A Maldição da Trindade Brasileira

Autor(a): Felipe Ramos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 13: Despertar

— Venha, princesa! — Maya avançou. Com seu braço direito inutilizado por causa do poder de Ben, ela transformou seu braço esquerdo em uma grande lâmina.

— Você só tem um braço? Deve ser humilhante perder um braço para crianças que você debochou. — Blair esquivou com tranquilidade apenas ao virar para o lado, quando a maldição estava passando reto, ela levantou os dois braços e os transformou em metal e esmagou a besta no chão. — Bestas amaldiçoadas são patéticas como você?

Maya aproveitou o momento em que a ruiva falava, pegou lodo do chão e jogou no rosto da princesa.

Desgraçada! — disse enquanto limpava seus olhos.

Toby estava fraco com o tanto de sangue que perdeu com os cortes e o furo em seu peito, ele apenas observava a luta com muita tontura e sem conseguir se mexer.

Maya chegou ao lado do corpo de Toby e apontou a lâmina para o pescoço dele.

— Se entregue, ou eu mato ele. — Encostou a lâmina no pescoço do garoto.

— Pensei que você se garantia contra mim, vai apelar assim? Patética.

— Repita — Ela fez um corte leve no pescoço do garoto.

Eu sei que você está aqui, por favor esteja vivo e bem, me ajude!, pensou Blair ao olhar alguns cortes nas árvores.

— Você é bem mais burra que imaginei. — Drake apareceu, fez uma onda de vento empurrar Maya para distante de Toby, pegou o corpo de seu amigo e o levou para cima do galho.

— Drake! Na hora! — sorriu.

— Agora você pode lutar direito contra essa peste, vença como sempre!

— Pode deixar comigo!

Não importa como eu e Toby nos encontremos em perigo, nós sempre podemos contar com você para resolver os problemas, princesa!, pensou o garoto de óculos, ofegante.

— Não fique conversando, sua desgraçada! — Maya apontou seus dois braços pra direção da ruiva. — Pra isso eu consigo usar os dois ainda. Lâminas Mortais!

— Fraca. — A princesa cobriu seu corpo todo com metal, assim nenhuma lâmina sequer a arranhou.

— Cala a sua boca, verme! — A maldição correu desgovernada em encontro da princesa.

Blair segurou a cabeça de Maya e a jogou no chão. Naquele momento ela começou a desferir diversos golpes na maldição, até que ela parasse de se mexer.

— Morra, Cuca.

— Meu nome… Não é Cuca… Não me dê rótulos que estrangeiros colocaram em mim… Eu te odeio! 

Lâminas saíram do corpo da besta em direção da ruiva, que deixou seu corpo com a propriedade do ferro, mas mesmo assim cortes foram feitos.

— O quê? — Correntes apareceram do chão e prenderam os braços e as pernas da princesa.

— Eu tentei ir tranquilo com você princesa, afinal eu nem precisava te vencer. — O braço ruim voltou ao normal. — Mas agora, você me irritou profundamente, tem muito tempo que não uso minha forma original, mas já que você insiste, eu vou te ensinar quem sou eu.

Merda! Eu não consigo me soltar, que merda é isso?, pensou a ruiva.

— Eu adotei aquela cantiga como minha música, aceitei ser a Cuca para lendas. Mas agora… Tudo mudou! Depois do que vou ganhar com o seu fim, eu vou ser conhecida por todos. — Uma armadura se formou em volta da besta amaldiçoada, seu corpo todo agora tinha uma segunda pele, garras saíram de suas mãos e sua voz ficou mais imponente. — O mundo conhecerá Maya!

— Merda, merda! O que você vai ganhar com tudo isso?

— Não se assuste, princesa. — lambeu os lábios. — Me contaram muito sobre você.

— Trovão! 

— Não adianta. — Ela levantou o braço para captar o raio como um pára-raio e jogou de volta toda a eletricidade contra a princesa.

AAAAAAARRRRRGH!!!

— Tantos poderes diferentes, isso é muito foda! Esses olhinhos que conseguem copiar o poder ou é você mesma?

— Não vou te falar.

— Bem, me disseram que você consegue mesmo sem os olhos. Engraçado né, então você não precisa deles. — Maya cortou o olho esquerdo de Blair ao meio.

AAAAAAAAAAARRRGHHHHHH!!!!!!! SUA DESGRAÇADA MALDITA, EU VOU TE MATAR!

— BLAAAAAAAAAAAIR!!!!!!!! — gritou Drake.

— Eu podia muito bem te dar esse bolinho agora e deixar você matar todos, mas você me irritou, então como depois de você ingerir a droga as dores dos cortes não vão ser sua maior dor, eu posso me divertir agora! — Ela criou dois chicotes de espinhos e começou a chicoteá-los na princesa.

— Para com isso! — Drake pulou para cima de Maya com sua Excalibur, mas ela parou o golpe segurando seu pulso.

— Destro, é? — Ela torceu o pulso direito de Drake até o deslocar, e depois o jogou longe.

— Larga ela! — O garoto com óculos correu novamente para direção da Besta amaldiçoada, mas alguém apareceu e o chutou longe.

— Não se intrometa na luta da Sra.!  — Kenta, bastante ferido, apareceu.

Ali perto, Toby se arrastou no galho até que conseguisse cair da árvore.

— Tantas formigas, eu só quero a prin-

— Vamos juntas então! — A ruiva abraçou Maya por trás e enrolou as correntes que a prendiam também na inimiga. — Trovão Infinito!

— O quê?

Muitas nuvens escuras flutuavam por cima das duas, mas dessa vez uma presença de força a mais estava com elas. Várias descargas elétricas começaram a cair em cima das duas, Blair queria conseguir nocautear a maldição a todo custo, mesmo que ela também fosse derrotada.

— Me solta, sua criança de merda! — Maya criou lâminas que saíam pelas suas costas, assim perfuravam o torso da princesa, mas ela estava tão decidida que não a soltava ou reagia, apenas vários trovões continuavam a cair incansavelmente.

Drake, Toby e Kenta apenas observavam e esperavam para quando aquilo iria acabar, afinal a vencedora saíria dali.

Blair não pode perder, pensou Drake.

Vamos, Sra. Maya, depois de tanto tempo, o seu momento chegou!, pensou Kenta.

Memórias de um dos casos de brigas que Toby se envolveu na cidade começaram a ocupar a mente de Blair.

— Um dia, vocês vão ter que se proteger sozinhos. — disse Blair.

— Eu sei, por isso não vou decepcionar! — respondeu Drake.

— Você eu sei que espera de tudo, mas o Toby… Ele nunca existiu em um mundo onde eu não seja a mais forte, eu não acho que vou perder, mas se um dia acontecer, qual vai ser a reação dele?

— Não consigo imaginar.

— Eu também não, é por isso que eu não irei perder nunca. Eu não posso decepcionar ele!

De volta a chuva de trovões. Após intermináveis 27 minutos, as nuvens se desfizeram. Maya se soltou de Blair e caiu diretamente no chão.

— Eu… Não posso perder!

O corpo de Blair completamente queimado e com espasmos foi visto ainda preso às correntes. 

— Ela conseguiu? Ela levou Maya junto dela!? — gritou Kenta, indignado.

— Não posso… Ser derrotada. — Blair virou e olhou para Toby. — Eu que te trouxe pra esse mundo, eu que te fiz querer tudo isso, eu tenho que ser um exemplo.

— Bla… Blair? — perguntou Toby, ainda confuso e tonto.

— Você sempre quis ser forte como eu… — Ela olhou para o chão, quase fechando os olhos — Mas eu também sempre quis ser igual você, eu queria poder ser derrotada e levantar feliz porque alguém me salvou, eu queria ser alguém comum… Aparentemente nascemos com destinos trocados.

Toby finalmente recobrou totalmente a sua consciência com a declaração de sua melhor amiga, mas ele ainda não conseguia se mexer direito.

— Eu perdi, Toby. Eu fui derrotada por uma maldição. — desmaiou e ficou pendurada pelas correntes.

HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!! EU VENCI A PRINCESA!!!! — gritou Maya, enquanto levantava com sua armadura com apenas algumas rachaduras.

— Não… — lamentou Drake.

— Sra. Maya! Você é a maior!

— Eu sou, não sou? — Ela cortou as veias de seu pulso, criando o bolo a partir do sangue jorrado. — Coma aqui, princesa, ou melhor, diabo.

Drake empurrou Kenta e conseguiu acertar um soco no rosto de Maya, o bolinho caiu no meio do lodo.

— Merda, garoto desgraçado! Lâminas Mortais! — As diversas lâminas acertam Drake, que cai quase desacordado, mas com um sorriso em seu rosto.

Ybytu! Vórtice dos Ventos!

— Desgraçado maldito! Me deixe sair disso, eu vou transformar a princesa em diabo a qualquer custo, não importa mais!

— Você pode deixar comigo, Sra. — Kenta pegou o bolinho e caminhou até a ruiva.

— Não! Você não sabe o que ela fez com o seu irmão? — gritou o garoto com sardas.

— Ela fez algo com ele? — Kenta parou com o bolinho preparado para ser jogado na boca de Blair.

— Ela o transformou em uma Besta! Eu nem sei se ele está vivo, quem enfrentou ele disse que ele comeu duas das drogas da besta, duas! — explicou Toby.

— Ele o quê?

— Não ouça ele, Kenta! Você sabe da promessa que fizemos! — gritou Maya, de dentro do vórtice. 

— Sim, a Sra. me prometeu que meu irmão nunca seria usado como criação de bestas, apenas concordamos em usar as drogas.

— E onde está a sua!? — gritou Drake.

— Bem… Eu..

— Quando você o expulsou, eu sei que você viu! Ele ia tirar alguma coisa do bolso, mas desistiu e correu pra longe!

— S-sim, foi isso mesmo… — Kenta se lembrou do momento.

— Seu irmão pode estar morrendo agora, ele está no centro agonizando após ser fundido por sangue da besta! E você vai continuar ajudando essa mulher?

— N-não sei… Eu estou confuso.

— Então deixa comigo! — Maya finalmente se livrou do vórtice e se assustou com o que viu.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRGGGGGGGGHHHHHHH — Um grito desesperado de dor foi ouvido.

Anos atrás, dia seguinte ao que Blair conheceu Toby. A campainha da casa do garoto tocava.

— Toby! Atende! — gritou Naomi.

— Tudo eu nessa casa! — disse o menino de sardas, abrindo o portão.

— Olá! — exclamou Blair, com um sorriso.

— Fugitiva? O que faz aqui?

— Nunca mais me chame assim! — Ela chutou a canela do menino e entrou na casa sem ser convidada.

A partir daquele momento, foi criada uma rotina diária entre os dois. Blair fugia do castelo e ia para a casa de Toby brincar. Alguns meses se passaram e eles continuavam cada vez mais unidos.

— Ei, você não quer ir no parquinho aqui perto? Lá parece muito legal.

— Sair? Err… Eu não acho que consigo, parece tudo tão grande, eu tenho medo. — Ele começou a suar e ter dor de barriga.

— Nossa, tá quente. — Ela colocou a mão na testa do menino e sentiu que ele estava febril.

— É normal, quando eu fico nervoso isso acontece.

— Pois então vamos treinar em como você vai reagir!

Os dois passaram tempos treinando como Toby deveria se portar fora do portão de casa, até que um dia os dois saíram pela primeira vez.

Por que eu estou lembrando disso? Será que isso significa que… Eu finalmente saí?, pensou Toby, enquanto engolia o bolinho.

— AAAAAAARRRRRRRRGHHHHHHH!!!!!!! Meus dedos! Ele mordeu com tanta força que quase o arrancaram! — gritou Kenta com seus dedos jorrando sangue.

— Não, isso era pra princesa comer! Não é uma dose qualquer, isso é o mesmo nível da dose do Aron! — gritou Maya.

Não fale como se soubesse pelo que passei, essa sensação de que tudo vai acabar em instantes é uma coisa que você só consegue sentir vivendo!, as palavras de Aron estavam na cabeça de Toby desde aquele momento.

Você estava certo, grandão, tem coisas que só conseguimos fazer quando o fim está na nossa frente, pensou o garoto de sardas.

— Toby?... — Drake se assustou.

— Pegue a Blair e fuja logo, isso pode nos trazer problemas! — explicou Toby.

Uma queimação como nunca tinha visto antes tomou conta do corpo de Toby, não demorou nem dois segundos para seu corpo todo arder em chamas. Kenta foi queimado apenas por estar perto, mas fugiu para o centro a tempo. 

Drake pegou seu fragmento de volta, cortou as correntes e carregou Blair para longe daquele calor imenso.

— Você estragou meu plano, seu desgraçado, agora você vai morrer nas minhas mãos! — Avançou Maya.

— Morra. Morra. Morra. Morra. Morra. Morra. Morra. Morra. — cochichava Toby.

Toby sumiu em meio às chamas que consumiam seu corpo, o fogo não estava apenas cobrindo seu corpo, como ele estava o queimando também. Ele gritava da dor de consumir algo terrível e também gritava do seu corpo queimado. Mas o sentido de dor era a única coisa que parecia restar de Toby. Pois sua mente e consciência foram substituídas por uma que apenas pretendia queimar tudo.

Merda, o poder dele fugiu do controle com uma força incrível, ele deve ser um usuário de poder das emoções, isso complica tudo, pensou Maya.

Fim da luta. Blair foi derrotada. 

O Diabo despertou.



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