A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 20: Dívida Familiar

Toby recebeu alta do hospital, como faltava pouco mais de um mês para o torneio, ele não demorou nem três dias para voltar a trabalhar no restaurante, mas quando chegou lá, algumas coisas haviam mudado.

— Uau, agora o bar tem uma placa, e tem até nome… — Ele olhou para a placa e leu o novo nome do bar — Achi’s?

— O meu pai se chama Bachi e eu me chamo Sachi, então somos os Achi’s! — disse o garçom, que estendeu sua mão com um avental com o novo nome do restaurante para o garoto com sardas vestir.

— Essa entrada parece tão tecnológica, quem que a fez?

— É o membro da minha equipe, Kido. Ele fez de presente por estarmos na mesma equipe, ele é bem legal, acho que vocês se dariam bem. — Sachi se encolheu perto do ouvido de Toby e sussurrou. — De noite o letreiro liga luzes de várias cores que eu posso escolher.

— Que daora! — Os olhos dos dois brilharam.

— Vamos trabalhar logo, seus vagabundos. — reclamou Ethan, encarando Toby após abrir a porta do restaurante.

— Ethan está ainda mais amargurado desde ontem, Golias veio até o restaurante de novo ontem de manhã e disse que hoje ele teria uma surpresa, desde esse momento ele tá super ranzinza, quer dizer… Mais ranzinza que comum. — explicou Sachi.

Os três entraram no restaurante e abriram o estabelecimento para o público. O primeiro dia de Toby no restaurante após o trauma que havia sofrido parecia comum, mas Ethan, não parecia estar muito bem, até que o primeiro cliente chegou.

— Olá, miseráveis. — disse um garoto, da idade dos garçons honorários. Ele tinha um cabelo azul marinho, uma pinta debaixo de seu olho esquerdo e uma roupa muito elegante.

— Quem é você? — perguntou Toby.

— O quê você está fazendo aqui? — Ethan olhou assustado para aquele garoto.

— Ele é Faust Rogers, o herdeiro do trono da família, do maior escalão dessa família esquisita. — sussurrou o garçom.

— Golias me disse que você agora trabalha aqui, e eu quis ver sua ruína pessoalmente. — debochou Faust.

— Você nunca saiu do sexto distrito, viria aqui só pra me ver por quê? — Ethan cerrava seus punhos tão forte que as unhas machucavam suas próprias mãos.

— Eu vim por que eu não preciso ser um cara forte, porque existe a parte secundária da família igual você e seu irmão que devem honrar o nome da nossa família em batalhas. Tipo o seu pai, ele morreu lutando e a parte boa de verdade da família ganha os créditos.

— E o que isso tem a ver? Não temos batalhas previstas.

— Temos, sim. — Faust abriu um sorriso obscuro. — O Torneio Nacional, você é o único representante da nossa família, então nós temos uma ordem para você.

— Qual seria? — Sangue começou a pingar das mãos de Ethan.

— Você tem a obrigação de ganhar esse campeonato, a única exceção é Blair Morgan. Ela é a única pessoa que se vencê-lo, nós não vamos tirar o direito de dois da mesma família secundária viverem sob nossa custódia.

— Como assim? Vocês estão dizendo que se eu perder pra qualquer pessoa que não seja a princesa eu vou ser expulso da família? Onde eu vou morar?

— Isso não é problema meu, nem seu, se não passar vergonha e perder para um plebeu ou estrangeiro nojento. Você será o único nobre junto da princesa nesse torneio. Honre o nosso nome.

— Eu vou… — Ofegante e assustado, Ethan encarava o chão com os olhos arregalados. — Eu vou cumprir essa ordem.

— Como-

— Não se intrometa, esse assunto não podemos nos meter. — sussurrou Sachi, enquanto tampava a boca de Toby.

— Mas nem tudo são coisas ruins, Ethanzinho. — Faust levantou o dedo indicador na altura de seu rosto. — Se você conseguir vencer a princesa, nós vamos o aceitar como parte da família primária. Assim o acordo de servidão será desfeito.

Ethan ficou surpreso, ele não esperava ouvir aquilo.

— Então, se eu vencer a princesa e não perder para nenhum plebeu, toda a tradição da nossa família poderá acabar?

— Sim, e tudo depende de você. Essa é a surpresa que o Golias queria te contar. — Faust se virou e andou para a saída. — Agora vou embora, essa espelunca não deve nem ter uma água com gás.

Quando Faust saiu do restaurante, Ethan percebeu que estava sangrando e correu para o banheiro. Sachi e Toby viram lágrimas caindo do rosto do loiro enquanto ele corria, foi a primeira vez que o garoto com sardas teve contato com outra face de Ethan.

— O que é a família primária e secundária? O que é isso?

— O Ethan me contou enquanto você estava internado. O bisavô de Ethan teve dois filhos. O mais velho, Charles Rogers, que é o avô de Ethan e Zane. O outro era George Rogers, o avô de Golias, Faust e outros Rogers .

Abel…, pensou o menino com sardas.

— Charles fez um acordo e entregou seu corpo a uma maldição, e começou a cometer crimes hediondos movidos ao ódio. Ele só conseguiu ser exorcizado pelo seu irmão, George, que tinha poderes incomuns. Dizem que era o mesmo poder de Abel, o poder de controlar as pessoas com as palavras, mas é apenas um boato.

— Só por ter salvo? A razão toda foi essa?

— Não. Charles não tinha mais contato com nenhuma maldição, mas um poder de luzes que era medido pela raiva ainda existia dentro dele. Por ser forte e muito grato, ele prometeu que sua parte da família sempre protegeria a parte de George. Mas o que ele não esperava era que o seu irmão fosse um tirano, que criou um acordo em um contrato que se alguém da parte de Charles fosse contra a de George, ele seria expulso da família e não poderia mais morar aqui em Solária.

— Isso é nojento, por isso Ethan aceita tudo calado.

— É pior do que você imagina. Charles um dia se revoltou e tentou matar George, ele não conseguiu, mas foi o bastante para ser criado um novo artigo no contrato.

— E qual foi?

— Se qualquer membro da parte de Charles ferir, mesmo que de forma mínima, um membro da família George, o governo da cidade terá que acatar a pena de morte, e assim que Charles morreu.

— Então ele tem que aceitar tudo, ele e Zane cresceram com essas coisas, isso é tão nojento. 

— Ele vai fazer de tudo pra vencer esse campeonato depois dessa conversa, o ódio pela família de George vai o mover. Já que o poder dele é herdado de seu avô, o ódio das luzes.

Tanto Natsumi, quanto Ethan. Eles também tem grandes problemas e não tentam convencer a todos que são boas pessoas, eu queria ser mais como eles, pensou Toby.

O dia do expediente continuou e nenhum percalço ocorreu, apenas um silêncio sem provocações que chegou a ser constrangedor pairou no ar.

Quando Toby estava saindo do seu dia de trabalho, um carro bonito e com vidros escuros parou em frente ao garoto com sardas.

— Entra.

— Não, acha que caio nessa?

O vidro do carro abaixou.

— Entra logo — disse Zane, com o vento batendo em seus cabelos azuis escuros.

— Certo! — Toby entrou no carro.

Antes de dar a partida no carro, Zane trocou olhares com seu irmão mais novo.

Durante a viagem de carro, Toby apenas ficou observando a cidade pela janela e dando alguns olhares de confusão para Zane.

— Quartas e Domingos — exclamou Zane.

— O que tem?

— São os dias do seu treinamento, hoje é um domingo.

— Então vamos começar meu treinamento?

— Sim, mas hoje eu só quero te explicar algumas coisas, então vamos para uma reunião.

O carro para na porta da casa de Toby.

— Você me trouxe pra minha casa? Esperava um super centro de treinamento. — disse o menino com sardas, saindo do carro.

— Boa noite meu filho, como você está? — gritou Naomi, fingindo surpresa.

— Estou bem mãe, como está suas mãos?

— Melhores, da próxima vez eu tento não cair e ralar ela… hahaha — Naomi desviou o olhar com seu sorriso falso.

— Boa noite, Sra. Naomi, eu vim criar o mapa de treino do Toby no próximo mês, os últimos 30 dias que precedem o torneio, que vai acontecer em novembro.

Zane e Toby se sentaram na mesa de jantar enquanto a mãe do garoto estava sentada no cômodo do lado assistindo à novela.

— Certo, Toby. Como sou seu mentor eu tenho que reservar dois dias da semana para te treinar, assim como nos outros cinco dias da semana eu cuidarei de Blair e Drake. 

— Mas sobra um dia.

— Eu também tenho que descansar. — Ele mostrou dois dedos para Toby. — Mas seria bom você achar um segundo jeito de treinar, nos dias restantes. Helena treina a equipe dela, mas como mora com a Blair, consegue dar o segundo treinamento para ela. Karen é uma professora de espadachins, então também consegue treinar Drake em casa. Já você…

Hahahaha, esse personagem é muito engraçado! — gritava Naomi, vendo a novela.

— Minha mãe não é muito de luta.

Se você soubesse…, pensou Zane.

Uma lembrança tomou conta dos pensamentos de Zane.

— Não conte para o meu filho que fui a Guardiã do Fogo da primeira formação dos Guardiões. Ele só pode saber quando já estiver controlando seus poderes. — exclamou Naomi, na porta do quarto que Toby estava no hospital.

— Mas por quê?

— Se ele souber disso antes de se controlar, isso vai o deixar ainda mais sem controle com as emoções, podendo ser empolgação ou até uma pressão em cima dele. Então eu quero que você o prepare para esse momento, Zane — explicou Naomi.

— Então vou ter problemas com o segundo treinamento dele.

— Eu ouvi ele me dizendo uma coisa, no dia anterior ao dia dos namorados que aconteceu aquilo.

Zane voltou a atenção com a conversa com Toby.

— Fiquei sabendo que você acha que pode usar o poder de suporte dos Yukiyama para aquecer seu corpo.

— Eu pensava isso quando ainda podia usar fogo, agora eu já não sei… Mas um menino desse país aí disse que me ajudaria.

— Vamos tentar dominar essa técnica, você tem que achar o garoto que disse que ia te ajudar e torná-lo seu segundo treinamento.

— Já que ele prometeu que ia me ajudar, isso faz sentido. Mas ainda é um poder de suporte, o que vai mudar em questão de ganhar o campeonato?

— Antes de aceitar ser um mentor, eu queria apenas ajudar a Helena a fazer a Blair ter outra pessoa para treiná-la. Mas você e Drake também chamaram minha atenção.

— Eu chamei sua atenção?

— Sim, desde o começo pensei que você seria um fracasso, já que é uma pessoa comum.

— Que coisa linda de se dizer. — encarou.

— Esse vai ser o seu maior treinamento deste mês.

— Qual?

— Você vai continuar sem ver Blair e Drake. Você vai conviver apenas com eu e meu irmão da nobreza, os outros todos serão pessoas que não são extraordinárias como a princesa ou Drake. Apenas pessoas comuns, como você.

— Eu não sou comum!... Eu sou sim, né? — indagou, decepcionado.

— Eu também sou uma pessoa normal, mas eu treinei o bastante pra me considerarem de elite. Você queria nascer com o sangue real ou com o dom das Excaliburs? Que tipo de pessoa que quer impressionar as pessoas é você? 

— A vida seria bem mais fácil, não é?

— E qual graça teria? Você acha que a Blair tá animada pra vencer isso ou ela acha que é uma obrigação? — Zane apontou para o menino com sardas. — Você está no posto mais confortável agora, ninguém espera nada de você, é por isso que você pode impressionar a todos e vencer isso. Seria grandioso, não seria?

— Seria! — Toby se empolgou.

— Eu vou te treinar para que você consiga controlar seus poderes, Toby Burn. Se você conseguir controlá-los. Só vai precisar usá-los da maneira certa para chegar longe. 

— Certo! Eu tenho que ser eu mesmo, assim meus poderes podem voltar, foi o que o porta-voz das minhas chamas me disse quando eu estava internado!

Ao ouvir aquilo, Naomi virou para o garoto e se assustou com o que ouviu, ela não esperava.

— Se ele disse isso, então já temos nossa primeira missão de treinamento. — afirmou Zane.

— Temos? Pensei que seria o poder suporte de Yukiyama.

— Mate o Pseudo Toby. Suma com ele. — exclamou Naomi, enquanto Zane abriu um sorriso.



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