A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 18: Dia dos Namorados

Era um dia lindo na cidade de Solária. O céu estava completamente azul, não havia uma nuvem sequer.

Zane e Helena entraram em um restaurante de gala, no sexto distrito. Os dois estavam vestidos formalmente para o encontro e caminharam até a mesa, onde Zane puxou a cadeira para Helena se sentar e assim fez. Após os dois estarem sentados frente a frente, a mentora encarou o nobre.

— Qual a sua intenção me trazendo pra um almoço de gala no dia dos namorados? — encarou.

— Err… Nenhuma! Eu apenas queria conversar com você sobre trabalho — desviou o olhar e com seu rosto vermelho perdeu completamente sua postura. — Hoje é dia dos namorados, é? Nem sabia. 

— Se queria conversar sobre trabalho, poderia ter me levado pro restaurante do meu tio. Seu irmão já está trabalhando lá mesmo.

— Não! Tinha que ser aqui… E meu irmão não ia querer me ver lá onde ele trabalha.

— Acho fofo o quanto você se importa com seu irmão, mesmo ele não sendo fácil de lidar.

— Acha? — O rosto corou.

— Já que estamos falando sobre trabalho, eu queria te contar algo que você vai se interessar, já que é sobre um membro de sua equipe. — Ela começou a rodar a taça de vinho. — Conversei com a Sra. Burn ontem, ela me disse que o Toby não morreu queimado no pântano apenas por estar conseguindo lidar com suas emoções.

— As emoções o curaram?

— Não, ela apenas aumentou a resistência do corpo dele com o próprio fogo. Ele ainda está muito machucado, mas não aparenta, por estar estável mentalmente. Agora que já se passou um tempo, as queimaduras devem estar realmente sumindo — explicou a mentora, que virou o vinho em seguida.

— Mas então, o que acontece se ele perder por agora a estabilidade dos sentimentos, e se as emoções dele saírem do auto-controle?

— As feridas vão voltar a ser fisicamente visíveis, o que pode o matar. — Ela olhou com um olhar sério. 

Zane olhou assustado para Helena, que abriu um sorriso.

— Mas relaxa, ele está trabalhando agora, não tem muito tempo para pensar em sentimentos. E agora que estão sumindo, apenas um descontrole muito grande complicaria tudo. — Ela tomou outra taça de vinho. — E são poucas as emoções que podem ser tão fortes ao ponto de destruir ele assim.

— Isso é meio preocupante, hoje é um dia estranho para isso. — Zane coloca a mão no queixo e olha pro nada enquanto pensa.

— Por quê?

— Nem todas as fortes emoções se baseiam em ódio, tem um tipo de emoção que no dia de hoje pode o destruir.

— Qual seria?

No restaurante do Pai de Sachi, no terceiro distrito. Ethan e Sachi terminaram de montar a decoração do dia dos namorados.

— O amor é lindo e belo, Ethan! Hoje irei ver o meu amor! — gritou o garçom.

— Por isso está de terno?

— Sim! Hoje Kaya virá aqui me visitar e vamos almoçar juntos! — ajeitou a gravata borboleta.

— Você deveria usar isso todo dia, parece mais um garçom. — Ele olhou para todos os lados do restaurante, procurando algo. — O Toby não vem hoje?

— Não, o amor também sorriu pra ele hoje! Por isso, dei folga pra ele sair com a Natsumi. 

— Natsumi? Ela aceitou sair com ele no dia dos namorados? — se assustou.

— Por que a surpresa? Tenho certeza que eles devem estar se divertindo horrores. — disse, até que viu Kaya e Ben entrarem no restaurante. — Kaya, meu amor! Você veio me ver!

Sachi ficou conversando apaixonadamente com Kaya, que parecia se divertir com o jeito engraçado do garçom. Ben foi completamente ignorado e andou até Ethan e o cumprimentou.

— Você ficou sabendo que a Natsumi foi sair com o Toby hoje?

— Quê? A nossa Natsumi?

— Sim.

— Isso é estranho demais, ela nunca falou do Toby de uma maneira diferente, sempre foi com o mesmo desprezo que ela fala de todos…

— Isso que eu estou pensando.

— Você está preocupado com o Toby, é?

— Nunca, eu estou é com a Natsumi, devem ter ameaçado ela pra aceitar uma coisa insalubre dessa!

— Você é engraçado, hahaha. — Ben desviou o olhar. — Eu tinha vindo aqui pra agradecer o Toby por me ajudar a despertar meu poder, agora estou conseguindo treiná-lo.

— Vai ser bem importante mesmo, não quero ninguém da minha equipe passando vergonha.

— Eu vou ganhar!

— Aí já está querendo demais, pra isso vai ter que me vencer!

Os dois sorriram.

Em um parque, no quinto distrito, Toby estava sentado em um banco, ao lado de Natsumi. Eles pareciam estar há minutos sem proferir uma palavra.

Fala alguma coisa, idiota! Ela está bonita e você só deu “oi” até agora!, pensou o garoto de sardas.

— Você…

— Eu vou ao banheiro, já volto! — saiu correndo.

O garoto com sardas não parava de balançar as pernas, sua ansiedade era notável. A sua queimação no estômago estava presente desde a noite anterior quando ela aceitou o encontro por mensagens.

— Olá. — disse Shitzu, parada na frente de Toby.

Aaaah! Que susto, eu não notei você aparecendo aqui. Olá! 

Não estou prestando atenção em nada, eu vou enlouquecer, pensou Toby.

— Você planeja deixar de participar do Torneio?

— Por que essa pergunta? Não planejo não. — respondeu confuso.

— Certo então, se você não estiver no dia da primeira fase, eu mato você e essa menina que foi ao banheiro, adeus. — saiu andando calmamente, enquanto Toby estava com os olhos arregalados.

Natsumi voltou do banheiro e sentou-se novamente ao lado de Toby, o silêncio tinha voltado.

— Toby, o que você acha de….

— Acho linda! — interrompeu antes dela terminar a frase.

— Você acha a vidente linda?

— Quê? Não! Eu acho você linda! — disse tão naturalmente que quando percebeu o que havia falado, todo seu corpo esquentou de febre.

— Obrigada… Vamos ver a vidente então?

— Vamos! — Ele segurou na mão dela e a puxou.

— A vidente fica pro outro lado.

— Certo! — Ele trocou de direção.

A mão dele está realmente quente, acho que faz parte do poder que ele tem, pensou a menina de cabelos castanhos.

Os dois entraram em uma tenda bem escura, que tinha apenas uma luz, saindo de uma bola de cristal em uma mesa. Uma senhora estava sentada passando as mãos em volta do objeto brilhante.

— Sentem-se!

— Certo! — disseram os dois.

Ela pegou uma das mãos de cada um e fechou os olhos.

— A gente nem disse nada ainda.

— Eu previ que vocês viriam aqui, ver o seus futuros.

— Ela é boa mesmo.

Como que ele caiu nessa…, pensou Natsumi.

— Eu vejo vocês juntos, em um futuro bem próximo. Vocês estão juntos vendo uma esperança nascer. É como se existisse alguém que pudesse salvar esse mundo.

— O quê?

— Ela deve estar falando da Blair. — disse Natsumi.

— Não, é alguém que vocês ainda vão perceber que tem esse potencial, é parte da missão de vida de vocês, ajudar essa pessoa a trilhar esse caminho. Vocês são pilares dessa pessoa.

Os dois se olharam.

— Tem mais alguma coisa?

— Talvez tenha e talvez não tenha, se pagarem mais talvez eu veja…

— Eu quer-

— Vamos embora, Toby. — Ela puxou o garoto para fora da tenda.

— Apenas uma última coisa antes de irem, o universo me pediu pra mandar uma certa mensagem para um de vocês, ou talvez os dois. — Ela apontou para o casal. — Pare de viver essa mentira, você tem que falar o que quer de verdade!

Natsumi se assustou com a frase e continuou carregando o garoto com sardas para fora.

Os dois continuaram andando pelo parque, com um típico encontro de casal, Toby ao mesmo tempo que estava ansioso, também curtia bastante estar com a pessoa que gostava nesse dia especial.

Juntos foram para uma loja de roupas e um provava roupas que o outro escolhia. Andando mais um pouco, eles passaram em uma lojinha e Natsumi comprou uma pulseira preta para Toby e ele comprou uma laranja pra ela, com a explicação que o laranja combinava muito com ela.

Horas depois, já no entardecer, os dois estavam soltos e conversando sem algumas travas da mente, por mais que Toby ainda estivesse muito ansioso. Eles decidiram ir para o banco da praça novamente, acompanhar o lindo entardecer.

— Hoje foi muito legal. — disse Toby.

— Foi mesmo, não achava que você seria até que legal.

— Obrigado, eu acho?

— Toby, eu tenho uma pergunta pra você.

— Você gosta de mim, não é? — perguntou Natsumi, com seu rosto corado.

A ansiedade dele novamente estourou novamente e ficou sem jeito.

— S-sim! — falou alto, sem notar o tom de voz que a palavra saiu.

Ela fechou os olhos e se esticou, até que deu um beijo no garoto com sardas. Ela rapidamente já se afastou e desviou o olhar.

— Você gostaria de namorar comigo?

— Sim…

— Então você faria de tudo pra isso acontecer?

— Claro que sim!

— Você deixaria de participar do torneio se eu te pedisse?

Toby se assustou com aquela pergunta, naqueles poucos segundos de silêncio, ele lembrou da ameaça de Shitzu e se perguntou como as duas coisas se interligavam. Ele também lembrou da frase da vidente e em como foi repentino a mudança de Natsumi para com ele.

Naquele instante, Toby já sabia que tudo daquele dia não era verdade, ele já tinha entendido. Mas não queria acreditar.

— Eu já volto. — Ele saiu correndo até o banheiro.

Sentou-se no vaso com a tampa fechada.

Por que esse assunto sobre eu participar do torneio agora? Por que ela não quer que eu participe? Será que ela se importa comigo? Mas isso é muito do nada, não faz sentido, eu não sou alguém importante pra ela não querer que eu participe, pensou o garoto de sardas.

Ele decidiu que tudo aquilo não fazia sentido, que ela não faria maldade e que era apenas uma brincadeira. Quando ele ia voltando, viu Natsumi aos prantos na frente de Zane e Helena.

— Ela me obrigou a passar esse dia como se fosse namorada dele, eu não queria isso, mas ela disse que minha equipe inteira seria eliminada do torneio, e mesmo tentando, eu não consegui fazer ele desistir, eu não quero deixar de participar, eu não aguento mais os nobres fazendo essas coisas terríveis. — exclamou Natsumi.

Ouvir aquilo congelou o garoto, que a presença tinha se tornado tão nula que ninguém o notou.

— Eu não vou deixar ela fazer isso contigo, pode deixar comigo. — disse Helena.

— Você sabe onde o Toby está? É urgente. — perguntou Zane, preocupado.

— Aqui. — sussurrou o garoto.

Os três viraram assustados para o garoto. Toby não havia notado ainda, mas diversas manchas de queimaduras expostas apareceram em seu corpo, ele não conseguia mais sentir nada, apenas viu o chão se aproximar e um escuro tomar conta.

Zane e Helena correram para socorrer o garoto. Quando Natsumi viu o que ocorreu com o menino, ela percebeu a razão da dona do terceiro distrito a enviar para fazer aquilo. Ela olhou o garoto em estado grave na sua frente, viu que a culpa era toda e somente dela, mas não conseguiu se mexer nem um pouco, ela não esperava que aquilo fosse acontecer. Esse dia inteiro nunca foi esquecido pela garota, era algo que ela lembraria para toda sua vida.

Toby acordou várias vezes durante uns momentos embaralhados em sua mente. Ele viu que estava na cama de hospital, que Drake e Blair foram o visitar, sua mãe chegando assustada e também viu que Zane não saiu do lado de sua cama em nenhum instante de todas as lembranças.

Em um dos momentos que acordou, o garoto com sardas viu que Zane estava do seu lado, junto de Ethan e Ben, que tentava usar seu poder para ajudar na recuperação.

— Já faz quatro dias, será que ele vai conseguir melhorar? — perguntou Ben.

— Não faço ideia, ele está bem instável. Kaya fez algumas sessões de curas com os outros médicos, mas as queimaduras são tão fortes que não se curaram. — respondeu Zane.

— Essa droga que ele ingeriu era forte demais, eu fiquei assustado que ele estava bem e ao mesmo tempo estava morrendo por dentro. — exclamou Ethan.

— O médico disse que mesmo instável, ele não vai morrer.

— Então ele ainda vai conseguir participar do exame, não vai? — indagou o garoto de cabelos escuros, com a luz verde de seu poder saindo de suas mãos.

— Sim, mas tem um grande problema. — Zane olhou para Toby, que já havia perdido a consciência novamente. — O núcleo dele já era danificado, com o uso da droga e a recaída das emoções, o médico disse que é capaz dele nunca mais conseguir usar as chamas de novo.



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