Volume 2 – Arco 6: Cruzeiro
Relatório 49: Poder, no Sentido de...
Biologicamente falando, seria normal perceber uma movimentação na área torácica de qualquer ser vivo ao buscar confirmar que ele estava respirando. No entanto, sequer esse movimento de expansão e retração podia ser observado pelos olhos cinzentos de Romanov.
Sua cabeça permanecia baixa, independente da força que fizesse para erguê-la. Na verdade, por algum motivo não sentia que seus olhos estavam de fato abertos. Um embaçamento dominava o canto dos olhos, e a reafirmação da falta de força para qualquer movimento apenas confirmou o fato de não estar exatamente “consciente”.
O que lhe mantinha vivo? Ele sequer era capaz de pensar. Tudo que via era um corpo enegrecido, cor e textura de carvão, além de um chão equivalente à uma pilha de cinzas. Se pudesse chutar, diria que estava em um cemitério, onde todos os cadáveres foram acumulados e queimados juntos numa enorme montanha de carne. Ele estava, agora, deitado sobre os restos desta.
Entre o crepitar de chamas e um incomum abafar do próprio ar, fora capaz de notar um som um pouco mais familiar.
Passos! Não apenas isso, alguém remexia blocos de concreto a alguns metros de si. Novamente não foi capaz de olhar, mas teve a sorte de que tal trabalho fora tomado por este misterioso terceiro.
— Um homem? Que azarado — lamentou, usando a mão branca para erguer com cuidado o rosto carbonizado. — É… Ele também está morto.
Não fora apenas com o olhar (ainda que isso fosse mais que suficiente para o veredito), ele conferiu a pulsação em todos os pontos possíveis, buscando a maior das confirmações. No fim das contas, era apenas outro entre vários cadáveres que já havia encontrado.
Ele se vestia inteiramente em branco, podendo ser até considerado um anjo. Mesmo com fuligem caindo como chuva por todos os lados, a sua roupa e a de toda a equipe que o acompanhava permanecia totalmente imaculada.
— Ei, você encontrou aquele ali agora? — perguntou outro que acabara de chegar.
— Hum? Ah, sim! Mas não adianta nem tentar, Sr. Alex, aquele ali já foi dessa pra melhor.
Ele não pareceu ligar, e se aproximou do cadáver mesmo assim. Todo o corpo era encoberto pelas roupas, mas, com dificuldade, era possível ultrapassar as lentes negras e enxergar um par de olhos azuis repletos de esperança.
A luva deslizou pelo rosto rígido de Romanov, permanecendo ali por alguns segundos. Os acompanhantes observaram o ato com uma curiosa ansiedade, mas não deu outra.
— É, esse aqui realmente está morto. Não teve absolutamente nenhuma reação. — Ele se levantou e voltou para o lado dos colegas. — E quanto ao hospital? Encontraram alguém?
Hospital? O cadáver ponderou. Sim! Por mais bagunçada que sua mente estivesse, tinha certeza de que havia algo pertencente a si naquele dito hospital! Não sabia o que, mas a sensação de perda que lhe atacava os braços naquele momento era a mesma que atormentou seu coração ao ouvir aquela palavra.
— Sim, acho que foi por causa da construção em si. Como as paredes eram extremamente rígidas, encontramos não apenas alguns médicos, como também alguns bebês ainda vivos.
Alex suspirou, aliviado. — Ótimo, priorizem os bebês. Eles devem receber atendimento o mais rápido possível!
Tal ordem avançou em todas as direções, inevitavelmente alcançando um certo corpo aparentemente inóspito de vontade. E indo contra essa tola suposição dos vivos, Romanov lutou contra aquela névoa esbranquiçada que dominava o canto de seus olhos.
Aos poucos, venceu aquele limitador com a ajuda de uma forma desconhecida (mas que definitivamente estava ali), e os sentidos gradualmente retornaram ao seu corpo (não era determinação, foi mais intrínseco, um Algo presente em seu ser desde os primórdios da existência). Sentiu cada poro em sua pele arder, o nariz foi inundado com o cheiro de sua própria carne assada e o curto movimento que seu dedo fez pareceu o suficiente para quase desconectá-lo da mão. Mesmo com tudo isso, ele focou suas forças no único órgão que importava naquele momento; que poderia decidir seu futuro. E então, uma voz quase robotizada suplicou:
Frieda.
O vento estava a seu desfavor, mas, quem sabe por sorte ou vontade do destino, uma brisa certeira tivesse levado aquele murmúrio cadavérico até os ouvidos mais certeiros que podiam ter escutado aquilo.
Contrariando o andar de seus colegas, Alex se virou na direção daquele boneco de carvão, que lhe encarava fixamente.
— Alex, algum problema?
Não! Ele respondeu totalmente convicto, caminhando novamente até aquela figura negra manchada por sua própria incapacidade.
Alex tocou-lhe o rosto, um toque tão vívido que foi impossível comparar com o de segundos atrás. Naquele rosto que ele mesmo ergueu havia força, uma que ultrapassava os limites do físico, e que fora motivo principal para a frase adicional do jovem cientista.
— Longe de um problema. Quem sabe… uma bênção!!
O objetivo foi cumprido com extremo êxito. E com isso, Guto despencou mais uma vez em suas próprias profundezas, capaz ainda de ouvir um último comando de Alex para os colegas, o qual não foi capaz de compreender muito bem, além da palavra Especial.
***
Seus olhos abriram lentamente. O som característico de um aparelho cardíaco logo ao lado confirmava que estava vivo, além da inexistência daquela névoa branca em sua visão.
— Ho! Você acordou bem rápido. Será que é por causa da minha presença aqui?
Romanov viu o médico que disse isso tomar distância. Em seguida, o profissional pediu-lhe que sentasse na cama, mas nenhuma ajuda fora oferecida por parte dele. Totalmente ciente da razão para a atitude do homem (não que a tornasse menos cruel), Guto esforçou-se para realizar o movimento que lhe pediram.
Nisso, notou que sua pele retornou ao normal — parcialmente. Não era mais carvão com fissuras revelando o interior ainda mais carbonizado. O tom negro natural retornou, mas algumas rachaduras ainda faziam presença, apesar de parecer que desapareceriam muito em breve.
— Onde eu estou? — Uma pergunta óbvia, cuja resposta o de jaleco tinha na ponto da língua.
— Num lugar seguro, é tudo que precisa saber — disse, tão ríspido quanto um General. — Qual o seu nome?
E ele esperava uma resposta tranquila depois de um tratamento desses? Guto fez questão de fingir demência. A expressão seguinte do médico, no entanto, deixou-lhe uma dúvida. Ele realmente pensou que seu paciente perdeu a memória ou algo assim ou entendeu a intenção real dele? O desgosto naquele olhar dizia que era uma terceira opção.
Um “Tanto faz” foi sua fala antes de papirar algumas folhas na prancheta e partir para outras perguntas.
— Você foi encontrado por nossa equipe à beira da morte. Nosso superior, Alex ThunderGold, virá falar com você em alguns minutos. — Encarou de canto, fingindo não desviar do papel. — Você possui algum parente próximo a quem possamos entrar em contato?
!! A exaltação que surgiu em todo seu ser foi evidente, como se tivesse levado um choque de repente. A respiração ficou pesada, o que impediu nos primeiros segundos que perguntasse, relutantemente, algo cuja resposta tinha medo de qual seria. Ainda assim, ele a fez:
— Frieda e Anastásia, essas pessoas também estão aqui!??
O médico deu outro passo para trás, estranhando aquela força que surgira do nada. Para ele, o motivo de tanta energia era mais que óbvio, e Guto já imaginava que obviedade era essa, mas ignorou ao ponto de esquecer que estava numa situação frágil.
Seu foco caiu na hesitação/tensão que aquele médico criou. Estava quase óbvio que ele não dizia por realmente não ter uma verdadeira intenção de responder, mas mudou de ideia depois de fitar a câmera no canto da sala por um breve momento.
— Eu não tenho essa informação no momento, ainda estamos fazendo os exames de sangue pra tentar descobrir a identidade dos que resgatamos. — Guardou a prancheta embaixo do braço e completou: — Mas, tirando você, todos que resgatamos hoje eram crianças ou bebês. Você foi o único adulto que encontramos.
O baque das palavras foi tardio, provavelmente por causa da barreira que o cérebro criou instantaneamente para impedir uma tragédia de acontecer no coração de Guto. E mesmo com um bloqueio em suas emoções, o baixar de sua cabeça foi o suficiente para o médico fazer todas as correlações necessárias.
Um sorriso sádico teve de ser disfarçado. — Não há previsões para encontrar adultos ainda vivos. Você deu sorte, apenas isso. Por acaso estava a céu aberto quando a bomba caiu? Se for o caso, eu sinto muito em dizer, mas qualquer um na mesma situação que você naquele momento provavelmente está morto agora.
Em todas aquelas palavras, era fácil dizer qual sentença ele removeria se não tivesse que fingir se importar.
— Nenhuma lágrima. Cacete, não sei se chamo isso de força interior ou total falta de empatia.
Se ele fosse escolher, provavelmente seria a segunda opção. Sempre foi, e sempre seria ela ao se tratar de um nativo de Sarmatia.
Lágrimas? Era óbvio que ele não as derrubaria, não na frente da alguém incapaz de encará-lo de outra forma que não fosse como a de um Homem para uma Formiga.
Com aquelas palavras, o médico deixou a sala, e por consequência; de ouvir as de Guto.
— Alguém como você não merece me ver chorar.
Eram poucos os que ainda detinham esse direito, isso, claro, se essas pessoas ainda estivessem por aí, usando suas forças mínimas para manter os pulmões funcionando.
Como será que as pessoas reagiriam ao vê-lo naquele estado? Só conseguia imaginá-las rindo internamente, escondendo esse humor sombrio com cenhos falsamente contorcidos, numa atuação tão ruim que chegava a ser ridículo o quão mínimo era o esforço colocado naquela fachada.
Cada lágrima que caía sobre o lençol branco espalhava uma negritude, uma doença de efeito rápido que aumentava seu espaço de toque conforme mais e mais gotas escorriam pelo rosto enrugado do homem. Pará-la? Se nem mesmo aquele que permitia sua proliferação era capaz de o fazer, quem mais poderia? Simplesmente não tinha como. Não havia sequer um motivo para parar.
Talvez assim fosse melhor. Deixar o mundo se tornar numa mancha negra parecia melhor do que permanecer ali, num ambiente já sem cor, dominado pelo preto e o branco acinzentado.
O tempo passou variadamente. Momentos pareciam dias, semanas pareceram instantes. No fim, não se passou mais do que cinco minutos no ambiente. E a razão para um tempo tão curto e ao mesmo tempo tão longo? Simples, pois todo aquele ambiente foi quebrado, não apenas pelo abrir da porta, como também pela própria pessoa que passou por ela.
— Yo~! Então você realmente acordou! Fico feliz em saber disso!
Aquele homem… Alex! Sim, era esse seu nome. Provavelmente era o mesmo Alex que ouviu e viu quando estava jogado nos escombros de uma construção qualquer. Os olhos azuis tinham a mesma sensação, na verdade, uma ainda mais forte agora que não tinha lentes escuras os cobrindo.
— Cara~, você tem ideia do quão feliz eu tô em te ver vivo! Sério, só te ver com os olhos abertos já tá me enchendo de expectativa!!
Não era só a expectativa que estava subindo…
— Ein, qual o seu nome? Eu sou Alex ThunderGold, apesar de que você já deve saber disso, né?
Guto não reagiu, se limitando a encarar o loiro com um rosto totalmente inóspito. A esse ponto, não haviam mais lágrimas escorrendo pelo rosto, apenas uma grande interrogação sobre sua cabeça.
O cientista rapidamente notou aquela confusão, se prontificando para continuar a conversa com um sorriso no rosto.
— Eu sei que você está confuso, e também imagino que você não queira falar comigo agora, mas eu meio que não tenho muito tempo sobrando, entende? — disse enquanto coçava a cabeça. — Pra falar a verdade, eu vim até aqui pra te fazer uma proposta.
A interrogação cresceu junto de um “Hã?” que acabou escapando. A única interação que aquele loiro havia tido com Romanov fora dizer que ele estava morto até alguns momentos atrás. As coisas estavam escalando um pouco rápido demais, não? Se bem que, com uma breve análise do cientista, seria fácil dizer que isso era uma ocorrência frequente.
— Sei que é repentino e tudo mais, mas vou direto ao ponto. — Seu olhar caiu na câmera do quarto por alguns segundos. — Você… Você tem um filho, certo?
A simples bufada que o homem deu fora interpretada como uma confirmação.
— Certo, eu não sei se é um menino ou uma menina, mas nem importa. Acontece que algumas coisas vão acontecer com todos os bebês que foram encontrados, coisas que estão um pouco fora do meu controle, e o seu filho com certeza estará envolvido.
Seus olhos arregalaram, só não saltando das órbitas por causa do franzir do rosto. Que tipo de aviso era esse!? E ainda numa hora e momento como esse! Se pudesse, até teria agradecido, mas com um soco na cara de Alex.
— Do que tá falando? O que vocês vão fazer com a minha filha?? — Seu olhar vidrou em Alex, mas nem por isso ele recuou.
— Isso eu não posso te contar. Porém, como eu disse antes, estou aqui para fazer uma proposta, e é exatamente sobre isso que ela fala.
Controlando aquela raiva que emergia dentro de seu ser, Guto confirmou duas coisas. A mais importante delas — e a que importava no momento — era que aquele homem, Alex, provavelmente seria o único a tratá-lo com o mínimo de humanidade. E com isso em vista, Romanov se esforçou para deixar as palavras entrarem em seus ouvidos.
— Eu preciso da sua ajuda. Existe uma certa coisa, um monumento, pra ser mais específico, que pode garantir a sobrevivência não só do seu, mas de todos os bebês que nós resgatamos.
Sobrevivência? Ele questionou. Fazia sentido. Se um adulto sobreviver a um evento daqueles já fora algo extraordinário, quem diria recém-nascidos.
— É, sobrevivência é o melhor termo que eu posso usar. Além desse motivo, eu não vou esconder que tenho um grande interesse num fenômeno que existe apenas em você, um nativo de Sarmatia.
Ah… Aquele suspiro foi apenas interno, mas a expressão provavelmente tornou-o audível para Alex. Era óbvio do que ele estava falando agora.
Instinto de Sarmatia, ou Instinto Sarmatiano. Era um fenômeno que, como o próprio nome dizia, assolava unicamente indivíduos cujos pais fossem descendentes diretos do povo original da Nação. Isso não era muito difícil, visto que o casamento com estrangeiros dentro daquela sociedade era algo raro (não repudiado, apenas incomum).
Agora, do que isso se tratava? Bem, até onde pesquisas revelaram, o padrão era aleatório. Vez ou outra, um Sarmatiano reagiria agressivamente contra um civil qualquer (mas nunca contra outros nativos), partindo para cima deste com intenções visivelmente violentas. Algumas testemunhas que já haviam cometido tais atos violentos alegavam que, no momento da agressão, o controle de seus corpos era tomado por uma força maior, como um instinto antigo.
— Eu tenho uma teoria que surgiu quando eu te conheci naqueles escombros. — Ainda que quisesse, Alex seria incapaz de conter o sorriso. — Eu acho que o Instinto Sarmatiano… tenha revivido você!
Um choque inicial abateu o homem. Reviver? Parecia algo totalmente absurdo, e realmente era! No entanto, tornou-se um pouco mais crível conforme Guto se lembrava da sensação do momento.
Talvez, apenas talvez, a morte fosse a explicação para aquela visão embaçada que tinha durante a situação. Era como se sua alma ainda se prendesse ao corpo por um motivo que desconhecia, uma força que a manteve dentro daquela casca carbonizada até o momento em que Alex se aproximou.
— Mas isso não faz sentido. O Instinto só me faz ser agressivo!
— Eu sei! É exatamente por isso que eu tenho tanto interesse em pesquisar! Ou por acaso você teria uma outra explicação?
Não, isso era exatamente o que ele mais queria também. Ainda assim…
— Mas como eu iria ajudar? Não sei se você percebeu, mas eu sou um cara normal.
Ante a pergunta, Alex deu um curto riso. — E você acha que eu sou o que, um Mutante? Eu não seria idiota de colocar alguém tão precioso como você numa situação perigosa sem o devido equipamento e treino.
Foi inegável, o interesse brotou no coração de Guto. Claro, sua racionalidade se manteve mais alta, pelo menos até que recebesse a resposta da seguinte pergunta.
— Equipamento? Está falando de eu me tornar um soldado do exército?
— Kahaha! Muito mais do que isso! — Ambas as mãos ficaram um pouco abaixo de seu próprio pescoço, como se cobrissem um item invisível ali pendurado. — Esses itens que eu tenho são capazes de ultrapassar a sua própria imaginação! Imagine só ser capaz de moldar as estrelas, criar montanhas, manipular líquidos, ou até mesmo… se comunicar com o Além!
Os olhos do Sarmatiano brilharam. A vontade de ser forte era algo que existia dentro do próprio ser humano, a vontade de alcançar a supremacia das espécies. Porém, ainda havia um motivador maior para aquele homem. De que forma isso ajudaria em sua situação?
Alex veio com mais de mil respostas na ponta da língua.
— Eu vou perguntar novamente. Eu sou Alex ThunderGold, e você é?
A fuga se mostrou não ser uma opção dessa vez. Portanto, ainda que hesitante, ele respondeu.
— Gu-Guto… Romanov.
Um sorriso satisfeito surgiu. — Eu sei pelo que sua raça passa, ou melhor dizendo, eu sei os problemas que esse Instinto causa pra você.
O semblante de Guto se contorceu. O Instinto Sarmatiano? Não se podia esperar boa coisa quando alguém que não era um nativo começava a falar sobre isso. O mais comum eram comentários “inocentes” de alguém que não entendia a situação, querendo saber como aquele fator funcionava e esse tipo de coisa. Parecia que falavam com um animal que acabara de desenvolver um pouco de consciência própria.
Porém, como com todas as outras palavras, Alex fora de capaz de fazer o paciente saltar da cama.
— Se você seguir as minhas instruções, tenho certeza de que será capaz de controlar esse Instinto dentro dos próximos dois meses.
O que?! Ao contrário do que Alex parecia pensar, o homem deu um salto na cama que quase fez sua cabeça bater no teto. Sim, entender e controlar aquele instinto era algo desejado, mas… tão rápido assim??
— Ma-mas… Como? Eu sei muito bem que as pessoas estudam esse Instinto, mas nenhuma delas descobriu algo sobre ele!
— Kahaha! Sim, disseram que não descobriram porque não foi eles que conseguiram, mas eu!
O queixo de Romanov foi ao chão, e uma vontade imensa de gritar contra Alex teve de ser contida. E, mesmo com aquela raiva e contemplação emergente, o cientista encontrou a brecha para jogar sua cartada final.
Hunf! Sua mão esquerda caiu em sua cintura, enquanto a direita foi para o alto, com o dedo indicador apontando para um céu filosófico.
— Poder! Essa palavra está inclusive no termo que nomeia esses itens! Com eles, não haverá nada que você seja incapaz de realizar! “Poder”, no entanto, Guto Romanov, não é apenas da forma que você deve pensar…
Alex gesticulava intensamente, na forma mais pura de um líder que coage aqueles ao seu redor. Suas falas, apesar de inicialmente soarem malucas, carregavam um outro fator de duas faces, isso era: Infantilidade!
Para qualquer um, isso poderia parecer estranho e até hilário. Que tipo de líder seria esse, que carregaria nas costas a ambição de vários que foram conquistados por palavras equivalentes às de uma criança? Mas era exatamente isso que o tornava em um GRANDE líder. Afinal, onde que a maioria dos sonhos encontrava seu início?
Exatamente! Alex ThunderGold não tinha a capacidade de alcançar adultos céticos, cuja mente já havia reprimido a habilidade de encarar o futuro otimista, e era esse fator que o tornava excepcional em encontrar e guiar pessoas cuja característica era a mesma que a sua. Aqueles que encontravam felicidade na busca dos sonhos de criança, que almejavam o que supostamente era impossível! Eram eles que iriam mudar o mundo, e, além disso, eles eram detentores do mais forte Poder!
— As pessoas podem ser divididas em duas categorias: Os que Fazem e os que Querem! Esse é o sentido do “Poder” que eu falo! Os itens que estão ao seu dispor lhe permitirão avançar como nunca antes pensou que poderia, mas… — Sua mão descendeu, parando num ângulo perfeito ao rosto do homem. — O sentido dessa palavra, apenas você pode decidir qual vai tornar definitiva!
Seus olhos brilhavam intensamente, luz essa que finalmente alcançou o vazio de Guto e trouxe de volta uma esperança para aquela íris acinzentada.
— É como dizem por aí. Se quer uma coisa bem feita, faça você mesmo, não é?
O coração do Sarmatiano bateu mais forte, fato esse evidenciado pelo aparelho cardíaco. Seu corpo ganhou uma energia repentina que não acreditava possuir até então e, antes que percebesse, sua mão estava a centímetros de agarrar a de Alex antes que, por fim, este fizesse a pergunta:
— Diga-me: Você Quer ou você Faz, Guto Romanov?
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