Volume 2

Capítulo 67: AS VERTENTES DO PASSADO QUE SE MESCLAM COM O PRESENTE, SEU FUTURO



Por um tempo indeterminado, cujo qual Kai foi incapaz de discernir, sua cabeça girou e girou.

Era sugado e expelido, e todas as partes de seu corpo doíam, ao passo em que o chi lutava para protege-lo, um manto automático sufocando cada poro de seu corpo.

Kai tinha noção do aperto firme de Batista, e isso o fez permanecer são.

Quando o giro finalmente cessou, ele, Kai, se empertigou sobre uma vasta planície macia, sondando os arredores. Mesmo de máscara, luzes piscavam diante de seus olhos, e a tontura era sobressalente, o ar indo e vindo.

Ele agarrou a máscara e jogou-a longe. Um segundo mais tarde colocou tudo que comera – e o que não comera – para fora. Ainda com a cabeça rodando, segurou firme a respiração e se levantou, lutando para não tombar.

Agarrou firme no ombro de Batista e forçou a si mesmo a ser forte. Um segundo mais tarde socou o sujeito bem no meio do estômago. Este se empertigou, sem emitir som algum.

Kai o forçou a se levantar, agora apertando sua nuca.

– Fala sem rodeios, porra!

Batista lutou para se manter de pé.

– De... de onde tiras tamanha força?

– Do hell! Agora me diga qual é a dessas luzinhas e dessa cantoria maldita. Conte-me tudo.

– Q-que cantoria? Está alucinando?

POW!

Outro soco e lá foi Batista mais uma vez, arqueando. Kai agarrou-o, forçando-o a se levantar.

– Não finja demência, maldito. Já estou cansado dessa sua cara de pau e de você se fazendo de sonso. Responda minhas perguntas ou eu o mato agora mesmo.

De repente, Batista teve a leve impressão de que o sujeito não estava brincando. Viu do que ele foi capaz. Sabia que ele estava se segurando.

– Há coisas que não podem ser ditas por mim, Gmri, apenas entenda... se-se vier comigo, saberá tudo o que quiser saber.

– Eu não gosto de rodeios, Batista. Se não me falar agora mesmo, irei arrancar sua cabeça.

Kai empurrou Batista, que caiu tombando. Rapidamente sacou sua espada e apontou a ponta para o queixo do sujeito.

– Qual seu propósito ao me trazer para cá?

– É bem mais simples mostrar que dizer...

– Tente. – Ordenou Kai.

– Deixe pelo menos que...

– Eu disse – Atalhou Kai, claramente impaciente, seu chi vazando. – Para tentar.

Batista olhou ao redor, buscando alternativas.

– Eu não estou a par de tudo, Gmri. O que sei é que o sacerdote ordenou que eu corresse para a Terra Morta – o local que estávamos há pouco. Ao chegar lá, fui surpreendido com um rasgo no céu. Vi luzes queimando, o céu escureceu e me lembrei das histórias longevas dos atonianos. Entenda, tudo o que aconteceu em seguida foi exatamente como o sacerdote disse que aconteceria, e se o que ele disse for verdade, se... se o que as escrituras dizem se concretizar, é importante que você o encontre.

– Que escrituras?

– É necessário que você veja.

Kai pigarreou. Finalmente entendera a razão para ter atraído tantos mercenários num só lugar. Sua chegada havia causado estardalhaço. Mesmo que o sujeito tivesse falado antes que sua aparição causou estardalhaço, ele não tinha noção da dimensão disso tudo.

Para ele, era simplesmente improvável que tantos sujeitos estivessem a postos, esperando pela sua aparição. Era simplesmente improvável que até mesmo Batista estivesse a postos.

– Então você não sabia que eu apareceria?

Batista negou.

– Tinha noção que alguma coisa aconteceria, as previsões do sacerdote nunca erram.

Kai ergueu uma sobrancelha.

– Algo me intriga.

– E o que seria?

– Se seu sacerdote sabia de minha presença, é certo que o tal Abeeku também.

Batista se ergueu com dificuldade, limpando a sujeira dos joelhos.

– Por que pensa assim?

– A aparição dos Kawa Kale foi quase instantânea. Estive pouco tempo nas Terras Mortas, mas notei sua infertilidade. Não há nada lá. Por que os mercenários estariam tão longe? Isto é, considerando que o tal Abeeku vive numa megalópole.

Batista assentiu, analisando o ponto de vista de Kai.

– Por que acha que Abeeku vive em uma megalópole?

– Ele é o rei, controla um império, mercenários e sujeitos denominados ‘quatro reis’. Ao meu ver, é mais fácil manter seus aliados mais perigosos ao seu lado do que longe. Penso que deve viver numa região formada por cidades interligadas, tudo ao alcance de seus dedos, de seu controle.

“Incrível... esse sujeito descobriu basicamente tudo sobre Abeeku com poucas informações. Sacerdote, quem é este homem, afinal?” pensou Batista, entusiasmado.

– Enfim – retomou Kai. – Acredito que Abeeku esteja bem ciente de minha presença, ou não teria enviado seus Kawa Kale. Vamos.

Batista se virou, sem entender nada. Há um minuto o sujeito se recusava a segui-lo, agora tomava a dianteira da situação. Que tipo de homem mudava de opinião tão rápido?

– Espere. – Batista falou, confuso. – O que o fez mudar?

Kai respirou fundo. Agora sem a máscara, ele sentia o ar entrando por suas vias. Foi como pensou: era só questão de tempo. Já começava a se acostumar ao lugar e, consequentemente, seu chi já resistia bem mais à falta de oxigênio.

– Fui envolvido nisto, Batista. Mesmo que não quisesse, seria tragado de volta, e preciso entender meu papel no todo. No momento, as únicas pessoas que tem as respostas são Abeeku e seu sacerdote, e se for como estou pensando, meu encontro com o seu rei vai ser para definir se ele deve ou não manter a cabeça no lugar.

– Então está dizendo que...

– Sim – atalhou Kai, assentindo. – irei com você para saber o que raios está acontecendo, porque fui trazido para cá e qual o meu papel aqui. Agora pare de perder tempo e indique o caminho.


***


A viagem foi longa. E cansativa.

Boa parte dela foi a pé, e boa parte dela ambos foram calados. Batista ia numa distância considerável, e Kai ia mais atrás, sempre num ritmo dele. Analisava tudo, sondando tudo. Mas era quase impossível manter a sequência.

Isto é, sondar os arredores a todo momento dedicava esforço e energia, e Kai estava praticamente tendo de lidar com três coisas ao mesmo tempo. Em andar, em manter a guarda alta, fosse para inimigos conhecidos e desconhecidos, e em sondar o lugar. Isso necessitava de uma energia que ele já considerava pouca.

Sem contar que por mais de milhares de quilômetros só existia o nada. O céu de antes multicolorido havia sido substituído por um céu cinzento, nebuloso. Não havia sol ou lua, e o chão era macilento, apesar de não ter nem um pingo de verde.

Kai ficou decepcionado, pois era como se tivesse fora de seu habitat natural. E isso era parcialmente uma verdade. Afinal, até mesmo quando esteve enjaulado sob a brutalidade dos Gorilas, se sentia em casa, diante da relva, do cheiro do verde, de terra e de árvores, da febril sensação de estar em casa.

Aqui não. Estava sempre incomodado. Sem relva, sem aconchego.

Após várias e várias horas, Batista diminuiu o passo para ficar ao seu lado.

– Vem vindo uma forte tempestade cisca, devemos estabelecer acampamento.

Após estas palavras, Batista habilmente tirou um pano grosso e enrolado de dentro de suas vestes. Kai não sabia como aquilo surgiu, mas decidiu não se intrometer nos assuntos alheios. Fizera o mesmo em relação ao misterioso redemoinho que os engoliu, despejando-os num lugar inóspito.

Batista se ajoelhou e colocou o pano no chão, desembrulhando-o rapidamente. Revelou-se um sobretudo retangular longo e grosso, com espeques nas quatro pontas. Batista pressionou numa das áreas e o pano começou a inflar, como se alguém estivesse soprando-o.

Os espeques se fincaram no chão assim que o sobretudo esticou, formando uma pequena barraca triangular.

Impermeaca. Barracas criadas para resistir às tempestades.

– Acontecem com frequência, é?

– Mais do que o necessário.

Batista se aproximou da barraca, descendo o zíper e entrando.

Horas mais tarde, o vento assobiava, arredio, enquanto a barraca tremia. Dentro era aconchegante, mas frio. Batista não removeu a máscara para nada, nem quando deu um pedaço de algo suspeito para Kai mastigar.

– Tem certeza de que vai se manter firme?

O outro assentiu.

– Impermeacas são resistentes ao vento, feitas sob medida contra as tempestades ciscas.  

Kai concordou. Ficaram num silêncio profundo.

– O quão longe estamos das Terras Mortas? – Indagou Kai.

– Ainda estamos nas Terras Mortas, contudo, penetramos mais suas entranhas depravadas e imorais. Estamos longe o bastante dos Kawa Kale e de Abeeku.

– O quanto longe?

– O suficiente para que nunca nos encontrem.

– Você tem fugido muito deles?

– Toda a minha vida. – Suspiro. – Desde que me conheço por gente, Abeeku ordenou que aqueles que não o apoiam deveriam ser capturados e transformados em mártir. Passaremos por locais que descobriram isso da pior maneira.

Kai mastigou o negocio que recebeu de Batista. Vinha rezando, naquele escuro, para que não fosse o pedaço da criatura feia que matou horas – ou dias – atrás.

– Pensei que os Kawa Kale não pudessem nos encontrar aqui.

– E não podem. Por alguma razão, o máximo que os mercenários conseguem ir é aquele ponto que você estrategicamente caiu. Mas Abeeku é outro assunto.

Kai ergueu uma sobrancelha no escuro.

– E o que impede dele vir atrás de nós? O que impede dele vir atrás de mim?

Batista soltou uma risada abafada.

– Ó, grande Gmri, matador do Ednarg sued ad arret, por algum acaso está comedido acerca do rei indigno?

Kai bufou.

– Não. – Foi tudo que respondeu.

Batista achou que o rapaz ficaria ofendido com a ‘piada’ e que até mesmo buscaria rebater qualquer crítica, pois já estava acostumado com isso. Mas, surpreendentemente, isso não era muito de surtir efeito em Kai, como ele bem notou.

– Abeeku é um sujeito confuso e estranho. Se você estiver certo sobre sua teoria, creio que os Kawa Kale enviados foram apenas uma espécie de teste, a fim de descobrir sua força.

– Hm! Assim como o que você fez, não é?

– Não sei do que está falando! – Batista arranhou a garganta.

– Sei.

– Enfim. Quero dizer que ele não é alguém que mete os pés pelas mãos. Há mais motivos por trás de suas ações do que parece.

– Você parece conhecer bem Abeeku.

– Preciso conhecer bem meus inimigos, Gmri, é simples.

– Então me fale mais sobre ele.

VUUU.

Um forte vento quase arrancou a barraca do chão, mas ela permaneceu firme, fincada, e Batista sequer pareceu se preocupar.

– Ele é cruel.

– Defina cruel.

– Abeeku é o único rei de todo o império. É poderoso, astuto, carismático e um líder nato. Foi a primeira vez em milênios que alguém conseguiu juntar tantos povos inimigos no mesmo lugar. Abeeku conseguiu, por isso ganhou o título de Khan, o líder nato, o deus abaixo.

– E por que ele seria cruel?

– Abeeku defende que os fortes são a lei, e os fracos são a escória. Qualquer um que seja inferior, deve ser morto ou feito de lixo. Ele acredita... ele prega que a força tem de ser alcançada ao máximo, e qualquer um que fraqueje, tem que ser extirpado.

“Criou um torneio que é a personificação da crueldade. A cada um mês ele leva para as arenas ao redor do império aqueles que são considerados criminosos, pobres coitados que foram tolos por acreditar que tinham uma chance contra ele. E é o que ele faz também, dá esperança para esses azêmolas, faz com que eles pensem que podem vencer, cede armas, planos, aberturas..., mas no último segundo ele lhes destrói, e todos aqueles ligados a eles.”

“Os torneios são promovidos com a intenção de transmitir uma mensagem clara: Ele é a lei. Ir contra Abeeku é ir contra o império, contra o seu exército. Ir contra os Kawa Kale, os quatro reis, os exércitos fronteiriços e os atonianos remanescentes. Todos estes na palma de sua mão, amedrontados e cheios de uma vã esperança, cientes de que quando não forem mais úteis, hão de ser jogados aos leões, junto daqueles idiotas nas arenas. Ele é cruel, e todos que pensem o contrário são tão cruéis quanto.”

Kai compreendeu um pouco mais da profundidade do ódio de Batista por Abeeku, mas havia coisas demais para lidar agora. Ele acabara de chegar, e tudo veio como uma avalanche, uma enxurrada de informações, uma seguida da outra.

Kai sabia que havia algo a mais nessa história, que o ódio de Batista por Abeeku não poderia ser causado somente por pena do povo que ‘sofria’ nas mãos do rei indigno. Havia um motivo a mais, ou vários deles, e a história era bem mais complicada do que isso. Para Kai, odiar Abeeku por isso e até chama-lo de cruel era vago demais.

Claro, subjugar um povo inteiro por conta da fraqueza, e sempre deixar claro que era a única lei ali era uma espécie de opressão, mas é óbvio que não era só isso.

Resolvendo deixar esse assunto para outro dia, Kai resolveu dormir, não sabia quanto tempo ficaria ali e quando a tempestade passaria.

O sonho de Kai foi muito profundo e, determinada hora, ele começou a sonhar com coisas esquisitas, uma série de fatos e acontecidos que não faziam sentido algum. E esses fatos e acontecidos tornaram e se repetir, até que se tornaram numa ordem, organizando-se.

Primeiro ele via homens altos e mascarados destruindo vilas, ateando fogo em casas, matando pessoas de silhuetas indistintas e saqueando tudo. Ao longe, nas sombras, um sujeito grande e imponente gargalhava. Kai viu seus olhos vermelhos. Viu os olhos vermelhos o espreitando.

E por uma grande parte do sonho ele se sentiu incomodado, amedrontado, até perceber que esse não era um sentimento seu e, neste instante, o choro de uma criança pontuou logo ao lado. Um meninozinho maltrapilho e todo cheio de sujeira e sangue surgiu, a mão direita tapando parte do rosto sujo e ensanguentado.  

O olhar vil e carmesim recaiu sobre o menino, e Kai sentiu a súbita vontade de agarrar o menino e sair correndo.

Mas o sonho mudou, e uma enorme arena desfocada surgiu. Nas arquibancadas, criaturas estranhas gritavam, e no meio da arena vários outros sujeitos se matavam, um banho de sangue iminente e precursor de uma maldade há muito escondida. Kai sabia e não sabia o que aquilo significava. Era como se no momento em que entendesse, esquecesse a razão e o motivo. E os brilhos luminosos surgiram ao seu redor, uma música irritante soando distante.

Irei-malou
O jovem príncipe não desabrochou
Ye-iá
O soez e vil rei continua a governar
Cabe ao menino perdido e ao herói ocupar
O espaço pertencente do senhor milenar
Pois como vieste ao subcovil do deus dormente
O opróbrio do indigno não pode se fazer permanente.
Ye-You
Haja agora, enviado pelo redentor.

Kai acordou, súbito, ciente do estranho acontecido. Que raios era isso? Estranhamente, esses versos fizeram sentido na cabeça de Kai, e ele soube que na próxima vez que sonhasse ou tivesse em contato com as tais criaturas, teria todas as respostas que queria.


***


Kai e Batista continuaram por um longo tempo e enfrentaram mais duas tempestades ciscas.

As tempestades se provaram um verdadeiro atraso, como também serviu para mostrar a resistência e resiliência de Batista. O sujeito não removeu a máscara sequer uma vez durante a viagem, e se removeu foi nas horas em que estavam enclausurados na Impermeaca, no breu que se fez presente.

Depois de dias e dias, finalmente deixaram o solo macilento, e o céu cinzento clareou um pouco. Contudo, o sol e a lua não apareceram sequer uma única vez. Kai já estava ficando intrigado sobre isso. Como as coisas sobreviviam ali sem luz natural? Será que se tratava de um lugar protegido por um protetor?

As estranhas forças sobrenaturais e espirituais que agiam sob a ordem do deus primordial e poderoso, criador de tudo, Eteyow. Kai já tinha tido ‘contato’ com um antes, o protetor Bulogg, que diante de sua graça concebeu aos vitanti de muitas cores um lar para viverem por milênios e milênios.

Se realmente existia um protetor ali, ele não era tão generoso quanto Bulogg. Isto é, viver num lugar como aquele era no mínimo absurdo.

Caminharam mais um pouco até que chegaram nas margens de uma cidade. Kai olhou alarmado para Batista, que permaneceu quieto. A poeira e o nevoeiro tinham se feito mais presentes, e Kai finalmente começava a entender o porque da máscara.

Como se lesse seus pensamentos, Batista esticou a máscara para ele.

– Pensei que iria precisar.

Kai assentiu, pegando o objeto e rapidamente colocando na cara. Assim que o ar foi purificado, Batista saiu caminhando, se protegendo com o manto sobre si.

– Evite deixar sua pele ser tocada por essa névoa, ela queima e causa alucinações.

– Qual a diferença? Estive em contato com ela há pouco.

– Essa névoa é diferente da de antes. Aliás, ela é diferente até mesmo daquela que acompanha a Tempestade Cisca.

– Por que? – Perguntou Kai, temendo e já teorizando a resposta.

– Foi causada por um dos quatro reis. Esta cidade era chamada de Fireas, a capital montecusta. Haviam prédios altos, e a luz lunissolar alcançava uma torre imensa, que iluminava até mesmo quando as criaturas do cisco apareciam. Haviam construções feitas de um material microcelular, e as pessoas eram belas. Fireas caiu em dois dias e foi a primeira de cinco capitais a serem derrubadas pelos reis, quando Abeeku assumiu.

– E qual a razão de serem destruídas?

– Poder e medo. Fireas, Mehiel, Umabel, Nemamiah e Tribeas. Todas tinham uma coisa em comum.

Kai olhou para ele enquanto passavam por construções e rochas destruídas. Pouco se via devido à nevoa densa, mas Kai conseguia notar a qualidade do material. Era puro, quase divino.

– Qual? – Indagou.

– Todas as cinco eram fieis à um ser de luz, uma criatura mística que juraram lealdade e acreditavam veementemente em sua proteção. Era uma fé cega, mas bondosa. Eram um dos maiores exércitos deste lugar. As cinco cidades formavam um reino poderoso, cheio de pessoas gentis e doces. O reino de Atom. E isso causou sua queda. Cauteloso e com um toque de medo, Abeeku sugeriu que eles renunciassem suas crenças e depositassem toda sua fé nele.

– Eles recusaram.

– Correto. Atonianos nunca abandonariam suas crenças só porque um qualquer sugeriu. Mais da metade deles morreu.

– É um atoniano, Batista?

– Não me compare a eles! – Rosnou o sujeito, com mais daquela raiva de antes. – Sou um Firenze, é o que sou. Não me compare a eles. Não àqueles tolos e imbecis. Agora tudo o que resta são pó, cadáveres, escombros e pinturas.

Batista parou diante de uma parede parcialmente intacta e passou a mão sobre ela, limpando o pó. O toque de sua luva na névoa chiou, mas ele não se preocupou.

Kai se aproximou e encarou a figura, e ficou um tanto atônito.

– Parte das escrituras, das pinturas, se concretizam. E não sei se essa aqui narra o passado ou o futuro. Que é que me diz?

Diante de Kai, na pintura, um sujeito partia ao meio uma enorme criatura de corpo redondo e cheia de antenas que se precipitara. Abaixo, o sujeito era saudado por diversos outros de joelhos, como um herói, um deus.

Era um Ednarg sued ad arret. E um homem matando-o. Um homem de cabelos longos e um rosto obscuro. Era Kai Stone? Que raios acontecia ali? 



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