A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 2 – Arco 5: Laboratório

Relatório 41: Masmorra

Ele estava… enxergando-o!!? Mas como?? Até então, nenhum dos vários guardas ou câmeras pareciam ter conseguido capturar sua existência, então que motivo especial esse cara tinha para ser capaz de fazê-lo??

Alex analisou Hector da cabeça aos pés novamente, com um olhar mais que impressionado dominando cada centímetro de seu semblante.

— E-eu não esperava a sua visita hoje… Jo-Jonas!!

.  .   .  Hã??

O cartola imediatamente procurou qualquer crachá, mas não havia nada, literalmente nada que pudesse identificá-lo além de seu próprio rosto. Então… Alex estava o vendo com um rosto diferente? Esse por acaso era outro efeito do Fator B?

Não parecia importar, pois com uma rápida conferida nos arredores, Alex puxou “Jonas” para dentro apressadamente.

Assim que a porta se fechou, uma escuridão completa dominou os arredores, quebrada pelo acender de algumas lâmpadas ao final do que se revelou como uma escadaria em direção ao subsolo.

— Eu estou… realmente surpreso! — disse o loiro, suando frio. — Devia ter me avisado que vinha, pô! Agora vou ter que fazer um passeio improvisado com você!

— Passeio? — perguntou sem perceber, tapando a boca por instinto.

Sim! Respondeu Alex, que já demonstrava uma rápida recuperação dos efeitos da surpresa que demonstrava pouco antes.

— Esqueceu? Eu disse que te apresentaria o local de trabalho que vai ficar daqui pra frente. Essa é uma obrigação com os novatos, ainda mais sendo eu o líder dessa bagaça toda.

Hector ficou em silêncio, se dando o direito de apenas murmurar em concordância e dar risos sem graça quando achava necessário. Alex podia falar o quanto quisesse, mas a única coisa processada pelo cérebro do detetive ainda era o fato do líder ser capaz de vê-lo.

E quanto aos outros? Eles também o veriam agora? A habilidade desligou?? Só podia esperar para descobrir.

Alex guiou o rapaz até o fim das escadas, estas que davam num curto corredor e, por fim, na porta já aberta de um elevador. Eles foram até lá sem problemas. Hector, no entanto, não pôde deixar de notar uma estranha atmosfera emanada através daquelas fissuras nas paredes.

De todo modo, teve de ficar no encalço de seu guia. Dessa forma, entrou no elevador e, ao fechar das portas e o início da descida, aquela sensação lentamente desapareceu.

Alex iniciou: — Nós desceremos cerca de seis quilômetros para alcançar o início do laboratório, no entanto, a sala mais profunda que temos até agora se localiza a mais de quarenta quilômetros debaixo da terra.

O que mais impressionava não era a profundidade alcançada, na verdade, era até esperado para um planeta com aquelas proporções. O que mais surpreendia era imaginar o tamanho do tal laboratório em si.

Apenas o Continente Solum, de acordo com a última avaliação, continuava com a mesma área de superfície desde a sua suposta reformulação — 510.100.000 km². Pode até parecer muita coisa para apenas um pedaço de terra, mas quando foi visto por satélites do espaço, fora aí que a humanidade se sentiu como uma verdadeira formiga. Mais desesperador ainda fora a ausência completa de qualquer outro pedaço de terra naquele infinito azul, nem mesmo ilhas foram descobertas, independente de quantas navegações fossem realizadas.

O Mar de Botomêgamo, Pralas, Diobe, Saymir e, por fim, o Oceano Invertido! Apesar destes dois últimos serem apenas uma bela de uma interpretação geográfica do mundo, os outros cercavam Solum em uma formação triangular.

Mas Hector não estava interessado em geografia no momento, queria mesmo era partir direto ao ponto. Apesar da hesitação, Alex parecia realmente vê-lo como um tal Jonas, que diga-se de passagem parecia ser alguém bem importante. Então, partiu para a primeira de suas perguntas.

— Mas, Sr. Alex, o que exatamente fazemos aqui mesmo?

O loiro se empolgou, ganhando um sorriso antes de continuar a falar. — Experimentos de Aprimoramento!

— Claro, não apenas isso — Falava enquanto fazia mímica. —, temos também estudos de áreas gerais aqui dentro. Navios, aeronaves, carros, treinamento físico, testes químicos, tudo que você imaginar existe aqui. Agora você entende o motivo de ser tão profundo, né?

Navios? Tinha navios ali!? Como caralhos eles levariam isso pra superfície depois!?? Malucos, esses caras deviam ser malucos da cabeça, isso nem sentido fazia!

Mas independente disso, as respostas talvez estivessem prestes a chegar. Tim! O toque deu sinal para que a porta se abrisse novamente, revelando uma área completamente inédita.

“MAS QUE!!!” O queixo do cartola inevitavelmente alcançou o chão.

Uma área de proporções tão grandes que sequer era possível enxergar paredes ou teto, tudo era coberto por uma escuridão espacial. O chão era a única exceção, iluminado com leds enterrados que não atrapalhavam a movimentação de maneira alguma.

Parecia com uma pista de aeronaves subterrânea, mas não tinha local que aparentasse ser uma saída. Na verdade, aquela sensação que sentia antes atravessar as fissuras pelas paredes de metal, agora havia se tornado tão intensa que todo seu corpo era pressionado contra o chão de concreto.

— Ah! Tô vendo que tá com dificuldade de ficar aqui. Não se preocupa, vai passar em alguns segundos.

Alguns segundos se passaram com Hector respirando pesadamente, mas logo a advertência de Alex se provou real. O pesar em seu peito desapareceu, não completamente, mas o suficiente para permiti-lo caminhar sem muitos problemas.

Sua atenção logo caiu nos arredores. Pôde finalmente notar a enorme quantidade de pessoas que passeavam por ali. Todos vestiam o que deveria ser o uniforme geral, um conjunto de terno branco com uma gravata amarela. Havia apenas alguns pouquíssimos soldados trajando a farda camuflada.

— Alex — murmurou no ouvido do líder. —, que sensação era essa? Parecia que meu peito ia implodir.

Ao contrário da sutileza do cartola, o loiro arregalou os olhos e estampou um grande sorriso.

— Ah, aquilo? Preocupa não, todos que entram aqui pela primeira vez acabam sentindo. — Ele então apontou em direção ao vazio. — Você sentiu isso por causa dele.

Hector mirou aquela direção. Seu olhar focou, focou e focou um pouco mais. Assim que acostumou-se à escuridão o suficiente para enxergar alguns metros adiante, o cérebro pareceu retroceder no tempo para perder aquele costume no mesmo instante, em prol de sua própria sanidade.

Foi incapaz. Seus joelhos beijaram o chão antes que percebesse. Aquela imagem estava lá desde o início, observando todos fixamente. Não tinha certeza de sua forma devido à falta de luz, mas tinha certeza de que era colossal. A única coisa que se enxergava era um par de faróis esverdeados que brilhavam de vez em quando.

Se encarava ele? Era difícil dizer, as órbitas eram grandes demais, e a falta de pupilas tornava ainda mais complicado descobrir para qual direção estava focando exatamente.

Seu primeiro instinto era correr dali imediatamente, mas além de não ter qualquer direção certa para mirar, o risco dos outros serem capazes de percebê-lo também apaziguou aquele pensamento até que fosse engolido pelo limbo do subconsciente.

E falando em perceber, o medo que sentia antes de entrar naquela área se mostrou desnecessário.

— Sr. Alex, por que está conversando sozinho? — perguntou um dos passantes.

Escutá-lo, talvez, mas vê-lo estava longe de ser uma realidade. No entanto, o que mais impressionou fora a resposta do líder.

— Vamos ter uma visita em breve, então estou treinando para o tour. — O outro lado fingiu compreender, e então Alex se virou. — Simbôra, Jonas! Temos muita coisa pra ver ainda.

Para os outros, o sinal de mão foi direcionado para o absoluto nada. Bem, não passaria de outra das paranoias do líder. E ainda bem que eles pensavam assim.

Outra vez, a dúvida sobre a verdadeira capacidade daquele Fator B que sequer sabia o nome permeou sua mente e, como de costume, teve de ser jogada para escanteio ante a prioridade do momento.

Seguindo Alex por aquele terreno enorme enquanto fitava o gigante escondido nas trevas e, ao mesmo tempo, evitava trombar em alguém e fazer muito barulho, Hector se viu puxado por uma corrente invisível até uma nova porta de metal.

Apesar de parecida com um elevador, o abrir da passagem revelou um corredor totalmente distinto daquela área. O piso — assim como todas as outras partes do local — era composto por um metal esbranquiçado, levemente cinza.

“É aqui! Em algum lugar dessa instalação eu devo adquirir as informações que eu quero. O assassino que Victor está procurando, a explicação para a origem do veneno púrpuro…" Tudo deveria estar em algum lugar daquela instalação!

— Muito bem, vamos começar o tour então? — perguntou Alex, animadamente.

Bora! Era o que Hector gostaria de dizer, mas suas intenções eram outras. Se deixasse Alex levá-lo, provavelmente não passaria por lugares interessantes, vulgo, restritos. Precisava abandonar o loiro em algum lugar ou dar uma maneira para afastá-lo de si, nesse momento deveria se esgueirar pelos corredores e explorar o máximo possível. Mas… como faria isso?

Jonas!

De alguma maneira, Alex era capaz de enxergá-lo mesmo que seu misterioso Fator B estivesse, aparentemente, ativo. Não havia explicação para isso até o momento e, além disso, saber controlar essa habilidade era algo que Hector nem sonhava em conseguir no momento.

Jonas!

Deveria capotar Alex ali mesmo? Não, ele não mostrou hostilidade alguma até o momento, seria péssimo eliminar a única pessoa que poderia ser de alguma ajuda naquela situação. Entretanto, talvez fosse de fato o único jeito de adquirir o passe para andar livremente naquela instalação.

Jonas!!

!! Hector encarou, quase perguntando a razão de tantos gritos, mas fora impedido pelo próprio corpo.

Aquela reação, ou melhor, “atuação”? Não! Ele estava realmente confuso, dava para ler isso em seu semblante. Alex procurava de um lado para o outro com certo desespero, vasculhando desde o chão até o teto daquele corredor.

“É isso!!”, gritou em pensamentos.

O Fator B que ganhara ativou de maneira desconhecida. Agora, nem mesmo Alex era capaz de enxergá-lo.

“Minha chance! Essa… Essa é a minha chance!!”

Barulho? Isso não pareceu importar mais. Hector disparou como um jato pelos corredores, querendo afastar-se o máximo possível de Alex.

Ele podia até ser gente fina (na superfície), mas sabe-se lá que tipo de homem aquela figura poderia ser, ou pior ainda, os planos que tinha e que ninguém poderia imaginar!

Fugir foi uma escolha sábia? Quisesse ou não, Hector descobriria isso com seus próprios olhos, mergulhando cada vez mais fundo naquele oceano de metal e comprimido por aquela intensa e poderosa atmosfera de origem desconhecida.

 

 


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