Volume 5
Capítulo 4: O Garoto que Desafia um Tigre
Parte 1
Engolida pelo vazio, Ionela acabou desaparecendo de repente.
— Magnus! O que você fez com a Io!?
Raishin pressionou Magnus por uma resposta. Alguém parou decididamente diante dele.
Era o autômato de Magnus, Hotaru. Ela manteve Raishin em cheque, com uma impressionante intenção assassina.
A animosidade de Raishin, que estava sendo observado por um rosto que lembrava sua irmã mais nova, rapidamente desapareceu.
— …Dê-me uma explicação, Diretor.
O Diretor coçou a cabeça, mantendo uma expressão facial neutra.
— Hum. Temos que retornar a Academia, e rápido. Você poderia me fazer o favor, Magnus-kun?
— …Kamakiri.
Seguindo as ordens de Magnus, o autômato que havia desaparecido voltou a aparecer.
A visão de Raishin girou e a paisagem mudou de repente. Duas cenas à vista se sobrepuseram e, um instante depois, Raishin estava parado na rua principal da Academia.
Isso não é… uma ilusão. Isso é magia de teletransporte…!
Ele já tinha ouvido falar sobre aquilo. Era uma magia extremamente avançada. Não era o tipo de coisa… que alguém poderia fazer com um circuito mágico. Além disso, ela transportou várias pessoas de uma vez só!
— Tudo bem com você, Raishin-dono? Seu rosto não parece bem…
Irori, que estava preocupada, olhou para ele. Raishin assentiu e respondeu,
— Agora, me dê uma explicação, Diretor. Para onde a Io foi?
— De volta para a Enfermaria.
— O que você quer dizer com isso!? Onde está a Io—
O Diretor começou a andar sem responder. Magnus, Hotaru e Kamakiri o seguiram.
Ele não sentia nada além de um mau pressentimento sobre isso. Raishin ouviu as batidas de seu próprio coração por um breve momento.
— Ah, aí está o Raishin!
Subitamente, ele ouviu uma voz com um tom animado vindo de algum lugar atrás dele.
Quando Irori e Raishin se viraram, uma bela e pequena garota surgiu em seu campo de visão.
Sua forma de caminhar era leve, ziguezagueando tal qual uma borboleta. Seu cabelo tinha um penteado fofo, preso dos lados direito e esquerdo de sua cabeça. Suas feições eram imaturas, mas ela se assemelhava a Yaya e Irori.
— Komurasaki…
Os olhos de Raishin passaram por Komurasaki e se fixaram na pessoa atrás dela.
Uma mulher voluptuosamente linda caminhava calmamente, fazendo barulho a cada passo com seus geta¹.
— Então você voltou, jovem.
— Shouko-san—
Sendo informada de que não podia fumar tabaco dentro da Enfermaria, Shouko foi até a varanda no segundo andar da Faculdade de Medicina.
Raishin, que a seguiu, começou a andar com Irori e Komurasaki.
Yaya estava esperando na varanda, talvez ela já tivesse sido informada.
— Raishin! Você está bem?
Ela estava prestes a correr em direção a Raishin, mas parou no meio do caminho.
Com um olhar furioso, Yaya falou para a pessoa agarrada ao braço de Raishin.
— Komurasaki, afaste-se do Raishin neste exato momento… Por que a Nee-sama está rindo de mim…?
— Ela não está rindo de você, Yaya. E você está com uma expressão furiosa.
— Este ainda é o rosto de uma pessoa misericordiosa. Você quer ver o rosto de ogro da Yaya, Raishin?
— …Não se agarre em mim, Komurasaki. Por favor.
— Eh? Mas por quê?
Komurasaki fez beicinho, parecendo frustrada.
— A Nee-sama é tão injusta. Mesmo que eu tenha assumido o pior papel recentemente.
Uuh, Yaya estava perdida. Daquela última vez, Yaya tinha sido responsável por aquilo. Relutantemente, Yaya,
— A-apenas dessa vez…
— Ó, sério? Então vou me agarrar ainda mais nele.
— Ah… uh… isso é demais para mim!
— Vamos, Komurasaki! Yaya, para já com isso você também. Não causem problemas para o Raishin-dono.
Como uma irmã mais velha, Irori censurou suas irmãzinhas. Contudo—
— Até a Irori-nee-sama roubou meu trabalho como mensageira.
— Na-na-na-não faça comentários que possam levar a mal-entendidos! E-e-e-eu não tinha motivos egoístas ou algo assim.
— Nee-sama——— Eu sabia———!
— Nossa, acalme-se! Esse não é assunto pelo qual estamos aqui, certo?
Sendo repreendidas por Raishin, as três irmãs sentiram-se desanimadas.
Eu fui longe demais?
Pensando nisso, Raishin suavizou suas palavras.
— Quero dizer… err… vocês três não se reúnem há um bom tempo, não é?
— Raishin… não me diga que você se envolveria ferozmente conosco ao mesmo tempo…
*Aura ameaçadora*
— Não foi o que eu pensei!
— E-e-e-eu, hum, se o Raishin-dono realmente assim deseja… quero dizer, se for para o Raishin-dono não ficar muito triste…
— Nee-sama——— você está tomando vantagem dessa situação confusa———!
— Mas o Raishin é de quem eu mais gosto, sabe?
— Kooomuuuuraaaaaasaaaakiiii!
— Acalmem-se!
Um peteleco acertou a cabeça de Yaya. Raishin percebeu que as três irmãs eram demais para ele lidar.
— Você é bastante popular, jovem.
Shouko riu, ela estava sentada em um banco, fumando um kiseru. O banco no qual ela estava sentada tinha uma aparência antiga e ela sentada nele transmitiam uma sensação de wabisabi, e aquilo parecia verdadeiramente perfeito para uma foto ou mesmo uma pintura.
— Não é algo trivial seduzir minhas obras de arte, uma após a outra, sabia?
— Seduzir…!? O Raishin…!?
*Aura ameaçadora*
— Acalme-se, Yaya! Por favor, pare de fazer piadas desse tipo, Shouko-san!
O coração sádico de Shouko, que viu Raishin tremendo violentamente, parecia estar satisfeito. Ao dar uma risada,
— Brincadeiras existem para serem feitas. Eu, Karyuusai, vou e volto do mundo das geishas em um piscar de olhos, porém, eu sei a hora e o lugar para brincadeiras.
Sua voz era calma, porém não permitia objeções. As três irmãs imediatamente obedeceram respeitosamente.
— Tudo bem, agora por favor me conte o que aconteceu na cidade e o que você viu, jovem.
Ela encarou Raishin. Ele assentiu e explicou, resumindo tudo.
Ele começou com quando foi ao laboratório de Ionela, conforme solicitado, e Ionela o fez ir com ela visitar a Exposição. Em seguida, o jovem nobre vestido completamente de negro tentou matar Ionela, bem como o fato de que um dos Professores da Academia era na verdade um autômato e que a magia de Irori ficou inutilizável.
— Eva e sua Alteza estão por trás disso— Você está certo de que Professora Eliade disse isso?
Shouko deixou cair as cinzas de seu kiseru, parecendo séria.
— Se sim, e como eu pensava… a tempestade mágica que cobre a cidade é uma magia de [Controle]…
— A Io também disse isso. Mesmo um mago fraco pode usar uma magia de alto nível— ela estava estudando esse tipo de artifício.
— O Ciclo Alpha da senhorita Eliade, hein.
— Alpha…?
— Entendo, que arma excepcional. Dispara-se uma magia capaz de controlar os oponentes através de um poderoso mecanismo de impulso. Se puder ser controlado, e mesmo se não puder, você pode obstruir a utilização de magia do seu oponente.
Shouko disse, parecendo estar impressionada.
— A fabricante de bonecas Eliade. Uma fabricante de bonecas com técnicas excelentes e, ao mesmo tempo, uma pesquisadora que propõe artifícios ambiciosos um após o outro. Ela é de fato um gênio. Bem, não tanto quanto a “Karyuusai”. Fufufu.
Ela deixou escapar uma risadinha.
— Eu quero vê-la e conversar com ela uma vez.
— Por favor, faça isso. Aquela garota é uma grande fã da Shouko-san.
— Uma fã…?
— Ela tem todos os livros da Shouko-san. Além disso, ela quer um trabalho da Shouko-san. Ela ficou me incomodando para dar a Yaya para ela.
— Acho que devo dizer que… isso é uma honra. Eu também estou interessada no trabalho dela—
Naquele momento, um pombo desceu voando para a varanda.
Após pousar no corrimão, estendeu a perna para Shouko. Havia uma carta enrolada ali.
Era um autômato— que lembrava um pombo-correio.
Shouko desamarrou a carta, examinou-a rapidamente e suspirou.
— Que pena. Parece que não terei a chance de conhecer a senhorita Eliade.
— …O que você quer dizer?
— A Academia pretende se livrar dela e apagá-la como rebelde.
Ele girou sobre os calcanhares como se tivesse sido girado por alguém. A voz abrupta fez Raishin parar.
— Espere. O que você vai fazer?
— Eu vou ver a Io! Vou ir vê-la para ter certeza de quais são seus verdadeiros sentimentos!
— Você vai confirmar, e depois?
— Eu decidi. Se ela for inocente, eu vou ajudá-la.
Ele estava preparado para ouvi-la dizer “impossível”.
…Porém, surpreendentemente, Shouko não disse nada.
Ela tolerou isso?
Ele não tinha certeza, mas era melhor agir antes que Shouko mudasse de ideia.
— Venha comigo, Yaya.
— Sim!
Ele tentou fugir, levando Yaya com ele. A voz de Shouko soou atrás dele.
— Komurasaki. Vá com eles.
— —Tudo bem!
Raishin saltou da varanda quando sentiu inesperadamente a simpatia de Shouko.
Parte 2
Irori, que os seguiu com os olhos até que eles desaparecessem de vista, virou o rosto na direção de Shouko reservadamente.
— Com licença… você tem certeza disso, mestra?
— O quê, isso é assim tão estranho?
— As palavras do Raishin-dono foram o mesmo que dizer que iria desafiar a Academia. Eu acho que no passado a mestra jamais permitiria tal conduta. Você até mesmo deixou que a Komurasaki os acompanhasse.
Subitamente, Shouko sorriu.
— Até bem recentemente, eu pensava que poderia guiar aquele jovem, sabia?
Seu sorriso era estranhamente gentil. Irori acabou ficando inconscientemente fascinada por ele.
— Eu pensava que seria fácil criar e orientar um jovem, que não era nada além de uma criança, fazendo-o me obedecer e ter sucesso como marionetista, até que ele se tornasse o jovem que é hoje.
— Na verdade, foi assim mesmo, não?
— Fufu… agora que penso nisso, eu fui uma arrogante. Eu não duvidava, eu acreditava que ele iria se tornar ou um anjo ou um demônio. Mas recentemente… por uma ou outra razão, eu sinto que o jovem é uma criança mais parecida com o fogo.
— Fogo…?
— Ele se espalha. Todos que se envolveram com o jovem mudaram consideravelmente.
Shouko continuou enquanto colocava tabaco novo em seu kiseru.
— Yaya, que antigamente se orgulhava de seu próprio valor, tornou-se tão apegada emocionalmente ao jovem que seu pequeno peito dói. Ela duvida de seu próprio valor.
— …
— A garota que não confiava nos outros e não permitia que ninguém se aproximasse, agora é capaz de fazer amigos.
— …Charlotte-dono.
— O irmão mais novo e a irmã mais velha que haviam se perdido enquanto pensavam um no outro, agora estão juntos e confiam totalmente um no outro.
Esses provavelmente eram Frey e Loki. Quando Irori assentiu, parecendo convencida, Shouko lançou um olhar diabólico e,
— Você, que era teimosa, foi tentada pela luxúria e pelo amor.
— I-i-i-isso está errado! Como pensei, você me entendeu errado!
— E aqueles que viveram alimentando-se do ódio—
——Palavras flutuaram no ar. De quem ela estava falando?
— Todos estão sendo influenciados pelo jovem pouco a pouco. Para melhor ou para pior, você não concorda?
— …Isso não é uma coisa boa?
Não houve resposta. Shouko continuou falando, mudando seu tom de voz.
— Se eu fosse responder com seriedade, então dessa vez seria a política do Exército.
— O Exército… está tentando mobilizar o Raishin-dono?
— O que está acontecendo na Cidade é um assunto sério para o Exército. Se não lidarmos corretamente com isso, uma Guerra Mundial explodirá— dessa vez, não poderemos agir como se estivéssemos a passeio. Nós somos os únicos prontos para agir na Cidade das Máquinas— então é apenas natural deixar que o jovem lide com isso, por isso permiti que a Komurasaki o acompanhasse.
Essa era a teoria. No entanto, Irori sentiu como se tivesse sido enganada. Ainda assim, ela não levantou objeções às palavras de sua mestra. Irori não avançou mais no assunto e disse algo mais.
— Mestra. Que tipo de pessoa é a Professora Eliade?
— Ela ainda está crescendo e tem várias falhas— mas eu diria que ela é igual ao jovem.
— Igual ao Raishin-dono?
— Suas habilidades avançadas são difíceis de serem notadas sempre que ele luta. Você está preocupada com ela?
— Ah, não… a Professora Eliade parecia estar se dando bem com o Raishin-dono, isso é tudo.
— Bem. Embora o que eu tenha dito antes fosse uma piada, você está realmente sofrendo por amor?
— Vo-vo-vo-você está enganada… na-na-não é nada disso!
Mesmo Irori negando, suas orelhas estavam corando. Os olhos de Shouko se estreitaram, tingidos com uma expressão amorosa.
Shouko levou seu kiseru a boca, fumou profundamente e respirou fundo.
A fumaça do tabaco fluiu lentamente, misturando-se ao céu nublado.
Parte 3
Raishin foi até a residência oficial do Diretor, onde ele próprio tinha ficado detido na noite anterior.
A área ao redor da residência oficial era protegida por seguranças. A julgar pelo rigor, não havia dúvidas de que o Diretor estava ali. Em outras palavras, o possível interrogatório de Ionela devia estar ocorrendo naquele local.
Naturalmente, se alguém colocasse dessa maneira, Raishin se afastaria do portão por causa da quantidade de seguranças.
Ele se escondeu sob a sombra de uma árvore próxima e pensou cuidadosamente no que fazer.
— O que você vai fazer, Raishin?
Yaya perguntou em voz baixa. Em vez de responder, Raishin olhou para Komurasaki.
— Ceerto. Então vou colocar tudo do Raishin dentro de mim!
Os olhos de Yaya, que reagiram as palavras de Komurasaki, perderam o brilho.
— Magia pode ser utilizada? Mesmo que a Irori não tenha conseguido usar?
— Hoje é um dia seguro.
— Bom, a data não importa aqui, certo?
— Honestamente falando, ela pode ser usada sem problemas dentro da Academia. Talvez exista uma barreira ou algo que bloqueia a interferência mágica do mundo exterior?
Como esperado, este era o maior instituto educacional no mundo mágico. Podia-se dizer que o lugar estava perfeitamente preparado para um ataque mágico.
Raishin colocou sua mão nas costas de Komurasaki e deixou que poder mágico fluísse para dentro dela.
O circuito mágico de Komurasaki, [Yaegasumi], foi ativado e todos os três tiveram suas presenças escondidas por magia. As pessoas ao redor não deveriam… perceber sua presença ou os sons que eles fizessem.
Eles seguraram a respiração, saíram da sombra da árvore e se esgueiraram entre os seguranças próximos a eles.
——Não houve reação. Como esperado, a magia da Komurasaki mostrou sua eficácia.
Raishin levou Yaya e Komurasaki com ele e seguiu para a entrada da residência oficial. Quando eles abriram o portão silenciosamente, para evitar contato com os seguranças, a armação de metal ressoou.
Ele começou a suar frio… mas os guardas do portão não reagiram. Eles não perceberam o portão se movendo atrás deles. Não… eles não conseguiram notar.
Eles entraram na residência oficial como estavam. Imediatamente após a entrada, deram de cara com um salão, com escadas que se estendiam para a esquerda e para a direita. As escadas levavam ao segundo andar, como se encerrassem o corredor.
— Onde o interrogatório está sendo feito? Seria ótimo ter uma planta…
Ele vasculhou seu cérebro. Ontem à noite, a investigação de Raishin ocorreu em uma sala no segundo andar.
——Vou tentar ir até lá primeiro.
Ele subiu as escadas. E havia um ser problemático esperando por lá.
Cabelos ruivos e óculos de armação prateados eram sua marca registrada— Kimberly estava parada ali.
Kimberly sorriu amplamente.
— Você ainda tem um longo caminho a percorrer, eu ainda posso te ver.
Ela disse isso com clareza, fixando o olhar em Raishin.
— Eu pensei que você viria. Você certamente é corajoso, Penúltimo. É sempre a mesma coisa, não é?
— …Por favor, finja que não me viu.
— Se eu fingir que não o vi, você seria encontrado por outra pessoa. Existem Professores especializados em Percepção e Busca na Academia.
Kimberly desfez seu sorriso e o repreendeu com um olhar severo.
— Não seja descuidado, seu idiota. Você quer ser expulso da Academia por algo assim?
— …Eu sou sempre estúpido. Eu só quero falar com a Io. Conversar com a Io e confirmar se ela realmente é uma rebelde ou não, isso é tudo…
— Você está dizendo que, caso conclua que ela é inocente, tentará impedir o Diretor?
— Sim.
Kimberly lamentou e balançou a cabeça negativamente.
— O testemunho da Ionela não tem sentido. Sua conclusão ou o que quer que seja não vale nada. Isso para não mencionar que vocês são intrusos. Você realmente acha que o Diretor irá honestamente prestar atenção ao que você tem a dizer?
— Então o quê!? Eu supostamente deveria ficar parado aqui sem fazer nada enquanto a Ionela é morta?
— Eu disse para não ser descuidado, não disse? Eu não disse “desista”.
— —
— Se você tentar contactar a Ionela enquanto se esconde, você será um “invasor ilegal”. No entanto, existe uma maneira de fazer isso sem recorrer a um comportamento inadequado, não é?
— …Você vai me ajudar?
— Você sabe o que está acontecendo na área da cidade?
Perguntas e mais perguntas estavam sendo feitas. Quando Kimberly usava essa forma de falar, suas palavras indicavam que havia um profundo significado oculto implícito nelas. Sendo assim, Raishin balançou negativamente a cabeça.
— Os bens em exposição que são o orgulho de todos os países participantes, as mercadorias e os protótipos que estavam sendo exibidos na exposição parecem ter perdido completamente o controle. O inimigo já enviou um mensageiro secreto e declarou ao Governo Britânico o domínio da Cidade das Máquinas. Eles exigem a transferência do poder Real em troca da vida de 500.000 cidadãos.
Raishin estava sem palavras. A situação havia se tornado uma crise gigantesca!
— Resumindo, a situação já está abalando o país. Quanto a Nectar, eles não têm a intenção de assistir a tudo isso em silêncio. A Academia— como o Diretor não acreditaria em você, ironicamente é como você mesmo me disse. Vale a pena deixar você ir para conseguir entender a posição da Academia.
— Você não está sendo direta. Seu ponto é que você vai cooperar comigo, certo?
— Sim. No entanto, mesmo isso pode ser calculado pelo Diretor.
— Nesse caso, o que faremos? Se “eu não for descuidado”, então qual deveria ser a melhor coisa a se fazer?
— O quê? A resposta é seguir os procedimentos formais, o que mais poderia ser?
Kimberly apontou sua mão direita para ele— e em um instante, poder mágico fluiu dela, fazendo a magia de Komurasaki perder o efeito. O precioso circuito mágico de Karyuusai teve seu funcionamento interrompido abruptamente.
— Certifique-se de não cometer nenhum erro descuidado. Embora eu esteja dizendo isso, sei que é impossível, não é?
Kimberly disse com um tom leve, e então bateu na porta atrás dela.
Isso assustou Raishin. uma voz abafada foi ouvida atrás da porta.
— Quem está aí?
Era a voz do Diretor. Para a surpresa de ninguém, os joelhos de Raishin tremeram diante deste desenvolvimento.
— É a Kimberly. E eu tenho um bônus aqui— eu posso entrar?
— Claro. Vá em frente.
Ele não teve tempo para se preparar mentalmente para isso.
Kimberly abriu a porta rapidamente e puxou Raishin para diante do Diretor.
Parte 4
Lá dentro havia um salão luxuoso.
Parecia uma sala de jantar e uma sala de conferências. Ou era uma sala de recepção para entreter convidados de honra? Havia um lustre no teto e um tapete escarlate no chão. Uma mesa comprida estava coberta com um pano completamente branco e havia chá preto perfumado servido em xícaras de porcelana branca para todos os presentes.
Os que cercavam a mesa eram membros muito extravagantes.
O Diretor— estava sentado no fundo da sala, com uma grande janela as suas costas.
Sua secretária, Avril, estava parada atrás dele, com o sabre preso a cintura.
Ao seu lado estava Percival, o chefe da Faculdade de Medicina, que também agia como representante dos Professores.
E ao lado de Percival estava Saint Germain, o vice representante dos professores. Todos os chefes de departamento vinham em seguida, posicionados lado a lado.
Vários executivos da Administração da Festa Noturna. O novo chefe e vários executivos do Comitê de Moral Pública. Haviam sete capitães da guarda e o Superintendente de Segurança, que gerenciava todos os seguranças. E também Magnus, com sua máscara prateada.
Todos, cada pessoa ali tinha autoridade e poder. Como esperado, Raishin pareceu assustado… mas Kimberly não estava nem um pouco agitada. Ela agarrou Raishin por trás e o empurrou para diante deles.
Vendo Raishin, rugas semelhantes a paliçadas surgiram no meio da testa do Diretor.
— Você trouxe um visitante interessante, Professora Kimberly.
— Diretor, e também todos os demais presentes, por favor perdoem minha grosseria em uma emergência como esta. Meu pobre aluno disse que gostaria de se encontrar com o Diretor de qualquer jeito.
— A situação é extremamente tensa. Mas pode ser algo significativo o bastante para perturbar nossa reunião em um momento como este. Estou correto, Raishin-kun?
Uma pressão recaiu sobre ele com um baque. Ele pôde notar que Komurasaki segurou a mão de Yaya. A confiável Yaya também ficou menor e amedrontada. Sendo completamente honesto, o próprio Raishin queria se ajoelhar no chão e se afastar daquela presença. No entanto, seu corpo traiu sua mente e avançou com confiança.
— Por favor, deixe-me ver a Io— a Professora Ionela Eliade.
Os VIPs na mesa murmuraram. Avril e os outras revelaram uma simples intenção assassina.
O Diretor disse secamente com uma voz calma.
— Isso não pode ser feito. Ela é suspeita. Temos suspeitas de que ela manteve contato com os rebeldes, apropriou-se indevidamente dos fundos e das instalações da Academia e distribuiu elementos perturbadores como resultado.
— É por isso que vão executá-la? Não brinquem comigo!
Os murmúrios pararam. Os VIPs olharam para Raishin como se estivessem surpresos.
Aquele “Não brinque comigo” foi dirigido ao Diretor e aos demais. Yaya e Komurasaki, ambas ficaram surpresas. Kimberly era a única que assistia a cena com uma expressão alegre no rosto.
Ele não poderia se afastar agora, não depois disso.
Raishin disse, como se pressionasse os presentes ainda mais por uma resposta,
— Não há como uma situação em que a Io seja apagada seja aceitável, certo? Ou tem mais alguma coisa? Vocês vão tentar calar minha boca antes que eu diga algo desnecessário?
— É o bastante!
— Que desrespeitoso!
— Conheça o seu lugar!
As repreensões dos Chefes de Departamento foram disparadas uma atrás da outra. No entanto, o Diretor os controlou com um tom calmo de voz,
— Se a pesquisa da Professora Eliade coloca o Império em perigo, não importa quais sejam as intenções dela, isso ainda é um crime. A Academia deu a ela o poder de um Professor. Naturalmente, a continuidade da Academia como um todo está ameaçada. Você é um homem que não entende de política, certo?
— Eu não espero que você saiba o que eu sou, Diretor.
Raishin bateu na mesa e olhou para o Diretor.
— A Io não é uma traidora. Não era intenção dela que esse incidente ocorresse. Eu a ouvi com estes meus ouvidos. A Io teve sua pesquisa roubada. Ela não sabia de nada disso!
— Não interessa se ela sabia da rebelião ou não.
— Mas a Io foi usada!
— Também perdemos o Radcliffe!
Seu grito foi como o som de um canhão explodindo. O vidro da janela tremeu com sua voz, e os VIPs, Yaya, Komurasaki e Raishin esqueceram de respirar por um instante.
Raishin foi atingido por um pensamento inesperado ao recuperar seus sentimentos vacilantes.
O Diretor era um homem que deixava suas emoções a mostra dessa forma.
Um homem que realizou uma cirurgia mecânica em Alice. Um homem que agiu como agente duplo por sua própria vontade. Um homem cuja expressão não se alterou mesmo enquanto sua própria filha estava desaparecida…
De qualquer modo, mesmo se Raishin discutisse com o Diretor, seu argumento jamais teria algum resultado.
Yaya juntou suas mãos com as de Komurasaki e lançou um olhar preocupado na direção de Raishin. Enquanto ele as observava— um excelente plano surgiu na mente de Raishin.
— Se é assim… que tal isso?
Raishin virou-se para o Diretor e perguntou a ele, parecendo estar bastante autoconfiante.
— Se a Professora Eliade puder fazer algo a respeito dessa situação crítica, ela então seria a heroína que salvou o país. Ela seria capaz de provar sua inocência com isso, certo?
— Isso está longe de ser uma prova. Eliade criou ela própria um alvoroço com sua própria vontade de espalhar sua pesquisa para o mundo… esse é o único boato circulando. Porém—
Um lado do bigode do Diretor estava erguido com um sorriso.
— Seria pacífico se tudo isso acabasse como apenas um boato, você não acha?
Raishin ficou surpreso. Ele entendeu o significado oculto daquelas palavras.
O mesmo aconteceu com todos os VIPs na mesa. Todas as figuras que estavam presentes naquele local compreendiam a real intenção do Diretor. Todos trocaram olhares e assentiram.
O Diretor limpou a garganta com uma tosse forçada.
— Representante dos Professores. Eu escutarei sua opinião.
— Se o Diretor tomar essa decisão, o corpo docente não deve apresentar objeções.
— E quanto a você, superintendente de Segurança-dono?
— Nossa tarefa é manter a segurança dentro da Academia. Não nos envolvemos em nada que aconteça fora daqui.
— Boa resposta. Representante dos Estudantes—
Os olhos do Diretor se moveram. Havia apenas um assento vazio ali.
A secretária, Avril, murmurou algo em seu ouvido.
— Se você está se referindo a ela, no momento ela está encarregada da construção da Barreira de Julgamento.
— Se é o caso, então vamos ouvir sua opinião em nome da Representante. Magnus-kun, você poderia?
A máscara de prata se virou em sua direção. Quando seus olhares se cruzaram, uma dor ardente percorreu todo o corpo de Raishin. Sua cabeça queimava de raiva, mas é claro, ele não podia fazer nada.
Um pouco depois, seu irmão mais velho— Tenzen disse, soando desinteressado.
— E se deixarmos o Penúltimo fazer o que quiser?
— Hou. Você está ficando ao lado dele como um colega estudante?
— Foi ele quem derrotou o Canibal Candy. Ele também expôs os atos contraditórios e proibidos da D-Works. E ele também impediu que os Kreuzritter interferissem na Festa Noturna. Apesar disso tudo, ele é um inútil.
Todos ficaram incapazes de respirar por causa daquelas palavras frias e indiferentes.
— As notas dele estão realmente no fundo do poço, suas habilidades de combate são desconhecidas e ele está na 100ª posição na classificação da Festa Noturna— se ele desaparecesse, não seria nenhuma perda para a Grã Bretanha ou para a Academia.
Isso decidiu tudo. O Diretor assentiu a anunciou suas ordens.
— Eu o autorizo a se encontrar com a Professora Eliade. Por favor, faça com que ela use sua magnífica inteligência para controlar esta situação. Ameace-a ou a persuada como necessário. No entanto, as restrições dela não podem ser removidas. Você consegue compreender isso?
— …Sim. Eu entendo.
— Nesse caso, vou lhe dizer algo importante.
De repente, o Diretor ergueu dois dedos e os mostrou a Raishin.
— Duas horas.
Raishin se perguntou o que aquilo significava. Ele não entendeu o significado, mas por algum motivo ele estava amedrontado.
— O Império decidiu suprimir completamente os rebeldes. A Marinha Imperial já está a caminho daqui.
— …A Marinha?
— Armas terrestres comuns são incapazes de aniquilar as massas inimigas, e as divisões mecânicas não podem entrar na cidade. Portanto, eles irão atacar de um ponto fora do alcance da magia hostil. Uma grande frota irá encher a baía e derrubar toda a cidade por meio de um exaustivo bombardeio naval— essa operação levará duas horas para ter início.
— O que… e os reféns!? E os cidadãos!?
— Essa é a decisão de Sua Majestade e do Congresso. Não adianta reclamar sobre isso.
— —!
— Você pode se mover como quiser e planejar algo com a Professora Eliade. Mas se vocês ainda estiverem vagando pela cidade daqui a duas horas, sua segurança não poderá ser assegurada.
— …Vou manter isso em mente.
— Ei, velho— não, espere um pouco, Diretor.
Avril interrompeu a conversa com um tom agudo.
— Eu deveria relatar para que os ataques da Marinha Imperial seja em três horas, e não mais em duas.
— Eu ganhei uma hora.
Raishin ficou pasmo, mas o Diretor manteve uma expressão composta.
— …Você consegue?
— Negociação é um trabalho de adulto. Por favor, faça o que puder fazer.
Dito isso, Raishin não teve escolha a não ser assentir. Ele pensou em tentar acreditar naquele homem enigmático e estranho— o que o surpreendeu.
— Avril-kun, por favor o leve até a Professora Eliade.
— Entendido. Você deve ter alguma coragem para me fazer trabalhar usando esse tom arrogante, velhote.
— Avril-kun…
O Diretor tinha uma expressão miserável no rosto. O relacionamento entre eles também era um mistério.
No entanto, seu objetivo foi alcançado. Raishin girou nos calcanhares quando sentiu um leve alívio.
— Por favor, espere, Raishin-kun. Eu preciso dizer que ninguém poderá te ajudar.
— …Eu estava preparado para isso.
— A área dentro dos portões da Academia está agora fora do alcance da magia hostil.
Parando para pensar nisso, Komurasaki já havia dito isso.
— Uma grande barreira foi erguida ao redor da Academia e, se fortalecida, será capaz de suportar até mesmo ataques físicos. Para nos preparamos para a artilharia da Marinha Imperial, todos os estudantes estarão na Barreira de Julgamento. Não haverá ninguém disponível para auxiliá-lo. No entanto, não estou contando aqueles que estejam feridos ou ausentes da Festa Noturna.
——Ou seja, ele está dizendo “Leve o Loki com você”!
— É verdade, a Charlotte é uma estudante do segundo ano. Ela destruiu uma rua com magia não muito tempo atrás, certo? Ela está em prisão domiciliar pelo crime de destruição do patrimônio. Ela também não precisa participar da Barreira de Julgamento. Ela parece estar se comportando em seu Dormitório, então informe isso a ela você mesmo.
Percebendo a intenção do Diretor, Raishin espontaneamente o agradeceu.
— Eu me sinto em débito com o senhor.
— Agora, por que você está me agradecendo?
Raishin, que estava novamente sendo encarado, respeitosamente obedeceu em pânico.
Parte 5
Raishin, guiado por Avril, foi ao porão junto com Yaya e Komurasaki.
O porão da residência oficial era dividido em duas grandes seções. Uma era composta por uma cozinha e um lavabo, essa era a área onde as empregadas trabalhavam. Um grupo de emaranhadas passagens subterrâneas corriam vertical e horizontalmente para que pudessem se mover através das instalações sem serem notados pelos convidados de honra.
E a outra era essa área.
Eles seguiram por uma passagem sólida revestida de concreto, que levava a uma seção que continha inúmeras barras de ferro organizadas em linha. Não importava como se olhasse, aquilo era uma prisão. Embora o ar estivesse úmido, Raishin sentiu a garganta seca.
Eventualmente, eles finalmente chegaram à sala mais interna. Os seguranças estavam de plantão lá.
Enquanto Avril fazia os seguranças abrirem a porta,
— Não pense em nada estúpido, seu pirralho. Lembre-se de que meu sabre está sedento por sangue.
Ela disse com um tom bastante ameaçador, e deu uma cotovelada nas costas de Raishin.
Ele entrou, apressando Yaya e Komurasaki enquanto avançava.
Havia uma cama e um sofá. Ela estava em uma cela que parecia confortável para uma prisão.
O cabelo verde característico. Uma linda garota usando um jaleco branco estava sentada ali, segurando os joelhos frios.
Ionela. Seus olhos, que derramavam muitas lágrimas, eram dolorosos de se encarar. Ela parecia cansada e a exaustão era visível em sua pele.
Raishin falou deliberadamente, usando um tom de voz provocador para tentar animá-la de algum modo.
— Ei. Eu trouxe não apenas a Yaya, mas também a Komurasaki. Agora você deveria estar criando uma confusão por causa disso, não acha?
— …Eu não estou com vontade de fazer isso.
— Eles te machucaram?
— Isso começará agora.
Sem querer, ela mostrou um sorriso de aparência depreciativa.
— O Diretor permitiu, não foi? Que você se encontrasse com a “rebelde confinada”.
— Há três coisas que quero lhe perguntar.
— …Certo. Qual é a primeira?
— Por que você quer tanto a Yaya?
Ionela pareceu perplexa.
— Eh… você está mesmo perguntando isso? E não sobre minha conexão com Sua Alteza ou meus motivos para me rebelar?
— Por favor me responda.
— …Se eu a tivesse, seria capaz de tornar a Eva… ainda mais próxima da perfeição. Era o que eu pensava.
Olhando para Yaya, Ionela sorriu graciosamente com todo o seu rosto.
— Você é mesmo linda. Eu também tenho orgulho dos meus autômatos. Eu me orgulho completamente de reproduzir o corpo humano como uma máquina. Mas o que a Karyuusai-sensei cria não são simples “reproduções” … eles são mesmo seres humanos.
— Seres humanos…?
— Para começar, as partes dela são diferentes das que eu uso. A Sensei combina materiais orgânicos e os trata como uma máquina. Essas crianças são compostas de minúsculas partes orgânicas chamadas “células”. Estas podem se replicar, regenerar e se desenvolver.
— Como as células biológicas…?
— Isso mesmo. Eu não acho que meu modo de fazer as coisas tenha sido o errado durante todo esse tempo, mas se eu tiver que chegar a este ponto, então sim, a metodologia da Sensei é a correta. Seu método de produzir humanos é mais rápido e bonito. A informação contida em um óvulo fertilizado pode criar um organismo complexo, afinal.
— Você também quer produzir humanos algum dia?
— Eu queria dar a Eva um corpo perfeito. Mas…
Ionela olhou para baixo e depois voltou seu olhar para algum lugar ao longe.
— Ela está muito longe de ser humana?
— …
— Os autômatos já não são humanos?
Raishin ficou surpreso.
Ele pensava que Ionela trataria Yaya como um objeto, mas… ele estava errado.
Completamente errado. Era o contrário. Ionela não tratava os autômatos como objetos, ela tratava os seres humanos como objetos. Os autômatos eram objetos porque os seres humanos não eram mais do que objetos.
…Isso ainda é algo ruim?
— Hum? Do que você está rindo?
— Não é nada. Nós terminamos com a primeira pergunta.
— Certo. Vamos para a segunda.
— A Evangeline que você produziu— por que ela é exatamente igual a você?
— …Porque eu queria ser a mãe dela.
O rosto de Ionela, que disse tais palavras, estava tão terno quanto o de uma mãe carinhosa— e aquilo revelava um grande sofrimento.
— É ridículo, não é? Uma mãe que usa sua filha como uma ferramenta de guerra…
— …Certo. Essa é a última pergunta.
— Continue.
— Qual é o objetivo da sua pesquisa?
O rosto de Ionela ficou rígido. Yaya e Komurasaki prenderam a respiração e ouviram cuidadosamente.
— Você mesma disse, certo? Mesmo magos fracos podem usar um grande poder. Esse é o objetivo, certo?
Por algum tempo, Ionela não respondeu. Depois de hesitar por mais de dez segundos, ela murmurou,
— Raishin-kun, você já viu um campo de batalha?
— …Não. Mas a visão de seres humanos sendo pisoteados está na minha memória.
— O autômato que eu fiz matou pessoas dessa maneira.
— —!
— Eu pensava… eu queria que essas crianças fizessem parte da sociedade… que elas não precisassem matar ninguém.
Um sorriso autodepreciativo. Ela tinha muitas lágrimas acumuladas nos olhos, no entanto, ela não as derramou.
— Eu sou idiota, não sou? Não importa o quanto uma arma seja poderosa, ela não pode parar uma guerra— a única coisa que pode ser parada é o coração da pessoa que a utiliza— apenas se isso fosse algo fácil de se fazer.
A amada boneca se transformou em uma máquina para matar pessoas.
Quanto mais ela perseguia sua habilidade, mais poderosa a arma se tornava.
Ele não sabia nada sobre Ionela. Ele não podia entender os pensamentos de um gênio.
No entanto, seu peito doía apenas por olhar para as lágrimas dela.
Então ele decidiu seguir a dor em seu peito.
— Eu vou direto ao ponto, Io. Você vai se juntar a mim para acabar com os rebeldes.
Ionela pareceu assombrada. Compreensível. Agora, a própria Ionela era uma das “rebeldes”.
— O tempo limite são duas horas. Em duas horas, chegaremos a uma contramedida, a colocaremos em prática e vamos acabar com aquele maldito cara de preto.
— O Raishin-kun… o Raishin-kun vai… fazer isso?
— Sim.
— Por quê…? Por que você iria tão longe?
— Aquele bastardo estava rindo do seu sonho, por isso—
Ele declarou com confiança.
— —É algo pelo qual vale a pena arriscar minha vida.
Os olhos de Ionela derramaram lágrimas, como se a barreira que as segurava tivesse sido quebrada.
Grandes lágrimas caíram.
Ionela chorou. E soluçou audivelmente.
Havia uma pessoa— um idiota igual a ela— que iria arriscar sua vida por seu sonho menosprezado, ultrapassado e desprezado sonho.
Ionela esfregou os olhos, secou as lágrimas e disse, parecendo inteligente.
— Então, Raishin-kun. Você poderia responder a uma pergunta dessa vez?
— É algo relacionado a contramedida? O que é?
— O que é “Kouyokujin”?
— —!
— Isso foi o que o Magnus-kun usou anteriormente, não é?
Ela era realmente afiada. Ele não pretendia esconder isso, mas não conseguiu responder de imediato.
— O Magnus-kun usou magia sem problemas mesmo dentro do alcance da magia Absoluto Poder Real da Eva. Para ser franca, isso não é um poder humano. Eu acho que ele provavelmente fez a mesma coisa que a Eva. Em outras palavras—
— [Boost de poder mágico].
— [Boost de poder mágico].
Suas vozes se sobrepuseram. Raishin assentiu e falou sobre o assunto.
— Eu não me importo em falar sobre isso, mas não sei se vai ou não ser de alguma utilidade. Por dois anos inteiros, eu me exauri com um dos livros de técnicas secretas, mas não havia uma técnica sequer sobre a qual eu pudesse entender alguma coisa.
— Sim. Conte-me sobre isso.
— Normalmente, marionetistas viram suas palmas em direção aos autômatos, certo?
— A palma é a parte mais sensível a magia em todo o corpo humano.
Dizia-se que era por isso que as pessoas juntavam as palmas das mãos quando rezavam para Deus, que pessoas feridas colocavam a mão sobre seus ferimentos, e que os ocidentais tinham o hábito de se cumprimentar com um aperto de mãos.
— Mas havia uma pessoa com poderes incomuns que podia fazer a mesma coisa com um dedo, muito tempo atrás.
— Com um dedo? Não com seu corpo inteiro ou sua cabeça?
No nível de Loki e Charl, os autômatos podiam ser controlados com poder mágico emitido a partir de todo o corpo, sem a necessidade de se virar as palmas na direção deles.
— Uma pessoa normal tem dez dedos, certo? Se você elevar seu poder mágico através de cada um dos seus dedos, com a mesma intensidade que você conseguiria se estivesse usando a palma da mão, então você poderia operar dez autômatos de uma só vez—
Se o poder mágico fosse concentrado em apenas um autômato, então o poder mágico seria dez vezes maior.
Além disso, um controle mais preciso e delicado era possível, o que era diferente de simplesmente multiplicar por dez o poder.
Em resumo, era como se dez pessoas operassem um mesmo autômato.
O Clã Akabane tinha orgulho de [Kuretsuba]— um modo milagroso de usar magia, que havia sido transmitido pela família daquele mago incomum.
Obviamente, controlar esse tipo de magia era difícil. Raishin também havia tentado quando lutou contra Loki na Festa Noturna. Porém, o fluxo de poder mágico era irremediavelmente “áspero”, então ele simplesmente não conseguiu colocar isso em prática.
— …É uma técnica absurda. Se alguém fosse capaz de utilizá-la sem o uso de mecanismos, então essa pessoa já não seria mais uma pessoa, mas sim uma existência mais próxima Dele.
— Dele?
— Deus.
Ionela ponderou sobre alguma coisa, e olhou para cima de repente.
— Raishin-kun, por favor me dê uma hora!
O que ela iria fazer? Entretanto, se Raishin fosse dar uma hora para Ionela, ele teria um pouco menos de uma hora para se mover na cidade.
Dito isso, ele podia mesmo impedi-los? E encarar o enorme Exército que havia dominado toda a cidade?
Eles trocaram um olhar. Ionela estava séria. E cheia de sua confiança habitual.
Raishin aceitou seu destino.
— Entendido. Irei seguir suas instruções.
— Tudo bem, precisamos buscar no meu laboratório as coisas que listarei o mais breve possível!
— Ah, a Yaya irá!
Yaya levantou a mão, anunciando a si mesma. Se fosse a Yaya, ela poderia ir e voltar duas vezes mais depressa que Raishin.
Yaya decorou tudo que Ionela listou e partiu imediatamente.
Ficar parado ali sem fazer nada seria uma perda de tempo. Raishin girou sobre os calcanhares.
— Vou ir pedir ajuda para o Loki e para a Charl. Espere aqui, Komurasaki.
Ele estava prestes a sair e parou. Raishin olhou novamente para Ionela por cima do ombro.
— Mais uma coisa, eu meio que ouvi, mas quem é aquele homem de preto?
— Raishin-kun… sua nota caiu para F.
— Minha nota baixa é muito difícil de comentar, sabia?
— Você deveria ler um jornal de vez em quando, pelo menos. Aquela pessoa é Sua Alteza, O Príncipe Negro Coroado, Edmund. O primeiro na linha de sucessão ao trono do Império Britânico— em suma, ele é o príncipe herdeiro.
*Abre*
O queixo de Raishin caiu completamente.
Parte 6
Depois que Raishin e os demais saíram—
A sala de recepção da residência oficial estava vazia. Os líderes já tinham partido, apenas o Representante dos Professores, Percival, e o Diretor Rutherford permaneceram no local.
— Você ficou para trás, Rutherford.
Para onde foi o rosto gentil que ele mostrava até há pouco tempo atrás? Percival deixou uma presença dominadora pairar no ar, e olhou para Rutherford através da janela.
— O objetivo deles claramente é atrapalhar a Festa Noturna. Se essas desistências continuarem, a legitimidade da Festa Noturna atual será questionada. Mesmo se os tivéssemos capturado agora—
Ele disse amigável e severamente, como se estivesse falando com um velho amigo.
— Viu só? É isso que eles chamam de pisar na cauda de um tigre. Dessa vez, ele veio almejando a Cidade das Máquinas. Aquele cara é como um rato acuado, hum. O Príncipe Negro, encarado de perto pelo mais poderoso mago do século XIX, veio para apostar.
— …Qual deles? O Tigre ou o Rato?
— Vamos ouvir sua opinião.
— O Tigre.
Surpreso, as sobrancelhas de Percival se moveram. Rutherford prosseguiu,
— Aqueles caras têm trabalhado em um método para obliterar a Cidade das Máquinas desde o começo. Encurralar os [Gauntlets] para fazê-los desistir da Festa Noturna nos últimos dez dias ou algo assim não é nada além de um artifício para desviar a atenção.
— …Então não foi uma coincidência que a Daedalus também estivesse aqui?
Rutherford concordou com ele. Percival deu uma risada seca.
— De qualquer forma, se a Cidade das Máquinas for completamente tomada, não poderemos prosseguir com a Festa Noturna por conta própria… Nosso esquema será suspeito, não é? Isso sem dizer que a Machine-Doll terá uma aparência diferente aos olhos da maior potência do mundo, da Nectar e das Rosas da Associação.
— A Academia reúne estudantes de todo o mundo. Isso é, por si só, uma falha em nossa segurança.
— Parece que o cão de guarda entrou no “Santuário dos Idiotas”. Por quanto tempo ele poderá agir como bem entender?
— Abstenha-se, Percival. Você é uma pessoa que merece o meu respeito, mas também é o Representante dos Professores.
— Minhas desculpas. Minha língua se solta à medida em que envelheço, isso está além do meu poder.
— Seria melhor ter a Professora Kimberly lá.
— Para combater veneno com veneno? Eu entendo o seu ponto. Desta vez, é absolutamente seguro dizer que as Rosas da Associação estão puxando as cordas. No entanto, Sua Alteza, o Príncipe Negro Coroado, é um cão louco. Ele não é o tipo de pessoa que prontamente obedecerá a seu dono.
— O Príncipe está fingindo ser manipulado, você diz? Se sim, a quem pertence essa sugestão?
— Eu já vi cães loucos devorarem seus donos por vontade própria.
— Isso é tão divertido. Ele devora a Família Real e a Associação. Para onde esse Príncipe irá em seguida?
Rutherford não respondeu. Em vez disso, ele disse algo diferente com um tom de voz sério.
— De qualquer forma, temos que recuperar a Cidade das Máquinas.
— Hohou, você me surpreendeu. Eu certamente pensei que você faria algo. Uma vez que estamos em guerra, a Festa Noturna está suspensa… mas suas desculpas se multiplicam. Se vamos resgatar a cidade, não deveríamos enviar o Magnus?
— Não, ele ficará bem.
— Ele também é engraçado. Você se apegou bastante ao Penúltimo, não foi?
— Isso não é engraçado. Você deveria dar uma boa olhada, Percival. Aquele garoto irá ter sucesso. E se ele não conseguir, seus amigos irão.
— …Hou?
— Ele provavelmente é a criança cuja chegada foi prevista pelo Patrocinador.
— O filho da “Divindade”… sobre o qual a Nectar estava falando?
— Se usarmos esse garoto não, nós precisamos.
De repente, o julgamento de Rutherford se aguçou.
— Quando chegarmos à Machine-Doll, será impossível…
— …Você acredita nas bobagens do Patrocinador?
— Não. Mas eu quero apostar.
Um lado do bigode de Rutherford se ergueu lentamente.
Vendo o sorriso extremamente repugnante de Rutherford, Percival também sorriu, parecendo satisfeito.
Nota:
1 – Geta (下駄) são uma forma tradicional de calçado Japonês que lembram ambos tamancos e chinelos. Eles são um tipo de sandália com uma base de madeira elevada presa no pé com um tecido de correia para manter o pé bem acima do nível do solo. Geralmente são usados com roupas tradicionais Japonesas, como quimonos e yukatas.