Volume 5
Capítulo 5: Investida
Parte 1
A Primeira Ponte— a ponte principal do navio de guerra terrestre, Daedalus.
As paredes e o chão brilhavam levemente, emitindo uma luz fraca.
Bem no centro da ponte. Havia alguém confortavelmente sentado de pernas cruzadas no alto assento do capitão.
O Primeiro Príncipe do Império Britânico, O Príncipe Negro Coroado, Edmund.
— Abra seus olhos, Daedalus.
As paredes e o teto da ponte ficaram transparentes e tornaram-se janelas que mostravam a visão do mundo exterior.
Os faróis se acenderam, deixando o rosto de Edmund cheio de autoconfiança. Ao mesmo tempo, a figura do General Glendan se fez presente.
— Isso não foi feito por magia… quero dizer, por um circuito mágico, não é?
— Hou, você percebeu só de olhar?
— Sinto uma magia fraca, mas não sinto a ativação de um circuito mágico. Esta provavelmente é a capacidade de percepção que o Coração de Eva do Daedalus tem…
Daedalus projetava na ponte o mundo que “via”. Um controle de poder mágico extremamente delicado, mas estritamente falando, aquilo não era magia.
— Aquele Francês fedorento conseguiu criar um sistema mágico assim tão avançado. Ele enviou isso para a Autômato Expo apenas por causa de seu orgulho.
— Bem, aqueles caras vão ficar ressentidos com você.
— Hã? O que você quer dizer com isso?
— Aquele que projetou o Daedalus não é Francês. Foi Earl Belew.
Edmund olhou maravilhado para o General. Este abriu e fechou a boca tal qual um peixe.
— Como você sabe, o Earl e eu temos uma conexão. Então eu o fiz me ajudar um pouco. Em resumo, foi sangue Britânico que tornou isso possível. E não aqueles caras do continente.
— Isso foi obra de… sua Alteza?
Sem responder se o General estava certo ou errado, Edmund,
— Agora, Daedalus. Mostre-me o estado da cidade.
Ele deu uma nova ordem. Em seguida, diferentes cenas foram projetadas em cada uma das janelas.
Os policiais autômatos que patrulhavam a cidade.
Os autômatos militares que estavam ordenadamente posicionados.
No entanto, não havia visão de qualquer usuário dos autômatos. Pelo contrário, nenhuma figura humana podia ser vista em qualquer ponto da cidade. As persianas das casas estavam bem fechadas. Os residentes estavam trancados em suas casas ou se refugiando em centros comunitários.
As ferrovias, as rodovias e os portos foram bloqueados pelos autômatos. A maioria deles eram produtos baratos de placas de estanho sem capacidades de combate. No entanto, se armados com armas de fogo, eles se tornariam soldados esplêndidos.
— Fácil. Eu poderia facilmente colocar a Cidade das Máquinas em minhas mãos assim.
A cidade inteira já estava sob o poder de Edmund. A divisão mecânica, da qual o Império Britânico tanto se orgulhava, já não podia interferir. Assim que entrassem na cidade, eles seriam dominados pelo poder de Edmund.
— …Sua Alteza, que tropa é aquela?
O General apontou para uma das pequenas janelas. O que estava projetado era a parte central da cidade, a rua principal que levava até a Academia Real de Maquinagem. Ali estavam posicionados cerca de dez autômatos, claramente diferentes dos soldados comuns.
Uma tropa sem senso de unidade. Alguns deles estavam armados, outros estavam quase despidos. Alguns eram tão grandes quanto gorilas e outros eram pequenos como crianças.
— Eles são especiais, cada um possui uma peculiaridade… diferentes dos produzidos em massa estes se diferem entre cada um deles, os designs elaborados… essa aura única— é algo que os estudantes teriam.
— Eu não tenho um bom olho para isso. Sim, o lote que recebi foi a imitação de um ladrão mesquinho.
Aqueles posicionados diante da Academia. Eles pareciam ser uma linha de defesa contra os estudantes.
Entendo, ele estava preparado para o caso de a Academia mostrar alguma oposição, hein?
O General assentiu como se estivesse impressionado. Então, exatamente naquele momento, um som agudo muito parecido com as badaladas de um sino ressoou na ponte e luzes vermelhas se acenderam nas janelas.
— Isso é… um alarme?
— Acho que o Daedalus está transmitindo que tem algo fora do normal.
Uma das pequenas janelas, que mostrava o mar, foi automaticamente ampliada.
O sinal de navios se aproximando pelo Norte e pelo Sul no porto— a frota da Marinha Imperial!
— Mais de 20… Galeões Britânicos, hein. O que você acha, General?
— Eles planejam atacar pelo mar. Agora que é impossível desembarcar e que não possuem meios de atacar do chão, eles reduzirão a cidade a cinzas através de um bombardeio.
— Como esperado do meu pai, sua imbecilidade é ilimitada. Ele não está considerando as vidas e a subsistência dos cidadãos. Estou incrédulo com o talento dele como Rei. Com isso, deve ficar bem claro quem eles deveriam seguir, você não concorda?
— Mas o que você vai fazer? Você enviará uma ordem de evacuação oficial para os cidadãos?
— Evacuação? Não diga coisas estúpidas. Os cidadãos serão sacrificados— não há nada que possa ser feito quanto a isso. Graças a imbecilidade do meu pai.
Edmund disse essas palavras com um tom desinteressado, como se estivesse escrevendo um poema.
— O sangue derramado irá se transformar em ódio por meu pai. As lágrimas derramadas irão invocar a raiva contra meu pai. A raiva e o ódio das pessoas irão me fazer Rei.
— …Você realmente está preparado. Entretanto, se formos atacados pelos canhões principais dos Galeões Britânicos, não importa o quão poderoso seja o Daedalus, ele não terá chances.
— O Daedalus é um navio inafundável. Não faz sentido bombardeá-lo.
— Inafundável…?
— Você se lembra do ato que aconteceu não muito tempo atrás? O estudante favorito do Rutherford, aquele Magnus, libertou a Io ao tirá-la do meu alcance— aquela foi a última chance deles. Aquilo me permitiu rocar¹ o Daedalus e agora aqueles caras não podem mais me parar.
O General estava sem palavras. Em seu rosto, sua expressão parecia dizer “Eu não entendi”.
— Bom, isso me surpreendeu agora há pouco. Aqueles que podem usar magia dentro do território dominado pela Eva serão apenas umas poucas pessoas, bem como as sucessivas gerações de Wiseman.
Sem dar nenhuma explicação mais detalhada, Edmund esticou a mão para uma das pequenas janelas.
O que estava refletido ali era o deque do Daedalus. Lá, uma garota seguia cantando fervorosamente.
— Isso mesmo, Eva. Você é minha Deusa.
Ele disse como se estivesse sussurrando seu amor com grande atenção.
O lindo rosto de Eva foi ampliado. Um líquido transparente escorria direto sobre suas bochechas.
— Ela está chorando?
— Impossível. Uma marionete que só age segundo os comandos de seu mestre não pode chorar. É a chuva, isso é tudo.
— Certamente… começou a chover.
— Agora, mundo. Reconheçam-me. Aceitem-me como seu Rei!
Palavras cheias de uma absoluta autoconfiança. O General obedeceu respeitosamente e ofereceu uma reverência a Edmund.
Parte 2
Raishin correu até a Faculdade de Medicina e depois até a Enfermaria. Ao mesmo tempo em que abria a porta,
— Loki! Você está aqui!?
Ele chamou em voz alta. Frey ficou surpresa e caiu de bunda no chão.
— Frey… não tem problema você estar aqui? E quanto ao Ritual?
— Uuh… estou indo para lá agora.
— É mesmo? E o Loki—
Frey abriu a cortina divisória. Raishin viu o extremamente descontente e irritado Loki em sua cama.
— Não cause confusão na Enfermaria, seu idiota. Os orientais não têm muito senso comum, não é, insulano idiota?
— Cale a boca, não chame outras pessoas de idiota, seu idiota continental…
Raishin segurou a língua. Começar uma briga ali seria realmente estúpido.
— Hummm… Diga os detalhes importantes rapidamente. Sou humilde e tolerante, mas não gosto de gente lerda.
— Você… sabe… poderia… me emprestar… isso é… sua força…
— Eu não consigo te ouvir. O que você quer dizer?
— U… então… você sabe!
— Essa é a atitude adequada para pedir algo para alguém?
— Ggg… ah, não vem com essa de que você não conseguiu me ouvir!
— Ora, ora, não existe etiqueta no Extremo Oriente, não é? Por causa disso, fizeram você aceitar um acordo desigual, seu Oriental idiota.
— Por que eu tenho que ouvir tudo isso…? Pare com isso, seu ocidental idiota!
Raishin entrou em pânico e cobriu a boca com as mãos após acabar gritando de raiva.
Droga. No fim, eu acabei comprando uma briga…
Entretanto, e diferentemente de suas expectativas, Loki não perdeu a calma.
Ao contrário— ele parecia estar sorrindo levemente, muito levemente.
— Hum, está tudo bem.
— —
— Você tem parecido muito inquieto ultimamente.
Raishin ficou de pé. Aquelas palavras foram bem surpreendentes.
— Eu ouvi sobre o caos na cidade. E que eles estão mobilizando os alunos.
Loki olhou para sua irmã mais velha. Frey teria ido contar a ele?
Frey olhou para baixo, sentindo-se desconfortável. Sem calma, os autômatos da série Garm farejaram, espreitando o complexo de sua mestra. Os Garms pareciam perceber a presença ameaçadora inundando a atmosfera. Naturalmente, sua mestra, Frey, também podia senti-la.
Vendo sua irmã mais velha naquele estado, Loki parecia ter decidido alguma coisa.
Ele saiu da cama e jogou sua habitual meia capa por sobre os ombros.
— Venha comigo, Cherubim.
— Estou pronto.
A longa espada na parede respondeu e flutuou suavemente. Ela se transformou em um ser humanoide no ar e então pousou.
Em seguida, eles tentaram partir imediatamente. Raishin ficou confuso.
— Ah, ei! Onde você pensa que está indo?
— Eu disse que não gosto de gente lerda, não disse?… Mostre o caminho, depressa.
Surpreso, Raishin arregalou os olhos. Então, em outras palavras…
— Você. Você está dizendo que está prestes a se intrometer na rebelião na cidade?
Ele sabia disso e, no entanto, iria emprestar sua força?
Rashin ficou emocionado e disse em voz baixa, como se estivesse forçando sua voz a sair.
— …Eu te devo uma enorme.
— Quem aqui está pedindo por sua gratidão? Eu não tenho paciência para tumultos idiotas que ousem interferir com a Festa Noturna. É tudo que vou dizer, seu idiota excessivamente autoconsciente.
— Ao menos aceite meus agradecimentos com honestidade, seu adolescente rebelde idiota!
— Cale a boca, seu crianção idiota!
Eles deixaram a Enfermaria enquanto trocavam xingamentos.
Frey estava prestes a dizer algo, mas ela apenas os viu partir, sem dizer nada.
Parte 3
Raishin guiou Loki até a prisão de Ionela e voltou imediatamente.
Ela saiu da Residência Oficial novamente e desta vez correu na direção oposta a Faculdade de Medicina.
Obviamente, ele foi procurar Charl.
Seu paradeiro era imaginável. Para aqueles ao seu redor, Charl era vista como uma criança problemática, mas embora as pessoas pensassem assim, ela era uma estudante dedicada. Se esse era o caso, então naturalmente…
Raishin avançou rapidamente em direção ao campo da Festa Noturna.
Um número de estudantes já estava reunido ali.
Os estudantes trabalhavam ocupados, segurando pás, fios e giz. A julgar por suas aparências, eles mais pareciam trabalhadores da construção civil, mas na verdade estavam construindo um círculo mágico em larga escala.
Uma sensação de tensão pairava no ar, e ele podia ver a ansiedade aparecendo através das expressões nos rostos de todos os alunos ali. No entanto, eles continuavam seu trabalho em silêncio. A pessoa que os comandava era excelente, ao que parece.
Embora tenha considerado não os incomodar, Raishin adentrou o campo.
— Natalie, gire isso cinco vezes em sentido horário. Um pouco mais… isso, bem aí. Joseph, as linhas estão distorcidas. Faça-as novamente. Leonard, você—
Instruções voavam em todas as direções através de uma voz bem projetada vinda do prédio escolar adjacente.
Raishin olhou para cima. Uma aluna estava de pé junto à janela.
Seu cabelo loiro cor de mel era lindo. O céu estava escuro, mas ele parecia brilhante como se estivesse em destaque. A garota estava envolta por uma aura deslumbrante. Aquela era a Representante dos Alunos…?
Não, não era hora para isso agora.
Raishin novamente voltou seu olhar para o campo e procurou por Charl.
Felizmente, Charl era uma pessoa chamativa. Ele a encontrou de imediato. Ela estava espalhando um encanto em um dos cantos do campo. De algum modo, parecia que ela estava cercando o local de longe. Sigmund estava sobre sua boina.
— Charl! Sigmund!
Assim que notou Raishin o rosto de Charl se abriu em um sorriso, como se ela fosse um botão florescendo.
——Mas então ela pareceu se lembrar de alguma coisa desagradável e imediatamente ficou de mau humor.
— Humph… o que foi, pervertido? O que você quer?
Raishin estava confuso. Por que ela estava de mau humor?
Bom, deve ser o mesmo de sempre…
Ele repensou e começou a falar imediatamente.
— Eu tenho algo a pedir para você. Desta vez, é realmente para mim. Não se trata mais de empréstimos e devoluções— vidas estão em perigo. Para ser honesto, estou em uma situação em que não tenho escolha além de me curvar…
Raishin se inclinou quando afirmou e disse com força.
— Por favor. Lute ao meu lado.
Charl ficou surpresa, então, quando pareceu ficar com vergonha,
— Humph… não posso fazer nada. Quando você me diz algo assim tão ex—
Raishin ergueu o rosto de uma vez. Charl entrou em pânico e desviou o olhar. Ela fez isso porque entendeu a expectativa gravada na expressão no rosto dele?
— Como pensei, é impossível para mim! Como um dos Números, eu tenho que ficar responsável pela parte central da construção da Barreira de Julgamento. Eu não posso acompanhar seu egoísmo. Um homem que é beijado por uma mulher de meia-idade e tem um olhar lascivo no rosto é—
— Se é sobre o ritual, então tudo bem. Eu tenho uma mensagem do Diretor.
— Uma mensagem…?
— Você destruiu a rua principal não faz muito tempo, certo? Então, você foi punida. “Você não precisa participar da Barreira de Julgamento—”.
— N-não ria de mim!
Charl de repente perdeu a paciência. Ao que parece, ele tinha provocado sua ira.
— Nossa, agora estou irritada porque me lembrei disso! Não fale comigo, seu pervertido! Quem é que iria ajudar vo—
— Por favor, Charl! Eu preciso da sua força!
Raishin colocou as mãos sobre os ombros de Charl e a encarou diretamente nos olhos.
As bochechas de Charl rapidamente coraram.
Ela fez seus olhos vagarem para longe. Depois, olhou para Raishin com os olhos virados para cima e os desviou mais uma vez.
Sigmund, incapaz de assistir aquela cena sem fazer nada, sussurrou para Charl.
— Charl. Por que você não pergunta a ele sobre as circunstâncias?
— Você… você está certo. Ser informada disso e ignorar a situação seria… patético.
— Você vai me ajudar?
— Não me menospreze. Eu sou Charllote, da Família de Earl Belew, que recebeu um território ao Norte e a Crista de Unicórnio diretamente das mãos de Sua Majestade, a Rainha. Eu não irei abandonar qualquer um que esteja desesperadamente buscando por ajuda.
— Eu me sinto em débito com você, Charl! Com você, eu vou poder ajudar a Io!
Houve algo parecido com algo quebrando quando a expressão facial de Charl ficou rígida.
— …Eu mudei de ideia.
— Eh…? Por quê…? Charl?
— Que Obrigação da Nobreza!? Não tire sarro de mim!
— Ei, por que você está ficando com raiva assim do nada—
— Calado! Luster Cannon!
O som de uma violenta explosão agitou o campo.
Os estudantes imediatamente ficaram inquietos, como se o bombardeio naval já tivesse começado.
Parte 4
— Ah, Raishin!
— Bem-vindo de volta ♡.
Como se estivessem cansadas de esperar, Yaya e Komurasaki subiram correndo as escadas.
A escadaria descia até o já mencionado andar subterrâneo onde Ionela estava confinada.
Raishin virou o rosto enlameado na direção delas e sorriu debilmente.
— Ó, você trouxe a Charl e o Sigmund com você…
— Hã? Raishin, por que vocês estão todos esfarrapados assim?
— Não se preocupe, Komurasaki. Quero dizer, foi um sacrifício inestimável.
— Não me diga que o Raishin… com a Charlotte-san nos arbustos…!
— Ei, Yaya! Por que você está imaginando algo como isso!?
Ele desceu as escadas enquanto gritava com Yaya. Fazendo beicinho, Charl o seguiu.
Uma vez que ela explodiu uma parte do círculo mágico, ela acabou sendo expulsa do campo onde estava sendo erguida a Barreira de Julgamento. A força da Representante dos Alunos que repreendeu Charl era como a de um leão… mas isso é outra história.
Raishin passou diante de Avril e foi para o centro da prisão. Loki e Cherubim estavam lá, esperando a chegada de Raishin.
— De qualquer forma, com isso a Lua e a Flor de Setsugekka e os dois Números estão todos presentes.
Ele olhou em volta para todos os presentes. Ele pensou, sem exageros, que aquilo era tranquilizador.
A última parte era o trabalho de Ionela, mas…?
Havia alguns sons de faíscas voando por trás da porta entreaberta. Ionela, usando óculos, estava no meio de algum tipo de trabalho delicado.
Quanto tempo aquilo levaria? Enquanto todos os presentes assistiam atentamente e em silêncio,
— Raishin-kun. Você voltou.
A outra pessoa notou e parou de trabalhar. Raishin rapidamente correu até ela.
— Quase uma hora se passou. Você conseguiu?
— Nosso trunfo acabou de ser terminado.
Ionela orgulhosamente levantou algo e passou para as mãos de Raishin.
Era um círculo de ferro.
Externamente ele era completamente de metal e sem nenhum detalhe refinado. Um fio de cobre percorria o exterior, desenhando um padrão complexo. Ao olhar atentamente, pareciam runas. Além disso, grandes e pequenas pedras mágicas foram encaixadas em vários lugares. À primeira vista, aquilo era um dispositivo mágico.
— O que é isso… uma pulseira?
— Isso é um colar. Isto é uma pulseira.
Ela entregou a ele um círculo muito parecido com o anterior.
— Eu os fiz sem plantas, então, embora tenham essa aparência, eu garanto o seu desempenho.
— Nesse caso, para que eles servem?
— Ora, vaaaaaaaaaaaaaaamos, Raishin-kun, sua nota caiu para X!
— Um mistério!?
— Entenda pelo contexto! Naturalmente, esses são dispositivos criados para se oporem ao circuito mágico da Eva!
Surpreso, Raishin se calou.
Loki e Charl também olharam para as peças de metal. Ambos pareciam bastante interessados nelas.
— Nós não temos tempo, então vou explicar resumindo ao máximo. Essas duas peças reforçam o poder de controle do marionetista. Eles criam uma conexão “grossa” o bastante para não ser bloqueada pelo multicontrolador da Eva.
— Conexão…
— Quando ouvi falar do Kouyokujin, tentei reproduzi-lo usando minha própria imaginação. No entanto, eles servem apenas para que você possa se opor a magia da Eva, eles não possuem um efeito de aumento de poder, então tenha cuidado.
— Então eles são usados exclusivamente contra a Eva. Como devemos usá-los?
— Não é nada complicado. O marionetista usa a pulseira e o autômato o colar. A conexão entre o usuário e a boneca ficará mais forte e não permitirá que a magia da Eva se aproxime.
— Eu não entendi bem, mas se usarmos isso, poderemos usar magia fora da Academia?
— Está correto, mas a nota do Raishin-kun é um D!
— Eu estou certo, então por que minha nota ainda é de reprovação!?
— Porque você não compreende a grandiosidade deles!
— Você não tem mais do que um par?
Loki fez uma pergunta em tom agudo, interrompendo a conversa.
Ionela ficou com raiva, mas seu olhar subitamente escureceu.
— Desculpe… Se eu tivesse feito outro par, provavelmente… eu ficaria sem tempo.
— Eu também tenho uma pergunta.
Charl disse com uma voz nervosa, sendo reservada por estar diante de uma professora.
— Qual é a situação na cidade? Nós vamos conseguir de algum modo apenas com estes artifícios?
— Eu irei responder a essas perguntas.
Uma voz gélida ecoou atrás deles.
Era Avril. Ela havia permanecido em silêncio até agora, mas olhou para eles com um sorriso irônico no rosto.
— Minha conclusão diz que isso é totalmente inútil.
Ela esplendidamente deu o golpe fatal. Ela disse aquelas palavras como se quisesse destruir suas esperanças.
— Os batedores confirmaram que a força militar do inimigo é de dezenas de milhares— embora a maioria seja composta por autômatos de estanho, o tipo usado como força de trabalho. A maioria deles nem sequer está equipada com um circuito mágico. Porém, cinco mil deles podem ser considerados armas genuínas, e são os autômatos usados para fins militares e policiais, bem como os itens de combate de alta classe que estavam sendo exibidos na exposição.
Haviam cinco mil autômatos prontos para a batalha. Este número era absolutamente invencível.
Loki manteve o mesmo olhar complexo, mas Charl mordeu o lábio, e Yaya e Komurasaki olharam para Raishin com alguma ansiedade. Olhando para aquelas garotas, Avril riu com toda a maldade que tinha em si.
— Vocês são magos que provavelmente podem conseguir, mas apenas uma pessoa pode usar esses dispositivos. Parece que isso é o mais longe que a força de vontade do pirralho pode chegar?
— Não, não se limita exatamente a uma única pessoa.
Raishin respondeu com tranquilidade. Charl, Loki, Sigmund, Yaya, Komurasaki, Ionela e até mesmo Avril, todos olharam para Raishin como se estivessem surpresos.
— Eu quero ouvir opiniões construtivas em vez de sarcasmo. Você conhece a formação de batalha do inimigo, especialmente a localização do mentor de tudo isso, sua Alteza, Edmund?
— Vagamente. Edmund está dentro daquela coisa enorme.
— Daedalus…
Raishin ficou pasmo. Era inesperado. Certamente, era um navio de aparência sólida, mas uma vez que seu paradeiro fosse identificado, eles apontariam em sua direção e o atacariam.
Esconder-se na cidade seria a coisa mais esperta a se fazer.
— Io. Você disse que o Daedalus é um autômato, certo? Com que tipo de circuito mágico aquela coisa está equipada?
— …Eu não sei. É um segredo de estado. No entanto, eu tenho um mau pressentimento quanto a isso.
— É mesmo? Eu preferiria sentir que você vislumbrou nossa chance de vitória—
— Tem certeza de que não tem problema ficar perdendo tempo assim, Penúltimo?
Antes que Raishin pudesse terminar suas palavras, Avril disse como se o provocasse.
— Acredito que as figuras dos navios imperiais já possam ser vistas além da baía. Se as negociações do velhote tivessem falhado, o bombardeio teria começado de imediato. Se fosse esse o caso, a Cidade das Máquinas a essa hora teria se transformado em um mar de fogo.
Não havia necessidade de dizer aquilo. Raishin ignorou Avril.
— Io. Se derrubarmos esse maldito Príncipe Herdeiro, o caos diminuirá?
— …Não. Se alguma ordem catastrófica tiver sido dada aos autômatos, eles irão executá-la mesmo que sua Alteza seja contido.
Ao contrário das expectativas de Raishin, Ionela balançou a cabeça negativamente.
— Raishin-kun, você me perguntou isso antes. Por que o lado deles pode usar magia, certo?
— Sim…
— O Multicontrolador da Eva é uma magia com tempo de efeito permanente. Seu efeito altera diretamente o Coração de Eva.
— Altera, você diz?
Charl perguntou, surpresa. Raishin conseguiu entender o que aquilo significava.
A magia era capaz de reescrever a existência dos autômatos.
Komurasaki agarrou a mão de Yaya, que devolveu o aperto em resposta. Para autômatos como elas, isso significava que seus corações poderiam ser substituídos. Era compreensível que elas estivessem com medo.
— Alterar a ordem do controlador é a maior prioridade. Em outras palavras, Eva— sua Alteza, o mestre de Eva… pode controlar tudo através da Eva.
— …Então?
— Se a ordem for alterada uma vez, a magia da Eva deixará de funcionar. Em outras palavras, vocês não seriam expostos à magia dela… e com isso, também poderiam usar magia.
— Vá direto ao ponto. Em suma, qual deve ser a melhor opção para impedir esses caras?
— Você poderia usar uma atualização para reparar as partes alteradas, mas—
Ionela estava prestes a soluçar— no entanto, ela aguentou e disse,
— …Não temos escolha a não ser destruir a Eva.
Sombrio.
Raishin se lembrou das palavras que trocou com Eva no dia anterior.
Sem ter que se referir a definição de Ionela, Eva era humana. Isso porque ela já era humana o bastante.
Ele teria que matá-la— a pessoa que era quase uma filha para Ionela.
— …Vamos traçar uma estratégia concreta. Quem vai usar essas coisas?
Loki interrompeu a conversa com uma voz calma enquanto apontava para a pulseira e o colar.
— Em primeiro lugar, seu autômato pode se mover fora da Academia?
— Talvez. Ao menos a Irori— a irmã mais velha da Yaya, podia se mover normalmente.
— Embora isso não signifique que eu não tenha tentado por conta própria— nesse caso, o Sigmund da T-Rex provavelmente pode ser ativado. Mas o Cherubim não é uma boneca proibida. Estabilizar o controle vai ser difícil.
Uma vez que o Loki disse isso por conta própria, então esse deve mesmo ser o caso, certo?
Raishin virou-se na direção de Sigmund, que estava sobre a cabeça de Charl.
— Sigmund. Você consegue voar mesmo sem o colar?
— Provavelmente. Meu voo não é resultado do circuito Gram.
— O que isso quer dizer? Espere, você não está dizendo que voa usando força física, está?
Ionela respondeu essa pergunta no lugar de Sifmund.
— Essa é uma aplicação do Coração de Eva. O circuito mágico da vida pode se transformar em inteligência, força física, os cinco sentidos e muitas outras coisas.
Agora que ela disse isso, ele sentia que esse era um tema recorrente nas aulas de física mecânica.
Porque essa coisa chamada de “vida” poderia fazer quase qualquer coisa que um ser vivo poderia.
— O fabricante de bonecas que desenhou o Sigmund deve possuir uma habilidade extraordinária. As asas— os artifícios necessários para o voo— combinados com seu coração, torna o voo uma habilidade básica.
— Nesse caso, ele não é afetado pela dissonância da atividade mágica?
Ele olhou para Charl para se assegurar disso. A carrancuda Charllote respondeu como se estivesse dando um aviso.
— Se ele pode voar? Acredito que possa, mas ele não pode atirar o Luster Cannon.
— Não, tudo bem. O alcance da operação é grande o bastante.
— Você não respondeu minha pergunta. Quem usará o colar?
Loki olhou para ele com uma expressão sombria. Enquanto Raishin segurava o colar em sua mão,
— Posso mesmo tomar essa decisão? Com toda a honestidade, você é mais esperto que eu, não é?
— Foi você que começou esse absurdo. Assuma a responsabilidade até o fim, seu fracote idiota. Porém, se você não confia na sua própria inteligência, então farei isso no seu lugar.
— Não diga coisas estúpidas, seu idiota arrogante. Não confio na minha inteligência, mas certamente isso é responsabilidade minha.
Raishin virou os olhos para todos e apontou para sua parceira.
— Primeiro será a Charl, depois o Loki e, por fim, nós. Confio em você, Yaya.
Todos os presentes recuperaram o fôlego.
Entendo… nós iremos nos revezar para usá-los!
Yaya foi tomada pela emoção, seus olhos estavam marejados.
— A Yaya certamente se tornará uma boa noiva…!
— Nós não estamos falando sobre isso, estamos? Estamos falando sobre carregar a parte central da estratégia nos nossos ombros, sabia?
— Ei, Raishin… nós realmente vamos ficar bem?
Charl olhou para ele com ansiedade. Raishin assentiu corajosamente.
— Minha parceira é o melhor autômato do mundo e, acima de qualquer coisa, eu tenho vocês.
— Agindo como se fosse legal, sua criatura irritante e insolente. Você está agindo como se fosse um herói!
— Para mim, um herói tem muita responsabilidade. Estou com as mãos cheias apenas por culpa daquele bastardo. Eu quero derrubar aquele Príncipe idiota e voltar logo para a Festa Noturna— isso é tudo.
Essas palavras pareceram causar efeito em Charl e Loki.
Sim— se a atual Festa Noturna fosse suspensa por algo assim—
Se a Nectar desistisse da Academia—
Ambos os sonhos de Loki e Charl acabariam infinitamente distantes.
— Tudo bem, então. Vamos nessa. Vamos elaborar a estratégia enquanto avançamos.
— Entendido.
— De acordo.
— Humph…
Charl, Sigmund e Loki responderam e começaram a se mover.
Raishin passou diante de Avril e correu para fora da prisão.
Atrás dele, é claro, Yaya e Komurasaki o seguiram.
Cinco mil inimigos. Não, ainda mais que isso. Eles tinham que superar o cerco, embarcar no gigantesco navio de guerra e derrubar o Príncipe Imperial.
Mesmo nesta situação desesperadora— há companheiros que acreditam em mim.
Transformando o sentimento que enchia seu coração em força propulsora, Raishin subiu correndo as escadas saltando vários degraus.
Parte 5
Na praça localizada em frente ao portão da Academia, havia uma pessoa parada de pé, sem fazer nada.
Uma aluna de cabelos brancos amarrados em um rabo de cavalo do lado direito de sua cabeça. Havia cinco autômatos em forma de cachorro ao seu redor, sentados como se estivessem protegendo sua mestra.
Não havia necessidade de dizer que se tratava de Frey. Ela notou a pessoa correndo naquela direção e acenou com mão.
— U… Raishin!
— Frey!
Ele estava surpreso. Enquanto Raishin corria na direção de Frey,
— O que é isso? Você vai participar da Barreira de Julgamento?
Frey reuniu toda a coragem que tinha e disse com uma voz estranhamente alta.
— Eu também… quero ir!
Como se aprovassem a insistência de sua mestra, os cinco Garms se levantaram.
Raishin virou-se para os companheiros que trouxe com ele.
Ele voltou seu olhar na direção de Yaya, Charl e Loki, e disse claramente.
— Você não pode. Se algo inesperado acontecesse com você, o Loki me mataria.
— Não use isso como desculpa, seu covarde.
— Então podemos levá-la conosco?
— Humm. Eu não quero obstáculos.
— Esse idiota dinâmico! Isso não é jeito de dizer as coisas!
— Calado, seu idiota drástico! Não se intrometa na conversa entre uma irmã mais velha e seu irmão mais novo!
Loki empurrou Raishin para o lado e se colocou diante de Frey.
— Pessoas fracas deveriam obedientemente ficar fora disso.
— —
— Quero dizer, bom… dessa vez eu não vou ter meios de proteger você.
Aquelas eram palavras bruscas, porém estranhamente carinhosas.
Ao lado de Loki, que desviou o olhar, Raishin disse,
— Nós definitivamente iremos voltar. Prepare algo para comer e espere por nós. E nada comida envenenada dessa vez, tudo bem?
Ele sorriu e confortou Frey enquanto dava tapinhas nos ombros da garota.
Imediatamente depois, ele rapidamente passou por Frey e voltou a correr.
Charl se despediu. Yaya e Komurasaki tinham olhares tristes em seus rostos.
Eles correram em fila até estarem diante do portão, onde tiveram algum tipo de conversa e, eventualmente, cada um deles ativou seu circuito mágico.
Sigmund se transformou em um dragão gigante e suas figuras desapareceram imediatamente depois.
Os guardas os viram, mas não se preocuparam com os movimentos de Raishin e companhia. Talvez eles tenham sido contratados pelo Diretor.
Deixada sozinha, Frey mordeu o lábio.
A realidade atirada nela foi muito pesada e dolorosa.
Sim— comparada a Charl e Loki, a verdadeira força de Frey era muito menor. Isso sem mencionar que não era possível usar magia, o que certamente faria de Frey um fardo para os demais. De todo modo, ela era lenta e não tinha resistência.
*Lágrimas*
Após a primeira lágrima cair, ela não pôde mais se segurar.
Frey derramou grandes lágrimas enquanto permanecia parada.
Os cães negros uivavam e esfregavam a ponta de seus focinhos nela.
— Frey-san…
Ouvindo a voz que subitamente a alcançou, Frey enxugou apressadamente as lágrimas.
Ela se virou e viu uma garota usando um vestido e um avental parada ali.
Uma jovem de cabelos cor de palha. À primeira vista, sua aparência era muito semelhante à de Charl.
— Henri…
— Sinto muito por ter escutado a conversa!
Henri disse ansiosamente enquanto entrava em pânico.
— Err… é um pouco presunçoso da minha parte dizer algo assim, mas… Eu entendo os seus sentimentos, Frey-san. Eu sempre senti a mesma coisa…
O que ela está tentando dizer?
Frey esperou pelas palavras de Henri, olhando para a garota com perplexidade.
Henri hesitou um pouco, mas eventualmente ela ergueu o rosto e disse com uma clareza extraordinária.
— Mas a Frey-san pode fazer isso, não é?
— —
— A Frey-san é uma marionetista da Academia… e uma maga incrível, diferente de mim. E você pode ajudar na Barreira de Julgamento— desculpe por dizer algo impertinente como isso!
— Bom, é como a Henriette diz.
Surpresas, as duas imediatamente se viraram.
Desde quando ela estava ali? Kimberly estava escondida na sombra de uma árvore próxima.
— Volte para sua posição, Frey. Vocês, estudantes, são obrigados a participar da Barreira de Julgamento.
— Sniff… tudo bem.
Frey caminhou cambaleante, sentindo-se desanimada.
Henri lentamente começou a chorar, vendo Frey se afastar.
— Eu sinto muito pela… Frey-san.
— Há pessoas interessadas em certas coisas, e também existe uma diferença de talento.
Essas palavras pareciam frias e sem emoção. Henri baixou a cabeça e apertou forte os próprios punhos.
A mão de Kimberly gentilmente pousou sobre o ombro de Henri.
— No entanto, a diferença de talento não é a verdadeira força. A diferença entre a força verdadeira de duas pessoas não se limita a produzir uma diferença de poder. O fato de eu estar lhe dando um sermão com tanto orgulho é porque você não possui aptidão mágica.
Os olhos de Kimberly, que havia acabado de dizer tais palavras, tinham uma luz suave neles, ao invés do rigor habitual.
— A Frey ficará bem. Se ela percebeu suas fraquezas, no caso.
Ela bateu no ombro de Henri e a empurrou para trás.
— Venha, Henriette. Volte para o laboratório e classifique os materiais. Minha pesquisa não será deixada de lado nem amanhã e nem no futuro.
Henri compreendeu o significado daquelas palavras.
Sim— amanhã, o futuro, o dia depois de amanhã certamente seriam iguais.
A Academia não irá desaparecer e a Cidade das Máquinas não seria destruída.
— Sim!
Henri assentiu vigorosamente e saiu correndo, fazendo a barra de seu vestido balançar.
Antes de dobrar a esquina, ela virou o rosto na direção do portão apenas uma vez e orou.
Ela orou por Raishin e sua irmã mais velha, que estavam prestes a saltar rumo ao perigo iminente.
Nota:
1 – Roque é um movimento especial no Xadrez que envolve a movimentação de duas peças em um único lance, o Rei e uma das Torres. O objetivo da jogada é proteger o Rei, tirando-o do centro.