A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 17: Estrangeiros

Dentro do castelo de Solária, que fica no sétimo distrito, a assembleia fazia uma reunião.

— Bem-vindos, senhores. Convoquei essa reunião para falarmos sobre o Torneio Nacional que se iniciará em menos de dois meses. — disse Adder, sentado na ponta da mesa.

— Caro dono do sétimo distrito, nós temos mesmo que fazer uma reunião sobre isso? Esse campeonato acontece todo ano. 

— Não seja burro, Martin. Esse é o primeiro torneio em que Blair irá participar, temos outra chance de nos livrarmos dela. — exclamou Bertha, proprietária do terceiro distrito.

— Ficar convivendo com pobres do primeiro distrito está te deixando cada vez mais burro, Martin! — debochou Golias, possessor do quarto distrito.

— Adder, ainda não conversamos sobre a vergonha que foi o plano do diabo, aquela maldição da Cuca era patética no fim. — reclamou John, o dono do quinto distrito.

— Não deixamos provas algumas, eu fiz contato com o criador das maldições e ele mesmo queimou o arquivo. 

— Mas Helena, Harry e Zane estão ainda mais desconfiados dessa corte. Como um mentor da idade deles, eu os vejo com muitas dúvidas. — disse Gordon, filho de Adder e o responsável pelo sexto distrito.

— Se acalme, filho. Esses três não importam nem um pouco, são apenas peões.

— Se o Zane resolver dar problemas, me avise que tudo será resolvido. Ele e o irmão miserável tem o nosso nome, mas comem nas mãos da ala nobre. Consigo mudar qualquer coisa sobre eles.

— Bom saber. Mas enfim, eu os chamei nessa reunião hoje para dizer sobre uma mudança de planos que tive sobre o torneio. Antes o plano era apenas manipular os sorteios para que Blair chegasse o mais cansada possível até a final. Mas está óbvio que isso não impediria sua vitória. — explicou.

— E o que você quer propor?

— Com base em estudos, cheguei a conclusão que existem apenas uma pessoa que é capaz de vencê-la. — exclamou Adder, que chamou a atenção de todos com a fala. — Drake Excalibur é o único que pode igualar com ela, neste momento. E isso é decepcionante.

— O filho do Excalibur, ele realmente pode ser forte, mas ainda não seria o bastante pra ela. — explicou Gordon.

— Por isso, eu convidei pessoas de outros países do continente. Yukiyama e Poor.

— Dois países minúsculos que são mais pobres que nós, qual o lucro que eles podem nos dar? — perguntou Bertha.

— As equipes de países estrangeiros têm coisas que nos farão testar Blair ao limite. Temos chances reais de fazê-la ser derrotada. — ele abriu um sorriso amedrontador. — Mas, particularmente, quero que ela vença. Não tem como sairmos derrotados de tudo isso. Dessa vez, ela estará longe daqui em pouco tempo.

— Se você quer que ela vença, porque quer que estrangeiros pisem no campeonato?

— Se ela for derrotada por alguém, pode desistir de vez de ser a princesa. Mas é muito pouco provável. — Adder abriu os braços. — Mas, se ela vencer após enfrentar estrangeiros incríveis, eu garanto que se alguma universidade a admitir, ela vai embora.

Todos novamente viraram assustados.

— Mas só estrangeiros não servem, por isso convoquei vocês. — Ele apontou para o dono do quarto distrito. — Golias, force que Ethan chegue o mais longe possível pra não manchar o nome da nobreza, ele é o único nobre além de Blair que é capaz de chegar longe, o pressione para não passar vergonha.

— Certo. Farei o miserável se matar para chegar o mais longe possível.

— E para você, Bertha. Tenho um plano que matará dois coelhos em uma cajadada. — olhou para a dona do terceiro distrito com muita seriedade. — Ameace Natsumi para que ela faça coisas sujas para nós, sem que saibam que somos nós. Ela é uma pessoa de caráter, então você deve a ameaçar e manipular. 

— Certo, mas não é só isso né. — abriu um sorriso sádico.

— Você é tão maldosa, hahaha. Chantageie Natsumi Kageyama para tirar Toby Burn do campeonato, pois ele é uma grande ameaça para o nosso plano.

— Como esse fracote poderia ameaçar nosso plano?

— Blair começou a ignorá-lo, para que ela e ele fiquem fortes, mas quando se encontrarem na fase final, Blair ainda vai estar apegada ao garoto, isso pode fazer ela desistir de ir para longe. Por isso, temos que afastar os dois de vez, e eliminando o Burn cedo, ele não terá contato com ela por um bom tempo.

— Que desgraça, era melhor que o plano de matar ela por outras mãos funcionasse, fazer tudo isso agora é tão trabalhoso. — reclamou Martin.

— Não exclua essa possibilidade. Tenho um contato que me indicou essa equipe de Poor que pode me garantir que uma das crianças tem forças para não só vencer Blair, como também matá-la.

Um silêncio tomou conta do lugar.

Duas semanas se passaram desde que Ethan e Toby foram obrigados a trabalhar no restaurante de Sachi, um garoto de pele negra e cabelos escuros raspados nas laterais. 

— Você ficou sabendo? A princesa foi derrotada por uma maldição e perdeu um olho! Se não fosse Helena, a futura rainha poderia estar morta agora. — conversavam dois clientes na mesa que Ethan estava anotando pedidos.

— UMA PORÇÃO DE BATATA FRITA COM CHEDDAR! — gritou o loiro.

— JÁ TÁ PRONTO, VEM PEGAR! — respondeu Toby, no mesmo tom.

Ethan se aproximou do garoto de sardas, pegou o prato, mas ficou olhando para ele.

— Tá olhando o quê? Se apaixonou?

— A Blair tá caolha mesmo?

— Não sei, não falo com ela há semanas, mas quando eu vi o olho parecia ter ido dessa pra melhor mesmo.

— Será que isso deixa ela mais fraca?

— Duvido. — Toby pegou outro prato e saiu para servir outra mesa.

Quando ele estava chegando com o prato, alguém entrou no restaurante completamente ofegante.

— Fujam! O demônio feio de Poor está aqui! — O homem causou um alarde gigante, onde todos os clientes acabaram saindo correndo.

— E lá se foi nosso dia trabalhado. — disse Sachi.

— Os pobres tudo fugindo pra não pagar. — exclamou Ethan.

— Quem é esse demônio feio? — perguntou Toby.

— Dizem que é uma pessoa muito feia, que assusta como um demônio. — disse Sachi, causando uma gargalhada muito alta de Ethan.

— Nossa, sério? Não imaginei.

Hahahahahaha!

— Bom, eu vou pro meu intervalo, arrumem as mesas que eu vou ver se acho esse demônio feio. — exclamou o menino com sardas, abrindo a porta do estabelecimento e saindo.

Enquanto estava andando pelas ruas do terceiro distrito, Toby notou que a rua estava completamente vazia, todos estavam com medo do tal demônio feio. Ao andar mais um pouco, ele viu dois garotos conversando.

— Todos se assustaram mesmo com a gente, essa cidade é muito preconceituosa.

— Por isso a gente tem que quebrar a cara do primeiro que a gente ver sendo preconceituoso.

— Olá — disse Toby.

— Olá, quem é você?

— Eu sou Toby Burn, e vocês?

— Sou Orochi e esse é o Clark, não temos sobrenome.

— Vocês viram o demônio feio que todos estão dizendo por aí?

— Desgraçado! — Os dois pulam em cima de Toby para o agredir.

— Deixem ele. — Uma menina apareceu.

— Mas ele falou demônio feio!

— Ele só replicou o que ouviu, e não tenho problema de ser chamada assim.

— Espera… É você? — Toby levantou depois dos garotos saírem de cima e ficou observando aquela garota.

Ela tinha longos cabelos pretos com uma mecha roxa, uma franja e sua pele tinha traços indígenas. Ela usava apenas roupas e acessórios pretos. Toby ficou encarando e a julgando por cerca de dez segundos.

— Ei, se você falar mal da minha irmã eu quebro tua fuça! — ameaçou Orochi.

— Você é um demônio? — perguntou o garoto de sardas.

EU VOU MATAR ELE, pensou Orochi.

— Não sou. — Ela respondeu, esperando julgamentos.

— Nem é feia também.

— Quê? — Orochi se assustou.

A menina tinha uma presença incrível, apenas de estar perto dela você já conseguia sentir sua força pressionando tudo em volta, mas após a fala de Toby, a pressão sumiu e o rosto da garota se avermelhou.

— Vou ali e já volto. — Ela virou o rosto e saiu andando, conforme ela andava, pessoas que apareciam perto saíam correndo.

— Espera irmã! — Orochi e Clark correram atrás dela e Toby ficou apenas parado.

Os dois alcançaram a menina, que estava vermelha.

— Ele nem falou que você é bonita, calma lá!

— Calado. — Ela acertou um soco no seu irmão.

— Qual é o seu nome!? — gritou Toby, do outro lado da rua.

Quem esse cara pensa que é? Minha irmã não aumenta o tom de voz há anos.

— Shitzu! Também não tenho sobrenome! — gritou.

QUÊ?

Algumas pessoas que estavam se escondendo atrás de uma lata de lixo começaram a rir.

— Ela tem nome de cachorro, hehehehe.

Toby chegou e tirou as duas crianças de trás da lata de lixo à força.

— Não se fala que o nome dos outros é nome de cachorro, suas crianças intrometidas. — Ele olhou com um olhar amedrontador e as crianças saíram correndo.

Esse Ethan tá fazendo escola, isso é preocupante, meu nome já era de cachorro agora vão falar que o da menina ali também é, desgraçados, isso machuca!, pensou Toby.

A menina virou ainda mais vermelha e foi embora com seus irmãos.

Quem esse garoto acha que é pra ficar cantando a minha irmã? Vou amassar ele quando puder!, pensou Orochi.

No fim era só uma menina normal, as pessoas são doidas demais, vou voltar pro restaurante.

Ao voltar pro restaurante, Toby se deparou com Sachi e Ethan ajudando dois garotos a recobrar a consciência de um amigo.

— Traz mais gelo, Ethan! — gritou Sachi.

— Tá aqui! — Ele colocou o gelo na testa do garoto desmaiado.

— Obrigado pela ajuda, nós de Yukiyama não estamos acostumados com esse calor de vinte e cinco graus.

Isso nem é muito calor, pensou Sachi.

— Que droga, ele não tá melhorando.

— Vamos levar ele pro frigorífico, lá com certeza é muito frio. — exclamou Toby.

Os cinco juntos levam o garoto até o frigorífico e ficam lá dentro.

— Como você sabia desse lugar? Eu trabalho aqui ao mesmo tempo que você. — indagou o loiro.

— Eu estava procurando lugares que você não acharia pra ficar longe de ti, mas aqui é muito frio, não aguento cinco minutos. — disse Toby, quando eles ouvem o som da porta batendo.

— Espera… Dá pra abrir de novo, né Sachi?

— Foi bom conhecer vocês, rapaziada. — exclamou o garçom.

— SOCORRO! — gritaram Etha e Toby.

Cinco minutos se passaram na sensação de oito graus negativos, agora o menino de Yukiyama já tinha recobrado sua consciência, mas os três garotos de solária estavam morrendo congelados.

— Obrigado por nos ajudar, Eu me chamo Cody.

— Sou grato por terem me ajudado! Me chamo Erick!

— Eu sou Yuki, o espadachim de Yukiyama.

— A GENTE VAI MORRER! — gritou Toby.

— Ah, vocês não aguentam essa temperatura né, vou ajudá-los. — Erick levantou seu braço, olhou para cima e estalou seus dedos. — Natsu!

Uma esfera de luz emulando um pequeno sol apareceu no teto do lugar, e por alguns instantes, um calor ameno tomou conta do lugar.

Uau, um poder de suporte. — explicou Ethan.

— Nós usamos isso para ajudar os animais e até os estrangeiros que pisam no nosso país, ele esquenta o clima do corpo, facilitando a circulação de sangue ou até do núcleo.

— Espera, ele aumenta a temperatura do corpo? — perguntou Toby, muito interessado.

— Sim.

— Até se o corpo já estiver quente? Ele pode aumentar mais? 

— Nunca testei, mas acho que sim.

— Você pode me ensinar?

— Normalmente eu diria não, mas como vocês me ajudaram, eu vou te ajudar a aprender a usar o Natsu. — exclamou Erick, erguendo o braço para cumprimentar Toby, que o cumprimentou de volta.

— Que lindo as amizades novas, mas a gente ainda está preso aqui! — gritou Ethan.

Ao anoitecer daquele dia, Natsumi entrava em um beco escuro, e lá encontrou Bertha, a proprietária do terceiro distrito.

— O que você quer?

— Isso é jeito de falar com sua ídola? 

— Você não é minha ídola, nunca alguém que vive de ser puxa-saco da nobreza vai ter minha admiração.

— É melhor você me obedecer então.

— O que você quer?

— Amanhã é o dia dos namorados, eu quero que você comece a namorar Toby Burn e o convença de não participar do Torneio.

— Que tipo de missão doente é essa? Por que querem tirar ele do campeonato?

— Não te interessa, apenas faça o que mandei.

— Não posso fazer isso — Natsumi desviou o olhar.

— Pois se não fizer. Você e Ben, seu amigo protegido, serão desqualificados do torneio.

— Você não pode fazer isso!

— Eu consigo fazer isso, tenho todo o respaldo da nobreza que tanto puxo o saco. — abriu um sorriso. — Agora adeus, bom namoro.

— Namorar… Com o Toby? — ela ficou encarando a última conversa com Toby no celular.

Toby: Fiquei sabendo que você estava com a Blair, ela está bem? Como ficou o olho dela?

Natsumi: Ela está bem, mas o olho acho que não volta.

Toby: Poxa.

Toby: Obrigado por me responder, sou muito grato.

Toby: Se quiser sair amanhã eu te levo pro evento no parque! Não é porque é dia dos namorados…

Natsumi começou a digitar.

Natsumi: Vamos sim! tenho algo pra te falar…

Shitzu estava observando tudo por cima do telhado do estabelecimento do lado esquerdo do beco, quando Natsumi olhou, ela já havia fugido.



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