Volume 1 – Arco 1
Capítulo 4: Cortina de Fumaça
O amanhecer chegou na cidade de Solária. A luz do sol já tocava nas ruas e casas do Sexto Distrito.
Naomi chegou em frente a porta de Helena e apertou o botão da campainha. Uma mulher estava apoiada no ombro da mãe de Toby.
Dentro da casa de Blair, Helena preparava um café.
— Kaya, abra a porta, estou terminando de coar o café.
A menina acenou com a cabeça e foi em direção a porta. Ao abrir, viu que Karen passava mal.
— Oi menininha, você deve ser uma aluna da Helena, prazer — disse Naomi, com um sorriso inocente em seu rosto.
Helena rapidamente foi até a entrada e ajudou a carregar a mulher com enjôo até o sofá e a deu um balde.
— Sempre passo mal quando ando de ônibus por muito tempo, bleeeh.
— Você tem a mesma coisa que o seu filho, ele sempre chegava enjoado quando vinha pros distritos maiores — disse Helena, enquanto passava as mãos nas costas da mãe de Drake. — Kaya, use sua cura para ajudá-la.
A menina foi até a frente de Karen e colocou sua mão em frente ao estômago da senhora, uma luz verde brilhou em suas mãos e logo a senhora parou de vomitar.
— Não acredito como o meu filho passava sempre por isso, é horrível.
— Nossos filhos estão bem, Helena? — perguntou Naomi, ainda em pé na entrada.
— Eles estão no Cemitério de Trens nesse momento, foram tentar derrotar bandidos para conseguir cartas de recomendação pro Exame Anual. Mas não precisa se preocupar, Zane e seus homens já devem estar para chegar lá.
O QUÊ? Eles foram longe assim por uma cartinha!?, pensou a garota de cabelos cianos, enquanto voltava para seu lugar.
— Drake e Toby se meteram em problemas como sempre hahaha. — Ela virou para Helena. — Blair vai resolver isso, como sempre.
A tranquilidade delas falando de seus filhos lutando contra bandidos… Agora entendo como aqueles três são tão inconsequentes, pensou Kaya.
Naomi sente um mal estar e perde as forças, quando ia cair, Helena a segurou.
— Você não podia fazer tanto esforço como fez agora Sra. Burn.
— É, desculpa, da próxima vez eu tento vir andando, você tem que ficar sem fazer esforços, Naomi.
— Eu exagerei um pouco mesmo, mas eu senti uma coisa diferente vindo do meu núcleo, é o Toby.
Todos na sala se assustam.
No Cemitério de Trens, uma fumaça escura ocupou todo o local do gramado. Drake levou Endo para o fim daquela cortina de fumaça.
Agora é entre você e ele, eu confio em você, Toby.
Aron começou a dar socos em todas as direções, a pressão de seus braços afastaram um pouco a fumaça, mas nada o bastante para dissipá-la.
— Você não é um ventilador, grandão burro, eu to vendo você passando vergonha. Hahahaha. — Riu o garoto com sardas, que deixou Aron ainda mais furioso.
— Eu vou te matar seu verme desgraçado! — Aron parou de se mexer por cerca de dez segundos. — Ventilador? Eu consigo ser!
Aron abriu seus braços e começou a girar seu corpo para simular uma hélice e assim ele consegue dissipar a fumaça do local, mas como girou muito, acabou tonto.
— Minha mãe me disse um dia, que todo grandão que ameaça os outros fácil assim como você fez, é um burro de marca maior. — Ele abriu um sorriso. — E ela não podia estar mais certa!
Toby pegou uma das barras de ferros da entrada da casa de metal.
— Existem três pontos fracos pra fortões burros como você. — Toby acerta em cheio a cabeça de Aron, o deixando ainda mais atordoado. — O primeiro é a cabeça.
Endo entrou de volta no galpão e chamou todas as crianças sequestradas para torcer por Toby, que começou a ter uma queimação no estômago.
— Pressão não vai me ajudar tanto assim, galera. — Ele apertou a barriga.
Aron levantou atordoado e começou a socar para todos os lados, pois ainda estava muito tonto. Dessa vez um dos socos acertou Toby, que foi jogado para longe.
— Merda… — Ele colocou a mão em sua testa e viu sangue caindo, aquilo o assustou, mas ele continuou. A fumaça novamente tomou conta do lugar.
Aron começou a andar por dentro da cortina de fumaça, novamente socou para todos as direções.
— A segunda fraqueza, são os joelhos!
— Contar o que você vai fazer não te ajuda, senhor inteligentão. — Aron colocou seus grandes braços em frente aos seus joelhos.
— Hahahahaha. — Toby pegou a barra de ferro e acertou em cheio no meio das pernas de Aron, que caiu agonizando no chão. — Esse aqui é a terceira!
— Sardinhas! Sardinhas! Sardinhas! — Mesmo sem ver nada com a fumaça, as crianças começaram a gritar para torcer por Toby.
Sardinhas? Foi ideia do Drake, tenho certeza, pensou o garoto com sardas.
Toby aproveitou que Aron estava em agonia no chão e acertou a barra de ferro mais algumas vezes na cabeça dele, até que a fumaça se dissipou e todos viram que o braço de ferro estava desacordado.
— Espera… Eu venci? — Ele virou para as crianças, levantou seu braço esquerdo, fechou seu punho e comemorou.
— Toby!!!! — gritou Drake, assustado.
— Você pode ser inteligente, mas vai continuar sendo um fracote! — Aron se levantou. — Você é fraco demais pra sofrer meu maior golpe, mas me irritou tanto que você vai morrer com o meu braço martelo!
Aron levantou seus dois braços, entrelaçou os dedos das mãos e desceu com toda força na direção do garoto com sardas, que não conseguiu desviar e foi jogado contra o chão com toda a força.
— Hahahaha, fracote! — debochou Aron. Que olhou para as crianças e todas correram de volta para o galpão.
Drake, furioso enquanto segurava seu colar, e Endo foram os únicos que continuaram ali assistindo.
— Nem fogo você consegue fazer, só fumaça sai desse seu bracinho fino hahahaha. — disse Aron, enquanto voltou até a entrada de sua casa, pegou um pano e passou ele nos sangramentos em sua cabeça.
— Não fala assim dele, você não sabe de nada seu merda! — Drake ameaçou atacar o grandão.
— Não se intrometa, Drake. Ainda não. — Levantou Toby, com seu corpo todo tremendo de fraqueza, após sofrer aquele golpe.
— Eu gostei de você, fracotezinho, você apanha e levanta, vou te sequestrar pra ser o meu saco de pancadas!
A fumaça novamente tomou conta do lugar.
— De novo isso, se você faz fumaça então deveria fazer fogo, faz fogo e lute igual homem, seu merda!
— Cala a boca seu verme de merda.
— Você se irritou… Então você não consegue fazer uma faisquinha? Hahahahaha.
No Sexto Distrito, após tomar um remédio, Naomi consegue melhorar.
— O Toby deve estar em combate agora… Isso é perigoso. — disse a menina de cabelos cianos.
— Ainda mais com o problema dele… — lamentou Karen.
— Problema? — Kaya ficou curiosa.
— Todos nós nascemos com um núcleo de poder em volta do nosso coração, certo? — exclamou Helena.
— Sim, eu lembro dessa aula. Esse núcleo é a fonte de nossos poderes.
— O Toby… — Helena olhou para Naomi e hesitou contar.
— Quando ele estava para nascer, o lugar onde a gente estava sofreu um ataque de um gás que destrói todos os núcleos de quem o respira. Eu acabei respirando e meu núcleo foi destruído — contou Naomi.
— Então como você está viva? Após o núcleo ser destruído, as pessoas só sobrevivem por trinta horas sem ele.
— Durante o parto, o médico notou que o núcleo do coração de Toby era idêntico ao meu, e assim ele conseguiu transplantar metade para que eu não morresse.
— Espera… — Kaya arregalou os seus olhos — Então aquele garoto só tem metade de um núcleo?
— Sim, por isso eu sobrevivi, ele me salvou, meu filho é um herói desde o dia em que ele nasceu.
— Mas não tem como ele lutar assim. — disse Kaya, enquanto as outras três mulheres deram risada. — O quê? Eu falei alguma piada?
— Aquele garoto pode ser fraco, mas ele consegue ser bem irritante e insistente quando ele quer… — explicou Helena.
No Cemitério de Trens, mesmo dentro da cortina de fumaça, Aron conseguiu acertar outro golpe em Toby, que o jogou contra uma árvore, quase no fim do gramado.
— Você não consegue fazer fogo mesmo hahahaha. Tenho certeza que o fogo que deveria estar no seu núcleo se apagou já, não tem vergonha de ser tão incompetente assim? — Aron debochou novamente do garoto com sardas, que, ainda tremendo, se esquivava como podia dos vários golpes desferidos pelo inimigo dentro da fumaça.
— Eu tenho muito orgulho de ser fraco assim, e você nunca entenderia, por que você não tem ninguém! — Ele pulou nas costas de Aron e colocou sua mão tampando a boca e nariz do grandão. — Engole agora seu merda.
Toby fez Aron ingerir uma grande quantidade de fumaça, o Braço de Ferro começou a tossir desesperadamente.
— Bleh, verme de merda, você só usa truque sujo.
— Desculpa aí, Sr. Sequestrador de crianças, eu vou tentar ser mais limpo agora.
— Você… Pode fazer o truque sujo que quiser, não vai te fazer conseguir usar fogo. — provocou.
— Eu vou te ensinar somente uma vez, sabe como se descobre se um incêndio está ocorrendo ou ele já acabou?
— Que pergunta é essa?
— Eu explico. Quando a fumaça estiver branca, o incêndio já acabou, mas quando ela está escura, o fogo ainda está queimando! — Toby se assustou, pois seu braço direito começou a esquentar de um jeito que o queimou.
Meu braço… Ele está queimando…
— Então ainda deve ter um fiapinho de faísca lá, isso não quer dizer que você vai conseguir usar o fogo um dia.
Eu realmente não consigo vencer ele? O máximo que eu consigo fazer é deixar o meu braço esquentar?
— Cadê você, seu verme, não fica calado!
Esquentar? É isso.
O garoto com sardas pulou novamente nas costas do grandão, e começou a esquentar seu corpo por completo, assim queimando o corpo do Braço de ferro.
— Aaaaargh, me larga seu carrapato de merda. — Aron tentou alcançar o garoto em suas costas, mas seus braços não alcançaram.
— Seus braços são de ferro, mas o resto ainda dói né, desgraçado, eu vou te queimar até você morrer!
— Sai de mim seu carrapato — Aron começou a bater o garoto contra a árvore — Vamos ver quem aguenta mais, fracote de merda.
Toby queimava Aron cada vez mais, enquanto o grandão batia com as costas do garoto contra a árvore. Os dois ficaram gritando por muito tempo naquele lugar, até que os dois gritos pararam.
— O quê? A fumaça está se dissipando — gritou Endo.
As crianças de dentro do galpão, voltaram para o gramado, curiosos com o resultado.
Eu confio em você, Toby. Eu sei que você ganhou, eu sei, pensou Drake, segurando em seu colar com as duas mãos.
A fumaça se dissipou completamente, todos conseguiram ver o verdadeiro vencedor daquela luta.
— Você pode ser esperto, você pode ser inteligente, mas você continua sendo um FRACO, você é um fracote! Garoto da fumaça. — Aron começou a chutar o corpo de Toby, caído no chão.
— O Tio Sardinha… Perdeu? — As crianças se assustaram.
— Ele me prometeu… — Endo se desanimou.
— A promessa dele é uma dívida de toda a equipe, Endo. — disse Drake, que apertava o ombro do garoto de cabelo laranja. — Só preciso que fique atento em uma coisa para mim.
Endo viu o olhar furioso que o garoto de óculos estava. Drake entregou seu colar e foi até os corpos desacordados de Kenny e Lenny.
Na casa de Blair, Helena e Naomi continuavam sua discussão sobre os garotos.
— Eu sei que meu filho vai lutar até ele não conseguir mais, eu não gostava da ideia dele lutar assim, é tudo tão perigoso, muitas pessoas acabam morrendo, mas mesmo assim ele me faz acreditar que tudo pode dar certo — explicou Naomi.
— A Blair e ele sempre vão dar tudo de si. — exclamou Helena.
— O meu filho sempre teve muito medo de mostrar o seu verdadeiro eu. O que o pai dele fez não vai ser esquecido nunca. Eu sei que se o Drake entender que ele é diferente do pai dele, ele vai conseguir separar as coisas e dar tudo de si para proteger o Toby e a Blair. Eu confio completamente nele. — Karen cerrou seus punhos.
Elas parecem ter tanta confiança nos filhos, isso é tão estranho, eles conseguem mesmo vencer esses bandidos?, pensou Kaya.
Aron ainda chutava o corpo de Toby, apenas parou quando sentiu uma pressão crescente vindo de trás, quando se virou, algo passou muito rápido por ele deixando um corte em seu peito.
— Que merda foi essa!? — Aron colocou a mão no corte feito e olhou para onde estava aquele vulto veloz.
— Agora você vai se arrepender de cada palavra que disse sobre o Toby, seu enferrujado desgraçado.
— Você? Como ficou tão veloz? A espada do Lenny… Essa pose de luta… — Aron arregalou os seus olhos.
— Reconheceu a pose de luta? Essa é a pose de um homem terrível e muito forte.
— Quem é você!?
— Eu me chamo Drake Shin Excalibur, o filho da terrível maldição.