Volume 1 – Arco 1

Capítulo 3: Trovão do Amanhecer

Blair estava desacordada, mas em sua consciência ela conseguia ouvir a velhinha a cantar, até que, em algum momento, aquela voz mudou. A ruiva não ouvia mais a voz da idosa, mas sim uma muito conhecida, porém não conseguia lembrar.

Em meio a confusões por tentar lembrar daquela voz, uma porta apareceu em frente a princesa, ela já havia percebido onde estava, então decidiu abri-la.

Nana Neném

Que a Cuca vem pegar

Papai foi pra roça

Mamãe foi trabalhar

A antiga rainha e mãe de Blair, cantava para ninar a sua filha até que ela dormisse.

— Mamãe, eu já tenho cinco aninhos, não tenho mais medo dessa Cuca! 

Uma lembrança? Por que eu estou lembrando disso?, pensou a princesa.

— É mesmo é? Então o que te deixa com medo? — A rainha fazia cafuné em sua filha.

— Nadinha de nada! Papai me disse que serei uma rainha muito fortinha quando crescer! — Ela encheu as bochechas de ar e fez um bico para sua mãe.

— Seu pai é um chato, você deveria se divertir mais e pensar menos em ser princesa, aproveite a vida, meu bebê. — O sorriso que a rainha fez naquele dia nunca mais foi esquecido pela princesa, nenhum detalhe dele.

Lágrimas… Eu estou chorando em um sonho? Pelo menos aqui eu posso ser livre pra chorar em paz.

Tudo naquele instante escureceu, a ruiva viu sua versão mais nova junto de sua mãe desaparecer naquele escuro profundo. Ela ouvia alguém atrás a chamar, aquela voz também era conhecida, e ela lembrava muito bem.

— Volta aqui! Você é a futura rainha dessa cidade, não pode ser uma criança mimada assim, volta aqui, filha! — O Rei gritava enquanto via sua filha fugindo do castelo. — Guardas, atrás dela!

Isso foi alguns meses após a morte da mamãe, eu já tinha seis anos.

Após um bom tempo de fuga dos policiais particulares do rei, a garota achou uma macieira, e conseguiu escalá-la, dali ela viu os guardas perdidos e desistindo daquele lugar. Ela se aproveitou e ficou olhando a paisagem enquanto comia as maçãs da árvore.

Espera, foi esse dia! Esse dia que eu conheci o…

O amanhecer chegou no cemitério dos trens, as crianças sequestradas já começavam novamente seu trabalho diário, Kenny e Lenny estavam de seguranças para receber os intrusos, enquanto Aron continuava dormindo em seu sono profundo. Não havia nenhum sinal da senhorinha naquele lugar.

— É aqui, chegamos.

— Espera… Aquelas… — Drake apontou em direção às crianças. — São as crianças dos cartazes!

Os dois garotos ficam aterrorizados quando percebem, o olhar paralisado dos dois perdura por alguns instantes. De repente alguém os tocou nos ombros.

— Com licença, vocês são os que vão resgatar a princesa?

Toby e Drake levaram um susto gigantesco e, na hora que iam gritar, um tampou a boca do outro.

Hahahaha, vocês são engraçados.

— Quem é você? — perguntou Toby, ofegante com o susto.

— Me chamo Endo, sou uma das crianças raptadas do primeiro distrito, acho que é assim que vocês me conhecem. — O menino abre um sorriso falso e os garotos notam seus joelhos ralados e suas mãos cheias de calos.

— Todos vocês foram sequestrados pelo Kenny e o Lenny?

— Não, eles dois um dia também já foram igual eu, mas assim como todas as crianças daqui, eles eram crianças órfãs e sem teto, que a assembleia chutou para o primeiro distrito. — Endo cerrou seus punhos.

— Então como chegaram aqui?

— Não sei direito, só sei que alguém nos trouxe, acho que talvez o Senhor Aron… Mas não me lembro.

— Aron, O Braço de Ferro? — O garoto de sardas se assustou.

— Você sabe onde a Blair está? — perguntou Drake, enquanto Toby apenas tremia.

— Sei sim, mas só conto se me prometerem uma coisinha. — O menino levantou um dedo. — Nos salvem desses bandidos.

Apesar do menino de cabelo alaranjado falar de uma maneira calma, era notável a falsidade em seu sorriso, seu olhar mostrava cansaço e desespero. Drake relutou em fazer uma promessa que achou ser tão importante e difícil, mas Toby, com seus olhos que quase lacrimejavam de medo, se emocionou com o olhar desesperado do menino e mesmo sem confiança alguma ele acenou com a cabeça e botou a mão no ombro da criança.

Os três meninos ficaram alguns momentos pensando numa maneira de chegar nos fundos do galpão, já que o único caminho seria por dentro, já que por fora estava cheio de arame farpado. Toby viu Lenny carregando uma sacola de maçãs e teve uma ideia.

Endo caminhou na direção de Lenny, até ficar frente a frente com o bandido.

— Olá, o Mestre Aron me pediu pra alimentar a princesa, posso levar uma maçã dessas para ela?

— Pode sim, pega aqui. —  Lenny aproximou as cestas de Endo, que enrolava pra escolher uma maçã.

— Escolhe logo. — esbravejou.

Ao mesmo tempo, os intrusos entraram sem fazer barulho algum. Quando já tinham entrado, o menino terminou sua enrolação e passou direto por Lenny, que botou o pé e fez o menino cair com a maçã.

Lenny correu atrás de Toby e Drake, que fugiram em direção à porta. No meio do caminho notaram que ela estava fechada, mas mesmo assim não pararam de correr por dentro do galpão. Os dois se olharam e decidiram se jogar para arrombar a porta, mas no momento que se jogaram, Kenny a abriu e assim os três saíram rolando pelo gramado.

— Merda… Vocês vieram mesmo. — Kenny levantou.

Hyaaaaa! — O garoto com sardas pulou em cima de Kenny enquanto Drake corria para tirar Blair da gaiola.

Lenny chegou a tempo de impedir o garoto de óculos, e assim os dois irmãos jogaram os intrusos perto da entrada da casa de ferro.

Ambos puxaram suas espadas e se prepararam para finalizar os garotos.

— Espera! — gritou o garoto sequestrado.

Kenny e Lenny viraram na hora assustados.

— Não grita! Se o chefe acordar antes do horário normal dele, ele vai matar todos nós com ódio — reclamou Kenny.

Endo entrou em estado de choque e ficou parado. Os irmãos voltaram suas atenções para os garotos e continuaram os golpes que haviam armado.

Drake empurrou Toby pro chão, conseguiu se esquivar dos dois ataques e revidar com um soco no queixo de Kenny e, logo depois, o garoto com sardas se levantou e deu um chute no estômago de Lenny, ambos sentiram o impacto, mas conseguiram imobilizar os dois garotos no chão.

— Lentos demais para espadachins, hehe — sorriu Drake.

Os espadachins olharam e viram que Endo tirou a princesa da gaiola, e estava alimentando ela com a maçã.

No sonho de Blair, ela comia uma maçã, quando o galho que sustentava ela se quebrou e ela caiu de cabeça na cabeça de outro menino, que estava com uma fantasia de super-herói. O garoto começou a esfregar a sua cabeça, com dores ele se virou e, quando viu a princesa, teve apenas uma reação.

AAAAAAIIIIII!! — gritou.

— Não me entrega. — a princesa tampou a boca do garoto, enquanto também esfregava sua cabeça com dor.

Os guardas bateram palmas no portão da casa do garoto, que apenas ouviu sua mãe, que gritava de dentro de sua casa que estava ocupada, e que era para o menino atender.

— Tudo eu… — O garoto se levantou e foi até o portão atender os guardas.

— Não me entrega, por favor — sussurrou a ruiva, juntando as mãos para implorar para o menino não revelar.

O garoto abre o portão ainda a esfregar a cabeça, e se depara com os policiais.

— Prazer eu sou Toby Burn, filho da Naomi Burn e do Davi Brave, e hoje não temos pão velho — Ele tentou fechar o portão, mas um policial colocou o pé e evitou.

— Você poderia me dizer se viu a princesa?

— Pri-Princesa?

— Sim, uma menina ruiva da sua idade.

— Ah, eu vi ela sim, ela subiu naquela árvore e caiu em cima de mim, ta doendo até agora. — disse o menininho, a garota que observava tudo se decepcionou.

— Certo, vamos entrar.

Nananina não, minha mãe não deixa estranho entrar em casa. — disse o garotinho cheio de sardas — E mesmo se eu quisesse, ela acabou de passar atrás de vocês indo em direção ao parquinho.

Os guardas se assustaram e saíram em disparada para o parquinho, o menininho apenas fechou o portão e fez um sinal de positivo para a garota, que sorriu de volta para ele.

A mãe do garoto chegou e viu a princesa junto de seu filho.

— Senhorita Blair, como vai você? — A mulher abre um sorriso.

— Tia Naomi! — Blair correu para abraçar a mulher.

— Conhece minha mãe de onde?

— Ela vinha muito no castelo conversar com a minha mamãe, mas…

Naomi ficou apreensiva em achar que Blair ia ficar triste por lembrar da mãe.

— Mas ela deve ter tido que cuidar de você e nunca mais apareceu! Toma! — Ela chutou a canela de Toby.

Naquela hora, a tia Naomi entendeu tudo o que acontecia, e ela apenas me deixou passar o dia lá. Assim eu comecei a sempre fugir para lá, para ficar com a tia Naomi e brincar com o Toby.

Tudo novamente escureceu no sonho da princesa. No meio do escuro apareceu uma televisão, onde Blair e Toby jogavam vídeo-game.

— Eu amo esse ataque aqui! Lança-Chamas! — Um monstro fazia fogo saindo pela boca.

— Você só apela, sempre com esse bicho de fogo. — reclamou a ruiva.

— É por que a minha mãe controla o fogo, então talvez um dia eu faça fogo também, então eu to treinando aqui.

— Por isso que você se esquenta e fica com febre quando sai de casa?

— Não é isso, cala a boca! — O menino faz uma cara de emburrado — E você? Qual poder você pode ter?

— Qualquer um aí, não ligo muito pra isso. — A garota usou um ataque chamado Trovão no vídeo-game e venceu o garoto. — Mas eu achei legal esse ataque aqui, um dia vou fazer ele.

— Não é assim que funciona, você não pode escolher o seu poder.

— Então você duvida, é? Um dia vou te mostrar um trovão de verdade!

Os dois se cumprimentam com os dedos mindinhos.

Então é isso… Eu tinha esquecido dessa promessa.

Blair começou abrir os olhos e viu Toby e Drake sangrando com cortes das espadas dos irmãos. Os dois corriam desesperadamente em direção da princesa.

Que bom que vocês conseguiram chegar aqui… Eu não consigo me mexer muito, meu corpo ainda está bem fraco… Então eu vou apenas te mostrar, o resto vou deixar com vocês, eu confio nos dois.

Endo ainda segurava a princesa, mas tomou um choque e a soltou. Nuvens escuras começaram a tomar aquele lugar, uma garoa fina já começava a cair em cima de todos ali.

Eu posso fazer o que eu quiser, quando eu te conheci, eu finalmente notei isso, Toby. Então eu vou aproveitar a vida como eu posso, mesmo sendo difícil, e essa vai ser a minha resposta para isso, olhe atentamente.

Raios começam a sair do corpo de Blair, quando os meninos conseguem se aproximar, um estrondo é ouvido do céu.

— Isso é o que alguém com o sangue da realeza pode fazer! — gritou Blair, que voava nos céus, até que ela levantou seu braço e em seguida, o abaixou em direção a Kenny e Lenny.

Um estrondo muito forte foi ouvido por todo o Cemitério dos Trens, era um verdadeiro trovão, e assim uma descarga elétrica caiu em cima dos irmãos, que foram nocauteados naquele mesmo instante. O trovão deixou uma grande marca de queimado no gramado, de onde só saía fumaça.

— Você fez… Você realmente fez! — Os olhos de Toby resplandeciam como nunca ao ver sua melhor amiga cumprir sua promessa.

— Agora… Eu confio o resto com vocês… — disse a princesa, um pouco antes de desmaiar.

— Vocês são realmente fortes, desse jeito vocês podem realmente vencer. — exclamou o menino de cabelo laranja, animado com o que viu.

Um grande barulho foi ouvido vindo de dentro da casa de ferro, Aron destruiu a porta com tamanha raiva por ser acordado antes da hora.

— Eu não conheço vocês, quem são vocês? Não, não importa mais, em alguns minutos já estarão igual carne moída, eu vou amassar, destruir, acabar com vocês!

A chuva e as nuvens se dissiparam, mas uma fumaça escura começou a tomar conta do lugar, ninguém naquele gramado conseguia enxergar nada.

— Drake, eu vou tentar do meu jeito, se eu não conseguir, confio em você — explicou o garoto com sardas no meio da fumaça.

— Certo, eu confio em você. — Drake conseguiu encontrar Endo e se afastou do lugar junto dele.

— Gostou da fumaça, grandão? Quero ver me achar agora.

Eu estou fazendo fumaça, eu pensei que meu estômago ia queimar ou eu iria ficar febril de novo, mas de alguma forma eu fiz fumaça! E isso foi graças a você, Blair.

 

 



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