A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 15: Oitava Guardiã

— Como? — Toby conferiu cada parte de seu corpo, e percebeu que não havia mais nenhuma faísca.

— Isso é impossível, como pode ter passado o efeito só com o medo que você tem dessa mulher — disse Maya, caída no chão.

Maya consegue se soltar e se afasta de Helena.

— Bom saber que eu causo tanto medo — Helena encarou o garoto com sardas com um olhar penetrante.

— Isso ainda não é possível, é uma grande injeção de ódio, a única possibilidade seria de… — Maya arregalou os olhou e tentou segurar uma gargalhada, mas não conseguiu. — Hahahahaha! O sangue recusou seu corpo! Você é tão inútil!

— Recusou? — disse o garoto confuso.

— O sangue não achou mais nada que pudesse se aproveitar de você, isso é hilário. Você é um fracasso! hahahahaha!

Helena interrompeu a risada da besta com um soco em cheio no rosto.

— Está rindo demais pra quem está prestes a morrer, sua desgraçada. — A mentora virou para o garoto. — Você aguentou bem, Toby. Agora eu vou terminar o serviço, então descanse.

— Você é bem forte, mas é só uma, esperava muitos guardas. Você sozinha eu consigo me virar. — As chamas negras cobriram o punho de Maya, que tentou devolver o golpe que havia sofrido.

— Não tá lembrada de mim? — Helena golpeou o cotovelo de Maya enquanto ela desferiu um soco, causando a fratura no braço da besta. 

Aaaarrrgggghhh! Meu braço, sua desgraçada! Quem é você?

Drake chegou com Blair e parou do lado de Toby, muito preocupado.

— Você tá bem? Tipo, tudo bem mesmo? — perguntou o garoto de óculos.

— Parece que sim… — respondeu.

— Me chamo Helena, mas você deve lembrar de mim do ataque das bestas na província de Yin, cinco anos atrás. — Ela explicou para a maldição.

Toby e Drake pararam e apenas observaram a conversa.

— Cinco anos atrás?

— Bom, eu era apenas uma criança, e você já tinha essa doença.

Maya começou a suar frio e tremer com seus olhos arregalados.

— Não pode ser, não acredito que você é… A Oitava Guardiã, a criança que estava no incidente em Yin.

— Finalmente lembrou.

— Foi a primeira e única vez que perdi para uma criança. 

— E agora eu cresci e sou adulta, por isso vim aqui acabar com sua brincadeira doentia — Helena cerrou os punhos e acertou um soco direto no estômago de Maya, que cuspiu sangue. — Agora é a vez de discutirmos um assunto de adultos.

Eu estou sem um braço e o outro está quebrado, é muito difícil conseguir mexer ele, eu não deveria ter subestimado tanto ela, pensou a besta amaldiçoada.

— Percebeu que acabou? 

— Não, eu não posso morrer aqui. Tork! Me ajude! Eu só preciso de mais um golpe! — Maya engoliu o ar e estufou seu peito, preparando um golpe. — Chuva de Lâminas! 

A besta soltou diversas lâminas em direção aos céus, e elas voltaram todas na direção de Helena. A mentora arrancou uma árvore do chão e a girou no ar para se defender de todas as lâminas afiadas que caíam.

— Nem o poder de Tork você tem mais, ele já te abandonou, que pena.

— Não, ele não vai me abandonar, eu vou conseguir dar meu sangue para a princesa e ela vai se tornar o verdadeiro diabo!

— Então era esse seu plano? Quem te mandou fazer isso?

— Eu não posso falar. — Maya correu para longe, sangrando e mancando muito, parecia que ela já não tinha mais o que fazer.

A besta sumiu no meio da floresta e Helena nem se mexeu para alcançá-la.

— Você vai deixar ela fugir assim? — perguntou Toby.

— Ela já morreu, Tork a abandonou.

— Quem diabos é Tork? — Ele viu o rastro de sangue no chão. — Dane-se, eu não preciso saber, vou acabar com ela de vez!

Drake tentou impedir seu amigo de correr até a maldição, mas Helena colocou o braço na frente do garoto de óculos e fez um sinal negativo. Ele entendeu que podia ficar parado e se acalmou.

Toby seguia manchas de sangue deixadas pela maldição enquanto também mancava com muita fraqueza. Ele começou a ouvir gritos e um choro alto e sofrido, quanto mais se aproximava, mais o som aumentava.

Quando alcançou a besta amaldiçoada, ela estava de joelhos em prantos, implorando pra Tork que salvasse sua vida. O corpo da maldição começou a voltar em sua forma idosa, a fonte de poder dela realmente havia a abandonado.

— O que está acontecendo? Onde está seu poder?

— É o meu pai, Tork. Ele acha que eu não tenho mais futuro desde que aquela mulher apareceu, e deixou de me dar poderes.

Toby sentiu uma presença assustadora, muitas vezes maior da pressão que Maya passava.

— A culpa é toda sua, você estragou meu plano e nem mesmo vai morrer porque tem um corpo patético, seu verme, espero que morra da pior maneira do mundo!

Um portal escuro apareceu atrás de Maya e começou a sugá-la.

— O que é isso?

— Não! Não me deixe ser levada assim, eu não quero morrer desse jeito, esse buraco negro vai me matar, por favor, eu imploro, me ajude!

O garoto com sardas vê a besta amaldiçoada ser sugada pouco a pouco pelo buraco negro. Ela agonizava de dor e usou sua última força para levantar seu braço quebrado para pedir ajuda. Toby decidiu que iria ajudar, mas apenas conseguiu puxar o braço quebrado de Maya, pois o resto do corpo já tinha sido completamente deletado pelo buraco negro, que se desfez.

— Foi o que eu pensei. — disse Helena.

— O que foi isso que acabou de acontecer? Não tem cinco minutos que ela estava no auge da força. — Ele arregalou os olhos olhando fixamente para o braço da maldição, que havia restado.

—  No momento em que o campo foi desfeito, a força dela diminuiu consideravelmente, uma besta ou maldição são mais fortes dentro de seu campo. Quando alguém mais forte que ela como eu chegou no lugar, Tork a abandonou completamente. E antes dela explanar algo, ele fez a queima de arquivo. — explicou.

— Então ele deve ser um chefe das bestas muito forte.

— Ele não é o “chefe” das bestas, ele é o criador das maldições. É muito pior do que você imagina.

— O quê?

— Alguns anos depois da trindade vencer a guerra, certas pessoas começaram a duvidar se a trindade realmente existia ou era apenas uma lenda criada pela realeza, então um dia esse homem chamado Tork fez um acordo com as almas das maldições que perderam seus corpos para a trindade e elas dominaram o corpo dele. E assim, ele foi considerado a primeira maldição.

— Essa presença que eu senti, era ele?

— Não, você morreria só de sentir a presença dele, deve ter sido apenas outro servo dele.

Drake chegou andando com Kaya e Blair.

— Toby! Helena! A Kaya nos encontrou e ajudou Blair a acordar novamente, os guardas já chegaram e estão socorrendo os desacordados no centro. — gritou Drake.

— Que bom… — O garoto de sardas abriu um sorriso e desmaiou logo em seguida, Helena o segurou e o impediu de cair no chão.

— Ele tá bem? O capanga da besta me contou que ele ingeriu o sangue dela, isso é muito perigoso. — disse Kaya, preocupada.

— Ele vai ficar bem, o que mais me assustou foi ele não ter queimadura nenhuma no fim de tudo, o corpo dos Burn’s são incríveis na resistência a fogo. — explicou Helena. — Mas ele pagou algum preço com isso, só espero que não seja um grave…

Durante toda a conversa, Blair desviou o olhar do corpo de Toby, ninguém conseguiu entender o porquê, mas ela ignorou completamente o assunto.

Na volta da floresta, eles se separaram em duas carroças, uma com os acordados, que tinha Drake, Helena, Zane e Blair. E na outra foram os desacordados junto de Kaya, mas durante o caminho, os dois rivais acordaram.

— A gente já tá voltando? Então a Blair venceu a Maya? — perguntou Ethan.

— Não, Helena apareceu e venceu. — explicou Kaya.

— Então o placar final ficou com eu, Blair e Drake vencendo um cada um. Sem contar a Helena.

— Parabéns pelo prêmio de vencer o mais fraco dos três — sussurrou Toby.

— O que disse? Não ouço pessoas que não venceram ninguém. — debochou Ethan.

— Se não fosse por mim você estaria mortinho agora, sombra ingrata.

— Vou te mostrar a sombra!

— Tem certeza? Não acha que vai desmaiar de novo?

Os dois se xingaram por todo o restante do caminho até Solária.

Na outra carroça o clima parecia bem tenso. Blair estava sem falar uma palavra desde que acordou, Drake estava tímido por causa disso e os dois adultos estavam olhando um para cada lado.

— Me desculpe por não conseguir resolver tudo sozinho, eu não esperava que ela estaria preparada pra mim. — Se justificou Zane.

— Tá tudo bem, você até ontem nem sabia que teria que enfrentar uma besta, imagina duas. — Helena colocou a mão no joelho de Zane para o acalmar, mas acabou o deixando vermelho.

— C-certo! 

— Drake, o que você pensa de mim agora, sabendo que sou uma guardiã? Espero que guarde segredo.

— E-eu achei bem surpreendente, não sabia que você conhecia o meu pai, pelo menos não de tão perto. — Arrumou os óculos — Isso deixa eu me sentindo um bobo achando que escondia bem que era filho dele, mas você sabia desde o começo, hehe.

Helena sorriu.

— Então com o seu e o meu, restam seis fragmentos primordiais da Excalibur, né? Esse que o Kenta usou era apenas uma criação, não era de fato uma Excalibur.

— Sim, mas eu nunca vou te dar ele, já avisando.

— Se ele está com você, eu sei que está seguro, mas existem outros seis que estão por aí, eu quero achar eles antes do meu pai.

Helena cutucou Zane com o cotovelo.

— Se é isso que você quer, então vai ter que viajar por todo o continente para procurar os que estão perdidos por aí com os outros guardiões. — contou o mentor.

— É o que eu planejo! — Drake virou para a princesa — E você, Blair?

— Eu fiz uma promessa pra mim mesma, agora a pouco. — Ela encarou os três — Eu nunca mais vou perder, eu vou ser a mais forte de todos e nunca mais serei derrotada. 

Eu fracassei e por isso meus amigos quase morreram, meu pai estava certo, eu nasci sendo a mais forte e tenho que ser a mais forte por toda a minha vida, pensou a ruiva.

Eles ficaram em silêncio durante aquele anúncio de Blair.

— Eu vou fazer vocês serem os mais fortes. Mas para isso vocês vão ter que abrir mão de coisas que são importantes para vocês. Se realmente é o que querem, vão ter que chorar e sofrer muito para conseguir, sendo uma princesa ou um filho de um guardião. — disse Zane, com um olhar imponente. — É o que vocês desejam?

Tanto o garoto de óculos quanto a ruiva acenaram positivamente para a pergunta de seu novo mentor.

— Então eu tenho um pedido para vocês. — franziu a testa — Não falem mais com Toby Burn até o fim do exame, isso não será só muito importante para vocês dois, como também para ele.

Blair concordou com o mentor, mas Drake ainda não entendia.

— Por que devemos ignorar ele, você também não é o mentor dele?

— Sim, mas o treinarei separado. A partir de hoje até o fim do exame, o trio de vocês acabou. Até entre vocês dois, a partir de semana que vem seus treinamentos começarão e todos serão rivais, Toby seria uma pedra no sapato para vocês aceitarem isso, então terão que se afastar. Está disposto a ignorá-lo para o bem de ambos os lados?

Drake acenou com a cabeça.

Na outra carroça, Toby ainda estava discutindo com Ethan, e os dois não pareciam querer parar.

— Eu não te suporto! Espero que não precise mais ver sua cara até o resto da minha vida! — gritou Ethan.

— Finalmente concordamos em algo! — gritou o garoto de sardas.

Dois dias se passaram, Toby estava em frente a um restaurante segurando um papel, quando uma pessoa chegou.

— Eu não acredito nisso. O que você tá fazendo aqui? — perguntou Ethan.

— Eu fui mandado pela Helena, ela me disse pra vir aqui nesse restaurante. — respondeu Toby.

Os dois se encararam por segundos até perceberem o que havia acontecido ali.

— ELA ARMOU PRA GENTE! — gritaram juntos.



Comentários