Volume 1

Capítulo 48: O PAVOR DA MORTE

 

O céu escureceu. Era possível enxerga-lo, finalmente.

Greylous passou seu olhar por cada um dos rostos determinados dos generais, uma zombaria evidente.

– Venham.

O ar estalou devido a eletricidade de Pelydryn, que arremessou sua haste no rosto do xamã; este desviou para o lado, sem problemas.

A haste zuniu e foi aparada por Saanp, que diminuiu o espaço numa velocidade absurda, aparecendo a uma pouca distância do inimigo. Cortou em vertical, mas, sem problemas outra vez, o xamã desviou.

Mael diminuiu espaço, conjurando éter e enviando uma forte luz branca para a palma de sua mão.

Dezenas, talvez centenas de orbes feitos de pura luz formaram-se ao seu redor, piscando e ondulando.

Greylous sorriu, admirado com a praticidade dele ao criar tantas esferas num período tão mínimo.

Sem se importar com a distância, Mael ordenou o disparo dos orbes.

O xamã fora atingido por grande parcela delas, causando um barulho seguido de poeira sendo levantada.

Um rastro de fumaça saiu da explosão, seguindo um objeto grande, que foi em direção aos céus. Inseyftal não perdeu tempo e se lançou para cima, juntando as mãos.

A fumaça ao redor do objeto foi dissipada, revelando Greylous. A vitanti controlou o ar próximo do xamã, desestabilizando seu voo.

Enquanto Greylous lutava contra o controle repentino de seus movimentos ainda no ar, Inseyftal criou duas grandes colunas de vento atrás de si, cada uma medindo cerca de 10 metros de diâmetro e 20 metros de comprimento. Dentro, haviam várias rajadas de ar feito lâminas, chocando-se umas nas outras, rebatendo nas paredes cilíndricas e retornando. Devia haver mais de duzentos em cada.

Com um floreio dos braços, enviou as duas colunas em direção a ele.

Quando se chocaram, as paredes das colunas se desfizeram, liberando as lâminas que pareciam pequenos bumerangues de 15 cm.

O impacto de ar contra ar causou uma ventania sem precedentes. Greylous cruzou os braços na frente do corpo, afim de se defender.

O ataque durou mais de 5 min, até que a última rajada se dispersou. Os braços e o rosto do xamã ficaram cheios de cortes profundos.

Saanp apareceu repentinamente tocando no peito de Greylous. Aconteceu uma vibração, e o corpo dele tremeu. O general socou e chutou diversas vezes, causando danos significativos no xamã, que só se defendeu.

O general tocou novamente em Greylous, que caiu repentinamente, afundando no chão sem parar. Quando finalmente parou, foi puxado até onde Saanp estava, seu corpo muito mais leve que antes.

Socou fortemente o rosto do xamã quando este estava a poucos centímetros.

Greylous caiu lentamente, devido a gravidade mínima que Saanp deixou em seu corpo; contudo, em questão de segundos sua gravidade da massa aumentou tanto que ele caiu em tamanha velocidade, criando uma pequena cratera ao seu impacto. Era possível ver a gravidade sendo efetiva, prendendo-o lá.

Entrementes, Pelydryn rompeu os céus quando voou até o alto, desaparecendo nas nuvens que se formavam.

Raios e trovões rimbombaram. Era como se duas imensas espadas se chocassem, causando um tremor capaz de vibrar a terra.

Saanp se precipitou e iniciou um voo, Stilk em mãos, e jogou-a lentamente, deixando que flutuasse sozinha para os céus. Ergueu a mão direita e nivelou a esquerda na altura da cintura. Quando abaixou uma e ergueu a outra, quatro muros feitos de pedra bruta se ergueram do chão, cercando a cratera onde Greylous caíra.

A voz de Pelydryn rimbombou, imperante.

Uma luz piscou e os céus se abriram, partidos ao meio. Havia uma réplica de Stilk, que deveria medir cerca de 900 metros de altura.

Saanp pigarreou e arregalou os olhos.

“Desfaça os muros.” Soou a voz de Mael no canal de transmissão dos Generais. Em seguida, soou no canal de transmissão unificado: “Os vitanti próximos à batalha dos generais, afastem-se. Carreguem os corpos de seus irmãos mortos, ajudem os feridos. Aqueles dos homens e gorilas que ainda estiverem vivos, devem ser feitos prisioneiros. Isso é uma ordem.”

Entrementes, ocorreu grande alvoroço próximo da área de impacto. Vitanti correndo, carregando os feridos, gritando ordens. A angustia para sair dali era grande.

Mael observou os arredores. Grande parte da floresta seria destruída.

– Droga, Pelyn... – Pigarreou ele, pensando numa alternativa. Se não fizesse nada, por mais que os vitanti corressem para se proteger, ainda seriam pegos.

“Não esquenta, General” A voz de Pelydryn soou. “Tenho tudo sob controle... apenas trate de evitar que o vento causado pelo impacto seja muito destrutivo, sim?”

“Mas é isso mesmo que ele está buscando como alternativa, idiota.” Disse Saanp, irritado. “Você pensou que Tir’Tegeirian é construída no solo abaixo deste campo de batalha?! Onde estava com a cabeça quando...”

“Negativo”
Cortou-o Pelydryn. “Tir’Tegeirian não é construída aqui embaixo, no máximo tem alguns túneis que nos levam à antigas construções, mas... Tir’Tegeirian mesmo fica pro lado leste. Estamos há uma grande distância no lado Sul da Grande Entrada.”

Mael analisou a conclusão de Pelydryn, tentando se lembrar dos mapas e da geografia de Bulogg. De fato, o acampamento havia sido erguido na entrada principal da Grande Entrada, que ficava a oeste dela. Os túneis seguiam sempre em frente e mais fundo e, mesmo com bifurcações e dobras, sempre retornava para uma direção: o extremo leste inferior do ponto cardeal da Grande Entrada.

Neste momento eles lutavam no que sobrou de uma clareira de mais de 9 mil pés de terra. Parando para calcular, Tir’Tegeirian não sofreria mais do que pequenos terremotos.

O ar ondulou enquanto a haste descia lentamente, vibrando e produzindo sons de trovão.

“Tudo bem.” Disse Mael, por fim. “Vamos focar no impacto do feitiço. Evitar que a ventania causada seja muito prejudicial, tanto pro nosso povo quanto pro restante da floresta.”

Que Bulogg nos ajude,
adicionou ele, em pensamento.

Com um floreio do braço bom, Mael criou um enorme casulo de terra, cobrindo parte daqueles que corriam em direção da Grande Entrada, que estava há tantos quilômetros que parecia uma árvore comum.

Como nos distanciamos tanto? Pensou ele.

Focando no presente, conforme a haste de raios descia, os outros três generais se juntaram, formando um triângulo.

“Concentrem-se em criar a Barreira da Lua Minguante. A ativaremos assim que o feitiço de Pelyn atingir o alvo.”

“Senhor, essa Barreira consome muito manti... E se Greylous se erguer novamente?”
Indagou Saanp, pressuroso.

“Se Greylous resistir a esse ataque, aí... aí podemos começar a rezar por nossas vidas a Bulogg.”

– IMPACTO CELESTIAL: ROMPIDORA DE MUNDOS!

A voz de Pelydryn soou como a de um deus, rimbombando pelos céus. À medida que a haste desceu, os três concentraram-se em conjurar o éter, já que para a criação da Barreira da Lua Minguante era necessário energia pura.

O Impacto Celestial de Pelydryn atingiu o solo, causando grande estrondo. Uma luz cegante e os raios envolvendo esse feitiço dançaram ao redor queimando as florestas e criando enormes crateras pelo chão.

Uma barreira triangular etérea se formou, isolando o ataque e que raios escapassem mais. Foi incrível que dentro da barreira nada sobrou à medida que o ataque ia afundando mais e mais.

O nível de concentração dos generais era tanto que o braço de luz conjurado por Mael se desfez. Mas ele manteve o nível, enviando mais éter para a barreira, a fim de evitar mais destruição.

Quando o feitiço finalmente afundou na terra, havia tanta poeira que não podiam ver nada.

Ao desfazerem a barreira, a poeira já era mínima. Saanp ergueu o rosto bem a tempo de ver Pelydryn cair das nuvens carregadas, desmaiado. Ele sumiu da vista de Mael, aparecendo ao lado do jovem general.

– Opa. – Disse, passando seu braço direito no dorso do rapaz e o braço esquerdo dele sobre seu pescoço.

Pelydryn ergueu o rosto, suado, pálido e cansado. O canto de sua boca tremeu.

– Sem manti que nada... parece que você ainda tinha um ou dois truques...

– Calado. – Disse Saanp, sorrindo. – Fez um bom trabalho, rapaz.

– Bom, isso logo veremos. – Disse Mael, se aproximando com Inseyftal no seu encalço.

Os quatro se juntaram, a fim de observar o estrago que havia sido feito.

Planaram acima da poeira causada, enxergando pouco e ruim.

– Acha que ele pode ter sobrevivido? – Indagou Inseyftal, ansiosa.

– Impossível – Pigarreou Pelydryn, pendurado em Saanp. – Você viu o nível desse ataque, não é? Mataria um deus.

Quando a poeira baixou, encararam o enorme buraco, com cerca de 400 metros de diâmetro e 850 de profundidade. Era escuro, não era possível ver nada.

– Vamos voar mais para perto. – Sugeriu Mael.

Ao se aproximarem, não viram nada. Saanp, para ter uma perspectiva melhor, revestiu os olhos com éter

– Não vejo assinatura nenhuma. É impossível que ele tenha sobrevivido. Mesmo que fosse um xamã, o corpo ainda era de um humano.

Pelydryn e Inseyftal se encararam, sorrindo.

– Eu não disse? Meu feitiço mataria um deus.

– Bom – Uma voz grave seguida de uma aura assassina soou logo acima deles. – É bom que você saiba que não sou um deus. A mera existência deles mal faria cosquinhas em mim.

Erguendo suas cabeças, os generais encararam Greylous flutuando, sem o braço e a perna esquerda. No seu rosto, a parte esquerda estava totalmente queimada, tanto que era capaz de ver seu o crânio à mostra.

Seu corpo estava tão queimado que a carne chiava, vermelha e chamuscada.

Mas seu rosto permanecia lívido, altivo, quase prestes a gargalhar.

– C-como? – Escapou Pelydryn, pálido. – Era meu melhor ataque.

Greylous sorriu.

– Eu digo como: para derrotar um xamã, que está neste mundo apenas em forma espiritual, ataques físicos de nada adiantam além de destruir o corpo do hospedeiro. Vocês apenas sentenciaram o moleque aqui, o que é uma pena, pois ele tinha tanto futuro..., só que isso não faz diferença, ele não iria aguentar o baque de minha alma deixando seu corpo após tanto tempo mesmo.

Mael piscou, estupefato. Primeiro que havia uma chance de Kai estar vivo, mesmo que mínima. Segundo: como podia ter deixado algo tão óbvio escapar? Claro que ataques físicos não fariam diferença num espectro. Teriam de destruir sua alma. Mas como?

Pouco a pouco, os membros perdidos foram se regenerando. Até mesmo os utensílios e as roupas voltaram ao normal. Greylous sorriu bem no momento em que seu rosto... o rosto de Kai, se regenerasse por completo.

– Como isso é possível? Quanto poder isso seria necessário?

– Não muito. Mas é que eu tive taaaanto tempo para treinar, que isso virou habitual, não é? – Seu sorriso e tornou animalesco, horrendo. – Agora é a minha vez, certo?

Uma névoa verde-floresta começou a ser liberada pelas mãos negras de Greylous. Diversas árvores foram arrancadas do solo, sendo manipuladas por essa névoa que removeu seus galhos, folhas e as poliu tão bem que elas se tornaram enormes estacas em segundos.

Ele voou para perto do quarteto, trazendo mais e mais dessas árvores consigo.

– Já pude contar quase cinco habilidades desse cara... que mais ele pode fazer? – Gritou Pelydryn pulando dos braços de Saanp e voando baixo, manipulando os ventos ao seu bel prazer para pousar lentamente no chão. Sabia que seria um estorvo, estava quase sem manti.

Entrementes, Inseyftal criou escudos incolores a base de éter, a fim de conter as estacas enormes.

Greylous sorriu.

– Tsu-tsu-tsu! – Sibilou, balançando o indicador direito.

A névoa se expandiu, envolvendo os escudos e encolhendo-os ao ponto de não restar nada.

– Ele pode fazer isso? – Gritou Saanp, se afastando juntamente com os outros dois.

– Tecnicamente não. – Respondeu Mael, ofegante. – Acho que é um manipulador do caos... droga, ainda mais essa. Separem-se.

Cada um foi para um lado, todos sendo seguidos pelas estacas de Greylous.

Mael conseguiu conjurar um outro braço rápido o suficiente para produzir uma luz tão quente que, quando as estacas se aproximaram por dois metros, foram totalmente queimadas por sua aura.

Inseyftal assoprou, produzindo fortes rajadas de vento que afastaram as estacas dela.

Já Saanp foi capaz de destruir todas apenas com um toque em cada, esmagando-as a nível celular.

Todos se viraram para se encarar, a distância. Havia algo de errado.

Onde estava Greylous?

Quase como se respondendo à pergunta, olharam para o céu, apenas para verem três bolas de fogo rasgando os céus em sua direção. Queimaria tudo.

– Droga... de onde surgiu esse cara? Esse nível de poder é... é absurdo. – Gritou Inseyftal.

– Ele manipula o caos... consegue controlar a realidade a nível atômico... não é um simples xamã. Alguém assim precisaria de anos de prática, somente um espectro poderia ter tanto nível de poder. E sinto que ele nem está dando seu máximo...

– HAHAHA. – A risada de Greylous ecoou.

Pigarreando, Saanp se lançou mais alto e ergueu os braços. Éter saltou da palma de suas mãos, transformando-se num escudo que varreu quilômetros e quilômetros. Juntando-se a ele, os generais Mael e Inseyftal ergueram suas mãos, enviando ondas de éter para o escudo.

– Não seria mais fácil diminuir sua velocidade de aceleração através da gravidade? – Indagou Inseyftal.

– Estou quase sem manti...

Ambos praguejaram.

Prestes a colidir, Saanp fechou os olhos. Minutos se passaram e o impacto nunca veio.

O que aconteceu foi que quando estava bem perto do escudo, as bolas de fogo se transformaram em uma densa névoa cinza e fria, ecoando a risada sarcástica de Greylous.

– Protejam suas mentes, ele é o Rei dos Pesadelos, caramba. – Gritou Mael.

No campo de batalha abaixo, Pelydryn havia pousado próximo a borda da enorme cratera. Procurava sua haste quando sentiu algo gelado em sua nuca.

– Isso é pelo dano que me causou, inseto.

Atrás dele, Greylous manipulava a névoa verde, conduzindo-a para dentro de sua cabeça. Os olhos de Pelydryn ganharam a tonalidade verde da névoa do xamã e ele endureceu, assustado, encarando o vazio.

Lá em cima, os generais se afastaram buscando um ao outro. Tentando dispersar a névoa, Inseyftal viu suas habilidades anuladas. O mesmo acontecia com os outros dois.

De repente, Saanp ouviu o grito gélido de Inseyftal romper seus tímpanos.

Flutuando para a origem da voz, encontrou-a gritando escandalosamente. Do seu rosto, desciam dois rastros de sangue das fendas dos olhos, que agora estavam totalmente queimados. Ela arranhava o próprio rosto enquanto chorava e gritava.

Saanp voou até ela, buscando acalentá-la. Ela gritava histericamente, enquanto ele buscava alternativas para lhe ajudar. Não era o melhor vitanti curandeiro, fosse com ervas, fosse com éter.

Mas, de repente, a pele do rosto de Inseyftal começou a derreter, caindo e restando apenas os ossos. Todo seu corpo ficou assim, derretendo enquanto Saanp encarava a cena, perplexo e se afastando.

Os gritos de pavor de Inseyftal se tornaram uma risada tão melodiosa que causou a estranheza que faltava a Saanp. Então seus membros ficaram rijos.

Ele era capaz de sentir tudo. Suas veias pulsando, o sangue correndo por elas. Os ossos estalando, o coração sendo bombeado, o pulmão trabalhando silenciosamente. Os órgãos todos funcionando. Seu cérebro pulsando.

Mael, há uma certa distância dali, tateava o nada, em busca de seus amigos. De repente a névoa foi dispersa. Ele se virou, dando de cara com Inseyftal que tateava o nada há poucos centímetros dele.

Viraram-se juntos para a extremidade e viram Greylous com a mão no ar, torcendo-a lentamente, e Saanp se contorcendo, seus membros virando em ângulos não naturais. Sua pele estava mais roxa que o normal, suas veias do pescoço estavam saltadas.

Greylous estalou os dedos e, do nada, tudo mudou. Estavam agora bem no meio do exército vitanti. Ele continuava com Saanp do seu lado e, à sua esquerda, Pelydryn encarava o nada, o branco de seus olhos cheio de vasos estourados. Estava sofrendo tanto quanto o outro.

Arjuani e a Unidade Fronteira estava ali.

A comandante encarou a cena com total descrença. Alguns tiveram reações parecidas. Medo, pânico, ânsia. Fioled então, se estivesse acordada teria um piripaque.

Mas o que lhes causou realmente algo ruim foi ver Kai Stone controlando facilmente dois generais.

Generais droga. Os Púrpuros logo se colocaram a disposição de Inseyftal e Mael, que estavam descrentes com o que viam.

Prestes a gritar pelo colega, Ómra foi impedido por Ysgarlad, que colocou a mão em seu ombro e balançou a cabeça quando este o encarou. O fato é que o irmão de Fioled se sentia péssimo por como tratara Kai, ainda mais após saber que este morrera salvado sua irmã.

– Mas por quê? – Indagou, incrédulo.

Key’inant, o mudanti que duelara com Kai e era louco por batalhas suspirou.

– Este não é aquele qésserin de antes... ele está... está mudado.

– Mudado?

– Além do fato dele estar contendo dois generais e com uma roupa toda preta? – Indagou Oseias, sarcástico e preocupado.

– Sabe, nunca gostei muito da destruição em massa. – Disse Greylous, a voz tão diferente que logo aqueles próximos a Kai notaram que não se tratava da mesma pessoa. – Eu poderia ter destruído todo seu lar em instantes, Mael. Poderia ter matado suas mulheres e crianças. Seus idosos, seus enfermos. Eu poderia ter dizimado uma raça inteira hoje que o mundo nem se importaria.

“Seu protetor? Teria tirado um cochilo e partido para outras terras, a fim de criar uma nova raça de tolos, subservientes o bastante e nada questionadores. Crentes patéticos que nunca perguntam ou duvidam. Imbecis. Fanáticos.”

Mael suspirou, o campo de batalha tão calmo e quieto que poderia jurar que só haviam os dois ali.

– E o que me diz desses falsos seguidores? Homens tolos que acreditaram na palavra de um espectro, cujo prometera a eles reinado e poder. Diga-me, onde está aquele que lhe jurou lealdade primeiro?

– Tolos igualmente, vitanti. – Greylous sorriu, fechando a mão lentamente; Saanp produziu sons de dor. – Não ordenei que me seguissem, mas foi tão fácil persuadi-los quanto tirar bombom de criança. Contudo, vocês estão num nível diferente de tolice. Voltando ao ponto chave da questão: sabe por que não o fiz? A destruição em massa que você sabe que tenho o poder para fazer?

Mael se recusou a responder.

– Porque gosto disso: da tortura, do terror estampado no rosto daqueles que não tem o poder para se mover contra mim. Todos aqui tiveram e tem medo, nenhum escapa. Você deveria ter visto o medo nos olhos de Kai Stone quando me viu pela primeira vez. Deveria ter ouvido os gritos que eu causei quando o torturei. Deveria ter escutado as lamúrias dos pesadelos mais sombrios que ele teve. Nada do que está passando hoje, Mael, será capaz de superar o que fiz com este garoto.

“E nada será capaz de curar os traumas que esse garoto teve, nem as perdas que seu povo passou e passará aqui hoje. Nada poderá remediar os pesadelos tão obscuros que implantei na cabeça do garoto dos raios. Ou da dor de ter os ossos quebrados em tão poucos pedaços quanto o desse grandão aqui. E sabe o que é pior? Uma única pessoa poderia ter evitado tudo isso. Não haveria guerra, seus generais não estariam mortos, eu não teria trazido os homens ou os gorilas para sua terra... teria até matado Pele-pétrea por você. Mas você não quis entregar uma única pessoa.”

Alguns rostos encararam Mael. O braço conjurado de luz já tinha se desfeito.

Minutos se passaram quando a voz de Greylous caiu.

– Nada do que eu tivesse feito teria mudado seus planos, Greylous. – Disse Mael. – Não tente mudar o que fez, não haja como se tivesse nos dado escolha. Não finja que entregar Abwn teria mudado tudo isso, não depois de já ter matado Kai, Erde e todos os outros. Não finja ser bonzinho, porque você não é.

Quando a voz de Mael caiu, os vitanti começaram a conversar, assustados com o fato de que a pessoa que o xamã queria era, desde o início, Neru’dian.

Ora, todos sabiam que era fora de questão.

Greylous juntou os ombros, sorrindo sarcasticamente.

– É, acho que perdi meus dotes de persuasão. Enganar as massas por meio de parlamentarismo nunca foi meu forte, sempre preferi o pavor.

Sua feição se tornou escura quando ele apertou mais a mão.

– Mas vamos logo ao que interessa. Você viu meus poderes, garoto, viu do que sou capaz. Ou Abwn vem até mim por conta própria, ou eu vou escavar cada chão de terra deste quintal, até que ele saia da toca fedida cujo está escondido.

– Respeite o Neru’dian.

– Quem você pensa que é?

– Nunca entregaremos Neru’dian.

– Só por cima dos nossos cadáveres.

Algumas palavras ditas por soldados mais próximos puderam ser ouvidas. Todo o exército estava em polvorosa, irritados com as palavras de Greylous. Àquela altura, já sabiam que ele era a ameaça principal.

Greylous deu de ombros, despreocupado.

– Por cima dos seus cadáveres, é? Tá bom, então.

Ele girou a mão rapidamente e o corpo de Saanp explodiu, jorrando sangue pra tudo que é lado. Nenhuma gota pingou nele.

Os soldados mais a frente que viram tudo calaram-se imediatamente, Mael arregalou os olhos, Inseyftal também.

Greylous flutuou e lançou um olhar para os dois, dizendo: – Fiquem aí.

O chão debaixo deles se abriu e dois tronos se precipitaram. Eles foram empurrados para baixo por uma força invisível e correntes que os incapacitou rodeou a ambas.

Flutuando por cima dos soldados, Greylous esticou as palmas das duas mãos para cima e sorriu.

– Venham até mim.

Numa cena parecida com a de Jimothy, a alma de diversos soldados e de prisioneiros foi sugada.

As almas sendo sugadas eram tantas que uma névoa bruxuleante se formou, indo em direção de Greylous, sorrindo e gargalhando.

– E ENTÃO, ABWN EBLOMDRUDE, ESTÁ PRONTO PARA VER SEU POVO QUEIMAR?



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