Volume 4.5
Capítulo 3: Atmosfera e Apetite
Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!
Um dia, Alisa estava parada em frente a uma certa loja de ramen. Escrito ominosamente em vermelho na placa de madeira estavam as palavras O Caldeirão do Inferno, e era a mesma loja de ramen onde ela tinha comido com Masachika e Yuki um tempo atrás. Ela se lembrava vividamente que a loja fazia jus ao nome, servindo apenas os ramens mais apimentados, levando-a diretamente ao inferno e de volta, e ainda assim, por algum motivo, ela estava prestes a entrar na cova dos leões mais uma vez.
Por quê? Porque quando ela e Masachika saíram em um enco — um… encontro de prática outro dia para que ela pudesse ensinar o adolescente desajeitado sobre mulheres, ele disse a ela que gostava de comida apimentada.
Não é como se eu estivesse tentando entender que tipo de comida ele gosta, claro!
Ela estava inventando desculpas para si mesma. Tinha que haver algum motivo para alguém amar tanto comida apimentada, e ela queria saber por quê. Era só isso. Isso não passava de uma tentativa dela de expandir seu paladar culinário. Se ela conseguisse gostar não só de doces, mas também de comida apimentada, então ela poderia desfrutar de comer duas vezes mais.
Esse desafio era baseado nesse simples processo de pensamento. E talvez houvesse alguns benefícios adicionais também? Tipo, talvez ela esperasse que pudesse desfrutar mais de comer fora com seu amigo? Claro, ela obviamente estava se referindo a Yuki e não a Masachika quando chegou a essa conclusão.
— Certo.
Depois de fazer todas as desculpas que conseguia pensar e se preparar para o que estava por vir, ela abriu a porta deslizante do restaurante—
…....!
—e imediatamente, as especiarias no ar queimaram seus olhos e o fundo de sua cavidade nasal. Mesmo estando um pouco preparada para isso, ela instintivamente estreitou os olhos e fez uma careta.
— Bem-vinda ao Caldeirão do Inferno!
Ela piscou por alguns momentos com a voz animada do chef, depois direcionou seu olhar para a recepcionista... onde viu um rosto familiar pelo canto do olho e olhou novamente.
— Uh...? Ayano?
— Hmmm? Oh.
Ayano, que estava sentada em uma mesa para duas pessoas perto da entrada, levantou a cabeça do livro que estava lendo, e seus olhos se arregalaram ligeiramente de surpresa. Depois de vê-las se cumprimentando, a recepcionista se aproximou e perguntou timidamente:
— Uh... Vocês duas vão comer juntas?
— Oh, uh... Er... Sim.
Alisa respondeu desajeitadamente, graças à sua absoluta falta de experiência de vida nesse aspecto. A vergonha que ela sentia era quase fisicamente dolorosa, mas não havia como ela recuar agora depois de afirmar que elas comeriam juntas.
— Ei, uh... Você se importa?
Ela perguntou apreensivamente a Ayano.
— Fique à vontade.
Ela então se sentou em frente a Ayano, que guardou seu livro na bolsa.
......
......
E então houve silêncio. Duas mulheres bonitas se olhando.
Sem dizer nada.
Uh...
O silêncio indescritivelmente constrangedor se tornou demais para Alisa, que fechou a boca semiaberta, incapaz de encontrar as palavras certas para dizer. Ela não tinha muita experiência em iniciar conversas triviais, e seu relacionamento com Ayano... ainda era extremamente incerto.
Somos até amigas...? Não somos, né? Afinal, mal conversamos, especialmente não assim, e só passamos tempo juntas como membros do conselho estudantil. Para piorar, vamos concorrer em lados opostos durante o ciclo eleitoral, então, enquanto trabalhamos juntas no conselho estudantil agora, também somos inimigas. Espera. Mas... Yuki e eu somos amigas, então...
Alisa estava tendo dificuldade em definir seu relacionamento com Ayano em palavras, mas como ela iria iniciar a conversa dependia do tipo de relacionamento que elas tinham. Claro, ela não era contra a ideia de ser amiga de Ayano, mas Ayano nunca pediu para ser sua amiga, e ela não tinha confiança suficiente para afirmar que eram amigas sem qualquer confirmação também.
Era um dilema muito comum para pessoas que eram socialmente desajeitadas ou tímidas. Ela até começou a torcer para que Ayano fosse a primeira a iniciar a conversa… mas desistiu no momento em que olhou nos olhos de Ayano. Seus olhos estavam desanuviados, sem um pingo de embaraço. Claramente, ela não estava se sentindo desconfortável enquanto se sentava ereta com as mãos no colo como se dissesse: — Vá em frente. Estou pronta para ouvir o que quer que você tenha a dizer.
— Olá, trouxe água para vocês. Por favor, avisem quando estiverem prontas para fazer o pedido.
A bizarra competição de olhares delas foi interrompida quando a garçonete voltou com água. Os olhos de Alisa naturalmente desviaram de Ayano enquanto ela pegava o cardápio e percorria os nomes perturbadores das comidas com uma expressão amarga no rosto. Ela então olhou de volta para Ayano e perguntou:
— O que você pediu?
Foi preciso muita coragem para Alisa fazer essa pergunta.
— Eu pedi--
Mas bem quando Ayano estava prestes a responder, a garçonete voltou com uma tigela de ramen em uma bandeja.
— Aqui está. Ramen do Inferno da Montanha de Espinhos. Aproveite sua refeição.
Dentro do caldo vermelho escuro… havia inúmeras tiras finas de cebola empilhadas para formar uma pequena montanha. Era o segundo item mais picante no cardápio, um estágio acima do Ramen do Inferno do Lago de Sangue, que Alisa comeu da última vez.
— Mmm, isso.
— Oh…
Alisa pensou cuidadosamente por alguns segundos depois de ver o ramen que a recepcionista trouxe. Ela planejava pedir o Ramen do Inferno do Lago de Sangue novamente, mas depois de ver a escolha mais picante de Ayano, começou a duvidar que pedir a mesma coisa ajudaria no seu progresso. Além disso, pedir o item menos picante do cardápio a faria se sentir um pouco perdedora. Ela obviamente sabia que isso não era uma competição, mas…
— Com licença, garçonete? Vou querer o mesmo.
Ela pediu, parando a garçonete a caminho de volta para a cozinha. Ela então olhou para Ayano mais uma vez.
— Oh, você não precisa me esperar. Vá em frente.
Ela incentivou.
— Obrigada.
Respondeu Ayano antes de pegar os hashis, submergir a montanha de cebola no caldo e retirar os hashis com um pouco de ramen. Ela então começou a chupar os noodles em silêncio.
.….!
…..?
……
Depois de congelar por um momento, Ayano lentamente sugou os noodles até que estivessem completamente em sua boca. Ela limpou os lábios com um guardanapo, depois começou a mastigar… e sua expressão não mudou nem um pouco.
I-Incrível! Ela está comendo o que parece ser um ramen super picante sem nem levantar uma sobrancelha… Ayano deve amar comida picante também…
O medo de Alisa foi acompanhado por admiração e uma leve sensação de urgência. Ela ainda se lembrava claramente de quão devastadoramente quente era o ramen que pediu da última vez, e este seria ainda mais picante. Será que ela realmente conseguiria comer?
E-Eu vou ficar bem! Dizem que você só precisa se acostumar com comida picante, e eu tive tanta dificuldade para terminar da última vez porque acabei adicionando tempero para deixar mais picante!
Enquanto tentava se animar, ela olhou para um dos cantos da mesa e notou os temperos que o restaurante oferecia: molho de soja, pimenta… e um pequeno pote de cerâmica suspeito que se destacava mais do que o resto. No pote estava o nome Lágrimas de Demônio — um tempero incrivelmente picante.
Eu vou ficar bem, desde que eu não coloque isso no meu ramen… Pelo menos, eu deveria ficar bem!
Ela disse isso para si mesma na tentativa de reunir coragem suficiente para comer. Enquanto isso, Ayano continuava a mastigar os noodles do segundo ramen mais picante da loja enquanto pensava:
Isso é apimentado... Muito apimentado...
Ayano estava mentalmente à beira das lágrimas porque, na verdade, ela não conseguia lidar muito bem com comidas picantes também. Havia um motivo para ela ter ido lá sozinha naquele dia, e era porque ela queria treinar para ser capaz de comer comida picante, já que as duas pessoas que ela mais adorava amavam isso. Desconhecida para qualquer um ao seu redor, ela vinha treinando arduamente em restaurantes especializados em culinária picante sempre que tinha um dia de folga ou algum tempo livre.
Graças a isso, ela havia desenvolvido uma tolerância considerável para comida picante em comparação com quando começou a treinar dois anos atrás… mas mesmo assim, esse ramen picante era difícil de lidar.
Está quente e picante… Minha boca parece estar pegando fogo…
A picância só piorava depois da primeira mordida, como se pequenos pedaços dos elementos picantes permanecessem em sua boca, inflamados pelos noodles ferventes antes de explodir como dinamite. Chegou ao ponto em que Ayano não conseguia mais dizer se o ramen estava queimando de tão quente ou se era apenas muito picante.
Ngh… Muito… quente…
Ela honestamente queria abrir a boca para respirar e conseguir alguma ventilação, mas ela era uma orgulhosa maid, e isso era falta de educação. Se ela estivesse sozinha, talvez, mas Alisa estava sentada bem na sua frente. Ela não podia permitir-se mostrar um comportamento tão vergonhoso na frente da bela rival e colega de escola de Yuki.
— Mmmm! Hff.
Depois de conseguir engolir a comida na boca mantendo uma expressão neutra, ela soltou um breve suspiro. Claro, seus instintos diziam para ela beber o máximo de água possível, mas ela sabia por experiência que isso não era tão eficaz, especialmente porque pressionava o estômago, então decidiu simplesmente aguentar a dor. Em vez disso, escolheu usar as tiras de cebola longa, que eram relativamente seguras, para escapar do calor.
Havia menos caldo nas cebolas longas em comparação com os noodles… o que deveria dar a ela algum tempo para respirar e relaxar.
Essa era a sua hipótese quando enfiou algumas tiras de cebola longa na boca… e imediatamente se arrependeu. Assim que começou a mastigar, o sabor único das cebolas fez parecer que sua língua estava sendo perfurada por espinhos.
— Mmmm?!
Os olhos de Ayano reviraram devido ao quão surpreendentemente picantes essas tiras de cebola longa eram. Ficou claro que havia algo diferente nelas. O calor não era nada parecido com pimentas. Em vez disso, parecia que ela estava sendo apunhalada. Em termos químicos básicos, não era como a picância da capsaicina. Era a anilina que contribuía para a sensação de ardor perfurante das cebolas. Se esses tipos de picância fossem tipos de magia, seriam fogo e vento. Eram tipos de magia completamente diferentes, explodindo em sua boca e causando tanta dor que ela quase queria chorar.
I-Interessante… Então esta é a parte Montanha de Espinhos do inferno…
Os tipos conflitantes de sabores picantes não se anulavam. Em vez disso, vinham atrás dela e atacavam de ambos os lados. Foi nesse momento que ela percebeu que essa combinação dupla era o núcleo do prato. Ela fechou os olhos, apertando as glândulas lacrimais para conter as lágrimas iminentes, enquanto acenava algumas vezes como se realmente estivesse apreciando o sabor. Depois de finalmente engolir, ela lentamente alcançou seu copo, tomou um grande gole de água e exalou, sentindo um alívio instantâneo por ter limpado a boca.
— Está realmente bom. Os sabores exóticos dos vegetais e da carne moída se destacam graças à picância do caldo.
Por acaso, Ayano não estava mentindo. Ela podia sentir o umami que ia além da picância do prato, graças aos seus anos de treinamento árduo, então ela não estava mentindo. Ela simplesmente não divulgou o fato de que não teve tempo para aproveitar esses sabores por causa de quão picante o ramen era. No entanto, Alisa estava alheia ao que Ayano estava sentindo.
— Oh… Sério? Mal posso esperar.
Alisa disse com um sorriso constrangedor enquanto sentia um arrepio descer pela espinha.
C-Como ela consegue continuar comendo isso como se não fosse nada? Ayano deve amar comida picante…
Alisa estava gradualmente ficando mais preocupada enquanto observava Ayano retomar a refeição em silêncio. Ela pensou que talvez pudessem se unir contra um inimigo comum como o ramen picante, dizendo coisas como "Mmph… Isso está quente" e "Sim, está," mas esse vislumbre de esperança que ela tinha rapidamente desmoronou como uma casa de palha ao vento. Ayano era uma guerreira experiente que não precisava de um camarada de guerra. A única soldado novata ali era Alisa.
Ngh…
Ela começou a se arrepender de ter se sentado com Ayano, embora já fosse tarde demais para isso. Chorar agora sobre o quão picante o ramen estava só faria uma veterana como Ayano olhar para ela como quem diz, "Então por que você está aqui?" O melhor cenário seria o pedido de Alisa chegar à mesa depois que Ayano tivesse terminado de comer e saído… mas, claro, a vida nunca era tão fácil.
— Desculpe pela espera. Ramen do Inferno da Montanha de Espinhos. Aproveite.
Ayano tinha comido cerca de metade do ramen quando a comida de Alisa chegou. Não havia como Alisa fugir agora, então ela se preparou para a batalha enquanto pegava seus hashis descartáveis como uma soldada indo para a guerra com um rifle na mão.
— Oh, ótimo. Finalmente chegou.
Seu primeiro contato com o ramen seria crucial, e essa primeira mordida diria a ela—
— Mmmm?! Gfff?!
No instante em que ela sugou os noodles, sua garganta foi inundada com capsaicina, e ela começou a tossir violentamente. Embora tenha conseguido engolir a comida, ainda que mal, ela não conseguiu parar de tossir.
— Hmm! Mn! Gff!
As tosses eram incessantes, e ter comida na boca piorava a situação. Quando Alisa finalmente conseguiu parar de tossir, ela cuidadosamente usou os hashis para colocar o resto dos noodles na boca… onde sentiu uma dor indescritível. Embora tenha ficado em silêncio, parecia que o interior da sua boca estava pegando fogo.
Mngh…?!
Era picante e fervendo, e sua boca doía. Que tipo de idiotas fizeram essa monstruosidade? E quão burro você tinha que ser para pedir isso?
Acho que isso significa que... eu sou burra... também...!
Estava tão picante que ela mal conseguia pensar direito enquanto furiosamente limpava os lábios com um guardanapo. De qualquer forma, o primeiro contato com o ramen... foi péssimo.
N-Não tem como eu conseguir comer tudo isso...
Dominada por um desespero absoluto, Alisa engoliu sua primeira mordida enquanto Ayano observava.
— Você está bem? Você estava tossindo bastante há pouco….
Perguntou Ayano preocupada.
— E-Eu estou bem. — Alisa retorquiu reflexivamente para fingir força. — Um pouco do caldo desceu pelo caminho errado. Só isso. Acho que fui um pouco agressiva demais ao sorver.
— Oh, sei como é. Isso acontece muito comigo se eu não tomar cuidado.
Ayano assentiu como se pudesse se identificar. Alisa respondeu à admissão com um sorriso constrangido, depois olhou para sua tigela de ramen... e se sentiu quase sem esperança. O caminho para terminar a tigela inteira de ramen era longo e uma tarefa tão assustadora que a mão que segurava os hashis ficou congelada. Ayano, por outro lado, parecia ter um bom apetite.
E-Eu acho que vou tentar comer as cebolas longas no meio...
O processo de pensamento de Alisa a levou à mesma conclusão que Ayano havia chegado. Em outras palavras, ela caiu na mesma armadilha exata.
A-Ack! I-Isso é quente! Quente, quente, quente! Hff!
Alisa pode ter mantido uma expressão impassível, mas estava lutando devido à picância das cebolas que atacavam diretamente seus dutos lacrimais. Foi apenas pura força de vontade que lhe permitiu manter uma expressão digna, mas logo percebeu que quanto mais mastigava, mais picante ficava. Depois de fazer a mastigação mínima necessária, forçou a comida para baixo com um pouco de água. Mas, por algum motivo, misturar a água fria com a picância perfurante da cebola fez sua boca se sentir estranhamente refrescada.
Não tenho outra escolha...!
Ela sabia que essa sensação de frescor era uma farsa, mas mesmo que fosse tudo psicológico, não havia como terminar seu ramen de outra forma. Uma vez que chegou a essa conclusão, Alisa começou a soprar os noodles quentes para esfriá-los enquanto removia o máximo de caldo possível. Ela comia o mais rápido que podia. O objetivo era derrotar o máximo de seu inimigo possível antes que seus enganadores poderes de invencibilidade se desgastassem.
Os olhos de Ayano se arregalaram ligeiramente enquanto observava os hashis de Alisa se moverem diligentemente.
C-Como ela consegue continuar comendo assim? Incrível... Alisa deve realmente amar comida picante.
Era um mal-entendido mútuo nascido de duas pessoas que não podiam ser honestas uma com a outra.
Não posso deixar ela me superar...!
Ver a forma como sua colega de escola comia acabou motivando Ayano, e seus hashis começaram a se mover incansavelmente, como se ela estivesse tentando não ser superada. E quando Alisa viu isso...
Ela está engolindo todo aquele ramen como se não fosse nada... Eu tenho que me esforçar ainda mais!
Era uma cena do inferno. Como cada uma acreditava que a outra não estava tendo nenhum problema, a ideia de desistir não era uma opção para elas. Tudo o que podiam fazer agora era seguir em frente através de pura teimosia e orgulho até conseguirem escapar desse tormento. E antes que percebessem…
— Mmm! Phew… Isso foi bom.
Ayano finalmente havia conquistado o Inferno da Montanha de Espinhos. A sensação de realização era tão grande que ela quase queria erguer uma bandeira para comemorar enquanto engolia seu copo de água gelada e se deleitava na vitória.
Ayano parece... realmente satisfeita por algum motivo. E-Ela gostou tanto assim? Não entendo... mas só faltam algumas mordidas!
Ver a vitória de Ayano encorajou Alisa a dar o empurrão final, enfiando os hashis no pequeno montinho de noodles que restava, quando—
Croc.
A sensação ominosa fez Alisa congelar no lugar. Foi um erro clássico de iniciante. Enquanto comia, ela não mexeu no ramen nem uma vez, então todos os pimentões e carne moída afundaram e se acumularam no fundo da tigela.
... O que é isso?
E como ela era apenas uma amadora, cometeu outro grave erro. Curiosa, ela afastou os noodles e espiou nas profundezas do inferno.
Q-Que...?! O que é isso?!
O montinho de picância, que havia endurecido um pouco após afundar no fundo da tigela, começou a se desintegrar, e a horda de demônios que havia sido selada na cova mais profunda do inferno foi libertada. A falta de caldo contribuiu ainda mais para a alta concentração de picância, transformando o prato em algo muito mais sinistro do que quando começou. Alisa tentou puxar os noodles em um frenesi, mas já era tarde demais. Os noodles estavam cobertos de flocos de pimenta vermelha e manchas pretas a ponto de nenhum sopro ou sacudida conseguir remover o suficiente.
...! Eu realmente vou comer isso?
Alisa sentiu como se estivesse bem diante da cratera de um vulcão em erupção, mas não podia continuar encarando sua comida o dia todo. A linha de chegada estava bem na sua frente, e Ayano já a aguardava no cume.
Eu não vou perder. Eu vou terminar cada última mordida. Eu vou terminar... cada última mordida...
Ela olhou furiosamente para os noodles com uma expressão quase fantasmagórica enquanto tentava reunir coragem para a batalha. Desistir agora significaria que ela passou pelo inferno por nada. E para quê? Por que ela estava fazendo isso em primeiro lugar? Por algum tipo de rivalidade com Ayano? Porque ela era teimosa? Não...
Eu quero poder aproveitar para comer fora com Masachika!
Nas profundezas do submundo, Alisa admitiu seus verdadeiros sentimentos, e com essa determinação no coração, ela levou o ramen aos lábios, e—
***
— Mmmm! …?
Quando abriu os olhos, estava sentada em um banco de parque vagamente familiar. Ela piscou repetidamente, olhando ao redor, e notou que Ayano estava sentada bem ao seu lado, parecendo preocupada.
— Você está bem?
— Hã? Uh... Eu...
Ela começou a procurar em suas memórias para descobrir o mistério de como havia chegado lá, mas sua cabeça estava tão enevoada que não conseguia se lembrar de nada. Enquanto franzia a testa e inclinava a cabeça curiosamente, Ayano timidamente explicou:
— Hum... No momento em que você terminou seu ramen... foi como se sua alma tivesse deixado seu corpo...
— O que? A-Ah...
Dominada pela vergonha, ela se inclinou para frente, cabeça pendendo sob a pressão do constrangimento indescritível no ar, e então olhou de volta para Ayano.
— Ei, uh... Obrigada. Você me trouxe até aqui, certo...? Ah! Eu não paguei! Eu ainda não paguei pelo meu--
— Oh, eu... eu paguei por você...
— Sinto muito! Deixe-me te reembolsar! Quanto foi?
Elas continuaram conversando enquanto Alisa pegava seu dinheiro... Ayano hesitante perguntou:
— Ei, uh... Você não gosta muito de comida picante, gosta?
— Er...
Apesar de querer negar imediatamente, Alisa não tinha como fingir ser forte depois de essencialmente perder a consciência. Seus olhos vagaram por um tempo até que finalmente decidiu admitir.
— Eu... não sou muito fã de comida picante…
— Oh...
Alisa abaixou a cabeça e esperou ser questionada sobre por que ela iria a um restaurante desses, mas o que ouviu em seguida foi algo que nunca esperaria ouvir em um milhão de anos.
— Na verdade, eu também não gosto de comida picante.
— Hã...?
— Eu tenho tentado construir uma tolerância para poder comer comida picante com a Yuki-sama e... talvez aproveitar mais quando saímos para comer... mas ainda não consegui me acostumar.
Ayano revelou que compartilhavam o mesmo motivo e opinião, o que fez Alisa instantaneamente sentir uma conexão entre elas. Ela sentiu como se estivesse caminhando pelas profundezas do submundo, onde apenas demônios brincavam alegremente, e finalmente encontrou outro ser humano vivo e respirando.
— E-Eu estava na verdade fazendo isso pelo mesmo motivo. Eu queria construir uma tolerância à comida picante para poder aproveitar as mesmas comidas que a Yuki...
— Sério?
Os olhos de Ayano brilharam de alegria. Eram os olhos de uma guerreira solitária no campo de batalha que finalmente encontrou uma aliada. Depois de tudo isso, parecia que a honestidade realmente era a melhor política quando se tratava de construir um relacionamento.
— Então, se você quiser... talvez possamos começar a treinar e comer comida picante juntas a partir de agora?
— Hã...?
Alisa congelou no instante em que ouviu a sugestão, já que realmente não estava em condições de pensar no que faria em seguida.
— Tipo... eu sinto que seria muito menos intimidante se fizéssemos isso juntas, e poderíamos realmente ajudar uma à outra também...
Mas não havia como ela dizer não depois de ver Ayano baixar os olhos timidamente e falar tão hesitante.
Parece que posso ter feito uma nova amiga…
(Shisuii: Eu diria que foi uma amiga de guerra isso sim.)
Ela pode ter tido um pequeno motivo oculto também.
— Sim, claro. Vamos treinar juntas. Estou realmente ansiosa por isso, Ayano.
— Mmm...! Eu também!
Alisa concordou com a proposta sem realmente pensar muito. Era o começo de uma longa e agonizante jornada para a qual nenhuma das garotas estava remotamente preparada... mas essa é uma outra história.
Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!