Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Filho da Maldição

— Olá! Eu me chamo Drake Shin Excalibur, sou filho de um dos Oito Guardiões — disse o garotinho de óculos, se gabando para outras crianças sem entender nada em um parquinho.

Um garoto de cabelos púrpuros deu um tapa na nuca de Drake.

— Rose, eu tenho que contar para alguém, isso é muito incrível!

— A titia Karen te contou ontem e desde lá você tentou contar pra todo mundo que viu. — Rose puxou Drake pela orelha para um lugar longe das outras crianças.

Aiaiaiai! Tá doendo! — O garoto se soltou e tentou fugir, mas esbarrou em sua mãe que havia chegado. — Oi mãe, hehe.

Karen agradeceu a Rose por segurar o menino de óculos. O garoto de cabelos púrpuros se despediu e foi embora em direção a sua casa. Karen e Drake também voltaram para seu lar.

— Rose me disse que eu não posso contar sobre o papai, mas isso é tão chato…

— Os Oito Guardiões são guerreiros mascarados que salvam o continente todo das maldições, eles não podem ter sua identidade revelada, muitas pessoas querem eles mortos. — Ela passa a mão na cabeça de seu filho, que estava assustado depois de tentar contar para todo mundo. — Então não conte pra ninguém.

— POR QUE NÃO ME FALOU ISSO ANTES? — perguntou Drake.

— EU FALEI, MAS DEPOIS DE FALAR QUE ELE ERA UM DOS GUARDIÕES VOCÊ APAGOU TUDO O QUE FALEI EM SEGUIDA. — gritou Karen, apontando para seu filho.

— Você pode me prometer uma coisa, assim eu nunca mais conto pra ninguém!

— Não é pra contar pra ninguém de jeito nenhum, mas o que você quer?

— Eu quero aprender a ser um espadachim, assim como você e o papai. — disse Drake, que emocionou sua mãe.

Dois anos se passaram depois daquela conversa, agora Drake e Karen estavam em um barco, muito assustados com alguma coisa que haviam descoberto.

— Pra onde vamos? 

— Cidade de Solária, lá excluiremos o sobrenome dele e tentaremos viver uma vida normal, onde ninguém sabe que já tivemos contato com ele. — explicou Karen.

— Eu queria ficar na ilha, junto do Rose…

— Eu vou continuar te ensinando o estilo com espadas, e assim você vai poder entrar pro exame quando se formar para-

— Eu me recuso. — Ele desviou o olhar.

— O quê?

— Eu nunca vou lutar com espadas, não importa o que aconteça, eu não vou. 

A mãe notou que seu filho estava chorando, mas não queria transparecer isso, e também se segurou para não chorar junto.

— Eu entendo sua escolha, filho, mas existem momentos que você pode precisar usar.

— Eu vou fazer o máximo para não precisar.

Mãe, eu pensei que nunca mais falaria isso, estou longe de me orgulhar, mas o momento que você me contou, finalmente chegou.

— Eu me chamo Drake Shin Excalibur, o filho da terrível maldição. — Empunhou a espada.

— Vocês não cansam de tentar me parar, pois saibam que podem aparecer mais e mais, eu vou matar todos — Enfurecido, Aron arrancou a árvore do chão e a jogou.

O garoto de óculos cortou o tronco no meio e desviou, já iniciando um contra-ataque, que fez outro corte no peito do homem com braços de ferro.

— Aê, Aron. — Drake apontou a espada para o grandão. — Cuidado para os piratas não te acharem, vão achar que tem um baú no meio do seu peito depois desse X que fiz nele, hahahaha!

— Não me chame pelo nome, você não me conhece!

— Conheço sim, você é um fracassado que cansou de apanhar pros Guardiões.

A personalidade desse garoto… Antes ele parecia tão preocupado com o amigo dele, agora ele simplesmente parece estar brincando, pensou Aron.

— Vem cá, tesourinho! — Drake correu na direção do grandão.

— Não me subestime! — Aron colocou o braço para se proteger do corte, isso acabou quebrando a espada que Drake empunhava. — Agora sofra a dor do Braço de Ferro!

O golpe desferido acertou o garoto de óculos com tanta força, que seu corpo derrapou no chão por muito tempo, deixando a marca por onde passou.

Toby, como você aguentou um golpe dele… Eu acho que não consigo mais levantar… 

— Esse é o poder do filho da maldição? Me foi prometido outra coisa, porque eu só vejo uma criança idiota em perigo.

— Drake! — Endo pegou a espada de Kenny e jogou para perto do garoto de óculos.

O quê? Ah, é verdade. No calor do momento eu adotei a promessa idiota do Toby, agora eu vou ter que cumprí-la.

Drake levantou com muita dificuldade, pegou a espada que Endo havia jogado e entrou em guarda novamente.

— Não vou fazer nada, venha me atacar, vou quebrar a espada novamente. — explicou Aron, com um sorriso cínico.

— Você mesmo falou mais cedo, então também não me subestime! — Drake avançou para atacar novamente. Ele se movimentou de uma forma muito veloz, que o grandão não conseguia acompanhar com seus olhos e movimentos. A destreza de Drake ainda não era boa o bastante para ferir gravemente, mas com sua velocidade ele conseguiu fazer muitos cortes leves em Aron.

— Você é tão irritante, eu odeio quando insetos ficam me rodeando. 

O homem dos braços de ferro tentou socar o garoto de óculos, que apenas desviou e tentou fazer outros cortes profundos no peito de seu inimigo.

— Não vou deixar — Aron colocou novamente seu braço em frente ao golpe da espada, só que desta vez a espada não quebrou.

O quê? Essa espada é bem mais forte e resistente que a do Lenny.

— Como? Como isso é possível? — gritou o homem, desesperado.

Drake aproveitou o momento, se esquivou facilmente e desferiu cortes no mesmo local que os anteriores, os deixando mais profundos. Muito sangue jorrou pelo peito do homem, que jogou o menino de óculos novamente para longe.

— Eu estou perdendo muito sangue, que merda, eu não posso perder aqui… — Aron começou a perder sua consciência. — Não… Aqui não… 

O Braço de Ferro desmaiou e as crianças que estavam apreensivas começaram a pular e gritar por todo o gramado. Drake ainda estava caído no chão, ele apenas ouvia as crianças.

— Obrigado. — Alguém pegou a espada das mãos de Drake.

— De nada, mas por que você quer pegar a espa-

Ele olhou para quem tinha pego a espada e notou que era Kenny pegando sua espada de volta, ele tentou evitar, mas foi nocauteado.

— Quem foi que deixou vocês gritarem e comemorarem algo? — Kenny pegou Endo de refém e colocou a espada em seu pescoço — O vencedor é o último que restar de pé, então eu venci, agora voltem para o galpão ou eu irei matar vocês um por um, começando com esse traidor de cabelo alaranjado.

— Corram! Não liguem para mim, fujam, eu me viro — gritou Endo, enquanto chorava de medo.

— Não se mexam ou eu mato ele! — Kenny fez um pequeno corte no pescoço de Endo.

— Ameaçar e ferir crianças dessa forma é uma coisa tão desprezível…

— Quem disse isso? Onde? — O bandido se assustou com a voz grossa que ouviu, sem saber de que direção ela veio.

Endo aproveitou do momento de insegurança de seu sequestrador e conseguiu escapar, quando Kenny correu atrás do garoto, sofreu um grande impacto em seu estômago e ficou desacordado no mesmo momento.

Era um homem alto, de cabelos longos azuis escuros como a cor da noite, ele tinha uma roupa branca e bonita, digna de ser uma roupa usada pela nobreza.

— Quem… É o senhor?

— Eu me chamo Zane Rogers, desculpem a demora para chegar. — Ele se curvou para as crianças, como um cumprimento da nobreza. — Eu também sou, a partir de hoje, mentor desses três garotos que vieram até aqui.

As crianças se impressionaram com a presença de Zane. Momentos após a apresentação, outros três guardas apareceram com uma carroça e começaram os cuidados com Drake, Toby e Blair. E também amarraram os três bandidos.

De dentro daquela carroça, os três guardas tiraram comida e começaram a distribuir entre as crianças. Após cinco horas do fim da luta, os três guerreiros já haviam acordado.

Blair estava cheia de fome e finalmente pôde ter sua refeição perfeita para recobrar suas energias, embora todos em sua volta se assustaram com a crueldade e velocidade que ela comia. Ela não teve ferimento algum, típico para alguém com o DNA da realeza.

Drake ainda estava um pouco tonto das pancadas que sofreu, ele pegou de volta o colar que havia deixado com Endo e aproveitou para pegar a espada de Kenny para si, a colocando em suas costas.

Toby tinha queimaduras leves por todo o corpo, ele demorou para entender tudo o que aconteceu e ficou triste por não ter derrotado Aron, mas prometeu que se na próxima vez ele encontrar Aron novamente, ele não irá perder.

No final da tarde, carroças de busca apareceram e levaram todas as crianças de volta para o orfanato da cidade de Solária.

— Toby, Drake e Princesa. Eu gostaria de agradecer vocês por nos salvarem, eu sou muito grato por tudo. — chorou Endo, enquanto eles apenas sorriram de volta demonstrando gratidão para o garoto.

As carroças partiram e apenas sobraram Zane e os três garotos.

Buaaaa! Ele nos agradeceu quase chorando — chorou Toby.

— Eu sabia que você ia chorar — exclamou Blair.

— Ele sempre chora por muito menos… — disse Drake.

— Nós temos que ir agora, mas antes, quem é o melhor líder de vocês três?

— Eu — disse o menino com sardas.

— Ela — respondeu o garoto de óculos, apontando para Blair.

Blair levantou seu braço.

— Certo então, Blair, venha comigo, vamos fazer o relatório. — Zane e Blair saíram do galpão e deixaram os meninos lá.

Drake estava inquieto, ele encarava Toby sem parar.

— Desembucha, o que você quer me contar?

— Por favor me desculpa por nunca ter te contado que o Excalibur era o meu pai, eu fiquei com medo quando te conheci porque sabia que ele tinha feito coisas muito ruins com você e sua família, eu de certa forma me senti culpado… — O garoto tirou seu óculos, aos prantos — Eu prometi que nunca mais iria usar uma espada, mas eu precisei usar e eu acho que vou ter que continuar usando se eu quiser me tornar forte, então por favor, me perdoe!

Toby ficou surpreso com o discurso de seu amigo, a quantidade de lágrimas que escorriam pelo rosto de Drake o impressionou.

— Um dia eu escutei falar que espadachins para lutas eram como pássaros para vôos, eu custei a entender, mas acho que agora eu entendi de vez. — Toby apontou para Drake —  Você é como um pássaro, e a espada é sua asa, eu não posso e nem quero te impedir de voar, se seu estilo de luta é esse, quero que você use ele e seja livre.

— Mas o que o meu pai fez… Eu achei que você quisesse se vingar dele…

— Eu não planejo me vingar dele, pelo menos esse não é o meu objetivo final, seria fácil demais só seguir esse caminho. E mesmo se eu quisesse segui-lo, você não tem nada a ver com ele, você é o meu amigo Drake.

Os dois amigos se abraçaram.

— Drake, você tá molhando minha camisa com lágrimas.

— Ah, desculpa.

Blair e Zane estavam fazendo o relatório da missão, o anoitecer já havia chegado.

— Você mandou uma carroça pra escoltar os bandidos? 

— Sim, e uma equipe foi contratada para ajudar a escolta. — Zane estava anotando coisas em seu celular. — Então podemos fechar, não é? Eram três bandidos apenas?

— Pelo que eu lembre, era sim, tinha o Aron, Os irmãos atrapalhados e-

Blair ficou de olhos arregalados ao ver a velhinha em cima do telhado do galpão, aquela mesma velhinha que mandava nos bandidos.

— Alí! Olha! 

— Não tem nada.

— É uma velhinha, ela é muito forte e mandava no Aron e nos outros, eu não sei a razão de eu não estar conseguindo lembrar dela, mas agora eu lembrei, ela cantava uma cantiga, e era muito assustador, ela que sequestrou todas as crianças desse lugar!

— Uma velhinha? No telhado? Que sequestra crianças? — Zane se assustou e rapidamente tentou ligar para alguém — Harry. Situação Emergencial. Vocês precisarão de mais uma equipe de apoio na escolta, nós estamos indo. — Desligou o telefone.

— A gente? — perguntou Toby, saindo do galpão junto de Drake.

— Sim, vocês querem cartas de recomendação, não querem? —  perguntou Zane, os três garotos responderam acenando as cabeças, com um olhar sério. O homem de branco novamente pegou o seu celular e fez outra ligação.

— Alô, é a Helena falando, vocês já estão voltando?

— Helena, traga a sua aluna curandeira e nos ajude com uma missão.

— Qual?

— Teremos que exterminar uma Maldição.



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