Volume 10

Capítulo 7: O Mal Ensina

Os lamentos de um piano ecoavam pela Sala de Música Número Um. A pessoa ao piano não era outra senão Masachika, e os membros do conjunto de sopros apenas observavam com expressões de admiração.

Ora poderoso e altivo, ora leve e delicado, o piano simplesmente cantava em resposta aos dedos de Masachika. Com a ressonância se dissipando enquanto ele erguia lentamente o pé do pedal de sustentação, o silêncio tomou conta da sala… apenas para ser quebrado, segundos depois, por uma explosão de aplausos.

Incrível! Foi simplesmente incrível!

Cara, isso foi emocionante de verdade!

Maravilhoso! Eu conseguiria ouvir por mais uma hora inteira!

Exclamações de admiração ecoaram enquanto os membros da banda corriam até Masachika todos de uma vez. Sentindo-se um pouco constrangido diante de tantos olhares calorosos, ele se levantou e fez uma reverência educada.

Mas isso só provocou uma nova onda de aplausos. E, quando os aplausos estavam finalmente diminuindo… clap, clap, ouviu-se uma batida de palmas fora de ritmo. Virando-se na direção do som, Masachika viu Elena caminhando lentamente por entre os outros membros do clube.

Ainda assim, ninguém abriu caminho para ela.

Ei, o quê! Heeein~, por que vocês estão sendo tão malvados comigo~?! — protestou a presidente do clube de maneira infantil, arrancando risadas dos colegas, que acabaram cedendo espaço.

Colocando de volta sua expressão presunçosa, ela começou a aplaudir de forma espalhafatosa e teatral, a cabeça balançando energicamente para cima e para baixo.

Braaavooo~!

Não, o que é isso de "mentora que observa das sombras"? — Masachika não resistiu à piada diante da pose pomposa dela.

É porque fui eu quem descobriu você.

Isso é verdade, mas—

Não tenho mais nada a ensinar.

Certo, muito obrigado a todos por hoje.

Ei, eu ainda não deixei você ir embora! — Elena agarrou o braço de Masachika para impedi-lo, enquanto ele tentava se retirar com outra reverência rápida. Sem alternativa, ela abandonou o tom teatral e aplaudiu novamente, dessa vez com sinceridade.

Ora, ora… você realmente se superou, não é? — elogiou de forma genuína. — Foi maravilhoso, Kuze-kun.

Superar a si mesmo…? Mas você nem ouviu tanto da minha execução para dizer isso, Elena-senpai.

Dá pra perceber quando um homem muda só de olhar!!!

Tá esperando que eu faça a piada de "retorno do homem sério"?

Hã?

Hã? — Masachika a encarou, genuinamente confuso diante da expressão vazia dela. Por um instante suspeitou que tivesse sido alguma piada de duplo sentido, mas logo pigarreou, desconfortável. — Deixa pra lá… esquece.

É mesmo? Bom, de qualquer forma, já que você mudou e ficou mais sensível, não, mais delicado—!

Então você sabe o que acabou de dizer! — Masachika retrucou em voz alta, arrancando uma gargalhada de Elena.

O que você quis dizer com isso, presidente? — perguntou, inocentemente, uma das jovens senhoritas bem-comportadas do clube.

Uweh!? — Elena soltou apenas um grito agudo, vacilando diante da pressão de uma pergunta tão direta logo depois de ser provocada.

Seus olhos correram pela sala, como se procurassem alguém para salvá-la. Mas tanto Masachika quanto alguns rapazes que haviam entendido a insinuação mantiveram expressões de completa indiferença, encurralando-a ainda mais.

Ugh, uuuuu… — Elena desviou o olhar da pureza inquisitiva da garota inocente, gaguejando ao tentar escapar. — É… Bem, é algo que você vai entender quando fizer dezoito anos. Isso, é…

É verdade — confirmou Souma.

Ufufu~ — riu Arai logo depois.

Pera aí, nenhum dos dois tem dezoito ainda… — Masachika não conseguiu evitar a observação, lançando um olhar de incredulidade para Souma e Arai, que haviam soltado suas respostas previsíveis de sempre.

Enfim! — Elena se recompôs de repente, falando com tom mais firme. — Você realmente pareceu diferente agora. Fiquei sinceramente emocionada, Kuze-kun.

Só pra esclarecer… diferente como, exatamente?

Como…? — Elena pensou por um momento. — De todas as formas?

Isso é vago demais…

É porque a qualidade do seu som mudou, dá pra perceber — explicou ela. — Foi… como eu diria… simplesmente livre.

Era para ser apenas um comentário casual, mas foi tão inesperadamente certeiro que Masachika não conseguiu evitar arregalar os olhos, surpreso.

Agora, era verdade que, depois de poder tocar junto com a mãe, Masachika conseguiu se libertar do ressentimento acumulado que carregava em relação ao piano. Mas ainda assim… seria algo que realmente se refletia tanto em sua forma de tocar?

Ele lançou um olhar em volta, mas os outros membros do conjunto de sopros apenas exibiam expressões vagas. Aquilo, de fato, parecia ser algo perceptível apenas para a sensibilidade de Elena.

Então é isso que significa ser presidente do conjunto de sopros, hein…?

Ou talvez ela fosse apenas estranhamente perspicaz quando se tratava das emoções das pessoas.

Enquanto Masachika revisava silenciosamente sua opinião sobre ela, Elena bateu as palmas com firmeza. Clap, clap.

Certooo~, então é isso! — disse ela com um sorriso radiante, atraindo a atenção de todos. — Agora que já tivemos uma boa noção das habilidades do Kuze-kun, vamos finalmente começar a tocar juntos!

Sim! — responderam em coro.

E assim, o treino conjunto de Masachika com o grupo de sopros começou oficialmente para valer.

⋆⋅☆⋅⋆

 

Bom, obrigado pelo esforço de hoje. Vou indo na frente — anunciou Masachika, fazendo uma pequena reverência.

O ensaio havia terminado. Como não tinha instrumentos para guardar, ele deixou a sala de música antes dos demais… mas parou de repente no corredor, fazendo uma careta.

Ali estava Yuusho, encostado na parede, com o queixo apoiado na mão, cruzando o olhar com ele.

Ei… O que você tá fazendo aqui de novo? — perguntou Masachika, num tom levemente irritado. — Tá me seguindo?

A ignorância vem de brinde, é…? — retrucou Yuusho, sarcástico. — Eu sou do tipo que é seguido, não o que segue.

É mesmo? — respondeu Masachika com desinteresse, sua vontade de interagir diminuindo ainda mais depois de ouvir aquele comentário nojento e narcisista dito com tamanha naturalidade.

Ele tentou passar rapidamente ao lado dele, mas…

Espere um pouco, pode ser? — Yuusho avançou suavemente uma perna longa, bloqueando o caminho de Masachika. — Vim aqui hoje porque tenho algo pra conversar com você.

Era uma atitude tão clichê que provavelmente nem apareceria num shoujo moderno.

O que foi agora…? — Masachika lançou-lhe um olhar gélido de lado, mas Yuusho continuou impassível, passando a mão pelos poucos fios que mal poderiam ser chamados de franja.

O clube de música leve pediu recentemente para o clube de piano desocupar a sala — explicou.

Hã? O clube de música leve? — Masachika virou-se para ele com desconfiança ao ouvir o nome do clube ao qual seus amigos pertenciam. — Por quê? Eles já não têm uma sala própria?

Foi exatamente o que eu disse pra eles, sabia? Mas tudo o que responderam foi que a sala atual é apertada demais, praticamente só um depósito de instrumentos. Além disso, reclamaram que não conseguem ensaiar direito lá, já que dividem o espaço com outros clubes.

Ah, entendi.

Embora tivesse entrado ali apenas uma ou duas vezes por conta de suas obrigações no conselho estudantil, Masachika se lembrava de que a sala do clube de piano era bem espaçosa. Também tinha isolamento acústico adequado. Se o clube de música leve pudesse usar aquele espaço como sala fixa, não precisariam mais pegar emprestada a sala de música que utilizavam atualmente. Poderiam ensaiar livremente sempre que quisessem.

Provavelmente era esse o raciocínio deles.

Mas, ainda assim… exigir que o clube de piano deixasse sua sala? Masachika refletiu um pouco, logo compreendendo o motivo de seus amigos pedirem algo do tipo.

Já vai fazer quase um mês desde que o clube de piano ficou abaixo do número mínimo de membros, não é? — ele constatou.

Bem, é o que está acontecendo, não é?

Para de fingir que isso não tem nada a ver com você. Foi você quem causou tudo isso.

Naquela escola, era obrigatório que cada clube tivesse pelo menos cinco membros para manter o status oficial. Cair abaixo desse número e não se recuperar dentro de um mês significava ser rebaixado a mero grupo de interesse. No caso do clube de piano, os membros começaram a sair um após o outro quando os esquemas de Yuusho, após o festival cultural, vieram à tona. A situação chegou ao ponto de ficarem abaixo do limite em meados de outubro e, agora, o prazo de carência de um mês estava prestes a expirar na semana seguinte.

Isso não é o importante aqui — descartou Yuusho.

Você não tem o direito de dizer isso.

Ah, cale a boca… O que me interessa é saber de quem foi a ideia em primeiro lugar.

Hã…?

Nesse exato momento, a porta de correr da Sala de Música Um se abriu e os membros do conjunto de sopros começaram a sair. Eles olharam curiosos para Masachika e Yuusho, que estavam parados no corredor, e se despediram do primeiro com acenos e palavras rápidas.

Masachika respondeu distraidamente enquanto os via seguir pelo corredor. Em seguida, voltou-se para Yuusho com um olhar afiado.

Então, em outras palavras… o que você está dizendo é que quem propôs tudo isso foi a Nonoa?

Como eu pensei; afiado como sempre, hein? Exatamente isso — assentiu Yuusho sem hesitar, fazendo Masachika franzir o cenho.

Era algo que ele já havia suspeitado, lembrando-se dos avisos que Yuusho sempre lhe dava sobre Nonoa. E, ao que parecia, havia acertado em cheio.

Tem provas?

Minha intuição.

Já chega com isso, seu idiota — Masachika deixou claro o quanto estava irritado diante do que soava como uma acusação sem fundamento contra Nonoa, alguém que ele reconhecia, no mínimo, como amiga. Soltou um suspiro para se acalmar, coçou a cabeça de forma brusca e lançou um olhar de lado para Yuusho. — E daí? Nem é estranho o clube de música leve querer a sala do clube de piano, em primeiro lugar. E mesmo que, por algum acaso, Nonoa tenha feito essa proposta só pra ferrar com vocês, isso não tem nada a ver comigo, tem?

Tem a ver com você, sim.

Hã? — Masachika rosnou, impaciente.

Acontece que a nossa vice-presidente pretende levar essa proposta do clube de música leve para uma assembleia estudantil. Isso não envolve você, nesse caso?

Organizar e conduzir assembleias estudantis era responsabilidade do conselho estudantil. Se chegasse a esse ponto, havia grandes chances de Masachika, como membro oficial do conselho, ser arrastado para o assunto. Mas ainda assim, dado que sua função seria basicamente a de mediador — ou seja, quase um espectador —, aquilo continuava parecendo problema de outra pessoa para ele.

E então…? O que exatamente você quer de mim? — perguntou secamente.

Nada em especial — respondeu Yuusho, impassível. — Só achei que devia avisar que a Miyamae, sua amiguinha, está tentando envolver o conselho estudantil nessa história. Só isso.

Não, pera aí. Não é a sua vice-presidente que vai levar isso para assembleia? Nonoa não tem nada a ver com isso, tem?

Quem sabe. Pra ser sincero… o simples fato de isso estar sendo levado a uma assembleia já me parece algo orquestrado desde o início.

Você tá delirando — Masachika cuspiu as palavras, lançando-lhe um olhar gelado.

As teorias de Yuusho agora soavam completamente sem base, beirando conspiração pura. Mas ele não deu a mínima e continuou.

Delirando? — zombou. — Não estou. Quero dizer, essa coisa toda da assembleia, pra começo de conversa, é—

Yuusho-san…? Faltando ao clube de piano de novo, em vez de ir pra sua sala? — uma voz fria ecoou pelo corredor, fazendo Yuusho se virar em pânico.

S-Sumire-neesan…

Ao olhar na mesma direção, Masachika viu Sumire se aproximando com um olhar cortante, provavelmente em sua ronda como parte do comitê disciplinar.

Boa tarde, Kuze-san.

Igualmente. Continue com o bom trabalho, Sumire-senpai — respondeu Masachika, evitando chamá-la de Violet-senpai, intimidado pela aura que ela exalava.

Ela fez um breve aceno de cabeça em resposta, antes de voltar o olhar afiado para Yuusho.

Yuusho-san? — chamou, em tom ameaçador. — O clube de piano está passando por um momento difícil, não está? E ainda assim, aqui está você, o presidente do clube, desperdiçando tempo de papo furado num lugar como este?

N-Não, não é como se eu estivesse matando o clube ou algo assim…

Se ficar de papo no corredor em vez de ir para a sala do clube não é matar o clube, então o que é? — retrucou Sumire, cortando sua desculpa num golpe só, enquanto beliscava com firmeza a orelha dele. — Você vem comigo. Já que está tão livre assim, vai ajudar nos trabalhos do comitê disciplinar.

Ai, dói! Dói, Sumire-nee-san!

Certo, Kuze-san. Estou levando Yuusho comigo. Tudo bem?

Vá em frente, vá em frente.

Ai! Vai arrancar minha orelha fora!

Não vou, não, só com isso.

Masachika acenou de forma displicente, observando Yuusho ser arrastado pela orelha — uma cena digna de um mangá clássico.

Por que é que ele parece até feliz com isso…? — murmurou para si mesmo.

Havia provavelmente apenas uma razão para aquilo, mas dizê-la em voz alta seria totalmente inútil. Com um encolher de ombros, Masachika deixou o pensamento de lado e voltou à reflexão anterior.

Nonoa instigando o clube de música leve a tomar a sala do clube de piano, só pra transformar isso numa assembleia estudantil…? Quer dizer, no máximo — se fosse coisa dela — faria algo para atormentar o clube de piano por birra.

Esse pensamento fez Masachika sentir uma pontada de culpa por suspeitar, ainda que por um instante, de uma amiga.

Aliás, já houve outra vez em que desconfiei da Nonoa por causa das acusações do Yuusho, e no fim era tudo besteira.

Naquele incidente, quando Alisa havia ido à enfermaria acompanhada por Nonoa, Masachika achou que havia algo errado — apenas para descobrir que ela só estava fazendo companhia à colega. Esse momento de constatação ainda estava fresco em sua memória e, por isso, ele simplesmente não conseguia levar a sério as palavras de Yuusho agora.

Espera… A Sayaka e a Nonoa já foram reconhecidas publicamente como estando no meu e no campo da Alya desde a última cerimônia de fim de período e o festival escolar, certo? Nossa reputação despencaria se a Nonoa realmente fizesse algo ruim e fosse desmascarada aqui… Não, pensando bem, nem consigo imaginar ela deixando provas que pudessem ser rastreadas até ela, em primeiro lugar…

A verdade era que nem Masachika nem Yuki haviam conseguido reunir qualquer prova concreta de nenhuma das supostas armações que atribuíram a Nonoa. Além disso, a própria ideia de ela estar tramando algo se baseava quase inteiramente nas conspirações de Yuusho, pelo menos nesse caso. De qualquer forma, mesmo que ela estivesse envolvida, uma disputa entre o clube de piano e o de música leve não tinha nada a ver com um forasteiro como Masachika, em primeiro lugar.

Aliás… será que o verdadeiro plano do Yuusho não era justamente me fazer desconfiar da Nonoa?

Agora que pensava nisso, essa possibilidade começava a soar até mais plausível. Mas, quando Masachika começou a refletir sobre o que Yuusho realmente ganharia com tudo aquilo, interrompeu-se.

Deixa pra lá, deixa pra lá. Ficar pensando nisso é pura perda de tempo. Só vou ficar de olho se algo estranho acontecer.

Com esse pensamento, Masachika empurrou a história de Yuusho para o fundo da mente e retomou o caminho de casa.

⋆⋅☆⋅⋆

 

Enquanto isso, naquele mesmo momento, em uma certa sala de aula vazia, Nonoa — que havia sido o tópico da conversa — e Ayano — que acabara de terminar suas tarefas no conselho estudantil — estavam frente a frente, sozinhas.

Então é assim que está a situação — explicou Ayano. — Caso Alisa-san vença a eleição, Masachika-sama retornará à família Suou… Foi o que ouvi.

Hmm~? Isso é ótimo, não é? — murmurou Nonoa, que já havia sido informada por Ayano, na ligação da noite anterior, sobre a decisão de Gensei. — E então? E quanto a você, Ayanono? — perguntou de forma casual, com sua habitual franqueza, erguendo uma sobrancelha. — Esse não era um desejo seu desde antes, que o Kuzecchi voltasse pra família Suou? Não faria mais sentido apoiar ele e a Alissa na eleição, se é isso que vai acontecer?

Sou parceira e serva da Yuki-sama. Coloco Yuki-sama acima de tudo e ajo sempre em favor dela — respondeu Ayano à pergunta sutilmente provocadora, sem sequer um traço de hesitação, como se já tivesse refletido sobre isso e chegado a uma conclusão.

Hmm~? — Nonoa deu sua resposta indiferente característica diante da compostura habitual e da expressão imperturbável de Ayano. — É só isso mesmo?

Ainda assim, levantou a questão em voz baixa.

Ayano inclinou levemente a cabeça, revelando uma centelha de confusão — o sinal de que Nonoa precisava.

A verdade não é que você odeia isso? — afirmou, de maneira seca. — Afinal, tá tudo acontecendo de acordo com os planos da Alissa, não é~?

O que… você quer dizer com isso? — perguntou Ayano, com a voz vacilante.

Se o tom trêmulo vinha da confusão de ouvir algo tão absurdo, ou porque as palavras atingiram um ponto sensível, Nonoa não parecia se importar. Apenas abriu os braços e sorriu.

Kuzecchi, Yukki e Ayanono — os três sempre juntos desde pequenos. Um mundo realmente especial, precioso, insubstituível para a garota chamada Ayanono, acima de tudo~ — disse Nonoa em tom leve e alegre, como se cantasse. Pausou, sorrindo docemente para Ayano, que agora a encarava em silêncio, antes de prosseguir na mesma voz despreocupada: — E então, de repente, surge uma intrusa.

As palavras eram sombrias, mas ditas com brilho. Faziam os ombros de Ayano estremecerem visivelmente. Percebendo o desconforto dela, Nonoa avançou ainda mais no ataque.

Essa intrusa virou parceira do Kuzecchi e rival da Yuki, se enfiando entre os dois e ocupando um espaço enorme nos corações de ambos. E, pra completar, o desejo que você guardou por anos, Ayanono — querer que o Kuzecchi voltasse pra família Suou — vai ser realizado por causa dela também~.

Sem hesitar, sem piedade, Nonoa se aproximou, cavando ainda mais fundo no coração de Ayano.

Talvez porque tivesse sido forçada a encarar a realidade que vinha tentando evitar até então, os olhos de Ayano vacilaram, e ela baixou o rosto, como se quisesse fugir.

Imperturbável, Nonoa se aproximou ainda mais, aproximando os lábios do ouvido dela.

Você não gosta disso — sussurrou. — No fundo, ela não passa de um estorvo pra você, não é? Alisa Kujou.

Foi uma pergunta feita suavemente, como se Nonoa estivesse se aninhando no coração de Ayano, acolhendo-o e perdoando todos os seus sentimentos.

Nesse instante, Ayano deu um salto para trás, batendo contra os armários ao fundo da sala, produzindo um estrondo metálico. Um deslize completo, totalmente fora de caráter para a silenciosa e sempre composta Ayano.

E isso, por si só, provavelmente a abalou ainda mais, deixando-a imóvel, apoiada contra o armário. Aproveitando-se disso, Nonoa se aproximou outra vez, pousando a mão direita sobre a esquerda de Ayano.

Você quer voltar àqueles dias — aqueles dias em que eram só vocês três —, um tempo pacífico e feliz junto daqueles sentimentos — falou com doçura para a garota de cabeça baixa. — Você nunca quis que uma intrusa aparecesse, ainda mais se essa intrusa estivesse prestes a roubar o seu lugar.

Roubar…? Não é… isso… — tentou refutar Ayano.

Será mesmo que não? — Nonoa insistiu, esmagando a pouca força que restava na resistência já murcha dela.

Antes de surgir a garota chamada Alisa Kujou, a menina mais próxima do garoto chamado Masachika Kuze — tirando a irmãzinha dele, Yuki Suou — era você. Mas agora? — perguntou Nonoa mais uma vez, enquanto Ayano mantinha a cabeça curvada, para então prosseguir: — E quem foi que o levou de volta à mansão Suou no dia da festa de aniversário dela? Foi você? Não, né~?

Suas perguntas levavam Ayano a refletir, conduzindo-a até a resposta definitiva por conta própria.

E mesmo com toda a sua tentativa desesperada de persuadi-lo, Masachika Kuze simplesmente não se moveu — afirmou Nonoa, enunciando a conclusão inegável, como se desse o golpe final. — Quem o moveu foi ninguém menos que Alisa Kujou.

Os dedos de Ayano apenas tremiam sob a mão de Nonoa, que por sua vez os percorria suavemente, como se quisesse envolvê-los e entrelaçá-los.

Quem está apoiando o garoto chamado Masachika Kuze agora não é você — continuou. — E se continuar assim, o futuro que você deseja — aquele em que vocês três, só vocês três, poderiam viver felizes para sempre juntos — nunca vai se realizar.

Foi uma declaração fria, dita com absoluta certeza. De repente, Nonoa suavizou a expressão.

Mas está tudo bem. Eu estou do seu lado, Ayanono — disse numa voz doce. — Vou te ajudar a conquistar o futuro que você deseja, com as suas próprias mãos.

Diante dessas palavras, Ayano, que até então mantinha a cabeça baixa, finalmente a ergueu. Seu olhar vacilante encontrou o de Nonoa de perto, e foi recebido com um sorriso incrivelmente benevolente.

Vai ficar tudo bem, sabia~? Existe um jeito de vocês três voltarem àquela felicidade de antes, exatamente como era. E é um jeito bem simples, fácil até.

Isso não existe—

Existe — declarou Nonoa com firmeza, levando um dedo aos lábios enquanto sussurrava baixinho. — Eu vou te contar como.

Ela sorriu.

Um sorriso que trazia a graça de uma santa que acolhe a feiura da natureza humana… mas que, ao mesmo tempo, lembrava intensamente o de um demônio explorando as fraquezas dos homens.

⋆⋅☆⋅⋆ 

 

Voltemos alguns dias antes, especificamente para a sala do clube de piano.

Droga! Aquele desgraçado! — uma voz aguda ecoou pela sala quase deserta, um lugar que havia perdido boa parte da movimentação em comparação a um mês atrás.

Chutando o chão com os sapatos de uso interno e gritando palavrões nada condizentes com a graça de uma dama, estava ninguém menos que Aoi Tsukamoto, aluna do segundo ano e vice-presidente do clube de piano.

Ela era uma exceção rara dentro do clube — um espaço onde a maioria das integrantes eram fãs de Yuusho. Aoi, por sua vez, não tinha o menor interesse no garoto; havia entrado ali apenas por sua vontade genuína de tocar piano.

E justamente por essa sinceridade e dedicação ao instrumento é que fora praticamente forçada a assumir o cargo de vice-presidente. Só que agora o clube estava à beira do colapso. Para piorar, o clube de música leve pressionava para que entregassem a sala. Enquanto isso, o responsável por toda essa bagunça — o presidente do clube, Yuusho — não fazia absolutamente nada. Ninguém sequer sabia onde ele estava. Diante de tudo isso, era natural que Aoi extravasasse a frustração daquele jeito.

Careca maldito! Careca desgraçado! Só morre logo! Que seus malditos dedos sejam esmagados pela tampa e você morra!

…Bem, talvez isso fosse um pouco pesado demais.

Em sua defesa, Aoi não era o tipo de garota que saía despejando palavrões. Só estava, no momento, no pior estado emocional de seus dezessete anos de vida.

E nem era que fosse contra a ideia de mudar de sala. Na verdade, até fazia sentido. Até então, por causa do grande número de membros (e também porque achava a comitiva de Yuusho insuportável no fundo), os mais dedicados ao piano usavam a sala do clube, enquanto Yuusho e seu grupo preferiam ir para a sala de música. Agora, restando apenas quatro membros, só aquela sala de música já seria mais do que suficiente do ponto de vista prático.

Ainda assim, para Aoi havia uma razão — e uma bem grande — pela qual simplesmente não podia abrir mão daquela sala.

Se continuar desse jeito…! — murmurou com os dentes cerrados, lançando o olhar em direção ao piano de cauda que ficava nos fundos da sala.

O piano em questão era de nível mundial, do tipo cobiçado por pianistas do mundo inteiro. Havia sido doado ao clube por um ex-aluno que também fazia parte do Raikokai. Comprar um modelo idêntico, nos dias de hoje, custaria facilmente centenas de milhões de ienes. Mesmo vinda de uma família relativamente rica, Aoi jamais teria tido a chance de tocar em um instrumento como aquele se não fosse por essa escola.

Em resumo, deixando de lado o valor em dinheiro, para Aoi aquele piano era algo absolutamente insubstituível.

Ela o conhecera ainda no ensino fundamental, quando visitara a Academia Seirei a convite de uma amiga, durante um festival cultural. Por pura sorte, conseguira a chance de tocar naquele mesmo piano de cauda. O som a sacudira até o âmago e transformara completamente sua visão do que um piano poderia ser. Desde aquele dia, nunca mais conseguira tirá-lo da cabeça. Desistiu até mesmo da ideia de prestar o vestibular para a escola de música que originalmente tinha como objetivo. Em vez disso, estudou como se sua vida dependesse disso para entrar naquela academia — apesar de não ter facilidade com os estudos. Tudo por uma única razão: ter a chance de tocar naquele piano outra vez.

E quando finalmente realizou esse sonho tão aguardado, quando suas mãos voltaram a deslizar sobre aquelas teclas depois de dois anos, chorou de felicidade sem se importar com quem estivesse olhando. Ficou tão emocionada que nem conseguiu dormir naquela noite.

Mesmo quando metade do clube abandonou o grupo, um ano depois, por causa de Yuusho — um destruidor de clubes em todos os sentidos —, Aoi não saiu. Mesmo ficando enojada com as garotas que se juntaram só para ficar ao redor dele, e não pelo piano, ainda assim não desistiu. Tudo por causa daquele instrumento.

E agora…

Ser rebaixados para grupo de interesse já é um risco enorme… Se perdermos a sala também, não há dúvida de que vão levar o Stein-kun embora…!

Aliás, Stein-kun era o nome que Aoi tinha dado arbitrariamente ao piano. E, só para esclarecer: Stein-kun não era uma doação. O instrumento apenas estava emprestado ao clube. Se o clube de piano perdesse o status oficial e tivesse de desocupar a sala, era óbvio que o dono viria buscá-lo de volta.

O que a gente vai fazer…? O que dá pra fazer…!?

Basicamente, tudo o que precisavam era recuperar membros antes do prazo final. Mas falar era fácil. Se fosse simples assim, ela já não estaria naquele desespero. Aoi até tentara contatar várias pessoas, mas ninguém queria entrar em um clube presidido por Yuusho, cuja péssima reputação já correra pela escola inteira.

Ela chegou a cogitar pressioná-lo a sair, o que permitiria trazer de volta alguns dos antigos membros sérios. Mas, para seu desgosto, os outros dois remanescentes eram seguidores fanáticos de Yuusho — fãs verdadeiros que permaneciam ao lado dele mesmo depois do fiasco no festival cultural. Se tentasse expulsá-lo à força, os dois também sairiam, e ela ficaria sozinha. Recrutar quatro novos membros, além disso, era simplesmente um obstáculo impossível de superar.

Não temos mais tempo de qualquer forma…

O rebaixamento para grupo de interesse um mês depois de cair abaixo do número mínimo de membros era uma regra rígida da escola. Na prática, porém, a decisão costumava ser oficializada em uma das duas reuniões interclubes realizadas ao longo do ano. E foi justamente por isso que Aoi achava que ainda tinha um pouco mais de tempo… até surgir, de repente, aquela proposta vinda da presidente do clube de música leve.

Argh~, mas que droga! O que diabos eu posso fazer com pouco mais de uma semana sobrando…!? — a voz de Aoi ecoou pela sala.

Objetivamente falando, até ela sabia que o clube de música leve estava no direito. A proposta deles não ia contra nenhuma regra da escola, então não havia sequer um argumento válido que pudesse usar. Em resumo, estava completamente encurralada.

Arrrrgh~, droga! AAAAAH, DROGA!!! — esbravejou, batendo os pés no chão com frustração.

Com licença.

Aoi se virou de repente, surpresa com a aparição inesperada de uma visitante. Na porta estava uma garota que ela não reconhecia — claramente não era do clube de piano.

O que você quer? — perguntou Aoi, ainda constrangida pelo acesso de raiva anterior. — Se veio se inscrever no clube, seja bem-vinda. Mas se não for isso, pode dar meia-volta e sair, por favor.

A garota, no entanto, não demonstrou o menor incômodo. Apenas fechou a porta atrás de si com um leve sorriso e caminhou até mais perto.

Você é Tsukamoto-san, a vice-presidente do clube de piano, certo?

Isso mesmo. E você é…?

Quem eu sou não importa aqui, não é? O que importa de verdade é que pediram para vocês desocuparem esta sala, estou certa?

Aoi franziu o cenho. Aquilo a deixou em alerta imediato. O assunto da troca de sala só havia sido comentado com ela pelo presidente do clube de música leve. Quase ninguém deveria saber. E se alguém soubesse, seria alguém de lá — mas ela tinha certeza de nunca ter visto aquela garota na sala de música.

Quem é essa…? Pela cor da fita, parece ser do segundo ano também…

A recém-chegada tinha longos cabelos negros e brilhantes, e um rosto marcante, de uma beleza impressionante ainda mais destacada pela maquiagem impecável. Se uma garota tão deslumbrante estudasse no mesmo ano que ela, Aoi com certeza já teria ouvido falar — mas nunca ouvira nem sequer um rumor. O fato de não saber absolutamente nada sobre alguém assim tornava a situação ainda mais estranha.

Então? Como eu já disse, você veio para se juntar ao clube? Se for isso, seja bem-vinda.

Eu não me importaria, sob certas condições.

Hã? — Aoi franziu ainda mais a testa. A resposta inesperada trouxe mais desconfiança do que alívio.

Mas a garota apenas sorriu.

Contanto que você aceite a minha proposta, vice-presidente-san, eu me junto ao clube. Mesmo que seja só como membro fantasma.

O que você quer dizer com isso…?

Soava como uma oferta completamente suspeita. Ainda assim, encurralada e desesperada como estava, Aoi não conseguiu deixar de ouvir — havia ali uma réstia de esperança. Como se já esperasse aquela reação, a garota riu baixinho.

Não precisa ficar tão na defensiva. Tudo o que peço é que você convoque uma assembleia estudantil.

Uma assembleia estudantil…? — Aoi repetiu, surpresa e desconfiada.

Ela até já havia cogitado esse recurso como último recurso, mas desistira. Não havia como vencer — não importava o ângulo. Afinal, por mais que as exigências do clube de música leve parecessem abusivas, não eram injustificáveis. Um clube rebaixado a grupo de interesse não tinha direito de manter uma sala própria. Resistir era, objetivamente, irrazoável. Além disso, graças a Yuusho, o clube de piano havia conquistado a antipatia de metade da escola. Se o assunto fosse levado a votação em assembleia, era óbvio quem perderia.

Vai dar tudo certo. Talvez você não ganhe, mas se fizer o que eu digo, pelo menos conseguiremos forçar um empate — disse a garota misteriosa com tranquilidade.

Hã? Um empate? — Aoi piscou, confusa.

Assembleias estudantis não podiam terminar em empate: em caso de igualdade, havia nova rodada de discussão seguida de outra votação.

Mas a garota não se abalou diante da clara reação de desconfiança e prosseguiu, calma e serena.

E se houvesse fraude na votação?

Hã?

E se houvesse fraude, e fosse determinado que a votação não foi justa, levando à invalidação dos votos e à dissolução da assembleia sem decisão alguma? Isso não seria considerado um empate?

O que você está dizendo? — Aoi a encarou, como se questionasse sua sanidade.

Haverá fraude — declarou a garota, sorrindo radiante.

O quê? Mas o que você—

Haverá fraude. Tudo o que você precisa fazer é apontar isso.

……

O que ela queria dizer com aquilo? Fraude eleitoral inevitável em uma assembleia estudantil que nem sequer havia sido confirmada? Era pura adivinhação. Uma profecia.

Que estupidez, Aoi resmungou em pensamento. Se ela realmente pudesse ver o futuro, saberia que eu não tenho a menor intenção de levar isso para uma assembleia estudantil, não saberia? O simples fato de ela ter vindo pedir já prova—

Mas, nesse instante, seus olhos se arregalaram em choque e terror. Ela havia percebido a malícia oculta, intensa, por trás das palavras da garota.

O que vai fazer? — perguntou a estranha.

……

Como eu disse antes, posso garantir que vocês não perderão esta sala, contanto que siga as minhas instruções, sabia? Não estou pedindo nada difícil apenas convoque uma assembleia estudantil e aponte a fraude. Só isso — disse a garota com um sorriso, ciente de que Aoi já tinha entendido… e também de como responderia.

……

Aoi compreendia perfeitamente a situação. Aquilo era um pacto com o diabo. Mesmo que aceitasse a proposta e tudo corresse bem, não havia como prever o preço que teria de pagar depois.

Mas… eu tenho outra escolha?

Perguntou-se. Não tinha. Sabia disso melhor do que ninguém. Soltando um suspiro de frustração, Aoi lançou um olhar para o piano atrás de si, debatendo-se em agonia por uma dúzia de segundos.

Está bem.

E assim, por fim, estendeu a mão ao diabo.



 

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