Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Cemitério de Trens

Os dois homens ficam em pose de combate, se preparando para sacar a espadas das bainhas em suas cinturas.

— Espera, esses uniformes… Vocês não são daqui. — Arrumou os óculos.

— Esse quatro-olhos percebe bem rápido até, irmão. — O homem cutucava seu irmão com o cotovelo, para rir da piada.

— Nós somos de um lugar de fora da cidade, não tão longe, mas não vou contar onde, pois vocês não podem saber! shhhhh! — Colocou o dedo em frente a boca.

— Lenny, seu idiota! — O homem soca o seu irmão. — Não dê pistas para eles.

— Então vocês são do Cemitério dos Trens — disse a princesa.

— Sim! Eu sou Lenny e esse aqui é meu irmão Kenny. — Ele toma outro soco de seu irmão.

Enquanto Kenny dava bronca em seu irmão, Toby aproveitou o momento e deu um soco, mas Lenny desviou e o imobilizou no chão. Blair e Drake se prepararam para lutar, mas Lenny pegou sua espada, a colocou no pescoço do garoto de sardas e ameaçou o matar se tentassem atacar.

— Certo, deixem a gente ir embora, prometemos não contar para ninguém. — exclamou Blair.

— Você promete, ruivinha? — falou Kenny.

— Irmão, essa menina é ruivinha igual dizem que a princesa daqui é, engraçado não é? — Após a fala de Lenny, um silêncio assustador se iniciou.

O silêncio tomou conta do lugar, era como se o que Lenny falou tivesse mudado completamente o clima, todos se encaravam, cada segundo parecia durar horas.

Toby conseguiu se livrar e acertou um cruzado de direita no queixo de Lenny, mas Kenny o chutou no chão e o nocauteou. Ele levantou o garoto com sardas pelo seu cabelo, o deixou pendurado e colocou a espada em seu pescoço novamente.

— Se quiser salvar seu amigo, você vai ter que vir com a gente, princesa.

— Princesa? — perguntou Lenny enquanto colocava seu maxilar no lugar.

Ele não percebeu!?, pensou Kenny.

Drake estava se sentindo sufocado pela situação, ele olhava para todos os lados buscando alguma forma de sair daquele lugar, mas não conseguia e isso o desesperou.

— Eu me rendo. — disse Blair, que andou para frente e colocou algo no bolso de Drake sem que os bandidos vissem.

— Quê? — Drake não entendia o que estava acontecendo, mas após ver o olhar determinado da ruiva, apenas se calou como se tivesse entendido o recado e a deixou ir, sem reagir.

Os homens rapidamente amarraram Drake ao Toby desacordado e levaram a princesa embora. 

Algumas horas se passaram, o estrídulo dos grilos ecoavam anunciando a noite. 

Um homem de branco entrou no lugar à procura de algo e achou os garotos amarrados. Ele os desamarrou e perguntou para Drake o que havia acontecido.

— Er… Nós estávamos aqui… — Drake não sabia o que falar, mas lembrou do olhar da princesa e abriu um sorriso falso para desconversar. — Perdemos uma aposta para a Blair e ela nos amarrou aqui como prenda, hehe.

— Certo, então acorde o outro e pegue o próximo ônibus para seu distrito. — O homem foi em direção a saída e tirou um celular do seu bolso.

Drake percebeu que muito tempo tinha passado, e balançou Toby desesperadamente para acordá-lo.

— Para de me balançar, eu já acordei…

Drake se assustou e largou o garoto com sardas, que bateu de cabeça no chão.

— Tá querendo me matar? — Toby esfregou a cabeça com dor, enquanto levantava ainda meio tonto.

— A Blair foi sequestrada e já passou muito tempo! E pelo olhar que ela fez pra mim a gente tem que ir atrás dela! — gritou o garoto, arrumando seus óculos.

— Quê? Mas aqueles dois parecem tão fracos…

Mas você apanhou deles!, pensou Drake, indignado com a tranquilidade do menino de sardas após ouvir a notícia.

Algo começou a vibrar no bolso de Drake, ele pegou para atender como se fosse o celular dele, mas quando viu a foto de quem ligava ele jogou o celular longe. Toby não entendeu o susto e olhou pro celular, com a tela agora trincada.

— Esse é… — Quando ele viu que era Helena que ligava e o celular era o de Blair, os dois se olharam e soltaram um sonoro grito de desespero.

De fora do lugar, o homem de branco conversava com alguém no celular.

— Sr. Zane, achei eles. — Após desligar o celular, ele ignorou o grito dos garotos e foi embora.

Dentro do local, os dois continuavam gritando, Toby conseguiu pegar o celular na mão, mas ainda não tinha coragem para atender, depois de quinze ligações da mentora, com sua mão tremendo e suando frio, ele atendeu.

— Olá, Helena, boa noite. 

— Cadê a senhorita!? — gritou Helena.

— Está no banheiro, ela pode dormir na minha casa hoje?

— NUNCA! — O ódio vindo da voz da mentora era assustador.

— Não precisa gritar, os vizinhos vão rebaixar vocês de distrito.

— EU VOU TE MATAR, TOBY! EU VOU TE MATAR!

Toby desligou desesperadamente o celular e o jogou longe, olhou para Drake com os olhos arregalados e percebeu que o seu amigo ouviu tudo, mesmo sem estar no viva voz, juntos eles deram um novo e ainda mais alto e sonoro grito de desespero.

Helena pegou suas chaves e correu para a saída de casa, quando encontrou outro homem de branco.

Fora da cidade, Blair andava com Kenny e Lenny seguindo os trilhos a caminho do esconderijo deles. A princesa não estava amarrada e nem sendo ameaçada por eles, muito pelo contrário, ela estava carregando uma das três caixas para ajudar os dois a carregar.

— Muito obrigado por nos ajudar a carregar as caixas, princesa.

— De boa. — O estômago da princesa roncou.

— Estamos perto, tenha cuidado pra deixar tudo dentro dos trilhos em, hahahaha! — disse Kenny, ele cutucava Lenny e Blair para rir da piada. 

Enquanto eles davam risada, avistaram o galpão onde os antigos trens estavam guardados. Ao entrar no galpão, a ruiva se chocou ao ver que todas as crianças desaparecidas estavam ali, carregando peças por dentro dos trens.

— Vocês que sequestraram essas crianças?

— Não, nós éramos crianças quando chegamos aqui, junto de muitas outras. — explicou o irmão mais novo, enquanto Lenny olhava para o vazio.

— Então por que não vejo ninguém da idade de vocês?

— Nem a gente sabe, hahahaha. — Depois de rir das piadas de Kenny o caminho todo, Blair apenas olhou assustada para ele.

O Galpão continha duas plataformas, era uma espécie de terminal dos trens, onde eles eram guardados, mas com o fim do uso, nomearam Cemitério dos Trens. Crianças trabalham separando o que havia de valor no que Kenny e Lenny roubavam.

— Pode deixar as caixas aqui, princesa. — Lenny colocou as caixas no chão. — Chegou uma encomenda nova, alguém vem pegar.

Um garoto de cabelos laranjas todo atrapalhado correu para pegar a caixa e esbarrou na princesa, ele pediu desculpas e continuou a correr, sem olhar para frente, até que Lenny colocou seu pé e fez com que o menino caísse. Os dois irmãos caíram na gargalhada.

O menino se levantou sem reagir, pegou as três caixas ao mesmo tempo e caminhou devagar com o grande peso, Kenny colocou a perna na frente e o garoto caiu e tudo nas caixas se espalhou.

Hahahahaha, nunca vou cansar disso, irmão! — disse Lenny, enquanto notou que a princesa fechou os punhos.

Kenny empurrou a princesa para uma porta no fim do Cemitério, e quando abriu, a princesa observou que atrás de tudo aquilo, havia um grande gramado, com uma casa construída com metais.

— Vamos te apresentar para o chefe, ele vai te amar.

— Chefe? — disse a princesa, desconfiada.

— Sim, ele que manda em tudo aqui, nós ajudamos a construir essa casa aí quando éramos crianças. — explicou Kenny.

— Eu to morta de fome, quero comer. — reclamou a ruiva.

— Depois de a gente encontrar com o chefe, a gente te dá almoço — contou Lenny.

Eles chegam e batem na porta.

— Entrem! 

Os irmãos abrem a porta sorrindo. Blair estava curiosa para ver quem era o chefe, ela vê a silhueta de um homem muito grande e forte, sentado no fundo da sala.

— Chefe, trouxemos a princesa de Solária! O resgate dela deve nos deixar ricos!

O homem levanta e joga a cadeira em Lenny, o jogando contra a parede.

— Vocês são imbecis? Acham mesmo que é fácil assim?

— Ela veio sem nem exitar chefe, foi muito fácil.

— É óbvio seu idiota, ela sabe que o resgate vai vir atrás dela!

O homem se aproximou da princesa, ela se sentiu minúscula com a diferença de altura, mas o que mais assustou a ruiva, foram os braços daquele homem, pois eles eram feitos de metal. Ele se abaixou e encarou a princesa de muito perto.

— Olá, Princesa de Solária, infelizmente esses dois aqui cometeram um erro, você veio tão tranquilamente, mas vou ter que te matar. — Ele pegou ela pelo pescoço e a sufocou, mas com muito esforço ela conseguiu se soltar. — Então você é realmente forte, princesa, mas por que você parece tão fraca?

O homem começou a rir, enquanto ela se assustou, pois nunca precisou usar tanta força. Kenny e Lenny estavam assistindo tudo, assustados.

Ele é muito forte, nem Drake nem Toby devem conseguir derrotá-lo facilmente, acabei arriscando muito, pensou a princesa.

Em um ponto de ônibus, na cidade de Solária, os meninos ligavam para suas mães, avisando que iam um dormir na casa do outro, para que elas não notassem suas faltas até o amanhecer. Momentos depois, eles perceberam que não tinha um transporte até o cemitério.

— Como que a gente vai? — arrumou os óculos.

— Vamos ter que seguir os trilhos.

Ao chegar nos trilhos, Toby viu uma silhueta de uma velhinha. Ele lembrou da história que a comerciante lhe contou mais cedo, se desesperou, pegou Drake pelo braço e correu com muito desespero.

Na casa de metal, Blair estava machucada após lutar com um homem com braços de metal.

— Você parece fraca, princesa. Uma pena…

— Eu me lembro, existia um homem com braço de metal nos arquivos.

— Metal? Você está quase chegando.

Os olhos de Blair se arregalaram quando ela notou.

— Uma vez… Um homem que teve um surto de raiva e matou várias pessoas com seus braços… Aron, O Braço de Ferro!

HAHAHAHAHA! Você lembrou na hora certa, Agora morra! — O homem socou a princesa tão forte que a jogou no gramado fora da casa.

Ela estava agonizando no chão, já não estava vendo muito bem, mas viu uma silhueta de uma velha mulher entrando entre ela e Aron.

— Já podem parar, crianças. — disse a senhora.

— Vovó? — Aron se assustou — Você quase nunca vem aqui, ainda não é o tempo do sacrifício, o que faz aqui?

— Eu esperava uma melhor recepção. — reclamou a idosa, com um olhar penetrante

Kenny e Lenny correram para os pés da velhinha e o beijaram.

— Perdão. — O homem dos braços de ferro se curvou perante a idosa.

— Eu estava no primeiro distrito, quando fui avisada que havia três crianças interessantes por lá. — A senhora se transformou na comerciante — E eu decidi que elas seriam o meu próximo sacrifício. 

Blair recobrou seus sentidos e, ao ver que a velhinha se transformou na comerciante que encontrou no primeiro distrito, ela tentou se arrastar para o meio da floresta no fim do gramado. Mas Kenny e Lenny impediram.

— Levem ela para a gaiola no meio do gramado. — ordenou a senhora.

— Mas… Vovó, onde estão as outras duas crianças? 

— Se acalme, Lenny, elas irão chegar ao amanhecer…— Ela passou a língua pelos seus lábios, e voltou a forma idosa.

Os homens colocam Blair dentro da gaiola. Ela não aceitou bem ficar dentro da gaiola e ficou tentando entortar as barras.

— Ela vai se soltar — contou Aron.

— Vá dormir, netinho, vou fazê-la se acalmar. — O olhar da senhora para Aron era tão assustador que ele não conseguiu manter o contato visual e apenas entrou de volta em sua casa. — Amanhã será um ótimo dia, venham em minha direção, meus sacrifícios.

Blair conseguiu entortar as barras da gaiola, mas quando tentou sair a senhora a nocauteou e jogou-a dentro da prisão novamente. Ela entrou dentro da gaiola pela abertura que a princesa criou, colocou a cabeça da princesa em seu colo e começou a cantarolar.

Nana Neném

Que a Cuca vem pegar

Papai foi pra roça

Mamãe foi trabalhar

Ela colocou o cabelo da princesa atrás da orelha para poder ver melhor o seu rosto, e assim continuou a cantarolar.

Nana Neném

Que a Cuca vem pegar.



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