Alya às Vezes Esconde seus Sentimentos em Russo Japonesa

Volume 10

Prólogo: Modo Irmãzinha, Ativar

 

— Quando eu ainda era bem pequenininha… eu era uma encrenqueira terrivelmente arteira.

Foi assim que Yuki começou sua história — uma abertura tão difícil de acreditar à primeira vista que fez Alisa sentir um aperto doloroso no peito. Masachika também havia lhe contado — a infância de Yuki fora marcada por uma curiosidade incomum e uma energia sem limites. Mas então, a doença chegou e lhe roubou a liberdade, mergulhando-a numa batalha árdua contra o próprio corpo. Ainda assim, em meio a todo o sofrimento, sua única preocupação era o que poderia fazer por sua família.

— Ah…

Alisa não conseguiu conter um leve suspiro. Yuki não falava aquilo para arrancar uma simpatia barata. Alisa entendia muito bem. Só ouvir aquela história não significava que poderia sequer compreender a dor e a angústia que Yuki havia vivido. Ela sabia disso.

Mas mesmo assim…!

— Hhk…

Com os olhos já marejados, Alisa lutava desesperadamente contra as lágrimas que ameaçavam deslizar por suas bochechas. As palavras de Yuki haviam atingido seu coração tão fundo que era impossível suportar sem reagir. 

Quão corajosa, quão altruísta ela havia sido. A Yuki conhecida por toda a escola, símbolo da graça e da elegância, havia sido moldada pela resiliência incansável e por um amor sem limites.

— E então eu percebi uma coisa. Tipo, ah… tudo o que eu estava fazendo era só deixar o nii-sama se sentir culpado — disse Yuki, com uma expressão dolorida diante de Alisa, que tentava segurar as próprias lágrimas. Alisa já sabia o que viria a seguir. Masachika… havia lhe contado, afinal.

— Então pensei: se tudo o que essa versão capaz, de "boa menina", de mim fazia era deixar o nii-sama se sentir culpado, então talvez… talvez eu devesse simplesmente voltar a ser a irmãzinha boba dele. Uma ridiculamente fofa, aliás. Então estudei um monte de mangás e animes para descobrir como fazer isso direitinho. Fufu, meio infantil, né? — Ela soltou uma risadinha, sorrindo suavemente como se estivesse se divertisse com a própria ingenuidade do passado, antes de lançar a Alisa um olhar brincalhão. — Sabia? O motivo de o nii-sama… de o Masachika-kun ter virado esse otaku de primeira, na verdade, porque eu converti ele.

— Isso é uma surpresa — respondeu Alisa com um sorriso que parecia prestes a se partir, oscilando entre o choro e o riso diante do tom levemente travesso de Yuki.

Sem se importar muito com a reação dela, Yuki prosseguiu alegremente.

— Ele ficou super confuso quando eu mudei de repente meu jeito de agir e comecei a recomendar mangás pra ele.

Então, começou a relembrar suas memórias com o irmão, sem o menor traço de dor ou escuridão na voz. Ao assumir de coração o papel da irmãzinha boba e fofa, ela foi encurtando pouco a pouco a distância entre os dois.

Não tem… como eu culpá-los por isso…

Alisa pensou, fechando os olhos enquanto ouvia aquela lembrança tão luminosa e, ao mesmo tempo, dolorosamente doce. Sentiu vergonha — vergonha por, mesmo que só em uma partezinha de si, ter ressentido o fato de os dois esconderem a ligação forte que tinham como irmãos. Esse laço não era algo em que uma pessoa de fora pudesse simplesmente tocar. Na verdade, ela deveria se sentir grata por eles ao menos escolherem compartilhar com ela um vislumbre disso. À medida que aquelas emoções turvas e negativas foram se dissipando, substituídas por uma calma e doce ternura, Alisa abriu os olhos — bem a tempo de ouvir o fim da história de Yuki.

— E, aos poucos, o nii-sama começou a sorrir de novo, como antes… Fufu, sinceramente… olhando para trás, havia jeitos bem melhores de ter feito isso… — confessou Yuki, o sorriso se desfazendo aos poucos. Seus olhos se ergueram para o vazio acima, sua expressão tornando-se sincera, como se murmurasse uma prece. — Mas mesmo assim, eu… eu só queria que meu querido nii-sama sorrisse como costumava sorrir.

Era o mais puro tipo de amor. Uma torrente de sentimentos de tirar o fôlego, tão radiante que parecia quase divina. Ao presenciar aquele brilho, uma lágrima começou a escorrer dos olhos de Alisa.

Ou melhor, quase…

Pois, naquele instante, Yuki de repente abriu um enorme sorriso, apoiou preguiçosamente a bochecha no braço da cadeira com um thump, cruzou uma perna sobre a outra numa postura insolentemente relaxada e, lançando a Alisa um olhar de soslaio cheio de malícia, encerrou sua história com um ar de triunfo.

— E foi assim que eu nasci.

……

???

……

O que… acabou de acontecer?

Pensou Alisa, piscando repetidas vezes. Olhou para cima, depois para baixo. Sim, ainda lá estava aquele sorrisinho presunçoso.

Hããã???

…?

Ela abaixou os olhos, pressionou os dedos contra a têmpora e tentou compreender a situação.

Oh? Lágrimas? Ah, sim, sumiram. Assim, do nada. Instantaneamente. Puf. Evaporaram.

Uhhh… espera. O que está acontecendo aqui?

A súbita transformação da amiga a deixou tão atônita que seus pensamentos simplesmente não conseguiam acompanhar.

"Eu"? Espera… "eu"??? Não… eu definitivamente não ouvi errado, né? Certo…? Não, uhhh, hããã?

Quanto mais tentava processar aquilo, mais perdida ficava.

Até que…

Uma lembrança ressurgiu — algo que Masachika havia lhe dito muito tempo atrás.

"Ela não é exatamente essa dama recatada que parece ser à primeira vista. Ela só está te provocando, te deixando nervosa e se divertindo com cada segundo disso."

Além disso, havia o que a própria Yuki proclamara antes.

"Eu era uma encrenqueira terrivelmente arteira."

O que significava que… essa Yuki atual era a verdadeira… E a que Alisa pensava conhecer tão bem, esse tempo todo…?

— Será que tudo isso…

— Hm?

— Será que tudo isso… foi uma encenação?

As palavras escaparam de sua boca antes que percebesse. E, antes que pudesse se arrepender de perguntar, Yuki cruzou as pernas outra vez e sorriu com desdém.

— Exatamente…

— !

— E é isso, minha amiga, que me torna tão absurdamente adorável.

— ???

????????????

 

 

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