Volume 1

Capítulo 60: GÊNIO FORTE

 

Kai desviou de um golpe que passou raspando. Tinha sido assim nos últimos 15 minutos: Frian estocando e cortando uma série de vezes, apenas para que o outro desviasse.

Éter fluiu pela lâmina e ele diminuiu espaço, estocando mais outra vez.

– Não vai nem erguer seu fio? Quanta prepotência.

Kai sorriu.

– É que você não me mostrou ainda se vale a pena ou não.

Isso irritou Frian mais do que ele gostaria. Ora! Não era o braço direito de Carmim à toa. E se irritar facilmente com um oponente tão mesquinho era de dar dó.

Notando a própria onda de apavoramento, Frian suspirou fundo. Não era desse tipo. Manteria a calma. Já notara os movimentos de Kai, assim como previra sua agilidade.

Respirou fundo, indo novamente para cima. Kai esticou a mão para um dos soldados, e ela brilhou. Frian franziu a testa, sem entender bem.

Dali a pouco, a espada de um dos soldados saiu voando na direção da mão de Kai.

– Que droga foi essa? – Um soldado gritou.

– Ele puxou a espada pra si. Isso é um demônio.

– Fiquem longe, quem sabe ele não tem as habilidades daquele xamã do sioraí.

– Isso se ele não for o próprio xamã.

Trocaram vários golpes antes da espada que Kai trouxe para si se despedaçar em vários pedaços. Mas ele não parou por aí. I nfundiu sua energia no cabo da espada, criando uma lâmina de chi.

Ela ondulou devido à grande concentração que isso exigiu. Kai empurrou Frian, infringindo vários golpes difíceis de serem aparados. Chutando vez ou outra, tirando seu equilíbrio.

Kai girou a espada na mão, colocando a lâmina para baixo. Atacou com mais afinco, produzindo tinidos indistintos. Frian derrapou após levar uma série de socos, ofegando bastante. 

Girando no próprio eixo, Kai tornou a esticar a sua mão, desta vez para o sabre de Frian. O vitanti olhou, aturdido, seu sabre tremer sob sua mão, frenético pelo toque de Kai.

Este sorriu quando a espada se desprendeu do agarrado firme do vitanti, girando até sua mão.

– Que tipo de habilidade ridicula é essa?

– Não te interessa.

A lâmina de chi ondulou e sumiu. Kai soltou-a e, com um movimento rápido, afundou o sabre de Frian na terra até o cabo.

– Ei! – Berrou o vitanti. – Esse é um sabre feito de-

Frian começou a dizer, mas num piscar de olhos, Kai surgiu na sua frente como um vendaval. Seu punho estalou e ele desceu-o sobre a defesa feita às pressas de Frian. O som do impacto reverberou pelo local, e o vitanti sentiu todo seu corpo tremer.

A vibração somada à dor inundou os braços seus braços, a onda de dormência passando pelo seu corpo, indo até os pés e causando rachaduras no chão.

Frian fitou Kai, os olhos arregalados.

‘Que diabos de força descomunal é essa?’

Kai empurrou ainda mais seu punho, a força do soco aumentando e, consequentemente, afundando o vitanti no chão. Ele urrou e cuspiu sangue num arco vertical.

‘Esse animal... vai me dizer que isso foi apenas força bruta? Quem é você, afinal?’

Poeira levantou diante da figura cuspindo sangue e arqueando de dor. Quando ela baixou, revelou Frian sentado, suando muito e com dificuldade de respiração.

– Essa sua... força... é... fora de série. – Disse entre suspiros. Respirou fundo, o éter fluindo pelos seus ferimentos. A palidez dele diminuiu, ficando mais corado. – Bem, vamos à sério agora.

Kai ergueu uma sobrancelha.

– Mas pensei que você já estivesse.

Frian ignorou o comentário. Seu éter chiou e surgiu por suas mãos, formando uma garra plana e afiada ao redor de suas mãos. Flexionou os joelhos e abaixando o tronco. Ergueu os braços de um modo estranho.

– Vai dançar? – Kai sorriu.

O vitanti abriu os olhos, irritado.

– Mais respeito com a técnica ancestral Kalcíum, nekedoh.

SWISH!

O ar gritou como se tivesse sido cortado. E foi. Esse foi o som reproduzido pela velocidade de Frian. Ele surgiu na frente de Kai, atacando-o com sua mão direita em forma de faca. Seus dedos estavam imbuídos em éter, criando uma fina linha na maçã do rosto do rapaz. Sangue escorreu.

Tentou com a outra mão ataca-lo nas costelas, mas Kai chutou com a palma do pé direito no tornozelo esquerdo de Frian, que perdeu o equilíbrio.

Kai pegou pelo seu colarinho, puxando-o ao encontro de sua própria cabeça. Frian ergueu os braços, aparando a cabeçada de Kai.

Mesmo tendo imbuído éter para reforçar sua defesa, seus braços vibraram, sentindo dormência somado à uma queimação pungente.

Chutou com a perna direita, mas foi aparado pela perna esquerda. Tentou três vezes, sendo aparado todas as três. Então se engolfaram numa troca de socos e apertos no braço.

Ele estava sendo negligenciado descaradamente. Não conseguia usar o estilo ancestral de seu clã, que pedia liberdade e desenvoltura do usuário. O Neidr’Uzuk, o punho da cobra.

Era uma arte onde o usuário lutava com demasiada flexibilidade e agilidade, criando lâminas continuas de éter nas pontas dos dedos, simbolizando as presas de cobras taipan, as mais mortais do mundo.

Mas como poderia fazer isso se o sujeito propositalmente o trouxe para perto? Neidr’uzuk necessitava de uma aproximação para funcionar, mas Kai tinha o trazido tão próximo, que estava impedindo-o de agir livremente com seus punhos. Estava sendo impedido. O garoto era esperto.

Ele tinha de achar uma brecha!

Trocaram socos ao passo que trocaram chutes, então Frian viu a brecha. Acertou uma cotovelada no queixo de Kai; como o rapaz era rápido, sabia que tinha poucos segundos para agir.

Quando o outro se recuperava, ele infundiu éter na mão e enfiou a lâmina etérea na parte clavicular de Kai. O rapaz pigarreou ao toque, dando dois passos para trás.

Era a distância perfeita. Sabendo que os movimentos do outro ficariam mais lentos, Frian investiu de modo flexível.

Em alguns momentos Kai conseguia defender, mas mais e mais Frian foi acertando golpes, infringindo novos danos no outro.

BAM!

Um soco no rosto.

BUM!

Um chute na boca do estômago.

KRAK!

Uma costela quebrada.

Kai distanciou-se, respirando fundo e infundindo chi.

Frian sorriu.

“Então o lobinho está desesperado. É assim que um vitanti luta, nekedoh.” Pensou.

Bem no alto daquela região, três sujeitos observavam a situação com ceticismo, escondendo ao máximo suas presenças.

– Então Carmim estava só esperando um escorregão. – Disse um dos três.

Era um homem de meia idade: usava vestes longas e seus cachos eram curtos. Mas tinha marcas da idade, bem como da sabedoria. Diferente dos outros dois, ele se mantinha no ar apenas por estar de pé sobre um disco fino de vento.  

– Mas ainda me é custoso acreditar que Kai Stone agiu desse modo para dar tempo à Mael. Sua lealdade é tão grande assim?

– Eles possuem um vínculo muito forte, Terong – disse Cineáltas, solícito. – Mael e Kai desfrutam de uma amizade verdadeira, e tudo o que Kai passou, foi para retribuir a bondade pela qual foi acolhido.

Terong permaneceu inalterado.

– Dada a natureza de sua criação, seria comum presumir que houvesse um quê de segunda intenção por trás da boa ação. Sempre há para eles.

– Se me permite dialogar – Inseyftal falou, mais afastada. Encarava a luta com olhos de águia. – Neru’dian sempre disse que os vitanti eram uma raça de homens orgulhosos, temerários, justos. Mas me diga, senhor Terong do clã Egglian, onde está a justiça nos atos de Carmim, que desde sempre foi contra a crença do nosso próprio povo?

Isso deixou Terong pensativo. Era um homem calmo, calculador. Detinha grande influência no Sínodo. Acreditava na meritocracia tanto quanto na parcialidade.

Acreditava que se você fazia por merecer, deveria colher os frutos. Mas acreditava que os meios deveriam ser justos. E justiça era seu mantra. Era o mantra de Eteyow. Era a favor de que a vontade de Abwn fosse cumprida, pois a vontade dele era refletida pela de seu deus.

Mas também acreditava que se Mael não acordasse logo, um novo líder deveria ser escolhido. Não era bobo ao ponto de acreditar que Neru’dian era um cargo unicamente de intercepção celestial. Seria vil e imoral de sua parte. Quase hipócrita. Ou mesmo além disso.

Contudo, não era um apoiador de Carmim. Este ia contra tudo que ele acreditava, ia contra as crenças dos vitanti, ia contra a tradição e a cultura. Não era nem um pouco justo. Era um covarde. Totalmente diferente de seu pai, Kämain. 

Mas um líder deveria ser escolhido, mesmo que Carmim fosse o total oposto de tudo aquilo que ele sempre defendeu. 

– Kai Stone demonstrou mais respeito por nós do que Carmim – Cineáltas concluiu. – Isso por si só mostra o quão obstinado ele é.

‘Sim’ pensou Terong, ‘Mas ao ponto de ser um mártir? Ao ponto de ter toda uma raça o odiando, somente para cumprir a ordem última de um moribundo? Diga-me, Kai Stone... Ou melhor: mostre-me. Mostre-me seus motivos, mostre-me até onde vai sua lealdade, até onde irá por um amigo. Me mostre o tipo de pessoa que você é, e porque é o escolhido por Eteyow.’

Totalmente alheios à conversa lá em cima, Kai e Frian continuaram seu embate.

Frian cada vez mais encurralava Kai, que mesmo infundindo chi, não tinha outra perspectiva que não se defender.

Os socos e chutes de Frian eram carregados de um éter totalmente afiado, quase sólido.

‘MOSTRE-ME, KAI STONE, SEU MÁXIMO POTENCIAL’ pensou Frian, exaltado.

Kai tomou distância e pulou duas vezes para a direita.

‘Aí vem dois socos fortes... ele quer me finalizar.’  Pensou Frian.

O rapaz diminuiu espaço e acertou um soco alto, que foi aparado pelo antebraço de Frian. O segundo foi aparado pela palma direita. Ambos arderam ao toque. Frian sentiu uma dor lacerante.

Kai respirou fundo, dando um terceiro soco, que acertou na costela de Frian. Este arqueou, se distanciando.

Outra vez, flexionou os joelhos e girou o quadril, indo pela esquerda. Ergueu o punho esquerdo, na altura do rosto de Frian.

‘Aí está! Este será seu fim, Kai Stone.’ Comemorou o vitanti.

Frian ergueu sua defesa, sabendo que um soco viria pela região abdominal. Bastaria acompanhar a velocidade e...

BANG!

Ele fez tudo certo: ergueu o braço direito em bloqueio, ciente que deveria mudar no último segundo para uma guarda baixa. Quando percebeu a mão esquerda se retesando e a direita vindo por baixo, mudou a defesa para o abdômen.

Entrementes, um sorriso brincalhão surgiu no rosto de Kai.

Mas por que sentiu essa dor de cabeça tão forte? Por que não viu através da finta? Sabia exatamente o que viria a seguir. Fora... fora feito de bobo? 

Kai não pausou seu soco alto, foi uma finta muito bem dada. Continuou com toda sua força, acertando a lateral da cabeça de Frian com tudo.

– Punho Simples – disse, bem baixinho. 

Frian sentiu o impacto do soco na sua cabeça só instantes mais tarde. 

KRAK!

O crânio de Frian rachou, e seus olhos reviraram. Ele se empertigou para o lado, afundando no chão. Chi emanou dos punhos de Kai. Uma aura incontrolável sendo expelida.

Isso foi um blefe, Frian. – Kai falou, sorrindo.

Sua aura de chi foi expelida. Uma imponência surreal atingindo todos os 250 soldados. Alguns foram arremessados longe, a aura parecendo uma maré tempestuosa. Uma vontade assassina, sede de sangue insaciável.

Aqueles mais jovens não resistiram e foram ao chão.

– C-como? – Carmim indagou, pálido. – Frian descobriu suas fraquezas... e-ele descobriu suas falhas.

– Frian não descobriu nada, Carmim – respondeu o outro, caminhando lentamente entre os soldados, que não ousaram se meter na sua frente. – Acha mesmo que não notei sua conversa com ele? Dois passos para o lado querem dizer dois socos fortes e finalizadores. Flexão dos joelhos e giro no quadril quer dizer que vem uma finta em cima e um golpe verdadeiro embaixo.

‘Ele... ele ouviu daquela distância?’ pensou Carmim, totalmente atordoado. ‘Pior... ele entende nossa língua?’

– Viteni é uma língua fácil de se aprender. Frian me viu por apenas alguns minutos e achou que entendeu todo meu estilo de luta. Ele não era nenhum mestre do combate, afinal.

Kai se aproximou da enorme raposa de Carmim, que rosnava e mostrava suas presas. Era linda. Tinha olhos vermelhos feito fogo. E sua pelugem era tanto quanto. Ele ergueu a mão na direção do focinho.

– Bestas ancestrais sentem o cheiro do medo. – Disse erguendo os olhos frios para Carmim. – Acha que ela sente medo em mim, Carmim?

– Como sabe que esta é uma besta ancestral?

A raposa fechou os olhos e se abaixou. Kai tocou o topo da cabeça dela e logo se aproximou de Carmim. Ele parecia um cordeiro medroso. Mas Kai já estava ciente do conto do lobo.  

Uma longa espada surgiu, emanando éter.

Kai se distanciou a tempo, jogando a mão para trás. Carmim pulou de sua raposa, se preparando para cortar o outro verticalmente.

Quando pousou, abaixando sua espada, um cajado de cor negra surgiu voando freneticamente pelas portas do salão, indo em direção da mão de Kai.

Ao pegar o cajado, Kai puxou uma das extremidades enquanto segurava o meio. O cajado se ‘desprendeu’, revelando uma lâmina de cor escura. Kai ergueu o cajado para cima, com a pequena parte da lâmina aparando a espada de Carmim.

Uma quantidade absurda de energia foi expelida dos dois. A intenção deles tentando sobrepujar um ao outro. A aura que saia de Carmim não era translúcida como a de outros vitanti. Ela era roxa, quase vermelha. Raios roxos se desprenderam, cavando buracos ao redor dos dois.

Entrementes, Kai abriu mais e mais o cajado, revelando uma lâmina reta e negra. Media cerca de 55 cm.  

Os olhos de carmim percorreram pela espada. Na parte do cabo, tinha adornos dourados, sem protetor de mãos.

– Uma shikomizue! – Berrou o vitanti. – Parece que o velho Cine tem grande estima por você para lhe dar uma arma como essa, filhote de macaco pelado.

– Cineáltas não me deu ela, sua cobra. – Retrucou o outro, desmedido. – Eu mesmo a forjei.

Carmim ergueu uma sobrancelha, surpreso. A forjou? Ela era muito bem feita. Então seu peito se encheu de um riso incontido.

– Admiro sua habilidade como ferreiro, nekedoh. – Berrou outra vez, totalmente diferente do modo que agia até poucos segundos atrás. – Mas me diga: sua habilidade com a espada supera a sua de cria-las?

Carmim ergueu novamente a espada, infundindo éter na lâmina. Desta vez seria mais poderoso.

‘Carmim é forte. Não posso brincar com ele como brinquei com Frian. Talvez tenha que usar aquilo.’ Pensou Kai.

Tirou completamente a espada de sua bainha, girando-a na mão e prendendo ela no nó da calça. Ergueu sua espada, uma longa matriz surgindo ao longo da lâmina negra.

‘Quem é esse garoto, afinal? Sabia que era perigoso, mas ao ponto de possuir tais habilidades rúnicas...? Preciso cortar esse mal pela raiz’  pensou o velho Carmim.

Sua espada de repente se alongou, ganhando proporções imensas. As nuvens acima se dispersaram ao passo que ela se erguia e se erguia. Parecia uma torre, sendo criada a partir de pura manti.

E o éter de Carmim era poderoso, austero.

– Intervenção Divina. – Gritou ele, sua voz imponente.

Desceu-a com todo seu esplendor, emitindo auras de éter poderosos que atingiam o solo e seus próprios soldados.

– Pereça diante minha generosidade, nekedoh.

Em resposta, Kai se manteve firme. Cruzou a espada a frente do corpo em horizontal, enquanto que levantou a mão esquerda com apenas os dedos indicador e médio erguidos. Chi fluiu pelos seus canais de veia, e ele fechou seus olhos, se concentrando bastante.

Inspirou e expirou diversas vezes em apenas 15 segundos. Havia tempo. A matriz sobre a lâmina de sua espada brilhou. E ele abriu os olhos, divertido.

‘Tudo ou nada.’ Pensou.

Entrementes, Terong se alarmou, ainda observando o desenrolar da batalha. Encarou Inseyftal, que mantinha um olhar aperreado para Carmim. Seus pensamentos eram um só: se existia alguém com tamanha força sobre o éter, por que ela se tornou uma general, afinal?!

– Precisamos fazer algo – alertou Terong. – Uma destruição sem precedentes vem aí.

Alheio aos comentários de seu colega, Cineáltas encarava com afinco Kai e sua nova espada.

‘Ele conseguiu reproduzir uma matriz nesse nível? Deve ter no mínimo umas dez runas dentro dela. Que velocidade de adaptação é essa sua, Kai Stone?’

– Cineáltas! – Terong disse outra vez. – Vamos agir.

O homem saiu de seu torpor e assentiu.

Kai já estava pronto para o impacto quando a general Inseyftal surgiu atrás dele.

– Achei que não iriam vir me ajudar nunca – Kai sorriu.

A general olhou para ele, ao mesmo tempo surpresa e em alerta. Ele percebeu sua presença ali?

– Não há tempo! – Disse ela, pressurosa. – Não pense que pode defender algo assim. É um ataque com grande concentração de manti, devastaria você antes mesmo de pensar em macarrão. Nem mesmo sei se eu poderia aparar...

– E quem falou em defender? – Kai sorriu ainda mais.

Ela o olhou, aturdida. Esse sujeito iria mesmo contra-atacar?

Entrementes, Cineáltas surgiu pairando acima deles e ergueu a mão esquerda. Uma matriz cheia de símbolos apareceu à sua frente.

BOOM!

O impacto da espada com a matriz soou. Mas foi apenas isso. Não houve explosão nem destruição.

Kai afiou o olhar e observou bem a cena diante dele. A matriz estava absorvendo a manti concentrada na espada. Que nível absurdo de criação de matriz. As habilidades de Cineáltas superavam as de Mael? Com certeza sim.

Após alguns instantes, a espada sumiu, bem como a matriz.

Terong caminhou calmamente até Carmim.

– Terong! – Alarmou-se o vitanti. Tinha grande respeito pelo homem. Quem quer que tivesse ele ao seu lado, sabia que deteria grande parte do apoio da população. O homem era carismático assim. – E Cineáltas.

– Esta batalha acabou, Carmim. – Cineáltas promulgou.

Carmim ergueu uma sobrancelha.

– E com que direito pensa que tem para dizer isso?

– Com o direito de senhor de Pylpunt. E devo lembra-lo que esse direito é maior pois estamos em meus domínios. Ponha-se no seu lugar.

A aura de Cineáltas vazou. Entrementes, a espada de Carmim sumiu, um sorriso torto surgindo em seu rosto.

– Estive fazendo meu trabalho. Não me diga que defenderá o raptor de seu filho. Como um bom senhor que se preze, gostaria de evitar derramamento de sangue.

Carmim sabia que Kai tinha “planejado” toda a situação. Era improvável que ele tivesse feito o filho de Cineáltas de refém. Mesmo sabendo disso, ele resolveu entrar na brincadeira. Contanto que desse fim à essa raiz venenosa, poderia cuidar do resto depois.

Terong ergueu uma sobrancelha. 

– Raptor?

– Kai Stone colocou uma bomba de energia ao redor do coração de Ómra, filho de Cineáltas. Não entendo como ele ainda está livre. – Carmim balançou a cabeça, desapontado. Ele era realmente muito cínico.  – Meu subordinado e eu apenas visamos o bem estar da família Echanti.

– Não seja cínico, sua cobra – Kai pigarreou. – Agindo como se nunca tivesse atentado contra a vida de Ómra. Falso moralista.

Terong se virou para Kai.

– É uma acusação grave de se fazer, Kai Stone.

O rapaz sorriu.

– É apenas a verdade, não é, cobra?!

Inseyftal prendeu a respiração diante da afronta de Kai. Já tinha presenciado a falta de decoro dele antes, e ouvira burburinhos também. Mas o rapaz era simplesmente desbocado demais.

– Veja como fala comigo, nekedoh. Eu ainda sou um chefe de província.

– Vai fazer o quê? Mandar uma flor negra pra mim?

Carmim arregalou os olhos, ameaçando avançar no rapaz.

– Eu vou te matar, pirralho! 

Kai sorriu. 

– Entra na fila. 

– Já chega! – A voz de Terong soou. – Francamente rapaz, sugiro que fique quieto. A situação não lhe favorece. Faça silêncio, é melhor pra você.

Kai olhou para ele, o sorriso diminuindo.

– Desculpa, mas quem é você mesmo?

Uma veia saltou na testa do vitanti. Inseyftal prendeu a respiração mais ainda e, Cineáltas, querendo calar a boca de Kai, só pode colocar a mão na própria cabeça. Carmim ainda estava irritado, só queria arrancar a cabeça desse desgraçado desbocado. 

Terong se virou para ele, estufando o peito. Olhou-o de cima para baixo.

– Reconheço sua força, Kai Stone. Mas isto não pode ser misturado à arrogância. Seja humilde enquanto pode.

Kai se soltou do aperto de Inseyftal e ergueu o rosto, o queixo arrebitado. Era um claro sinal de afronta.

– Desculpe, senhor, é que eu simplesmente cansei do abuso de poder por aqui.

– Retenha esse seu desaforo ou...

Kai caminhou lentamente, pegando todos de surpresa. Era mais baixo que o vitanti e, mesmo assim, parecia da mesma altura. Ergueu o rosto, os olhos feito de uma fera selvagem. Inclinou a cabeça levemente para o lado e franziu o cenho.

– Ou o que?



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