Volume 10
Capítulo 8: A Virgem Maria, a Criada e a Slit
A complacência é o seu maior inimigo. Toda rosa tem espinhos. Mantenha a pólvora seca.
Existem inúmeros ditados que pregam a importância de estar alerta justamente quando as coisas estão indo bem. Isso apenas mostra como as pessoas frequentemente são pegas de surpresa no auge do sucesso. Ao mesmo tempo, é prova de que, por mais avisos que recebam, os humanos continuam sendo criaturas inclinadas à complacência. Além disso, essa tal complacência quase nunca é percebida até o momento em que, enfim, acerta em cheio.
Droga…!
E, quando a gente percebe, já é tarde demais.
Por que ele não tinha sido mais cauteloso? Devia ter sabido muito bem que aquilo era imprudente, mas se convenceu de que poderia dar conta da situação se a mantivesse sob controle. Um erro fatal. Agora, só lhe restavam arrependimentos girando em retrospectiva — um pensamento inútil — enquanto Masachika, ultimamente, vinha se sentindo invencível.
Normalmente, Masachika era do tipo que hesitava e pensava demais em tudo. Mas, desde que Alisa segurara sua mão e o puxara adiante, ele vinha avançando sem freios.
E, de alguma forma, tudo tinha dado certo até aqui — absurdamente certo. A melhor fase de sua vida. Finalmente conseguira ter uma conversa de coração aberto com a irmã, amenizara a tensão persistente com a mãe e até obtivera um resultado sólido nas negociações com o avô — melhor do que esperava. Além disso, havia recuperado a capacidade de tocar piano de forma livre e tranquila, recebendo muitos elogios da banda de sopros. Como resultado, estava firme no caminho de cumprir também a promessa feita a Elena.
Uooooooh! Não faço ideia de como isso tá rolando, mas vou surfar nessa onda até o fim…
Pensara ele, tomado por um estado de espírito incomum: positivo e confiante. Mas era exatamente esse tipo de brecha que o diabo esperava.
Nunca mais… vou baixar a guarda diante dessa maldita coisa…
Com os olhos turvos, Masachika lançou um olhar odioso ao culpado, antes de cair de joelhos. E o dito culpado não tardou a atacar novamente: uma bola de basquete, que ricocheteara num defensor adversário, atingiu em cheio o maxilar de Masachika antes de cair e quicar de leve no piso do ginásio.
As bolas eram — e sempre seriam — o maior inimigo de Masachika.
⋆⋅☆⋅⋆
— Tá com dor de cabeça?
— Não estou.
— Náusea?
— Também não.
— Hm~, talvez seja só uma leve concussão. Mas, por via das dúvidas, tire o resto do dia de folga e descanse na cama. Fique atento a como se sente. Se nada aparecer, pode ir pra casa.
— Entendido…
— Me avise na hora se começar a se sentir pior, certo?
— Certo — respondeu Masachika, seguindo as instruções da professora de saúde (que também era a enfermeira da escola), antes de puxar a cortina ao redor da cama da enfermaria e se deitar ainda com a roupa de educação física.
Na verdade, a tontura intensa — a ponto de não conseguir ficar em pé — que sentira ao cair já tinha passado havia algum tempo, e Masachika sentia que poderia voltar para as aulas sem problemas. Mas, mesmo assim, preferiu obedecer às instruções da enfermeira, simplesmente porque estava envergonhado demais para encarar os colegas…
Cara, isso foi patético demais… Que vergonha.
Murmurou para si mesmo, se remexendo na cama ao lembrar da cena anterior.
Desmaiar durante a aula de educação física e precisar ser carregado até a enfermaria não era nada menos que um incidente. Ainda assim, no fim das contas, aquilo só tinha acontecido por causa de sua própria trapalhada — mesmo que a bola tivesse desviado de outro jogador antes. Sua única sorte era que as aulas de educação física eram separadas entre meninos e meninas, então pelo menos podia se consolar com o fato de que nenhuma garota tinha visto o vexame.
Eu teria morrido de vergonha na hora se a Alya tivesse visto isso… Haaaah, pois é, não é bom mesmo um mero mortal como eu se empolgar demais, né…? Não que eu ache que tava me achando tanto assim, mas enfim.
Ainda assim, olhando em retrospecto, parecia mesmo que ele estava sendo carregado por uma estranha sensação de invencibilidade. Caso contrário, por que diabos ele teria tentado driblar uma bola de basquete — um ato totalmente imprudente que, em geral, só lhe rendia dedos machucados?
Acho que é tipo um bêbado que não percebe que tá virado até ficar sóbrio de novo… Bom, não que eu já tenha bebido, então vai saber.
Divagou Masachika, sua mente vagando enquanto seu humor despencava rápido, talvez como consequência de ter perdido aquela sensação inconsciente de ser intocável.
Ahhh, merda. Começando a me odiar do nada. Mas também… sou eu, afinal de contas.
Aquela velha linha de pensamento estava voltando a rondá-lo, e Masachika se forçava desesperadamente a desviar o foco. Mas, como a aula tinha sido de educação física, ele nem estava com o celular para se distrair.
Fazer o quê… Vou é dormir.
Chegando a essa decisão, Masachika fechou os olhos e se concentrou em respirar lenta e profundamente. Talvez por estar cansado de tanto exercício, seus pensamentos começaram a se embaralhar gradualmente e, em poucos minutos, ele acabou adormecendo…
⋆⋅☆⋅⋆
*Farfalhar, farfalhar, se remexer.*
Algum tempo depois, um barulho vindo de além da cortina despertou sua consciência.
— Mm… — Masachika soltou um gemido baixo enquanto se espreguiçava na cama, com um rosto familiar espiando pelo vão da cortina alguns instantes depois.
— Oh? Acordei você?
— Slit?
— Gah, me chamando assim logo de manhã… Ah, tudo bem, deixa pra lá — respondeu o membro do clube de artesanato, que de algum modo sempre se envolvia com ele, com um sorriso irônico, antes mesmo que Masachika conseguisse formular uma pergunta. — A sensei está em reunião, então estou de plantão como membro do comitê de saúde por enquanto. Só fazendo uma limpeza enquanto vigio.
— Ahhh, entendi…
— Aliás, Kujou-san e mais dois caras deixaram suas coisas há pouco. Eles saíram literalmente segundos antes de eu entrar. Ah, e pelo visto o conselho estudantil também não está hoje.
— Ah, é? — Masachika acompanhou o olhar de Slit-paisen e, de fato, viu sua mochila e o uniforme ao lado da cama.
Então, Takeshi e Hikaru, hein…? Espera, isso significa que a Alya provavelmente também sabe. Bem, obviamente… melhor isso do que ela ficar por perto para cuidar de mim ou algo assim.
Ser cuidado por causa de algo tão ridículo seria humilhante demais para um cara. Ele podia até imaginar o que provavelmente aconteceu. Alisa — a garota que já havia visitado sua casa quando ele pegou um resfriado — provavelmente sugeriu, sem hesitar, que ficaria para lhe fazer companhia… só que Takeshi e Hikaru — entendendo o orgulho de Masachika, como outros garotos — levarem ela de volta com eles. Ou talvez Alisa simplesmente não conseguiu se declarar e insistir em ficar ao lado dele na frente dos dois. De qualquer forma, Masachika estava agradecido.
— Como você está se sentindo? — Slit-paisen perguntou, tirando-o de seus pensamentos. — Sensei disse que você pode ir para casa se estiver bem quando eles voltarem.
— Hmm… Não, na verdade estou totalmente bem já faz um tempo…
— Ahaha, mas você ainda parece sonolento… Pode descansar. Vou manter tudo quieto enquanto limpo.
— Vou aceitar isso… — Masachika respondeu com um murmúrio sonolento, antes de se virar e voltar a mergulhar no sono.
⋆⋅☆⋅⋆
Por outro lado, naquele dia, Maria estava inquieta desde o momento em que acordou.
Havia uma irritação profunda cravada em seu peito. Era uma sensação de agitação, mas quando ela tentava definir, percebia que não era exatamente desagradável. Essa sensação incômoda vinha se acumulando nos últimos dias e agora alcançara seu limite, tornando-se quase insuportável.
E era uma sensação que Maria sabia exatamente o que era.
Estou ansiosa!!!
Ainda assim, não era algo que ela pudesse dizer em voz alta, e tudo o que fez foi soltar um suspiro agudo pelo nariz.
Só ouvir essa declaração poderia fazer alguém pensar que o pensamento não combinava com Maria. No entanto, se você simplesmente perguntasse a ela pelo que estava ansiosa — pelo que ela estava desesperadamente desejando — a impressão provavelmente mudaria.
Colocando de forma simples…
Hnnnnggghhhh~! Quero mimar alguém, fazer carinho e abraçar bem forte~!
Esse tipo de coisa…
O desejo de Maria, na essência, era simplesmente o desejo de mimar. Seus instintos maternais naturalmente fortes, que sempre ardiam mais que os de outros, não tinham para onde ir ultimamente e vinham se acumulando como estresse.
Claro, mesmo que ela tenha dito vagamente que queria mimar "alguém", isso não significava que qualquer um serviria. Maria não gostava de perdedores, francamente falando. Ela não se atraía por quem só queria ser mimado sem se esforçar. Na verdade, essas pessoas a repeliam, e esse era justamente o problema. Ou melhor, o que ela queria eram pessoas que não quisessem ser mimadas.
Ela preferia aqueles que não dependiam dos outros, que se esforçavam sem mostrar fraquezas. Esses eram os tipos de pessoas que ela adorava mimar, especialmente aqueles que normalmente não admitiam desejar afeto. E quando finalmente se permitiam depender dela — no exato momento em que se abririam para buscar seu conforto — seu coração finalmente disparava.
— Fwaaaah~, estou sendo desejada agora!? Então tá, vou te mimar o quanto você quiser!!! — exclamava, com a felicidade explodindo completamente.
Era algo claramente resultante de sempre receber um tratamento frio de Alisa enquanto cresciam, mas bem, era isso.
Para completar, Maria também adorava demonstrações físicas de afeto. Com "A" maiúsculo. Só estar perto de alguém que ela amava já a fazia se sentir quente, à vontade, e preenchia seu coração de felicidade. Ela era naturalmente carinhosa com a família, mas agora, com a idade que tinha, simplesmente se agarrar aos pais já se tornava extremamente constrangedor, mesmo para ela. E quanto à sua irmã mais nova, Alisa? Bem, ela continuava teimosamente fria, como sempre…
Era basicamente assim que as coisas eram.
Ahhh, ninguém podia me deixar mimar alguém de uma vez por todas~…
Carregando consigo esse desejo um tanto difícil de entender, que havia se cravado em seu coração, Maria continuou seu dia. Mas então…, durante o intervalo curto entre o quinto e o sexto período, uma notícia inesperada chegou voando.
— Eh!? — ela inconscientemente levantou a voz ao ler a mensagem enviada no grupo do conselho estudantil, respondendo rapidamente com um "Desculpa, não é nada," enquanto os colegas a olhavam, antes de voltar os olhos para o celular e reler a mensagem.
Kuze-kun está machucado e descansando na enfermaria…?
O ponto principal da mensagem, enviada por Alisa, era perguntar se ainda deveriam realizar a reunião do conselho estudantil naquele dia. Eles já estavam com poucos membros naquele dia específico. Yuki tinha um compromisso inadiável, enquanto Chisaki tinha uma reunião do comitê disciplinar. E agora, com Masachika também fora, Alisa perguntava o que deveriam fazer.
Touya também devia ter visto a mensagem, pois respondeu logo em seguida, informando que, como não havia assuntos urgentes, poderiam cancelar a reunião, contanto que ninguém se opusesse.
Maria respondeu com um adesivo de gato dizendo "OK" e sentiu seu coração disparar…
Kuze-kun… o Saa-kun em um estado tão vulnerável…?
Que providência divina. Certamente era a vontade de algum poder superior, dizendo a Maria para ir e cuidar de Masachika.
Espere por mim, Saa-kun! Vou te dar muitos cafunés!
Com seus instintos maternais agora em plena ebulição, ela passou o resto das aulas se remexendo…, correndo direto para a enfermaria assim que a chamada acabou.
— Com licença! — chamou, carregada pela antecipação, ao abrir a porta da enfermaria.
— Maria-senpai… — Ayano se virou e fez uma reverência polida, com os grandes olhos piscando em confusão. — Obrigada pelo seu esforço hoje.
— Ayano-chan… Você veio visitar Kuze-kun, por acaso?
— Sim. Pensei em aproveitar para acompanhá-lo até em casa.
Não era algo estranho vindo de Ayano. Ela já havia sido sua empregada, afinal — algo que Maria também descobrira depois que Masachika e Yuki declararam serem irmãos.
Mas ainda assim…
— Ayano-chan… Sinto muito, mas você se importaria de me deixar cuidar disso hoje~? — Maria pediu, com Ayano apenas devolvendo um olhar vazio de confusão. — Quero conversar com Kuze-kun sozinha, só nós dois. Por favor!
Pedindo com tanta insistência, Maria juntou as mãos em frente ao rosto.
Mesmo assim, para Ayano, aquela era uma rara e preciosa oportunidade de servir seu amado mestre. Não era algo que ela pudesse simplesmente aceitar, mesmo sendo um pedido da senpai.
— Sinto muito, mas Masachika-sama está atualmente em repouso absoluto. Posso pedir que espere até amanhã, caso seja um assunto importante?
— S-Siiiim. Sobre isso, na verdade eu não estava planejando falar de nada tão sério… É só que, bem, Kuze-kun sempre cuida de mim, então eu queria cuidar dele como forma de agradecimento… — Maria confessou, deixando transparecer um pouco de seus verdadeiros sentimentos diante da resposta lógica e contida de Ayano.
E ainda assim, isso apenas tornou Ayano mais firme em sua posição.
— Essa é minha responsabilidade — declarou educadamente. — Não posso incomodá-la com isso, senpai.
— Eh? Maasss… você também cuida de mim o tempo todo, Ayano-chan, então talvez poderia me deixar cuidar só desta vez…?
— Nós sempre nos ajudamos mutuamente, então não há necessidade de se preocupar com uma obrigação assim, senpai.
Embora ambas falassem com tons polidos, estava claro que nenhuma das duas estava disposta a ceder. Maria franziu a testa com um bico, enquanto Ayano mantinha seu imperturbável semblante, e seus olhares se chocaram no ar, com faíscas quase voando…
Clap, então veio o som de mãos batendo nas coxas, ecoando pela sala, fazendo ambas se virarem para a origem.
Lá, uma integrante do comitê de saúde, que até então havia limpado silenciosamente de costas para elas, estava agachada com as pernas afastadas, olhando diretamente para elas.
— Como quiserem! — disse com um tom arcaico. — Tenho um pedido de desculpas a fazer a Kuze-shi, então cuidarei disso daqui!
— E-Eh? — Maria chamou, confusa. — Ah…, certo, ela é do clube de artesanato…
— Quem vai cuidar de Kuze-shi, hm? Que tal resolver isso com um pequeno duelo de charme, hein? — propôs Slit-paisen.
— Um duelo de charme…? — Maria e Ayano murmurararm, inclinando a cabeça em sincronia, enquanto Slit-paisen sorria audaciosamente.
⋆⋅☆⋅⋆
— Nngh… — Masachika gemeu ao acordar, piscando lentamente enquanto encarava o teto.
Que horas são…? Uhhh, acordei mais cedo, mas já era depois da escola então…?
Pensou, tentando juntar as peças através do nevoeiro do sono. Sentindo alguém por perto, ele olhou para o pé da cama e congelou imediatamente ao ver quem estava ali.

……
Masachika mal conseguiu responder, pois as pessoas diante dele eram — para ser direto — uma médica com um suéter irresistível e um anjo de minissaia.
Ah, entendi… deve ser um sonho, né? — Concluiu, deixando a cabeça cair de volta no travesseiro.
Mas, naquele momento, as duas garotas que estavam no pé da cama se moveram rapidamente para os lados dele.
— Ahh, não volte a dormir~! Pelo menos escolha uma de nós primeiro se for fazer isso~ — Maria implorou, com o jaleco sobre o suéter provocante, o decote à mostra.
— Com quem você gostaria de ser cuidado, Masachika-sama? — Ayano, vestida de enfermeira com um recorte em forma de coração sobre o peito e pequenas asas brancas nas costas, perguntou, inclinando-se pelo lado direito com seu habitual rosto impassível.
Que situação era aquela? Um dilema absurdamente impossível de processar pelo cérebro recém-desperto de Masachika, que só podia ficar ali, congelado por alguns segundos…
— É, na verdade… eu só quero que a sensei me examine normalmente — respondeu com brutal honestidade.
Foi só quando viu os olhos de Maria brilharem e os de Ayano se arregalarem de choque que ele percebeu o quanto sua frase havia sido mal interpretada.
— Sério!? Iupi~! Okaaay, então, vamos te levar de volta ao mundo dos sonhos, okaaay~?
— N-Não, espera, eu quis dizer a professora de saúde que trabalha aqui! — Masachika tentou esclarecer apressadamente, mas Maria já se inclinava sobre a cama, e nenhuma palavra entrou em seus ouvidos.
Ela estava simplesmente tomada por seus instintos maternais.
Masachika tentou sentar-se de reflexo, mas antes que pudesse, Maria havia rapidamente pego o travesseiro debaixo de sua cabeça e colocado no próprio colo. Em seguida, pressionou seu ombro e o forçou sobre o travesseiro em um único movimento. Tão rápido que tudo o que ele pôde fazer foi piscar surpreso.
Nesse momento, a cama rangeu do lado oposto, e um braço se estendeu pelo lado direito. Segurando sua cabeça e ombro, puxou-o com força.
— Não, Maria-senpai! Masachika-sama deixou claro que queria a sensei, a professora de saúde, não você! — disse Ayano, puxando a cabeça de Masachika para o próprio colo.
Tudo o que isso fez foi provocar Maria, que instantaneamente esticou o braço e puxou a cabeça de volta para si.
— Nãooo~! Ele disse sensei agora há pouco! — insistiu como uma criança, ainda sem entender que Masachika se referia à professora de saúde.
— Exatamente! Isso é o que eu estava tentando esclarecer! — Ayano elevou a voz, mostrando emoção de forma rara.
As duas continuaram agarrando os ombros e a cabeça de Masachika, inclinando-se próximas enquanto disputavam a posse.
E o resultado de tudo isso? Um verdadeiro "sanduíche de peitos", intencional ou não.
Squeeze-squeeze, uma sensação firme pressionava o lado direito. Mush-mush, uma maciez aconchegante vinha da esquerda. Ele estava completamente envolvido em duas sensações únicas e suaves, enquanto elas competiam pela dominância.
Mm-hmm, acertou. Como esperado, os instintos masculinos de Masachika naturalmente se inclinaram para a "médica" à esquerda.
Espera! El-elas não estão usando nada por baixo!?
Ele percebeu de repente, sentindo a absurdamente suave pressão de seus peitos contra as bochechas e ouvidos.
Lembrou-se do que o incomodava desde antes: os recortes em forma de coração em suas roupas eram posicionados de modo que a roupa íntima ficaria visível, caso houvesse alguma. Agora percebeu que suas suspeitas estavam corretas.
Espera, alguma coisa tem estado em contato com minha pele desde antes… Hm? O que é isso, algum furo? Um corte?
Nesse momento, Masachika finalmente se lembrou de que havia alguém a mais no quarto antes. Alguém que poderia ter causado tudo aquilo.
— Slit!! — gritou.
— Sim sim, desculpa por te fazer esperar~! — respondeu uma voz.
Empurrando a cortina no pé da cama, surgiu ninguém menos que Slit-paisen, vestida de ring girl.
Parecia que acabara de se trocar e aparecera ainda conferindo a roupa, até parar boquiaberta ao ver a cena na cama.
— Weeeew… Isso virou uma situação bem além do que eu imaginava — disse. — Entrou numa situação interessante, e ao mesmo tempo invejável, hein? Ei, deixa eu entrar nessa.
— Que roupa é essa? — Masachika comentou.
— Ah, eu ia me vestir de árbitro, mas… não tínhamos nenhum normal, como esperado. Então pensei em ser uma pervertida mesmo — respondeu Slit-paisen.
— Por que o árbitro no começo?
— Hum, pra arbitrar essa batalha entre mulheres — respondeu de forma direta.
— O que isso significa? — Masachika continuou, completamente perdido.
Ignorando-o, Slit-paisen limpou a garganta e chamou Maria e Ayano.
— Agora, agora, parem por um momento. Mulheres de verdade não brigam com os braços. Certo, perfeito — anunciou, satisfeita por ter ajustado o clima. — A primeira rodada será decidida… pelos colos!
— Que energia é essa? — Masachika comentou, sem se conter diante da empolgação bizarra de Slit-paisen.
— Certo, primeiro, Kunojou!
— Por que esse shikona? — Masachika respondeu, sem entender nada.
Mesmo assim, as duas garotas obedeceram à "árbitra", e novamente sua cabeça foi colocada no colo de Maria.
……
— Agora, Kiminoshima!
Então veio o colo de Ayano.
Parecia que ele tinha que julgar e escolher uma vencedora entre as duas. Masachika refletiu sobre como os dois colos se sentiam, comparando a sensação na parte de trás da cabeça…
Honestamente, a única diferença real era largura e altura, mas… acho que o de Masha-san era um pouco mais macio. Mas, em termos de posição da cabeça…
— Então, Kuze-danna! Qual é o seu veredicto!?
— Ayano.
— Vitória para Kiminoshima!
— Eeeehhh~!? Kuze-kun??? Pooor quêêê!?! — Maria protestou.
— N-Não…
Não era exatamente sobre como aquilo se sentia, se você perguntasse a ele. Mais do que tudo, era porque a visão bem à sua frente, desde que deitara no colo de Maria, era simplesmente perigosa demais. Suéteres em mulheres bem-dotadas deveriam ser proibidos — permitiam ver suas proporções de forma clara demais.
— Agora, vamos continuar: concurso de "deitar com ela"!
— Huh, tem uma segunda rodada?
— Kunojo! — anunciou Slit-paisen, enquanto Maria deitava imediatamente ao lado esquerdo de Masachika, olhando para ele com um sorriso gentil e amoroso.
……
— Kiminoshima! — Slit-paisen chamou novamente, e Ayano deitou silenciosamente ao lado direito dele, apenas o encarando, com a expressão impassível de sempre.
……
— Seu veredicto!
— Ayano — respondeu Masachika novamente, sem hesitar.
— P-P-Por quê!~ — Maria gritou em protesto mais uma vez.
— N-Não, bem…
Por quê, você pergunta? Pelo campo de visão dele; você já pode imaginar o resto.
Ter alguém deitado ao seu lado com esse tipo de roupa naturalmente atrai os olhos para baixo. Era inevitável.
Sério mesmo, pedir para eu me manter calmo na frente de uma "doutora" com um suéter provocante é simplesmente impossível — Masachika refletiu, olhando para o horizonte enquanto o rosto de Maria se franzia.
— O que há em mim que você não gosta…, Kuze-kun? — perguntou ela, com a voz prestes a se quebrar em lágrimas.

— Hueh!? N-Não… — Masachika se debatía, pego de surpresa pela reação inesperadamente séria dela, antes de olhar para Ayano e Slit-paisen. Em seguida, inclinou-se perto do ouvido de Maria, levantando a mão ao lado da boca e sussurrando em tom baixo.
— Ты просто слишком сексуальна; я не могу сосредоточиться.
(Você está simplesmente sexy demais; não consigo me concentrar.)
No instante seguinte, ele foi puxado para um abraço esmagador, com os braços de Maria envolvendo seu pescoço em menos de um segundo.
— Ahh, graças a Deus! Geeez~, se é assim, você devia ter falado logo! — cantou ela.
— Mas não faça isso com essa roupaa~!?!? — Masachika soltou um grito desesperado, que para todos os outros soava mais como um gemido abafado, já que o tecido pressionava seu corpo.
Espera, meu nariz tá dentro do recorte! Gaaaah! O rosto dela realmente afunda diferente quando não está usando sutiã!
Enquanto Masachika continuava soltando gritos desesperados só internamente, alguém de repente agarrou seu ombro por trás.
— Maria-senpai! Eu ganhei essa rodada! — Ayano declarou alto, puxando-o para trás. — Masachika-sama precisa descansar completamente!
Puxar, arrastar, arrancar… Sim, Maria não largava de jeito nenhum…
Ayano continuou desesperadamente tentando libertar Masachika de Maria, uma ação tão contraditória diante de sua própria declaração tardia, mas óbvia. Na luta, ela acabou com o corpo pressionado contra as costas dele, e Masachika agora estava novamente preso entre seios — frente e costas desta vez.
Hmmm? Então esse é o travesseiro de peitos que Yuki tanto gosta, hein? Que erótico…
Esse pensamento passou por sua mente enquanto se desligava mentalmente da realidade, mas a verdade era que Masachika estava realmente em apuros.
Seu nariz, boca e bochechas estavam completamente sufocados por maciez. Ele literalmente não conseguia respirar.
— Não, sério, só troca de lugar comigo já — Slit-paisen brincou sarcasticamente.
Ela então pegou o celular e começou a tirar fotos rapidamente, sem nem hesitar, sem demonstrar qualquer intenção de ajudar a parar o caos, independente de entender ou não o problema de Masachika. Enquanto mirava a lente nele, o braço direito de Masachika — estendido como se pedisse ajuda — acabou caindo molengamente sobre a cama com um ploft.
⋆⋅☆⋅⋆
— Okaaay, vocês duas~? Já está na hora de deixar Kuze-shi ir… Ele pode até morrer se continuarem assim… — Slit-paisen finalmente chamou, agora com uma leve exasperação, ao ver Masachika mole e completamente silencioso.
Ele estava deitado entre Maria, que o segurava tão apertado que corações praticamente voavam de sua cabeça, e Ayano, que continuava agarrada a ele do outro lado, com uma expressão impassível, mas desesperada. Foi então que uma voz se aproximando do corredor chegou aos ouvidos de Slit-paisen.
Ah, merda.
Abrindo a cortina às pressas, ela olhou para o relógio. Faltavam apenas três minutos para o horário que a professora de saúde havia dito que voltaria.
Merda, vou ser repreendida se me pegarem nisso!
Pensou, olhando para sua roupa, sentindo um perigo agudo subir pela espinha.
Mas, infelizmente, já era tarde demais.
— Eep! — Slit-paisen se sobressaltou ao avistar o perfil da professora de saúde pela janela da porta, abrindo os olhos em alarme.
Felizmente, a professora parecia envolvida em uma conversa profunda com uma estudante, sem sinais de entrar no quarto ainda.
O-O-O que eu faço!? Uhhh, uhhh…!
A troca de roupas estava na cama ao lado. Ela poderia tentar correr loucamente, mergulhar na troca e puxar a cortina, mas o risco era alto demais.
Além disso, eu estaria totalmente ferrada se me chamassem enquanto me trocava! Arghhh…
Ela coçou a cabeça em puro desespero, então olhou para Maria ainda na cama, e uma ideia surgiu.
— E-E-Ei! Kujou-senpai! Me empresta esse jaleco rapidinho! — chamou.
— Eh, eeeeh? — Maria respondeu confusa.
Sem esperar por uma resposta adequada, Slit-paisen puxou o jaleco de Maria e o colocou sobre sua roupa de ring girl — que deixava o abdômen à mostra — abotoando-o até o último botão.
Hm, talvez dê certo? Sim, acho que consigo!
Aceitando forçadamente seu plano improvisado, espiou novamente pelo vão da cortina para conferir a situação lá fora, e então correu para a cama ao lado.
Mergulhando direto na cortina semiaberta, pegou os três conjuntos de roupas e pertences, colocando-os sob a cortina da próxima cama.
— Desculpa! Vou segurar a sensei, então corram para se trocar! — chamou para as outras através da cortina, justo quando a professora de saúde terminou a conversa e entrou na enfermaria, acenando despedida à estudante com quem conversava.
Ao ver Slit-paisen com o jaleco, ela parou por um momento, franzindo a testa.
— Por que o jaleco? — perguntou a professora de saúde.
— Ah, não, é só que… como membro do comitê de saúde, achei que devia parecer à altura! — respondeu Slit-paisen, meio atrapalhada.
— Haaaah — suspirou a professora, ouvindo a explicação hesitante. — Entendi…
— De qualquer forma, sensei! Percebi algo um pouco preocupante enquanto limpava. Posso te mostrar?
— Eh? Bem… suponho que sim?
— Sim, por aqui, perto desta estante… — Slit-paisen avançou apenas com impulso, guiando a professora para uma estante distante da cama, ganhando tempo ao máximo, com a mente correndo a mil.
— Eep!? — ouviu-se então o grito agudo e estranho de Masachika vindo de trás da cortina, dando a Slit-paisen uma boa ideia do que acabara de acontecer.
Ah, geez… Normalmente, não seria a garota que faria esse barulho nessa situação?
— Kuze-kun? O que aconteceu? — chamou a professora.
— Não, desculpe, não é nada — respondeu Masachika, em um tom que soava como se ele estivesse se contendo desesperadamente.
Parece que… não é Kuze-shi que me deve pelo menos um almoço até agora?
Pensou Slit-paisen silenciosamente, convicta.
⋆⋅☆⋅⋆
Nunca vou te perdoar, Slit…
Masachika amaldiçoou mentalmente, lembrando-se da aluna que provocara uma situação semelhante ao "incidente da troca do uniforme de verão", só para ir embora com um tapinha no ombro, um joinha na saída e um "Não é uma vantagem ruim, hein, garoto?"
Ele queria gritar para ela se colocar em seu lugar na época, sendo quem ainda teria que ir para casa com as outras duas depois.
Mesmo assim, a mente de Masachika voltou ao presente.
— Não, sério, normalmente eu só me concentro em bloquear os arremessos do oponente, sabe? — contou ele sobre o deslize do dia de forma levemente exagerada e humorística. — Mas hoje, logo depois de pegar a bola que bloqueei, pensei: "Huh? A diagonal não tá meio aberta aqui? Eu consigo!" Por algum motivo. Então tentei driblar pela primeira vez e, bem, esse foi o resultado.
— Oh, querido~, parece complicado, não é~? — Maria sorriu e assentiu.
— Você é boa com esportes ou algo assim, Masha-san?
— Ah, hmm. Bem, vamos ver~… Não sou tão boa, mas… eu gosto de esportes, eu acho? — respondeu ela, corando um pouco e desviando rapidamente o olhar depois que Masachika se voltou para ela.
Era uma sequência de eventos que já acontecia há algum tempo, e seu comportamento incomumente tímido estava desordenando o ritmo de Masachika.
— Ohhhh? A propósito, o que você gosta na Educação Física? — perguntou ele, insistindo com outra pergunta.
— Hmm, vamos ver~… Corrida de longa distância?
— Corrida de longa distância!?
— Parece um grande jogo de pega-pega; não é divertido assim? — explicou Maria, ainda olhando para frente, sem nunca fazer contato visual.
Mas, foi justamente por notar como ela estava constrangida que Masachika não deixou a conversa morrer. Ele sabia que, se parasse, um silêncio doloroso se instalaria. Claramente.
Por que ela está tão envergonhada aqui…? Ela não estava assim durante aquele incidente do uniforme de verão… Não, acho que não posso comparar…
Se ela estava usando algo por cima ou não fazia diferença enorme, afinal. Mas ainda assim, isso não mudava o fato de que ela não parecia tão abalada desde que a viram de verdade… Não, ok, se ela não estivesse constrangida agora, seria estranho… Mas, cara, é difícil dizer no caso da Ayano, com seu rosto sempre impassível…
Masachika pensou, percebendo sua amiga de infância — um passo atrás dos dois, ouvindo silenciosamente — mantendo-se composta como sempre.
— Não há nada pelo qual Masachika-sama deva se desculpar — respondeu calmamente Ayano quando ele se desculpara antes, sem mostrar qualquer sinal de embaraço ou timidez.
Mas ainda… parecia estranhamente teimosa agora — ou melhor, estava mostrando suas emoções de forma estranha… Ela definitivamente perdeu a compostura ali ou algo assim.
Relembrando, Maria também havia se comportado de maneira um pouco fora de controle. Ela basicamente nem tentou esconder seus sentimentos por Masachika…
…Não, se eu for realista, provavelmente é tudo porque eu fui tão indeciso com ela.
Masachika pensou, sentindo uma onda de autoaversão.
"Quero que você enfrente os sentimentos da Alya-chan primeiro."
Essas eram as palavras em que Masachika vinha se apoiando demais, usando como desculpa para adiar qualquer resposta adequada aos sentimentos que Maria havia mostrado abertamente.
Ou seja, será que Maria ter surtado hoje foi por ele tê-la feito esperar tanto…?
Sim, é.
Masachika seguiu esse raciocínio, chegando a uma decisão.
Preciso parar de depender do perdão dela e fugir de encarar as coisas de frente.
Ele já tivera sua cota de arrependimentos com sua irmãzinha. Enfrentaria os sentimentos de Alisa, com certeza, mas não usaria isso como desculpa para adiar os sentimentos de Maria. Essa era a decisão que havia tomado naquele instante.
Certo. É hora. Coragem ativada, modo invencível ligado — ele se firmou, reunindo a sensação de onipotência que havia se esvaído após levar aquela bola de basquete.
— Obrigada por me acompanhar~. Vocês também se cuidem para voltar para casa, tá?~ — Maria se despediu, acenando enquanto entrava no prédio do seu apartamento.
Mas, assim que estava prestes a desaparecer… Masachika avançou, engolindo em seco.
— Hum, Masha-san! — chamou, correndo atrás dela até a entrada, fazendo-a se virar com expressão surpresa. — Hum, sobre aquela promessa de sair comigo desde o festival de esportes…
— A-Ahhhh~, isso? Está tudo certo agora — disse Maria, um pouco constrangida, olhando para cima e de lado com uma risadinha, parando completamente a iniciativa de Masachika.
— Huh…? — ele ficou ali, confuso.
— Eu estava pensando que um encontro não é algo que se deve forçar… Não quero te incomodar, Kuze-kun, então está tudo certo agora.
— Ah, é… assim…?
— Mm — Maria assentiu com um sorriso de desculpas.
Sua expressão, com as sobrancelhas levemente franzidas, transmitia maturidade intensa, como se estivesse acostumada a se conter dolorosamente.
Ah… Ela é igual a Yuki.
Pensou Masachika instantaneamente. E sabendo que era ele quem a fazia fazer essa cara, Masachika não aguentou mais.
— Entendido — ele assentiu uma vez, antes de falar claramente com a Maria cabisbaixa. — Então, deixe-me te perguntar de novo.
— Eh? — Maria olhou assustada, completamente pega de surpresa.
— Masha-san — Masachika continuou com tom resoluto, encontrando os olhos dela. — Por favor, aceite sair comigo no dia 25 de dezembro — o dia seguinte à cerimônia de encerramento.
O pedido fez os olhos de Maria se arregalarem em descrença, quase saltando para fora…
— Sim! Eu adoraria! — ela pulou sobre ele no instante seguinte, envolvendo-o em um abraço apertado.
Então, enquanto encostava a bochecha na de Masachika, Maria se afastou levemente e sussurrou em seu ouvido.
— Desculpe, tá? Fiquei um pouco estranha agora há pouco, né?
— Huh? Ah, não, quero dizer… acho que não era algo que você pudesse evitar, então…
— N-Não, não é isso. Hum, veja bem… — começou ela, rindo timidamente perto do ouvido dele, em um tom quente. — Você falou comigo em russo lá na enfermaria, não foi? Isso meio que me fez lembrar do passado e… fez meu coração disparar loucamente.
A respiração dela estava quente ao tocar a orelha de Masachika, e logo depois, um beijo ainda mais quente pressionou sua bochecha.
— !?
— Mwah… — soou o beijo suave enquanto os lábios de Maria se afastavam, ao mesmo tempo em que ela o soltava do abraço.
— Так что, увидимся, Саа-кун! Буду ждать с нетерпением!
(Então, até mais, Saa-kun! Vou esperar ansiosa!)
Com isso, ela saiu correndo, com um sorriso livre, brilhante e infantil. Masachika só pôde ficar ali, atônito, hipnotizado pela figura fugidia dela… Só alguns segundos depois ele voltou a si e se virou rapidamente.
Soltou um suspiro de alívio ao perceber que Ayano não estava visível, bloqueada pela porta automática da entrada.
Graças a Deus… Ia ser um inferno explicar se ela tivesse visto isso agora há pouco.
Se era por causa da ansiedade de não querer ser pego, ou pelas ações de Maria, o corpo de Masachika começou a queimar rapidamente; ele começou a suar bastante. Totalmente ciente disso, agarrou a gola do uniforme e começou a se abanar às pressas, antes de conferir o rosto pelo celular.
Ok…, sem marcas de beijo visíveis ou qualquer coisa… Ufa! Calma, calma.
Masachika repetia como um mantra, se recompunha. Depois de julgar que podia agir normalmente novamente, saiu da entrada e se aproximou de Ayano.
— Desculpe, te fiz esperar.
— De forma alguma. Por favor, não se preocupe — respondeu Ayano, no tom habitual, sem demonstrar a menor curiosidade, embora devesse ter se questionado sobre o porquê de seu mestre ter corrido atrás da senpai.
— Vamos para casa — sugeriu Masachika.
— Sim.
Enquanto caminhavam de volta, ele olhou para Ayano de lado.
Claro… Ela praticamente não mudou nada.
E ainda assim, apesar da atitude usual dela, Masachika não pôde deixar de sentir um desconforto estranho, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Era quase inteiramente uma intuição moldada pelos anos que passaram juntos, mas… parecia que ela estava escondendo algo por trás daquela expressão impassível, ou segurando alguma coisa… Essa era a sensação que ele tinha.
— Ayano — Masachika finalmente decidiu chamá-la.
— Sim.
— O que aconteceu? — perguntou, parando e encarando Ayano diretamente.
Era uma pergunta baseada apenas na suposição de que algo estava errado, mas feita com tanta convicção que fez Ayano olhar imediatamente para seu mestre.
— Há algo que você me disse uma vez, Masachika-sama — ela finalmente falou, com tom calmo e resoluto, após um breve silêncio. — Que você queria que eu fosse a maior aliada da Yuki-sama.
— Hm? Ah.
— São palavras que ainda guardo no coração e nas quais ajo conforme.
……
Era uma firme declaração de propósito, e ao mesmo tempo, uma forma de rejeição.
— Então… isso significa que você não pode falar sobre isso comigo, já que sou um candidato oposto, né?
Compreendendo a força de vontade que ela carregava em poucas palavras, Masachika sorriu, um pouco triste.
— Entendi… Certo.
— Agradeço muito pela sua compreensão.
— Não tem problema, se é assim. Está ligado aos seus valores como serva, afinal — Masachika a tranquilizou, dando um tapinha no ombro dela. — Ah, mas, só porque você é serva dela não significa que precise fazer tudo que ela manda, tá? Não precisa seguir todas as loucuras otaku da Yuki: não precisa atender todas as demandas malucas dela de A a Z, entendeu?
— A alegria do meu mestre é a minha alegria. Não há nada que eu considere desagradável.
— Sério? Tipo, fico preocupado que seu senso de normalidade esteja todo bagunçado por causa dela… Quero dizer, você até usou aquela roupa de cosplay hoje, que mostrava bastante seu decote, sem hesitar…
— Profundo, você diz?
— Sim, veja? Seu senso do que é normal está todo errado. Você ficou menos incomodada em mostrar mais pele, não foi?
— Nunca exponho minha pele a qualquer homem que não seja Masachika-sama, então não acredito que isso seja um problema.
— N-Não, esse não é o ponto… Ou é? Espera, não, não faça isso comigo também, tá? Pelo menos finja que está incomodada!
— Não há nada que eu precise esconder de Masachika-sama.
— Você deveria esconder algumas coisas de mim… Espera, acho que já tivemos essa conversa antes…
Os dois continuaram com suas idas e vindas habituais, que pareciam um pouco fora de ritmo, mas ainda amplamente familiares e descontraídas.
Mesmo assim, Masachika não conseguiu afastar a sensação sutil de desconforto no comportamento de Ayano, algo que ele sentia diferente do habitual.
⋆⋅☆⋅⋆
……
Após escoltar Masachika até em casa e retornar à mansão Suou no carro da família, Ayano sentou-se sozinha em seu quarto, olhando silenciosamente para o celular.
Sim, isso é… tudo pelo bem da Yuki-sama — repetiu mentalmente, tentando convencer seu coração.
Depois de várias rodadas de hesitação, Ayano finalmente fez a ligação.
— Alô, Ayanono~? — uma voz respondeu após alguns toques, suave e relaxada. — O que houve, ligando tão tarde da noite?
— Peço desculpas pelo horário, Nonoa-san. Hum… — Ayano começou, pausando para umedecer os lábios com a língua enquanto se fortalecia com determinação. — Sobre o outro dia, gostaria de ouvir os detalhes sobre como posso conquistar o futuro que desejo…
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