Volume 1 – Arco 2
Capítulo 8: Ódio Materno
No dia anterior ao campo amaldiçoado, enquanto Blair estava presa na gaiola, Toby e Drake corriam contra o tempo para chegar ao Cemitério. Maya voltou até o primeiro distrito e assassinou furtivamente o delegado do local.
— Como eu pensei, ele tem o número do membro líder da assembleia. — Ela pegou o celular do oficial e ligou para o comandante do sétimo distrito.
— Alô, quem deixou você ligar no meu telefone pessoal direto? Espero que seja algo muito importante pra me ligar essa hora da madrugada, se não for, ligue para o representante do seu distrito.
— É assim que você me paga, Adder?
— Essa voz de velha… O que você quer, Maya? Não está bem com suas crianças?
— Estou bem demais com elas, mas hoje me apareceu uma diferente.
— Eu não mandei nada diferente, o que aconteceu?
— Eu estava pensando em fazer minhas experiências com ela, mas acho que você pode me dar algo mais importante. — lambeu os lábios. — Estou com Blair Morgan em minha posse, sei que só matá-la traria uma revolta sobre sua prometida segurança em cima da princesa, então eu estou disposta a criar algo ainda mais importante.
— Continue.
— Hahahahahaha. Como eu pensei, você tá doidinho pra dar um fim natural na princesa e continuar com sua oligarquia pra sempre. — Olhou para a cesta. — Nesse caso, eu tenho um plano.
— E qual seria?
— Eu criarei um jogo com algumas crianças promissoras de sua cidade. Dois já estão indo salvar a princesa, então mande mais três ou quatro crianças para a escolta, quando meus rapazes forem derrotados.
— Certo, eu providenciarei, mas me conte logo o seu plano! — Adder levantou a voz.
— Amanhã, o Diabo irá despertar. — O tom de voz da velha agora era forte e sério. — E as crianças sofrerão a consequência de seu ódio.
De volta ao campo amaldiçoado, Blair acordou no Leste, após ser jogada pelo campo amaldiçoado, ela estranhou o pântano, mas continuou andando à procura de algo. Depois de alguns minutos de caminhada, ela começou a ouvir um grito de dor, quando se aproximou, viu que Natsumi estava agonizando de dor, com uma perna presa em um tronco de uma grande árvore do pântano.
— Natsumi! Eu vou te ajudar!
— Não ouse me ajudar! Eu não quero a sua ajuda! Prefiro ficar presa.
— Deixa de ser uma idiota. — Blair levantou o tronco e libertou o pé da menina.
Natsumi se irritou e tentou se levantar para correr, mas sua perna estava tão machucada após ser esmagada pelo tronco que ela tropeçou e caiu no chão.
— Você quebrou? — perguntou a princesa.
— Não, mas eu torci muito feio meu tornozelo, não consigo andar assim. — Se arrastou até um tronco de árvore para se encostar.
— Venha, suba nas minhas costas, temos que achar os outros. — A ruiva virou as costas e abaixou para Natsumi se apoiar, mas ela nem se mexeu.
— Já disse que não vou aceitar a sua ajuda. — Desviou o olhar.
— Por que você é assim? E se os outros estiverem precisando de mim?
— Então vá sozinha, eu seria inútil de qualquer forma.
— Certo, então eu vou, não morra até eu voltar. — Blair cerrou os punhos de ódio, e foi embora.
Eu não posso, não tem forma alguma de eu aceitar ajuda dela, minha mãe ficaria decepcionada. Ela tem que me deixar aqui pra morte, assim como todos na linhagem dela, ela também é uma pessoa horrível no fundo!, pensou a garota de cabelo amarrado, enquanto esfregava seu tornozelo.
Uma grande silhueta apareceu em frente a garota com a perna machucada, que acertou um golpe que a jogou para longe.
— Que força é essa!? Quem é você?
— Você não é a ruivinha, eu tenho que achar ela, vou te matar logo então. — disse a grande silhueta.
— Você é um dos prisioneiros, você é Aron!
— Braço de Ferro! — Aron desferiu o golpe na direção da garota.
A garota viu o grande braço vindo em sua direção, aquele momento era tão assustador e traumatizante que Natsumi tinha a impressão dele estar em câmera lenta.
Eu vou mesmo morrer assim? Recusando ajuda dela, eu vou mesmo acabar morrendo desse jeito? Morrer porque não fui capaz de me proteger sozinha?
Blair apareceu e segurou o golpe de Aron.
— Aí está você, ruivinha. — sorriu.
— Dessa vez eu não estou morrendo de fome, lata velha. — A ruiva sorriu de volta.
Blair e Aron começaram a se golpear enquanto Natsumi apenas assistia.
Ela me salvou, por que ela continua fingindo ser uma boa pessoa quando na verdade ela é só mais uma pessoa horrível? Desde aquele dia que a conheci, ela fingia.
Dez anos atrás. Natsumi caminhava com sua mãe em direção ao castelo de Solária.
— Mamãe, eu fiquei sabendo que a princesa tem a minha idade, eu quero brincar com ela!
— Hoje você vai conhecê-la, mas não se meta com essas pessoas nojentas, você vai ser a representante dos plebeus quando crescer, não se diminua perante nobres! — gritou a mãe.
— Mas… O papai diz que existem nobres legais.
— Seu pai é um vendido pra nobreza, vive sendo pobre e miserável, por isso me separei dele.
— Então por que estamos indo para o castelo?
— Estou indo resolver coisas, e preciso que você fique com a princesa, pelo menos até eu terminar meu trabalho.
— Certo! Tudo por você, mamãe!
As duas entram no castelo por uma entrada diferente do portão principal, logo Natsumi se perdeu de sua mãe e continuou andando pelo castelo. Até que entrou num quarto com uma mulher adulta acamada.
— Oi senhora, quem é você?
— Olá, eu me chamo Clarice, o que te trouxe aqui?
Err, tenho que falar o que minha mãe me mandou falar
— Sou filha de uma faxineira, ela me disse que aqui tinha uma criança do meu tamanho e eu queria brincar com ela.
— Minha filha agora deve estar com o pai dela, no quarto ao lado, espere ela sair que vocês poderão brincar à vontade — A mulher fez carinho no cabelo de Natsumi. — Parece que você é um anjo que caiu do céu, posso te pedir uma coisa?
— Pode sim, moça.
— Cuide da minha filha, seja amiga dela, eu não posso sair desse quarto e apresentar crianças pra ela brincar. O pai dela é muito turrão, não vai querer que ela brinque, então por favor, realize esse meu desejo, acompanhe ela.
— Certo! — Natsumi abriu um grande sorriso para aquela mulher, que devolveu com um sorriso sofrido e inocente.
Natsumi saiu do quarto e andou até o fim do corredor, onde uma criança correndo esbarrou nela e as duas caíram.
— Ai minha cabeça! Quem é você? — perguntou Blair.
As duas se olharam e quando perceberam que eram crianças da mesma idade, se animaram e começaram a pular juntas.
— Uma amiga! Finalmente meu pai me deixou ter uma amiga!
— Você é a princesa! Quero brincar com você!
— Quero fazer uma brincadeira que li nos livros. Peguei! — A ruiva cutucou a menina de cabelos castanhos e saiu correndo. — Agora quero ver me pegar!
As duas crianças inocentes esbanjavam felicidade, elas passaram o dia todo a brincar e correr pelo castelo. Ao anoitecer, a mãe viu sua filha brincando com a princesa, e com isso um olhar de desgosto tomou seu rosto, ela apenas ignorou o que viu e continuou andando.
Certo momento, Blair disse que ia ao banheiro, e nunca mais voltou. Natsumi se sentiu solitária, como se a princesa tivesse esquecido dela, mas ela não ligava, pois amou aqueles momentos que viveu.
Uma hora se passou e Natsumi viu seu pai entrando no castelo, pela entrada principal, e foi até ele abraçá-lo.
— Que bom que você está bem, filha. Vamos para casa.
— Mas e a mamãe?
— Ela… Ela foi para a casa dela mais cedo, disse que tinha que resolver coisas e eu vim te buscar, já que na semana sou eu quem fico com você!
Ela subiu no colo de seu pai e juntos foram para a casa. Ela passou a noite contando como brincou com a princesa, e seu pai sorriu, mas logo após parava de sorrir como se lembrasse de algo. Assim a menina dormiu.
Com o amanhecer do dia seguinte, carros com sirenes bem altas passavam em toda velocidade pelas ruas, e isso acordou a menina de cabelos castanhos. Ao entrar na sala e ver seu pai desligando o telefone, ela perguntou o que aconteceu. Seu pai fez um olhar que ela nunca tinha visto antes, ele parecia destruído.
— Filha, eu tenho que contar algo sobre a sua mãe.
— Pode contar papai.
— Sua mãe é uma mulher que sempre procurou a liberdade, e foi isso que me encantou nela e por isso ficamos juntos. Mas conforme o tempo passou, o assunto de liberdade que ela tanto pregava se tornou algo obscuro e nojento. Ela dizia coisas sobre o seu futuro que eu sempre reprovei, e por isso decidi criar você separado dela, mas hoje, ela fez algo que eu nunca pensei que poderia fazer.
— Por que você está falando assim da mamãe? O que ela te fez? Só por que não concorda com ela tem que falar mal dela assim?
— Ela não quer o seu bem, pregar ódio contra os nobres não vai fazer você crescer bem.
— Bem que ela disse que você era vendido para eles, eu vou pra casa da mamãe! — Abriu a porta e saiu correndo.
Quando chegou na rua de sua amada mãe, ela viu a casa em chamas, com diversos carros de bombeiros tentando apagar o incêndio.
— Minha mãe mora ali, deixa eu entrar! — Ela tentou passar dos bombeiros, mas sem sucesso.
— Fique aqui, lá ainda é perigoso.
Natsumi começou a gritar, aos prantos preocupada com a sua mãe. Quando o incêndio foi contido, um guarda foi averiguar o estado do local e voltou.
— Dentro da casa, tinha o corpo de uma mulher, tudo indica que era a moradora desta casa.
— Minha mamãe, morreu?
Horas depois, dentro do corpo de bombeiros. Pai e filha esperavam para ouvir o parecer sobre o incêndio. A garota estava inquieta.
— Sr. Bob? A sua ex-mulher que faleceu estava segurando uma carta, que é feita de um material desconhecido, que não pegou fogo no incêndio. — O bombeiro entregou a carta para o pai, que leu.
— Essa carta… É pra Natsumi? Como ela pode fazer isso até o último momento!?
— Me deixe ler! É a última coisa que a mamãe me deixou, por favor só me deixa ler isso!
Bob não conseguiu resistir ao pedido de sua filha aos prantos e entregou a carta, com muito receio.
Adeus, Filha.
Ontem eu fui resolver alguns assuntos com a rainha, mas tudo acabou dando errado e esse mundo para mim acabou, eu não consigo mais viver num mundo com aquela pessoa sendo idolatrada. Quando eu já estava quase desistindo de tudo, eu vi que você estava brincando com aquela criança desprezível, e isso me deixou com um ódio que não consegui me segurar, eu não quero que se culpe por nada, apenas que não se junte mais com a filha da pessoa que destruiu a vida de sua mãe. Lembre-se sempre que você tem potencial para liderar os plebeus para a liberdade. Desde que não se una com pessoas ruins, eu desejo que você seja feliz, filha.
Com amor, Mãe.
— Filha, não leve o que ela falou pro seu coração, ontem você me contou tão feliz como tudo que você viveu com a princesa foi algo mágico, nem tudo que sua mãe fala é verdade.
— A mamãe morreu, por culpa dela, por culpa da família dela. Tudo por que eu deixei coisas inúteis como amizade me dominar, eu nunca mais quero ver aquela princesa, eu vou ser muito melhor que ela!
Com apenas cinco anos eu jurei que nunca iria apoiar essa princesa, minha mãe tinha sérios problemas com aquela mulher que parecia inocente, mas no fim causou a morte de quem eu mais amava. Mas eu não entendo, por que a Blair continua me protegendo, será que é esse senso de justiça nojento de quem se acha superior?, pensou Natsumi.
A menina de cabelos castanhos se levantou, apoiada apenas na perna que não estava machucada. Ela deu um soco que abriu um buraco no chão e dividiu Aron e a princesa.
— Saia daqui, Blair. Eu não quero sua ajuda falsa.
— Por que você é assim? Sua nojenta de merda, eu não quero que você morra, é difícil acreditar nisso? Eu não sou alguém tão ruim como você pensa, pare de me fazer de vilã!
— É fácil pra você falar, minha mãe morreu por causa da sua!
— Eu não sou a minha mãe! E você não é a sua! Por que você tenta reviver isso sempre? As duas estão mortas, e nós duas também estaremos se você continuar sendo uma idiota de merda! — gritou a ruiva.
A princesa… Que sempre fingiu ser fina e não me responder, agora está sendo sincera?
— Me explica por que a gente tem que se odiar por problemas dos outros!? — gritou Blair, que deixou Natsumi chocada. — Se você quer ser forte e me tirar do posto de princesa, continue vivendo e faça isso você mesma, só falar não te faz ser porra nenhuma!
Problemas dos outros? Ela tinha a minha idade naquele dia, ela não tinha noção das coisas, assim como eu não tinha, talvez Blair seja diferente da mãe dela? Eu sou diferente da minha? Será que eu posso tentar ajudá-la?
— Natsumi!
— Para de atrapalhar minha luta contra a princesa, sua desgraçada! — Aron acerta seu golpe em cheio no estômago de Natsumi, que cuspiu muito sangue e caiu desacordada. Ele continuou socando-a no chão.
— Deixe ela em paz, é entre eu e você, não é? — gritou a ruiva.
— Sim, agora acho que podemos finalmente nos divertir. — Aron cerrou seus punhos sujos com o sangue da Natsumi e avançou contra Blair.