Volume 1 – Arco 2

Capítulo 9: Herança da Trindade

Há quinhentos anos, uma guerra santa era travada entre humanos e demônios. Quando a humanidade estava prestes a ser derrotada, três deuses guerreiros apareceram e usaram um poder chamado de “A Trindade”. Ao vencerem a guerra com aquele poder divino, um fragmento de luz caminhou até o Rei Humano daquela época. O fragmento concedeu um poder incrível para o rei e sua futura linhagem, tudo para que protegesse o fragmento de maldições que viriam tentar tomá-la.

A voz que contava a história apareceu em meio a escuridão. Era Clarice, contando sobre a lenda da Trindade para sua filha, Blair, que estava aos prantos olhando o sangue que estava cobrindo todos os lençóis da cama.

— Por que você resolveu contar essa história de novo? Logo agora? Médicos! Ajudem!

— A partir de hoje, esse poder também será seu. Quero que o use com sabedoria, nunca em hipótese alguma use esse poder com rancor e ódio. Você tem que usar ele com muita sabedoria. — sorriu gentilmente, até que fechou os olhos.

— Eu não quero esse poder, eu quero você viva! Mãe!?

De volta à luta ao leste, Aron preparava seu ataque com seus braços metálicos, sujos de sangue.

— Eu vou te destruir. — Os olhos da princesa brilhavam com um tom amarelado.

— É isso, me mostre o poder do sangue real dado pelos deuses da trindade! — Ele avançou. — Braço de Ferro!

— Trovão!

Um grande trovão sumonado pela ruiva caiu diante de Aron, que conseguiu esquivar, pois estava em movimento. Ele aproveitou e socou a princesa, que se defendeu, mas ainda foi lançada contra uma árvore.

— Você só tem trovões? Eu achei que o poder fosse mais especial! — sorriu.

O Trovão não vai dar conta, ele sabe de onde vem e vai conseguir esquivar, então só tem um jeito, pensou a princesa.

— Morra! — O homem socou a ruiva, que conseguiu igualar o golpe do braço de ferro. — Como? Meus braços são feitos de ferro!

Ele olhou e o braço de Blair estava duro como se também fosse feito de ferro.

— Assustado? Esse é o poder do sangue real! Braço de ferro! — Ela usou o outro braço para socar o rosto do homem, que foi impulsionado para trás.

— O poder da trindade… Te dá braços de ferro? Eu sou especial!

— Especialmente idiota. Eu posso usar qualquer poder, basta que eu o veja em prática, então poderes normais como o seu são bem fáceis para mim. — Ela se preparou para avançar. — Mas é bem legal ter braços de ferro, hahahaha.

— Meu poder é normal? Você sabe o que eu preciso fazer pra ter ele? — Aron limpou o sangue que estava saindo de sua boca após ser golpeado e cerrou os punhos em seguida.

Os dois avançaram e igualaram os socos com os dois braços. Após o impacto, ambos permaneceram na mesma posição, querendo empurrar o outro na base da força bruta. Depois de momentos usando muita força, o ombro de Blair se deslocou e causou a vitória de Aron na disputa de força bruta, ele se aproveitou e a socou para longe.

Aaaaaaarghhh! Isso dói demais, puta merda. — Ela olhou para o lado e viu que Natsumi ainda estava acordada, mas não conseguia se mexer, então apenas assistia.

— Seu ombro… Deslocou… Você precisa colocar ele de volta no lugar — disse a garota de cabelos castanhos.

— Isso vai doer muito… Que merda…

O braço de ferro atacou novamente, mas um escudo de pedras apareceu diante de Blair e amorteceu o golpe.

— Para de me atrapalhar, sua desgraçada! — Ele pegou Natsumi pela cabeça e a lançou no lodo. — Eu vou te matar logo.

— Natsumi!!!

A garota de cabelos amarrados se levantou, uma grande camada de pedra cobria seu pé torcido, como se fosse uma bota.

— Eu vou ganhar tempo, mas não consigo vencer ele desse jeito, minha perna ainda está doendo muito. Então arrume logo seu ombro e o vença. — Os punhos de Natsumi também estavam cobertos de pedra. — Toma essa sua merda! Pugilismo Petrificado!

— Resolveu parar de bancar a insuportável? Gostei. Vamos ver o quanto aguenta! — Aron avançou.

Os dois começaram a trocar golpes, mas Natsumi estava em uma clara desvantagem com a dor e dificuldade de movimento causados pela lesão em seu tornozelo. Blair respirava fundo e tentava colocar seu ombro no lugar novamente, mas a dor era imensa, e ela apenas gritava de dor e não conseguia chegar ao fim.

Não demorou muito para que Aron vencesse Natsumi e a derrubasse. Ele aproveitou e socou a camada de pedra no pé da menina de cabelos castanhos até que quebrasse. Quando ameaçou esmagar a perna machucada agora sem proteção, Blair apareceu e o socou.

— Deixa comigo, eu vou vencer.

— Mas seu ombro ainda tá deslocado.

— Ah, isso? — Ela apertou seu ombro e o puxou de volta com toda sua força. — AAAAARRRGGHHH!

— Não se distraia! — Aron socou o rosto da princesa em cheio, mas ela nem saiu do lugar. — O quê!?

— Eu posso não ter sua força bruta ainda, mas tenho muito mais técnica que você, então tenho mais controle sobre o ferro que você! Corpo de Ferro! — O corpo de Blair tomou uma propriedade metálica.

A princesa avançou e conectou vários golpes em Aron, que caiu assustado sem conseguir se mexer direito.

— Não… Eu perdi…

— Esse é o sangue real, otário.

Aron, você ainda não foi derrotado, basta usar aquilo.

A voz de Maya foi ouvida apenas pelo homem.

— Eu não quero, aquilo é muito pesado pra mim! — gritou Aron.

— O que esse doido tá conversando sozinho? — questionou a princesa, enquanto apoiava Natsumi em seu ombro.

Use, ou morra perante uma nobre. Vai querer mesmo terminar assim do jeito que começou?

— Não! — Aron pegou uma espécie de bolinho feito pela vovó e o comeu.

— Ele comeu um bolinho? — indagou Natsumi.

— Isso não é um bolinho comum! Corra daqui, Natsumi, você não pode ficar aqui!

— O que aconteceu?

— Isso é uma droga feita com o sangue de maldição, esse deve ser o poder daquela velhinha!

— E como você sabe?

— Uma velhinha no telhado, sequestrando crianças, a musiquinha e esse pântano. Estamos enfrentando a Besta Amaldiçoada, Cuca!

— Cuca?

— A Besta Amaldiçoada que faz outras bestas dando seu sangue para crianças.

AAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! — A garganta de Aron rasgava de tanta dor que ele transmitiu pelos gritos desesperados. Seu corpo agora era feito completamente de ferro. Sua consciência foi deixada de lado, agora apenas uma tremenda sede de sangue tomou a sua mente, aquele já não era mais Aron.

— Escuta aqui, Natsumi. Precisamos conseguir fugir por cinco minutos, se a gente conseguir durar esse tempo, ele vai perder toda a força e o poder. 

— Princesa!

O homem socou Blair e a derrubou. Se colocou em cima da garota e começou a desferir diversos golpes, qualquer ser humano teria morrido com aqueles golpes, mas graças ao fato de Blair também estar com o corpo de ferro, eram como se fosse apenas socos normais.

Eu não sei se agradeço por estar feita de ferro ou me assusto de estar doendo mesmo como o corpo feito de ferro, se continuar assim nem isso vai resistir, pensou a ruiva.

A pele de metal de Blair começou a criar rachaduras, e ela se desesperou.

— Terremoto! — Natsumi socou o chão e fez com que Aron perdesse o equilíbrio, assim Blair conseguiu escapar antes de que a camada de ferro fosse destruída.

— Obrigado, agora corra! Isso ainda vai durar mais quatro minutos!

— Certo! — Natsumi correu com muita dificuldade para se esconder entre as árvores do pântano.

Blair percebeu que ele estava destruindo todas as árvores pelo caminho e que se continuasse assim Natsumi seria ferida e ele a acharia, então pensou em um plano.

— Aqui! — Chamou a atenção do homem.

Aron correu em direção da voz da princesa, mas logo se perdeu com uma grande cortina de fumaça que havia aparecido.

Vou ter que te agradecer depois, Toby!, pensou a princesa.

Aron fez o movimento de hélice e afastou a fumaça do campo, mas dessa vez ele não ficou tonto.

Dois minutos.

Blair caminhou bem devagar pelas árvores, sem fazer barulho algum, até que achou Natsumi sendo puxada pelo lodo.

— Merda… — cochichou Natsumi.

— O que é isso? 

— Essa parte do lodo parece uma areia movediça, eu não consigo me soltar — explicou.

O braço de ferro arrancou a árvore próxima a elas com força.

— Merda! — Blair entrou na frente da menina presa.

— Por que você me protege tanto? 

— Eu fui criada para proteger as pessoas da cidade, embora você defenda os ideais de uma criminosa, eu tenho que te proteger!

Aron se preparou para arremessar o tronco.

— Criminosa? — Natsumi se assustou.

— Você não sabe mesmo? 

Aron jogou o tronco contra as duas e Blair o segurou.

— Eu não sei o quê?

Merda, pai. Você conseguiu esconder até da filha dela!, pensou a princesa.

— Sua mãe odiava o sangue real, ela achava que era uma arma que poderia destruir a sociedade. Então ela passou anos criando uma fórmula que pudesse matar o usuário. E naquele dia ela te usou pra entrar no castelo.

— O quê? Isso é mentira! A rainha só morreu semanas depois, como a minha mãe teria tirado a própria vida se ela sabia que o plano ia dar certo?

Blair jogou o tronco contra Aron.

— Meu pai atrasou algumas semanas a morte dela, pra não causar conflitos entre nobres e plebeus, mas não achei que até de você ele conseguisse esconder. — Ela viu Aron se aproximando em velocidade. — Mas agora até entendo você me odiar tanto, mas na verdade, eu é quem deveria odiar você.

Natsumi não conseguia entender que tudo o que ela tinha acreditado naquele momento era apenas uma versão que sua mãe havia criado. Ela lembrou todas as vezes que seu pai a avisou e começou a ligar os pontos.

— Mas então, por que minha mãe fez aquilo depois de conseguir matar a princesa?

Aron pulou para cima de Blair e os dois começaram a rolar pelo chão.

— Eu sou a razão, eu estou com o poder! — Nuvens de chuva apareceram nos céus. — Trovão! 

A princesa segurou Aron e os dois sofreram o golpe, embora o braço de ferro não tenha sentido o golpe, ele ajudou a ganhar certo tempo, mas Blair sentiu bastante sofrer o próprio golpe.

Esse tempo todo… Eu só fui usada?, pensou Natsumi.

— Não, não é hora de pensar agora. — Ela socou o chão e abriu uma cratera, que escorreu todo o lodo e a libertou. Ela foi mancando até o corpo de Blair, ao chegar ela caiu do lado da princesa.

— Ainda faltam alguns segundos.

— Ele sumiu, isso é preocupante.

Elas sentem uma pressão crescente vindo de algum lugar no pântano.

— Ele planeja um golpe final, parece que sem consciência ele pensa mais que o bobão. — exclamou Blair.

Hahahaha, pior que sim. — riu.

Elas ouvem o barulho de árvores caindo vindo de uma direção.

— Ali!

Ele chegou com dois socos ao mesmo tempo e novamente Blair se equiparou com ele, mas agora ela já estava sendo impulsionada para trás, mas ela resistia.

— Essa merda já passou de cinco minutos, por que o efeito não passou ainda?

— Ele já tá passando, olha a cabeça dele. — explicou Natsumi.

— Perfeito, só preciso acertar a cabeça então…— Ela olhou e notou que parte da cabeça dele já não tinha mais a propriedade de ferro. — Arghhhh.

— Eu tenho uma ideia. Solte ele e me carregue até abrir certa distância. O resto eu falo na hora.

— Confia em mim?

— Eu que te pergunto, princesinha de mentira. — sorriu.

Blair saiu do embate de força com Aron e ele estava colocando tanta força que após ela sair ele bateu de frente com uma árvore. A princesa aproveitou para pegar Natsumi caída e abriu distância.

— Certo, agora desfaz sua camada de ferro aí. — explicou Natsumi.

— Endoidou?

— Faça isso logo. Se você morrer eu também vou. 

Natsumi contou o resto do plano para Blair e foram colocar em prática.

Blair desfez a camada de metal em sua pele e correu para cima de Aron. Quando os dois estavam para colidir, cinco muros de pedra apareceram entre os dois e a princesa conseguiu não sofrer o golpe. Quando todos os muros foram destruídos, Aron tinha perdido Blair de vista.

Na procura pela princesa, ele achou Natsumi em pé apoiada em uma árvore.

— Vem, seu bostinha. — Ela fez um sinal o chamando.

Aron foi com sede de sangue enquanto sua camada de ferro diminuía ainda mais.

Quando ele se aproximou da menina de cabelos castanhos, ela se jogou no chão, com um soco ela abriu outra cratera e com a tremedeira do solo ele se desequilibrou.

— Acabou! — Blair pulou de cima de um galho de uma das árvores e fez a pose do braço martelo. — Isso é pelo que você fez comigo naquela casa de metal, seu bosta! 

Ela acertou em cheio a cabeça, que o nocauteou e toda sua camada de ferro foi desfeita, inclusive os braços. Blair caiu no chão, mas logo levantou para apoiar Natsumi em seu ombro.

— Olha o braço dele, foi por isso que durou mais de cinco minutos.

— Então ele já tinha ingerido essa droga antes, os braços de ferro já eram do sangue da Cuca, ainda bem que a gente conseguiu nocautear ele.

As duas saíram caminhando em uma direção.

— Vamos procurar pelos outros, assim a gente pode descansar um pouco e cuidar do seu pé.

— Certo. — Natsumi desviou o olhar.

Mãe, eu ainda não entendo a sua motivação e não acho que vou entender tão cedo tudo o que aconteceu, preciso de tempo. Mas uma coisa eu posso te dizer, hoje se não fosse o poder do sangue real, eu teria morrido. Por enquanto eu vou confiar ele com a Blair, e eu também confiarei nela, pensou Natsumi.

No centro do pântano, Maya se enfurecia.

— Eu não acredito que aquele inútil do Aron perdeu sem levar uma pessoa, até o Kenta conseguiu. Agora a princesa se acha inteligente por achar que eu sou a Cuca. Meu nome é Maya! Cuca é só a lenda que criaram sobre mim, que saco. — Ela sorri. — Pelo jeito vou ter que mudar os planos e ir diretamente me apresentar para ela. Estou chegando, princesa.

A luta no Leste chegou ao fim. Blair e Natsumi foram vencedoras. Aron está…

Aron se levantou em sua forma completamente humana e caminhou na direção das garotas.

Eliminado?



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