Volume 10
Capítulo 1: Tremam Diante da Minha Fofura Avassaladora!
O sol já havia se posto completamente, e o quarto estava agora tomado por uma escuridão suave. As duas garotas se encaravam — Yuki com um sorriso destemido, pernas cruzadas com uma postura imperiosa de facilidade, enquanto Alisa permanecia completamente imóvel, o cérebro sobrecarregado por um tsunami figurativo de pontos de interrogação. O silêncio preenchia o espaço entre elas.
Adorável? Ador…ável? Isso é… algum tipo de palavra japonesa que eu não conheço? Um termo técnico? Ou talvez uma gíria jovem ou de internet, ou algo assim?
A afirmação de Yuki tinha sido tão incompreensível para ela que Alisa começou a duvidar se estavam mesmo pensando no mesmo "adorável" que ela conhecia. No entanto, por mais que tentasse separar as palavras de Yuki ou interpretá-las de outra forma, nenhuma resposta definitiva surgia em sua mente. Finalmente desistindo, ela falou sua dúvida em voz alta.
— O que você quer dizer?
Yuki arqueou uma sobrancelha em resposta. Mas, imediatamente depois, como se tivesse entendido a dificuldade de Alisa, ela assentiu lentamente, baixando o olhar com uma expressão estranhamente melancólica.
— Entendi. Basicamente, você quer que eu explique de um jeito que você consiga entender… — falou.
— Sim.
— Para explicar essa minha fofura…
— Sim…?
Sim, havia algo errado — as duas falavam japonês, mas as palavras de Alisa simplesmente não chegavam. Não era como um dos episódios de distração da Maria; isso era uma dimensão completamente diferente de conversação confusa.
Espera… Quem é essa? Alguém mais? Não, não pode ser. Certo?
Por apenas um instante, a teoria de Yuki ter uma irmã gêmea secreta passou seriamente pela mente de Alisa, mas ela rapidamente a descartou. Se fosse verdade, nenhuma das conversas que tiveram até agora faria sentido.
Mas, nesse caso… Quem, afinal, é essa?
— ???
Quanto mais ela pensava, mais confusos os pensamentos de Alisa ficavam, como se ela tivesse tropeçado de repente em alguma dimensão surreal. Seu cérebro parecia ter diminuído até quase parar, e Alisa só conseguia piscar confusa. À sua frente, Yuki se levantou da cadeira, dramaticamente colocando uma mão na testa enquanto inclinava lentamente a cabeça para trás.
— Muito bem… Ver para crer — murmurou antes de varrer o braço direito em um gesto instantâneo, cobrindo o olho esquerdo de forma deliberadamente sensual, enquanto abria o olho direito como se um rugido estrondoso ecoasse atrás dela ao declarar orgulhosamente: — Delicie-se! Testemunhe essa minha fofura avassaladora!
— Ah, não, tudo bem — respondeu Alisa reflexivamente, com educação, enquanto Yuki se jogava de volta na cadeira, emburrada como uma criança que teve seu brinquedo negado.
— Ah, tá então — murmurou.
Quem é essa???
Pensou Alisa, enquanto seu alarme interno de confusão só aumentava. Ainda assim, não conseguia evitar sentir uma estranha pontada de culpa invadindo seu coração. Tentando recuar, Alisa procurou algo para dizer.
— Ah, hum, bem, você não precisa me mostrar nada; só explicar já basta… Quer dizer, não é exatamente isso que eu quero saber sobre, hum, sua fofura? Ou melhor, "minha"? Você disse "minha" agora há pouco?
— Eu disse. E daí? — Perguntou Yuki, inclinando a cabeça inocentemente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Sua postura voltou a ser a da dama educada e elegante que Alisa conhecia, mas a completa insanidade da conversa continuava sem freio.
— "E daí?", você diz…? — Alisa só conseguiu suspirar, claramente desconcertada pelo contraste entre palavras e comportamento de Yuki. Por outro lado, Yuki, falando como se seu comportamento bizarro de momentos atrás nunca tivesse ocorrido, continuou com seu tom habitual de dama.
— Ah, talvez você não saiba, Alya-san. No Japão antigo, o pronome de primeira pessoa "boku", cujo kanji significa literalmente servo, era usado por aqueles de status inferior. Em contraste, nobres e aristocratas, independentemente do gênero, usavam "ore" para se referirem a si mesmos.
— Eh? I-Isso é verdade?
— Sim. Com o tempo, as mulheres pararam de usar, mas em famílias antiquadas como a nossa, ainda tratamos como uma forma neutra de se referir a si mesmo, usada por homens e mulheres.
— Eu não sabia…
— Pois é, porque não é verdade.
— Hã?
— Ah, aliás, mencionei a palavra "fofura" há pouco, certo? Bem, se você escrever em kanji, na verdade ela se origina da expressão "estar entre rios: riverness". Há muito tempo, os aldeões que viviam entre rios se mostravam humildes com aqueles que moravam do lado leste, enquanto eram arrogantes com os do lado oeste. A partir dessa anedota antiga, surgiu a palavra para descrever quem muda constantemente de atitude dependendo de quem está lidando.
— H-Há uma frase japonesa assim…?
— Claro que não.
— Hummm??
Com Yuki acumulando camada após camada de confusão sem limites, Alisa estava completamente perdida.
Eh, hm? Então "ore" aqui é só um pronome masculino normal? E a fofura? Era só fofura mesmo, tipo "adorável"? Então o que era fofo era… o fato de ela estar agindo de forma fofa? Espera, esse jeito de agir era para ser fofo? Huh…?
Os sujeitos e predicados se embaralharam, e um mundo de japonês desconhecido se abriu diante de Alisa.
…??
Quanto mais ela tentava organizar os pensamentos e entender tudo, mais confusa ficava. Era exatamente como um novelo de lã emaranhado — tentar puxar uma ponta só deixava o resto ainda mais nó. Então, Alisa desistiu de pensar por um momento e resetou sua mente. Com uma conclusão terrivelmente simplista, resumiu tudo.
— Em outras palavras, Yuki-san, você é fofa?
— Yes, that’s right — Yuki declarou em inglês, estalando os dedos e apontando para Alisa enquanto se sentava graciosamente.
A pose misteriosamente ousada e típica americana, que surgia de sua postura elegante, fez o cérebro de Alisa se desligar momentaneamente de novo. Indiferente ao olhar atônito dela, Yuki continuou em inglês, de forma propositalmente estranha.
— I can’t stop my cuteness. So my brother will hold me tie wearing bunny suit.
— Q-Que… O que você acabou de dizer? Não entendi direito; no final, o Masachika-kun era quem estava usando o coelho?
— M-Mas, Alya-san, você não é boa em inglês?
— Não, não é isso… Espera, você que é ruim! Você fala inglês muito melhor que isso — você quer ser diplomata! Ou melhor, por que mudou de repente para o inglês!?
— Hahaha, you funny little girl — Yuki disse então, com pronúncia perfeita em inglês.
Tendo chegado a este ponto, Alisa finalmente percebeu que estava sendo completamente manipulada, e sua bochecha se contraía involuntariamente. Justamente então, um toque ecoou na entrada.
(N/SLAG: O japonês usa katakana para representar sons estrangeiros, e isso inclui palavras em inglês. Então, quando alguém fala inglês "escrito" em katakana, o resultado soa como inglês com sotaque japonês forte.)
Yuki respondeu, e Ayano entrou, acompanhada de Masachika. No momento em que eles pisaram na sala, Yuki se levantou imediatamente, jogando-se nos braços de Masachika e se agarrando a ele.
— E este aqui é meu fofo onii-chan ♡ — coçou em uma voz doce, encostando a bochecha no ombro de Masachika.
A sensação que atingiu Alisa naquele momento foi nada menos que destruição cerebral. O que acontecia diante de seus olhos era claramente apenas um pouco de afeto fraternal brincalhão. Em essência, não era nada diferente de como Maria costumava se agarrar a ela. O cérebro de Alisa entendia isso perfeitamente, mas ainda assim se recusava a aceitar como fato real.
São irmãos, não há motivo para se preocupar com isso — tentava convencê-la seu lado esquerdo do cérebro.
Sai de cima dele! Você está perto demais! — gritou seu lado direito.
As duas vozes conflitantes se chocavam violentamente dentro de sua cabeça.
Minha cabeça… está prestes a explodir…!
Alisa tremia por todo o corpo, ofegante, cerrando os dentes. Com seu cérebro já completamente drenado pelas observações sem sentido e comportamento incompreensível de Yuki, agora ela era assaltada por uma onda emocional desconhecida que ameaçava levá-la à loucura. Percebendo a fúria quase contida de Alisa, como se estivesse prestes a explodir se provocada mais um pouco, Yuki sorriu travessa.
— Ayano! Vamos lá! — chamou.
— Sim!
Ao comando de sua mestre, Ayano endireitou as costas com precisão e rapidamente se alinhou ao lado de Yuki. Então, as duas cruzaram uma perna sobre a outra antes de assumirem uma pose chamativa, perfeitamente sincronizadas.
— Escrita como a amiga de infância, mas na verdade a sua pequena irmã! Yuki Suou!
— Escrita como amiga de infância, mas na verdade sua serva. Ayano Kimishima.
Suas dramáticas apresentações, como algo saído de um show japonês live-action de super-heróis, deixaram Masachika e Alisa paralisados.
E não apenas eles — a atmosfera inteira parecia congelar.
Ainda assim, Yuki e Ayano, completamente impassíveis, assumiram uma segunda pose coordenada, desta vez posicionando-se entre Alisa e Masachika, como se protegessem e bloqueassem ele dela.
— A amiga de infância (heroína perdedora) é apenas uma fachada que usamos. Onii-chan/Masachika-sama será protegido por nós — as verdadeiras sub-heroínas! — declararam em perfeita sincronia, embora Ayano fizesse isso em um tom mais formal e educado.
Elas acertaram em cheio. Absolutamente perfeito. Exibindo sem falhas os resultados de sua prática, compartilharam um high-five satisfeito.
……
Balançando-se levemente, tomada por uma onda de tontura, a cabeça de Alisa girou e ela vacilou meio passo. Justamente então, Yuki fez uma expressão assustada de percepção ao olhar de volta para o irmão mais velho.
— Ah, droga. Esqueci que estamos no meio de uma briga. Tsk, não fique todo íntimo comigo. Bleh — disse friamente.
— Como isso é justo??? — Perguntou Masachika, confuso.
— Sai logo. Não fique entrando numa conversa de meninas como se nada fosse, seu idiota.
— Mas você literalmente respondeu quando eu bati…
Ignorando o protesto razoável do irmão, Yuki começou então a chutar implacavelmente as pernas de Masachika, forçando-o fisicamente a sair da sala. Com Ayano saindo também para garantir, ela fechou a porta atrás deles antes de se voltar para Alisa novamente.
Nesse momento, o estado mental de Alisa havia se recuperado — embora apenas um pouco. Colocando a mão na testa, olhou para Yuki.
— Você… é realmente a Yuki-san? — Perguntou novamente.
— Ei, ei, você realmente acha que existe alguma outra garota tão perfeita e elegante quanto eu? — respondeu Yuki.
— Em que mundo isso é perfeitamente elegante…? — reparou Alisa, olhando Yuki dos pés à cabeça.
Se ela realmente fosse uma dama graciosa, isso seria loucura completa. Uma serva de verdade provavelmente teria desmaiado de choque se visse esse comportamento. Mas não havia dúvida de que aquilo era realidade agora, e era o que Alisa começava a perceber, com várias partes de seu cérebro que antes nem conhecia, começando a latejar de dor.
— Hum… só… quanta parte disso é você de verdade, e quanta é atuação…? — deixou escapar antes de conseguir se conter.
Yuki piscou lentamente em resposta, antes de dar o sorriso composto e elegante que Alisa sempre conhecera, voltando totalmente à sua postura reservada habitual.
— Mas é claro, isso é a verdadeira eu. Aquele comportamento bobo de antes foi só um ato, sabe?
— Sério…?
— Sim — afirmou Yuki educadamente. — Como mencionei antes, tudo aquilo foi apenas um personagem que criei usando mangá e anime como referência.
Ela deu de ombros levemente enquanto explicava, soltando um suspiro suave, e uma aura delicada e misteriosa retornou à sua presença.
— Sabe, eu realmente adoro ver pessoas sorrindo — falou Yuki a Alisa com expressão gentil. Seu súbito retorno à sinceridade fez Alisa sentar-se ereta, confusa. Vendo que Alisa agora a ouvia atentamente, Yuki colocou a mão sobre o peito e continuou a falar devagar.
— Sempre que vejo alguém sorrir, naturalmente me pego sorrindo também. Isso me faz feliz… É por isso que sempre quero que aqueles próximos a mim estejam sempre sorrindo.
— E por isso você… hum, fez aquele ato bobo? — Perguntou Alisa.
— Fufu. Bem, pode-se dizer que sim… — Yuki deu uma risadinha antes de se virar para a porta, da qual havia acabado de expulsar o irmão, estreitando os olhos carinhosamente. — Mesmo que seja um sorriso exasperado ou cansado, tudo bem. Contanto que onii-tan continue sorrindo… isso é tudo o que eu preciso.
— Oh…?
Embora o tom de Yuki puxasse desconfortavelmente as cordas do coração de Alisa, ela não pôde deixar de engolir suas palavras diante da postura solene de Yuki.
— Você realmente se importa com Masachika-kun, não é? — optou por perguntar.
— Sim. Eu já te disse isso antes, Alya-san, não disse?
Yuki fechou os olhos suavemente e falou como se fizesse um voto solene.
— Eu realmente amo onii-tan.
— Eu-eu vejo…
— Mais que o Pai, mais que a Mãe. Eu amo onii-tan acima de tudo.
— Si-sim, lembro de você ter dito algo assim…
— Nunca houve uma mentira em minhas palavras. Tudo que eu quero é ver meu amado onii-tan sorrir… É por isso que me tornei a fofinha irmãzinha que o mimava.
— Onii-tan…!?
Por fim, incapaz de segurar mais, Alisa forçou para fora a palavra que vinha corroendo sua sanidade desde mais cedo, arrancando-a da garganta a contragosto. Ela franziu a testa e levou a mão à têmpora, que voltava a latejar.
— Hm, desculpa interromper, mas… hã, Yuki-san? Você costuma chamar seu irmão de onii-tan? — Perguntou.
Em resposta, Yuki piscou inocentemente e inclinou a cabeça em confusão.
— Não? Não muito — declarou sem expressão.
— Então o que foi aquilo agora há pouco!? — exclamou Alisa, sem conseguir conter o tom elevado.
Yuki levou o dedo aos lábios, cantarolando em divertimento, fingindo estar em profunda reflexão antes de lançar para Alisa um olhar de lado desnecessariamente sedutor ao responder.
— Porque eu queria ver a sua reação?
— V-Você realmente tem um gosto peculiar para o que acha divertido, não é…?
— É mesmo? Oh, céus, vai me fazer corar se me elogiar tanto assim — retrucou Yuki com um sorriso tranquilo, imune ao sarcasmo evidente, provocando outro espasmo involuntário na face de Alisa.
Ainda assim, Alisa não pôde deixar de chegar a uma conclusão clara.
Ah, ela é mesmo irmã do Masachika, pensou, refletindo sobre o jeito de Yuki brincar tão casualmente com as pessoas.
Tal irmão, tal irmã, hein…? Não, pensando bem, pelo que ela mesma disse antes, talvez tenha sido Yuki quem influenciou Masachika-kun.
A ideia lhe ocorreu naturalmente. Era perfeitamente plausível que Masachika, outrora sério e aplicado, tivesse se transformado no otaku bobo que era agora justamente por causa da irmãzinha. Ao perceber essa possibilidade, qualquer cautela ou hesitação que ainda nutria em relação a Yuki sumiu de uma vez.
Então, assim como fazia com Masachika, abriu um sorriso carregado de uma fúria silenciosa e ardente.
— Diga, Yuki-san… Você pretende ter uma conversa séria ou não? — Perguntou, visivelmente irritada.
— Claro que não? A parte séria já acabou, afinal — respondeu Yuki alegremente, sem o menor traço de vergonha, continuando num tom leve: — A Yuki-chan só tem vinte minutos de conversa séria por dia, sabe? O equivalente a um episódio de anime~.
— Aaaah, entendi~. Então esse seu lado bobo é o verdadeiro, e o educado é só fingimento, né? Pensando bem, você já tinha dado a entender isso antes, não foi? — disparou Alisa, quase sarcástica, soltando um suspiro longo diante da atitude descarada da outra.
— É, não… Quer dizer, aquilo era só uma piada.
— Mas qual é o seu problema…?
Com a verdade e a mentira tão emaranhadas, Alisa enterrou o rosto nas mãos. Vendo isso, Yuki finalmente assumiu uma expressão mais sóbria.
— Tanto a versão educada de mim quanto a boba… são igualmente atuações. Mas igualmente reais — disse em voz baixa.
— Atuações, mas reais…? — repetiu Alisa, ainda desconfiada e esperando mais confusão, perguntando com cautela.
Dessa vez, porém, Yuki sustentou seu olhar sem nem sombra de malícia.
— Alya-san, quando você fala com um professor, um atendente de loja, um amigo ou com a família… não muda o tom e o jeito de agir conforme a pessoa?
……
Aquilo fazia sentido. Alisa, de fato, falava de modo mais formal com professores e vendedores, mas era mais descontraída com amigos e familiares. E, pensando bem, até entre amigos o tom variava conforme a proximidade, e dentro da própria família sua atitude era bem diferente com os pais em comparação com a irmã mais velha.
Se alguém perguntasse quais dessas formas eram fingimento e qual era seu "eu verdadeiro", ela provavelmente só daria uma resposta vaga: "Não é como se eu estivesse atuando de propósito, mas também não dá para dizer qual é o eu de verdade."
Ela entendia até aí. Mas mesmo assim…
— Nesse caso, você não precisa agir desse jeito agora, precisa? — argumentou Alisa.
— Hã?
— Bem… você só fala assim para o Masachika-kun achar você fofa, certo? Se for isso, agora poderia falar normalmente.
— Não diga uma coisa tão sem tato, Alya-san. Você ainda usa calcinha de ursinho de pelúcia por baixo da calça jeans quando sai?
— Perdão? O-O que você está dizendo?
— O que eu quero dizer é que o fato de alguém ver ou não não muda o desejo de usar algo fofo. Mesmo que ninguém vá ver, usar uma roupa íntima bonitinha faz a gente se sentir bem, não é?
— Bom, suponho que sim.
— Então é basicamente a mesma coisa. Vou agir como uma irmãzinha fofa com ou sem o onii-tan por perto, porque isso me coloca de bom humor — explicou Yuki com uma expressão convencida, transbordando confiança. Em seguida, girou no próprio eixo com um rodopio, levando a mão direita dramaticamente ao peito como se fosse uma atriz de palco antes de, literalmente, cantar: — Ah! Como estou absolutamente adorável hoje de novo!
Ela se ergueu altiva, assumindo uma pose cintilante e triunfante. Alisa só conseguiu encarar suas costas, levando o dedo à própria têmpora.
Isto já é caso de TDI a essa altura!!!
(N/SLAG: É tipo um transtorno mental em que alguém pode ter duas ou mais personalidades.)
Gritou internamente.
Isso já não era mais uma questão de simplesmente ajustar seu comportamento de acordo com o tempo, o lugar e a ocasião — tinha ido muito além disso. Se todo mundo tivesse uma "dupla face" nesse nível e intensidade, então Alisa provavelmente acabaria desenvolvendo sérios problemas de confiança. E com razão.
Na verdade… Sim, seria mais fácil simplesmente pensar nela como duas pessoas diferentes.
Em vez de enxergá-la como a Yuki Suou que conhecia, talvez fosse melhor tratá-la como alguém totalmente distinto — como Yuki Kuze, por exemplo. A irmã de Masachika, uma pessoa diferente por completo. Assim, ao menos evitaria parte da confusão.
Mas, enquanto seguia esse raciocínio, uma outra percepção começou a brotar.
Será que todas aquelas provocações… não passavam de uma forma de disfarçar a própria vergonha?
O irmão dela também tinha esse mesmo hábito — sempre desviava para uma piada quando ficava sério demais. Talvez esse lado da Yuki fosse exatamente o mesmo. Talvez ela só estivesse agindo daquela forma porque não queria ser alvo de pena de Alisa, e isso, por sua vez, vinha do fato de não querer que seu passado doloroso fosse levado a sério demais.
— Haaaah… — Alisa soltou um suspiro cansado, fitando as costas de Yuki com um sorriso fatigado. Estava exausta, mas não amarga. — Vocês dois são realmente parecidos.
Ao ouvir isso, Yuki se virou de repente, piscou várias vezes e então sorriu levemente, assentindo com convicção.
— Isso mesmo… Nós dois somos tão, mas tããão adoráááveis~.
— Uuuh?
Como foi que eu automaticamente interpretei aquilo como "adoráveis"?
Alisa inclinou a cabeça, confusa. Nesse instante, Yuki disparou até a porta e a escancarou com todo o drama possível.
— Clack! Você também acha, né, Onii-chaaaaan~!?
— Acho.
— Viu!? Slam!
Após imitar com a voz o som da porta abrindo e fechando, ela a bateu de verdade e voltou saltitando, satisfeita, como se tivesse acabado de provar um ponto.
— Em outras palavras, é isso.
— O quê…?
Por que ela precisava tanto da concordância do irmão? Como tinha certeza de que Masachika ainda estava ali fora, se nada do que conversaram podia ser ouvido de lá? E por que, em nome de Deus, Masachika respondeu de imediato e instintivamente a uma pergunta que não fazia absolutamente sentido nenhum!?
O cérebro de Alisa foi inundado por interrogações, mas, acima de tudo, o que mais a incomodava era…
— Espera, ele conseguiu ouvir tudo isso lá de fora?
Não era como se tivessem falado de algo comprometedor, mas a ideia de a conversa inteira ter sido escutada era desconfortável. Alisa lançou um olhar nervoso para a porta, mas Yuki apenas sacudiu a cabeça.
— Nope. Essa casa tem isolamento acústico excelente. Ele não teria escutado nada, a não ser que a gente tivesse gritado.
— Hã? Então como o Masachika-kun respondeu na hora o que você disse?
— Hmmm, digamos que é a nossa conexão especial de irmãos? Tipo telepatia. Fufun~ — Yuki estufou o peito orgulhosamente, com uma risadinha presunçosa.
Agora que tinha plena certeza de que ela era mesmo irmã de Masachika, Alisa não conseguiu conter um leve incômodo que subiu em seu peito. Movida por essa sensação, lançou um olhar desconfiado a Yuki.
— Tem certeza? Ele não só concordou porque você fez uma pergunta e ele foi junto sem pensar?
— Quer testar, se não acredita? Pra ver se o onii-tan realmente entendeu a pergunta.
— Testar…? Como? — Alisa perguntou, inclinando a cabeça, enquanto Yuki, com um sorriso quase irritantemente convencido, levantava os dedos como se fosse revelar uma grande verdade.
— É simples — declarou com confiança. — Eu vou perguntar de novo, só "Você também acha, né, Onii-chan?", e a gente vê como ele responde. Se ele só estiver reagindo aleatoriamente, vai responder sim ou não. Mas, se tivermos mesmo essa conexão telepática, ele vai dizer algo tipo: "Achar o quê?", não é?
— Bem… Faz sentido. Se vocês realmente se comunicam assim… É.
— Beleza, só assistir e comprovar.
Ainda claramente cética, Alisa cruzou os braços, esperando. Já Yuki, confiante como sempre, correu de volta até a porta e a abriu de novo.
— Clack! Você também acha, né, Onii-chaaaaan~!?
— Acho.
— EU VOU TE MATAR!!!
— Por quê!?
— Slam!
E com isso, ela voltou marchando. Ao ver a expressão absolutamente exasperada de Alisa, fez um aceno solene com a cabeça.
— Viu só?
— Ver o quê?
— Como esperado do meu querido onii-tan… Ele entende perfeitamente o nosso flow de comédia.
— Você não acha que está forçando bastante a interpretação mais conveniente possível?
— Nada disso. Foi a resposta cômica perfeita pro cenário que eu preparei.
— Então, se você fizer de novo, ele vai responder certo outra vez, não é?
— Cof cof… ah, minha tosse voltou. Cof cof.
— Que caso conveniente de gripe — Alisa comentou com ironia, soltando um suspiro de tédio, enquanto Yuki fingia tossir na mão, sem nem se dar ao trabalho de fingir bem. — Enfim, entendi. Você não quer que tenham pena de você, mas pode, por favor, falar comigo normalmente agora?
Ela tinha acertado em cheio, cortando toda a enrolação.
Ou será que não…?
— Hm? Como assim? — Yuki respondeu com tanta confusão genuína que Alisa congelou.
Ela fitou o rosto de Yuki, tentando ler suas verdadeiras intenções.
— Você não tá só bancando a palhaça de propósito pra aliviar o clima pesado? — insistiu.
— Não? Eu tô só zoando com você porque é divertido, Alya-san. Algum problema com isso? — Yuki confessou sem pudor, revelando que suas intenções não passavam de pura malícia.
O rosto de Alisa se contraiu, mas Yuki continuou olhando diretamente para ela, com uma expressão doce e gentil.
— Você sabe, né? Que eu adoro ver as pessoas sorrindo.
— Sim, você disse isso antes…
— Mas, sabe de uma coisa? Eu amoooo ainda mais ver as pessoas confusas ou chocadas♡.
— Você é a pior! — Alisa não conseguiu se conter e gritou, quando o sorriso angelical de Yuki se transformou, num instante, num sorriso diabólico.
Logo em seguida, porém, Yuki ergueu os olhos marejados, com um olhar suplicante para cima, desferindo o golpe final.
— Mesmo assim… nós ainda somos amigas, não é? — Perguntou ela com uma vozinha tímida.
— Ugh…
Apesar de saber muito bem que era tudo encenação, Alisa ainda hesitou diante do peso da manipulação magistral de Yuki. Aquele olhar despertou nela um instinto protetor antes mesmo que pudesse se controlar.
Não, não, não, não deixe ela te enrolar de novo… Mas… bem, ela é minha amiga, afinal de contas… Certo?
Por mais irritantemente calculado que fosse aquele gesto, não era suficiente para destruir a amizade delas. Enquanto Alisa vacilava, tentando racionalizar sua própria reação, Yuki se inclinou ainda mais perto, os olhos brilhando de travessura.

— Digo, tudo bem, eu fingi ser a amiga de infância dele enquanto vivia te provocando, te ofereci comidas super apimentadas mesmo sabendo que você não aguentava, e até tranquei você junto com o onii-tan naquele depósito da aula de educação física… mas, ainda assim, você vai me perdoar, não vai? Vai me aceitar, com esses seus peitões tamanho F, nééé~?
— Quê—, h-hãããã!?
De repente confrontada com a lista de más ações de Yuki, Alisa ficou sem palavras, abrindo e fechando a boca como um peixe fora d’água.
Então, num estalo, como se um raio tivesse atingido sua cabeça, uma memória distante lhe veio à tona.
— F-Foi você! Então foi você quem contou pro Masachika-kun o meu tamanho de sutiã! — gritou furiosa.
— Hã…? Ahhhh. Pode ser que eu tenha feito isso, agora que você mencionou.
— S-SUA—! Aliás, como é que você sabe do meu tamanho em primeiro lugar!?
— Ah, foi naquela vez que fomos para a casa de campo da presidente nas férias de verão. Eu conferi o tamanho do seu sutiã no vestiário. Sério, fiquei super chocada. Você e sua irmã têm sutiãs enormes.
— QUÊ— Hã? Espera aí, mas eu nem tinha deixado roupa íntima no vestiário aquele dia! N-Não me diga que… foi você quem pegou minha calcinha e deixou no quarto!?
— Uhum!!!
— S-S-SUA DESGRAÇADA!!!
Mais um crime revelado, mas Yuki não demonstrava o menor sinal de arrependimento. Sua atitude irritantemente descarada fez os braços de Alisa tremerem, enquanto ela cerrava os dentes e rosnava das profundezas da alma.
— É tudo culpa sua, é tudo culpa sua…! — Alisa começou então a acusá-la de outra coisa.
— Hã? Aconteceu mais alguma coisa? — Yuki inclinou a cabeça com um olhar vazio, mas Alisa engoliu as palavras.
De jeito nenhum ela ia confessar a coisa humilhante que tinha acontecido entre ela e Masachika depois daquilo…
Mas no fim…
— Ah, e a propósito — Yuki continuou sua própria confissão criminosa —, aquela que fez você e o onii-tan se esbarrarem na escada logo depois do banho, Alya-san~? Fui. Eu. ☆ Kyahaha~♪.
— Quê—!?
Yuki fez um sinal de paz com a mão esquerda, apoiando o queixo na direita cerrada em punho, mergulhando totalmente em sua atuação de garotinha fofa e boba — algo que Alisa sabia perfeitamente bem que ela fazia de propósito.
E então, outro relâmpago de memória atravessou a mente de Alisa. Mais um incidente humilhante envolvendo roupas íntimas… e até sua irmã Maria dessa vez.
— Espera… não me diga…! Aquela vez em que a Masha e eu estávamos trocando para o uniforme de verão, e o celular do Masachika-kun tocou e acordou ele… Aquilo também foi você!?
— Hã? Nem sei quando foi isso.
— Eh…?
As duas se encararam em silêncio por vários segundos. Finalmente, Yuki abriu a boca lentamente.
— Acordou o Masachika-kun enquanto vocês estavam se trocando? Hã? Alya-san, não me diga que você tava… bem na frente do onii-chan…? — Perguntou, juntando as peças.
— !! — Alisa ofegou, contorcendo-se apenas de vergonha.
Auto destruição completa e absoluta. Sua vergonha explodiu, e o que aconteceu em seguida nem ela mesma conseguiu entender.
— Nnnngghhhh~!!!
Quando percebeu, Alisa já havia soltado um grito que era algo entre um berro e um gemido, correndo até a porta, abrindo-a de um puxão e mergulhando direto no peito de Masachika.
— O-Opaa!? — Masachika se assustou, enquanto Alisa batia os punhos contra o peito dele em protesto, olhando para cima com lágrimas nos olhos e as bochechas infladas, ao mesmo tempo em que apontava o dedo para trás, na direção de Yuki.
O gesto gritava quase como palavras: "O que diabos há com essa garota!?" — mas, estranhamente, parecia mais com uma criança de jardim de infância reclamando de um colega para o professor.
— Nngh~! Nngghhh~!! — continuou a se contorcer em frustração.
— A-Ah, entendi. Ela te provocou, não foi? Pronto, pronto, coitadinha…
— Nnnngh~!!
— S-Sério? P-Por que você não fala nada…?
— Nngh~! Nngghhh~!!
— Ah, é isso… "Não me trate como criança", né…? Desculpa. N-Não, sério, foi mal mesmo. Por ter uma irmã assim. Acho que parte da culpa de como ela acabou se tornando é minha também… — disse Masachika, tentando de forma desajeitada confortar Alisa, que se debatia em uma tempestade de fúria e vergonha inarticuladas.
Então, com uma careta, ele virou-se para lançar um olhar repreensivo para dentro do quarto.
— Hmmm, pretty girl… — disse Yuki em inglês perfeito. — Não vai dar pra você ser minha cunhadinha se já tá desmoronando por causa de algo assim…
Ao ouvi-la falar algo tão absurdo enquanto fazia uma pose bizarra e estereotipicamente americana, Masachika desviou o olhar rapidamente e fingiu que não tinha visto nada.
ENTRE NO DISCORD DA SCAN PARA FICAR POR DENTRO DOS PROXIMOS LANÇAMENTOS DE ROSHIDERE!
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