverna angulosa se apresentava. Kai ergueu o rosto, incapaz de determinar a distância entre eles e o teto. Não havia saída, nem muita coisa para que ficassem alarmados.

No meio da caverna, há uns 20 metros de distância, havia um pequeno lago azulado e, no meio do lago, uma ilhota, cujo uma esfera que iluminava o lago pulsava e planava. De longe, Kai não soube distinguir o tamanho, mas pela longitude, soube que era grande.

– Que é aquilo? – Indagou ao Firenze.

– Não faço ideia – respondeu o outro, pegando o isqueiro da mão de Kai. – Mas não gosto da ideia de me aproxi- EI! Kaule! Que é que voc-

Kai não deu ouvidos a Eliyahu, pois já estava, diabolicamente, descendo a parede.

Já no nível do lago, Kai observou o chão fofo. A luz da esfera iluminava toda a caverna, e havia algo nela que magnetizava Kai, como se o chamasse.

Ele começou a caminhar. Era estranho, pois nada o alertava de que não deveria ir até lá, mas havia, ainda, a sensação de que não deveria ser tão imprudente assim.

Talvez sua energia estivesse oscilando, ou mesmo não funcionando, mas nada que ele pudesse pensar, distanciava-o da vontade de parar, do alerta impregnado no seu ser. Ignorava todas os avisos, tudo que dizia para não ir até lá.

Ele entrou na água, ignorando também o frio. Isso deveria ser incomum, devido ao fato de estarem tão no fundo, num lugar praticamente minúsculo. Mas continuou andando, notando o fato de que a água estava rasa.

Quanto mais se aproximava da esfera, maior ela ficava. Já passava dos 4 metros. Sua luz não cegava, mas se tornava mais chamativa e azul. Um azul tão puro que Kai se sentiu como um inseto sendo atraído para a luz e o fim derradeiro.

Kai subiu na ilhota e finalmente voltou a si. Ele piscou e encarou a curvatura da esfera, perfeitamente circular. Virou-se para trás, e Batista gesticulou para ele.

– Que pensa estar fazendo, Kaule? Volte já para cá. – Sua voz tinha um quê de tensão.

Kai pensou em responder seu companheiro, mas voltou a atenção para a esfera e para além dela. Seu chi vazou, e uma fina linha de energia também saiu da esfera. Kai não resistiu à súbita vontade de erguer o braço e espalmar a mão, querendo tocar na superfície curvilínea.

Seu chi se conectou com a linha da esfera, e uma energia incomum entrou no corpo dele. Ao colocar a mão sobre a esfera, descobriu que apesar do manto de energia, ela não resistiu ao toque.

Neste ponto, o corpo de Kai passou a absorver rapidamente a energia da esfera, e logo seu núcleo ficou repleto de uma energia nova e renovadora. Seus canais cresceram e as veias se expandiram. Ementes, a mão dele continuou avançando sobre a esfera.

Ela era quente, pouco resistente e muito enérgica. Quando Kai finalmente chegou ao núcleo, sua palma fechou-se sobre uma esfera ainda menor; esta começou a vibrar, e a energia que entrou no corpo de Kai se tornou diferente. O núcleo se expandiu, e um grito irrompeu por sua garganta, cheia de furor e dor.

O grito de Kai foi ouvido por toda a caverna, e Batista se assustou, correndo pelo lago a fim de salvar o rapaz.

Kai olhou por cima do ombro, suor pingando por seu rosto, que começava a ficar vermelho.

– Batista, não venha! – Sua voz saiu uma lamúria perpétua. – Se proteja rápido.

– Mas você...

– VÁ! – Gritou Kai, começando a berrar mais e mais. – Não sei se aguento por muito tempo. VÁÁÁÁ!

Kai se virou novamente para a esfera, lutando para conseguir conter a energia que se sobressaltava de seu próprio corpo. Sequer esperou para ver se Batista havia se escondido.

Dor irradiou por seus poros, como se estivesse sangrando lava pura. A cor da esfera mudou, e os olhos de Kai adquiriram um brilho dourado. Ele gritou, e luz também saiu de sua boca.

A esfera se expandiu e, engolindo o braço de Kai, explodiu, causando ondas de energias violentas o bastante para destruir toda a caverna. Grandes o bastante para destruir um mundo. Kai Stone morreria.



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