A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 14: Combustão

Chamas tomaram conta de todo o corpo do garoto de sardas. Nenhuma parte conseguia ser vista, apenas a silhueta dentro de uma grande combustão. Toby sentia cada célula sendo queimada, era uma dor agoniante que nunca havia sentido, ele gritava desesperadamente, enquanto seu corpo se movia sozinho para cima de Maya, apenas com o ódio das chamas que o consumiam.

— Agora você é sangue do meu sangue, não me ataque! — gritou a besta.

O garoto de sardas colocou suas mãos no ombro da besta amaldiçoada, queimando-os. Para não ser morta ali, ela empurrou o corpo em chamas para se afastar. A partir daquele momento, uma caça começou, o menino controlado pelo ódio perseguia Maya enquanto queimava tudo em seu caminho.

Esse corpo ainda é humano, eu vou fugir até que esse corpo vire cinzas completas, pensou a besta.

Toby continuou agonizando de dor enquanto seu corpo se mexia de forma descontrolada pelo ódio. Ele sentiu que aquela combustão estava chegando num limite, que o fez desmaiar.

As chamas aumentaram, sem o sofrimento pela dor de Toby consciente, agora o ódio tinha total controle sobre o corpo. Sua velocidade aumentou, ele conseguiu segurar o braço esquerdo de Maya, que tentou se soltar a todo custo.

— Me larga, verme! Me larga! — A parte da armadura naquele braço começou a derreter.

— Morra. Morra. Morra. MORRA! — gritava as chamas descontroladas.

AAAARRRRGHHHH — A besta amaldiçoada vê seu braço sendo arrancado, mas sem tempo para parar ela continua correndo enquanto grita. — Eu vou morrer se continuar assim, eu vou ter que…

Sem um braço, ela vira para o garoto de sardas em chamas e o golpeia para longe, seus olhos agora tinham uma chama preta.

— Obrigado por isso, mestre Tork. — Maya acertou em cheio um soco em Toby, que o jogou contra o chão. — Prisão das Lâminas! 

Diversas correntes com lâminas e suas duas pontas se prenderam no chão, acorrentando o garoto de sardas, que tentou se soltar sem sucesso, pois Maya continuava a jogar mais correntes para prendê-lo.

Toby acordou novamente, com o fogo a todo vapor, ele tentou se acostumar com a dor, mas era insuportável demais, e quando se viu preso, não acreditou.

Mesmo depois disso tudo, eu vou perder?

— Agora morra! Você é um diabo muito mais fraco do que eu queria, eu queria a princesa! Chuva de Lâminas Mortais! — Várias lâminas são lançadas contra o corpo do garoto em chamas.

Eu não quero morrer aqui, por favor, aqui não!

Quando o impacto das lâminas iam cortar o garoto em vários pedaços, o fogo aumentou de uma forma que derreteu as correntes e também derreteu as lâminas que vieram em seu encontro. Mas, depois disso, um apagão surgiu na visão do garoto, ele tinha perdido a consciência de novo.

Ele acordou em um lugar tomado por um escuro profundo, aquele lugar tinha tinha fim nem começo, não se via chão nem teto.

— Eu morri? 

Ele continuou a andar por aquele lugar, até que se ajoelhou.

— Espero que Drake e Blair tenham conseguido sair vivos, eles tinham objetivos muito maiores dos que os meus, eu comi aquele bolinho porque sabia que só eu poderia me sacrificar ali. — Lágrimas caíram do seu rosto.

— Você diz uma coisa, mas suas lágrimas dizem outras completamente diferentes. Até quando vai ficar nessa mentira? — disse um homem, naquele breu.

— Quem é você!? — Ele virou e reconheceu aquela pessoa. — Abel?

— O quê!? Você realmente me criou aqui como se eu fosse aquele riquinho nojento? Eu não vou te perdoar por isso!

— Espera, você não é? Eu te criei? Como assim?

— Estamos em um sonho, bem, era pra ser um, mas eu tive que intervir nesse final patético que você queria tomar.

— O que é você? Uma maldição?

— Primeiro você me faz ser igual o Abel e agora me chama de maldição? Eu não mereço isso. — Colocou a mão no rosto, com decepção.

— Então o que é você? — perguntou o garoto de sardas.

— Digamos que sou o porta-voz das suas chamas, acho que você não precisa saber de nada mais.

— Minhas chamas tem vida? Eu sou especial?

— Você é o contrário de especial, você tem metade de um núcleo, esqueceu?

— Então por que minhas chamas te mandaram?

— Pra te dizer que elas vão te negar, você é uma pessoa falsa e inconsequente. — O tom do porta-voz mudou. — Você não respeita seus próprios sentimentos, então como suas chamas vão te ajudar?

Toby relutou em aceitar aquela afirmação, mas como percebeu que estava dentro de sua mente e que todos sabiam como ele pensava, sua atitude mudou.

— Eu tinha que ser um herói principal. Eu tinha que ser alegre e feliz, eu tenho que ser assim. Drake e Blair são ótimas pessoas e são fortes, eu quero que nem eles!

— Mas você não nasceu príncipe. Nem Blair e nem Drake são alegres e felizes.

— Mas é por isso que eu deveria ser! Se eu não fosse assim eu seria um figurante qualquer…

— Mas você já é, Drake e Blair são seus protagonistas, e você odeia isso, porque ao invés de ser alegre e feliz você tem inveja e raiva por ser fraco, um sentimento de não poder fazer nada, como uma pessoa comum. Mas você fingiu ser outra coisa e foi tão longe ao ponto de estarmos aqui, com você podendo morrer a qualquer momento porque não tem controle sobre seu próprio corpo.

— Eu tenho inveja e raiva porque sei que se eles continuarem a ficar mais fortes e eu continuar assim, em algum momento nossos caminhos irão nos separar. — Mais lágrimas escorrem.

— Então fique forte.

— Você sabe que isso não adianta, eu tenho só metade do núcleo.

— Assim como suas chamas, eu não gosto de você, mas como se você morrer eu também vou junto, vou te contar apenas uma coisa.

O garoto com sardas parou de chorar e prestou atenção.

— Você não tem só bons sentimentos, e mesmo assim eles deverão ser mostrados. Ache um ponto de encontro entre seus sentimentos e o sentimento que te controlou, assim pelo menos por um momento, você pode tentar controlá-lo.

— Aron me disse que ele foi controlado pelo ódio quando comeu algo assim, então eu tenho que achar um ponto de encontro entre mim e o ódio?

— Isso. O que você odeia, Toby?

— Eu não sei… 

— Entrou tanto na casca de pessoa legal que não consegue odiar coisas? E o Excalibur?

— Eu não consigo odiar as pessoas como Excalibur e Abel, nem insuportáveis como o Ethan.

— Então já sabemos.

Toby arregalou seus olhos, e quando percebeu, estava novamente acordado enquanto seu corpo era controlado pelo ódio em chamas.

Quem você culpou pela morte do Abel? No fim não foi o Excalibur e nem o próprio Abel, foi a pessoa que você odeia.

— Não! — Toby conseguiu gritar por ele mesmo em meio ao fogo.

Você não disse que se orgulhava de ter metade de um núcleo por ter salvo sua mãe? Então por que você fica triste com isso? Que coisa feia…

O garoto com sardas colocou suas mãos em sua cabeça, ele estava muito confuso e não queria aceitar o que o porta-voz falou em sua mente.

— O que está acontecendo com o garoto? Ele está conseguindo controlar as chamas? — Se assustou Maya.

Blair e Drake já te salvaram várias vezes, mas você já salvou eles?

— Para com isso! — gritou Toby.

Você sabe, o culpado de tudo, o que você mais odeia… É você mesmo!

As chamas aumentaram e começaram a ficar em formas aleatórias.

— Eu… Eu voltei! — Ele olhou para as chamas em suas mãos, que tomavam formas variadas — Eu não sei controlar tudo isso ainda, não consigo modelar as chamas certinhas, mas acho que serve, não devo ter muito tempo.

As chamas continuavam queimando o corpo de Toby, mas agora era apenas como uma ardência comum, ele agora conseguia controlar e ter a resistência ao fogo.

— Você conseguiu controlar! Parabéns garoto, mas o ódio puro era a sua única chance de me matar! — Maya avançou.

— Você já perdeu, Maya. — Toby tentou passar todas as chamas que o cobria para seu braço direito, ele conseguiu, mas o braço ficou em uma forma desproporcional e bem grande. Mesmo com dificuldade, tentou socar a maldição. — Toma essa!

Os dois colidiram e ambos foram arremessados, uma para cada lado. O fogo continuou a cobrir todo o corpo de Toby novamente. E então de novo os dois foram para cima um do outro e mediram força.

— Garoto desgraçado, morra logo! Não acredito que de perder pro Aron ontem agora você está aqui medindo forças comigo.

A maldição me elogiou por tabela, isso é demais! Eu não acredito que to medindo forças com uma besta amaldiçoada! Estou tão feliz!, pensou Toby.

As chamas do corpo de Toby sumiram por um instante, Maya perfurou seu ombro com uma lâmina e o lançou para longe.

Droga… O efeito tá passando, eu não podia ficar feliz… 

Toby respira fundo e as chamas do ódio voltam a cobrir seu corpo, ele levantou e se preparou para medir força novamente.

Não resta dúvidas, eu não consigo derrotar a Maya mesmo com toda essa força, ela tem uma aura incrível. 

— Está na hora de morrer, para o poder de Tork! — Novamente uma chama negra cobriu os olhos de Maya, e ela se preparou.

— Tork?

— O meu pai, o pai de todas as maldições! — Maya levantou seu braço com sua mão esticada para cima. — Tork, me ajude! Espada Mortal! 

Ela abaixou o braço de forma reta de cima para frente, e um grande corte foi partindo até o chão ao meio enquanto chegava em Toby. Ele conseguiu esquivar mas o corte pegou na lateral de seu corpo de raspão.

Merda… Onde será que ela está? Não tenho mais muito tempo…, pensou o garoto com sardas.

No centro do pântano, Kenta chegava à procura de seu irmão. Ele achou o corpo de Lenny muito machucado e coberto de sangue.

— Irmão, me perdoa. Por favor. — gritou aos prantos.

Uma pessoa chegou perto dele.

— Nossa, sua mão está toda machucada, deixe-me te curar. — disse Kaya.

— O quê? Quem é você?

— Eu era uma inimiga até momentos atrás, mas agora quero curar todos, eu curei os ferimentos grave de seu irmão e todos aqui, devemos apenas esperar quem vai vencer entre Maya e Blair.

— Maya venceu

— O quê!? — Kaya se assustou.

— Sim, mas aquele garoto de sardas mordeu minha mão e comeu o bolinho que era pra tornar a princesa no diabo. — Ele virou e sorriu para Kaya. — Obrigado por salvar meu irmão, irei pedir pra mestra poupar sua vida.

Aquele garoto ouvir o que o Aron falou e mesmo assim fez o mesmo…, pensou a curandeira.

— Como gratidão de te ajudar, você pode me falar uma coisa? — disse ela, enquanto curava os ferimentos na mão de Kenta. — Onde está o Núcleo do campo amaldiçoado?

— Não posso te contar.

— Sabia que eu não sou uma curandeira normal? Eu dominei tanto a cura que eu consigo fazer o contrário dela. — Ela cerrou seus punhos. — Dolores!

Todos os ferimentos de Lenny se abriram novamente.

— Irmão!

— Me diga onde está, ou ele morre.

— Aqui perto! No sul! Bem perto aqui do centro!

— Era o meu palpite, obrigado por me dar a certeza. — Kaya correu para o sul.

— E meu irmão?

— Se for verdade e eu conseguir destruir o pântano, eu volto pra curá-lo, é uma promessa de curandeira!

De volta a luta entre Toby e Maya no Norte, o garoto com sardas estava levando a pior e em vias de ser derrotado. Já estava mais ofegante que o comum e suas chamas já começavam a queimá-lo novamente.

Merda… Pra cortar as chamas eu preciso ter um sentimento mais forte que o ódio que tá me consumindo, mas tem que ser um muito forte, porque o bolinho de sangue dela me trouxe um ódio imenso.

— Hora de morrer, garoto.

De repente, o campo amaldiçoado se desfez.

— O quê?

— Kaya, você cumpriu com o que eu te pedi!

— A curandeira? Eu matei ela! — gritou Maya, desesperada.

— Você acreditou mesmo naquele teatrinho dela? Hahahaha, que otária!

— Eu vou te matar! — Maya ia avançar, mas ouviu um barulho alto e forte.

Um ronco de uma moto podia ser ouvido.

— Não vai matar ele não, eu que vou matar esse desgraçado! — Helena chegou usando uma das árvores caídas como rampa. Ela pulou da moto no meio do ar e caiu desferindo um golpe na besta amaldiçoada, a esmagando no chão.

— O-oi…— disse Toby, tremendo. De repente, todo o fogo no corpo do garoto de sardas sumiu.

— Você tá morto, foguinho. — Ela virou, olhou para Toby, passou o dedão no pescoço como uma ameaça.



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