Volume 5
Capítulo 2: O Homem Negro e o Convite
Parte 1
Raishin parou subitamente no caminho de volta à Faculdade de Medicina.
— Qual é o problema, Raishin?
Yaya se virou, um pouco confusa. Raishin tinha começado a balançar o livro de Ionela.
— Eu vou passar na biblioteca. Não vou mais ler este livro.
Yaya assentiu parecendo alegre e seguiu em frente, liderando o caminho.
No entanto, o sorriso de Yaya foi esmagado assim que chegaram ao balcão de devoluções da biblioteca.
— Antes que você o devolva, eu tomarei conta do autômato.
No balcão havia uma garota vestida com um jaleco branco e óculos sem lentes.
— …Por que você está disfarçada?
A bibliotecária— isto é, Ionela, para quem foi direcionada a resposta de Raishin, tornou-se repentinamente suspeita.
— Do que você está falando? Eu sou uma bibliotecária completamente comum que passou por aqui por acaso.
— Uma bibliotecária que passou por aqui por acaso!? Não cause problemas para a atendente da biblioteca!
— Não estou causando problemas. Acabamos de fazer um acordo.
— Quanto foi que você pagou a eles!? Para começo de conversa, quem é que— É você, Frey!?
Atrás do balcão, um cabelo cinza-pérola balançava suavemente preso em um rabo de cavalo.
Frey cobriu o rosto com o lenço e entrelaçou timidamente diante de seu peito voluptuoso.
— Humm… bom, ela vai me dar uma foto embaraçosa… do Raishin…
— Não deixe ela te comprar com algo assim! E nenhuma foto assim vai ser tirada!
Raishin repreendeu Frey fortemente, largou o livro de Ionela e se afastou do balcão.
Ele saiu para o corredor, sentindo-se exasperado.
Uma vez que era caminho, ele fez Yaya esperar por ele e seguiu em direção ao banheiro masculino. Ele entrou em uma das cabines e quando tentou desafivelar o cinto, seus aguçados cinco sentidos lhe causaram um mau pressentimento.
Ele olhou por cima da cabeça com os olhos semicerrados. A figura de Ionela, que segurava um dispositivo semelhante a um binóculo, estava no espaço entre a parede e o teto. A coisa que ela segurava parecia ser uma câmera.
— …O que você está fazendo?
— Não se preocupe comigo. Estou apenas cumprindo minha promessa com a bibliotecária-chan. E se eu conseguir uma boa foto, então vou poder ameaçar o Raishin-kun.
Raishin chutou a parede silenciosamente. A divisória tremeu exageradamente, fazendo com que Ionela, que estava apoiada nela, caísse. O jaleco branco se virou com o impacto da queda, expondo as coxas de Ionela.
— …Talvez eu devesse tirar uma foto embaraçosa de mim mesma e trocar pela Yaya-chan?
— Isso não é bom, sabe? Quero dizer, não faça isso!!
— Minha nossa! Isso não é algo agradável de se dizer, então vou te expor completamente, seu molestador de mulheres!
— Olha quem é que está falando, Yaya!! Você poderia se retirar, Yaya!?
Yaya perdeu a paciência sem sair dali ou mesmo refletir sobre o assunto.
— Por favor não fique com uma mulher enganadora de homens como essa! A Yaya não faz nada tão sem-vergonha como tirar fotos escondida! Ela apenas guarda as imagens dessas lindas memórias no álbum de seu coração!
— Queime este álbum! E o seu senso de beleza é podre!
Raishin, que respondeu ambas com afinco e as expulsou completamente, fez o que tinha que fazer às pressas.
Ele deixou a biblioteca e voltou para a Faculdade de Medicina.
A rua principal estava cheia de estudantes. Uma figura estranha se encontrava no meio deles.
Um robe antiquado em uma mesa posicionada ali. E uma bola de cristal.
Aquilo parecia ser… algum tipo de vidente.
— Humm, você é um estudante… sua má sorte está aumentando.
— …Então eu tenho que entregar a Yaya?
— De fato—
Não adiantava discutir, então ele simplesmente chutou a mesa de aspecto duvidoso.
A vidente caiu da cadeira. Como esperado, ou mais precisamente para a surpresa de ninguém, o rosto de Ionela estava sob o capuz.
— Muu… como você soube?
— Até parece que ia ter uma vidente de aspecto tão suspeito bem no meio da mais prestigiada instituição educacional do mundo mágico!
— Mas você tem mesmo uma péssima sorte, então me dê a Yaya-chan!
— Eu recuso!
— Mas e quanto a vontade da Yaya-chan?
— —O quê?
— Não seria melhor para ela ficar comigo do que com o Raishin-kun?
Raishin estava sem palavras. Aquilo que aconteceu no outro dia, quando Yaya fugiu, apareceu e desapareceu rapidamente em sua mente. Ele inconscientemente olhou para trás, na direção de Yaya, e ela mostrou uma expressão séria,
— A Yaya está determinada a ficar do lado do Raishin. Sempre. Para sempre.
Aquela não era a Yaya de sempre, e Raishin ficou profundamente tocado ao ver aquilo. Entretanto, e sem desistir, Ionela,
— Mas e se eu te der o Raishin-kun se você se tornar minha?
— Sério!?
— Não acredite no que ela diz! E não saia por aí usando pessoas como moeda de troca como bem entender!
— Eu posso comprar uma pessoa com meu orçamento, então por que não fazer isso?
— Então você vai comprar o Raishin? Ele vai pertencer a Yaya pelo resto de nossas vidas?
— Não trate as pessoas como objetos! E devolva meus sentimentos!
Ele violentamente afastou Yaya, que estava ao lado de Ionela, para longe. Com isso, Ionela acabou caindo, e os botões do jaleco se abriram enquanto o mesmo escorregava de seus ombros.
Os alunos ao redor deles se agitaram. Raishin corou e virou o rosto para longe.
— Ora, vamos, onde está sua lingerie?
— Eu sinto muito. Normalmente eu não uso lingerie.
— Uma pessoa normal geralmente usa!
— Raishin———! A Yaya também! A Yaya vai tirar a roupa!
Yaya mostrou sua competitividade e colocou as mãos na calcinha.
O choque dos estudantes aumentou. Não apenas as alunas, mas também os garotos coraram de timidez. Gritos foram lançados, a situação virou uma confusão— até que um movimento aconteceu à distância.
Eles se viraram, todos se perguntando “o que era aquilo?”. A multidão foi dividida por uma estudante que tinha um lindo e brilhante rosto.
Seus olhos brilhantes eram como joias. Uma aparência aristocrática, e um corpo de constituição delicada. A T-Rex, Charlotte Belew apareceu, carregando um jovem dragão em sua boina.
— Hã? Por que você está aqui?
— …Você estava me procurando?
— E-eu não estava te procurando! Mas agora que você está aqui, eu vou lhe contar. Na verdade, a Academia—
Ela começou a dizer algo e parou. Seus olhos finalmente se voltaram para outras coisas além de Raishin.
Ionela, que estava ao lado de Raishin, tinha a metade inferior do corpo exposta.
E Yaya, cuja calcinha tinha escorregado até o meio de suas pernas, também estava ali.
*Raiva, raiva…*
Char virou-se lentamente para Raishin, com um movimento que lembrava muito o som de uma faca afiada.
— …O que você estava fazendo?
Uma voz gélida, totalmente sem entonação.
— Isso é um mal-entendido! Tudo o que você está pensando é um mal-entendido!
— Heee… Hmph… é assim… é assim que você é, você acaba fazendo coisas assim com todas. Você consegue fazer essas coisas mesmo em uma rua como esta!
— Impossível! Vamos, diga alguma coisa, Sigmund!
— Raishin. É “pouco sofisticado” meter meu nariz em interesses pessoais e preferências, mas… você não está exagerando?
— Até você me vê assim!?
— Sigmund. Por que não acabamos com esse pervertido pelo bem do universo?
— O quê—!? Espere, Char!
— Luster Cannon!
Parte 2
— Deuses, eu passei por um momento horrível…
Raishin limpou o rosto manchando com uma toalha e espalhou pomada na pele descascada de suas bochechas.
No primeiro andar da Faculdade de Medicina. Sala de recuperação dos pacientes.
Raishin, que finalmente tinha conseguido voltar, estava cuidando de suas próprias feridas na cama. Yaya estava ao lado dele, entregando a pomada e a gaze que ele precisava.
O Luster Cannon era muito perigoso. O pavimento de pedra tinha derretido sem deixar rastros, e agora havia um grande buraco do tamanho de um ser humano. Se o golpe tivesse desalinhado apenas dez centímetros, Raishin teria sido evaporado. Ele tinha sido mandado longe pela força da explosão, portanto todo o seu corpo tinha feridas cobertas de lama.
— Isso vai servir. Mais importante, do que a Char estava falando?
— Sim. Talvez ela estivesse para te dizer alguma coisa… Ah! Poderia ser algo parecido com “Meus verdadeiros sentimentos” …? Fufu, se a Charlotte-san vai jogar assim… fufufu… ♡
As pupilas de Raishin se arregalaram rapidamente. Ele não entendeu, mas estava assustado. Ele mudou de assunto e decidiu em seu coração não tocar mais naquele assunto.
— …Então, por que você também está aqui?
A professora de jaleco branco estava sentada ao lado da cama com uma expressão que dizia “É apenas natural, não?” Como era de se esperar, dessa vez ela estava usando roupas por baixo do jaleco.
— Eu queria voltar para a minha pesquisa, mas não posso fazer nada quanto a isso. O Raishin-kun é um egoísta, pronto, eu disse.
— Sua! Você que é egoísta—
Uma tosse mal-humorada foi ouvida e Raishin interrompeu seu grito de raiva.
Sim— Loki estava na cama ao lado.
Quando Raishin se transformou em um cordeirinho assustado, Ionela ficou entusiasmada com isso e se inclinou na direção dele de forma insinuante.
— Não é melhor você abrir logo o seu coração e desistir?
— Desista você!
No momento em que tentou se livrar dela, Raishin foi atingido por uma forte intenção assassina. Ele estava apavorado.
A fonte dessa intenção assassina, curiosamente, não era Yaya.
— Ah, Frey…
Frey estava parada diante da porta segurando uma cesta de almoço.
O poder mágico, que parecia fluir por vontade própria, voou para dentro dos cães da série Garm atrás dela. Os cães mostraram suas presas todos ao mesmo tempo e revelaram hostilidade.
Raishin sentiu que estava em perigo. Ele riu e tentou acalmar a situação.
— O que aconteceu com seu trabalho na biblioteca? Alguém o tomou de—
— Desde quando… você está nesse tipo de relacionamento com a professora… fueeh…
— Você está enganada! Não chore! Quando você chora—
Assim como Raishin imaginava, uma grande espada— o autômato de Loki, Cherubim apareceu voando e perfurou a cama de Raishin. Se não tivesse se esquivado, ele também teria sido perfurado.
— Eu sou uma pessoa modesta e tolerante, mas há três coisas que não posso perdoar.
Loki disse friamente enquanto permitia que seu poder mágico fluísse.
— Aqueles que perturbam o meu autoestudo, o idiota que faz minha irmã chorar, e você, bastardo!
— Em resumo, você simplesmente me odeia, não é?
Alguém apareceu na enfermaria no momento em que a batalha estava prestes a começar.
— Eu sempre tenho que vir aqui fazer vocês calarem a boca! Como se atrevem a causar toda essa bagunça em uma enfermaria!?
Quem apareceu e empurrou Frey para o lado foi o médico em tempo integral, o Doutor Cruel, com seus óculos de aros pretos.
Cruel fez uma careta para Raishin e Loki e só então notou a presença de Ionela.
E sua figura desapareceu. Ele não parecia um médico comum. Ele praticamente se teletransportou com um movimento rápido, deslizou pela frente de uma surpresa Yaya e tocou respeitosamente a mão de Ionela.
— Olá, Professora Ionela Eliade. Aquela referenciada nos rumores que tem ficados populares já há algum tempo. Você não daria a este inútil e inepto médico a honra de compartilhar um jantar com você?
Por alguma razão, Ionela ponderou.
— Hummm…. Acho que sim?
— Ó céus, você pode falar!
— Em troca, eu posso ser hospitalizada?
— Claro, será uma honra recebê-la. Vou desocupar essa cama expulsando esse Japonês idiota.
Raishin estava perturbado.
— Ei, você não é um médico!?
— Silêncio, sua praga! Quem deveria ser priorizado, um bastardo imundo ou uma garota bonita? As leis da física são mais claras que a gravitação universal!
— Não fale como se sua luxúria fosse a descoberta do século!
— Eu curo você de novo e de novo, mas você é um idiota que continua a se ferir, então dê o fora! Morra ao invés de voltar aqui!
— Está tudo bem, Raishin-kun.
Ionela, que abriu um sorriso largo, disse ao seu lado.
— Vamos dividir a cama igualmente entre nós dois. Vamos dormir juntos a partir desta noite, tudo bem? ♡
— N-não, você não pode!
Dessa vez, Yaya entrou em pânico e gritou. Frey também saltou para perto deles, fazendo seus seios balançarem. Os autômatos da série Garm rosnaram. Os vasos sanguíneos de Loki pulsavam. Yaya, Frey, e até mesmo Cruel estavam envolvidos nisso, ele pensou… ele estava se dirigindo para uma situação ainda mais caótica.
De repente, os solenes sons de um sino tocando foram ouvidos, fazendo com que o olhar no rosto de Ionela mudasse.
O sino informava que eram 14 horas. No entanto, uma vez que a Torre do Relógio ainda estava sendo reconstruída, aquele era o sino de uma torre temporária.
— Eh, já é assim tão tarde? Erm, humm… vamos ter um encontro, Raishin-kun!
— …Hã?
Yaya, Frey e Cruel ficaram chocados.
— Vamos ver a Autômato Expo!
— Ei, eu estou hospitalizado, sabia? E por que um encontro?
— É como diz o ditado, “Atire primeiro no cavalo de um general”.
— E eu sou o cavalo, certo? Bom, eu não vou insistir para saber quem é o general, no entanto.
Raishin ponderou por um momento. Yaya e Frey voltaram seus olhares na direção dele como se esperassem por alguma coisa. Não, o mais correto seria dizer que elas o estavam ameaçando com aqueles olhares.
Raishin virou-se na direção de Cruel para escapar dos olhares delas.
— Não é como se eu… tivesse permissão para sair, certo?
— Obviamente. Eu irei revogar sua permissão para não participar da Festa Noturna.
— Posso ir com o Raishin-kun, Cruel-sensei?
— Claro. Em vez disso, não gostaria de jantar comigo?
— Você tem certeza!? Pare!
Cruel agarrou o pescoço de Raishin e disse com uma voz suave.
— Cale a boca, seu pedaço de merda. Você deveria ser grato por poder ter um encontro com uma moça tão fofa. E se você colocar suas mãos nela antes de mim, eu vou costurar o seu ânus.
— Essas são mesmo as palavras de um médico!?
— Tudo bem. Vamos indo, então, Raishin-kun?
Ionela puxou o braço de Raishin. Yaya começou a tremer e os cabelos de Frey ficaram eriçados por causa do poder mágico que fluía por ela. Para ser franco, elas eram assustadoras. Raishin rapidamente sacudiu a cabeça em negação.
— Espere um pouco. Eu não disse que vou.
— Se você for a um encontro comigo, receberá crédito extra?
— Essa é uma boa oferta, mas eu não estou matriculado na sua matéria.
— Não se preocupe, eu tenho um curso intensivo durante as férias de verão. Vou certificar até mesmo 8 créditos de Engenharia.
— Eh? Sério?
*Treme.*
Os sentimentos de Raishin ficaram estremecidos. A triste saga de um pobre aluno.
Yaya, que sentiu a hesitação de Raishin, ficou confusa dessa vez.
— Você não pode, Raishin! Isso é errado!
— Não está errado. A professora irá ensiná-lo adequadamente. Com muita atenção aos detalhes, você não concorda? ♡
— Sua— Bruxa! Essa mulher é uma bruxa!
Frey olhou para Raishin como se estivesse prestes a cair em prantos a qualquer momento. A propósito, Loki também olhava para ele com desdém. Raishin disse enquanto sentia fortemente os olhares de ambos os irmãos sobre ele.
— Entendido. Eu irei.
— Você é cruel, Raishin! Você não se importa com o que vai acontecer com a Yaya?
— O Raishin é… um demônio… um idiota ganancioso… um estuprador!
— Nós apenas vamos passear pela cidade juntos, então por que vocês precisam dizer coisas desse tipo!?
Naquele ritmo, era muito perigoso desencadear ações silenciosas.
Raishin segurou as cabeças de Yaya e Frey e sussurrou em seus ouvidos.
— Yaya, isso também faz parte da minha missão. E você sabe por que… nós estamos indo para a cidade… certo?
— Ó… sim. Você tem razão.
— Frey. Eu não posso contar tudo, mas acredite mais em mim. Estou em um momento crucial enquanto meus ferimentos cicatrizam, então não vou sair com uma mulher com segundas intenções, tudo bem?
As duas pareceram entender.
— Eu acredito em você.
— Eu entendo, Raishin.
— Vocês podem dormir primeiro, porque não vamos voltar hoje à noite.
*Raiva*
As expressões faciais de ambas endureceram.
— Eu não disse isso! Ei, Io, não coloque palavras na boca dos outros!
*Risada*
Ionela riu como uma mulher má.
Raishin estava com dor de cabeça. Será que ele realmente seria capaz de prestar seus respeitos em segurança ao nascer do sol no dia seguinte?
Entretanto, uma vez que estaria com Ionela, ele seria capaz de cumprir a missão da qual havia desistido.
— Dessa forma, eu vou poder encarar a Shouko-san…
Esse monólogo foi perfeitamente ouvido por Yaya.
— Lá vai você falando da Shouko outra vez!
Raishin saltou da cama, agarrou a mão de Ionela e fugiu para longe da Enfermaria.
Parte 3
— É enorme…!
Raishin escancarou a boca e olhou para o objeto de aparência majestosa.
Uma grande peça feita de metal estava exposta na praça da Estação de Liverpool.
— O que é isso? Um dirigível…?
— Você passou perto, mas não. Esse veículo pertence à categoria de [Batalha Naval].
Primeiro, Ionela mostrou a ele o navio de guerra Francês, Daedalus. Ele era celebrado como um encouraçado, mas podia cruzar, flutuar e se mover livremente pelo mar. Parecia que ele tinha sido levado até a Exposição para aumentar o prestígio nacional ou para manter o Império Britânico em cheque.
— O que isso está fazendo em um Festival de Autômatos—
— Veja bem, isso é um autômato.
Por reflexo, ele virou-se na direção de Ionela. Por um momento, ele foi incapaz de compreender as palavras dela.
— …Mas… não existem dimensões para autômatos…?
— Não, do contrário, eles não teriam enviado isso para uma exposição no exterior. A flutuabilidade é obtida através de balonetes e o poder de propulsão vem do uso de hélices. Além disso, ele usa um [Coração de Eva] como unidade principal para o controle do motor. Tenho a impressão de que ele foi construído por um engenheiro Inglês.
— Impressão…? Quem?
Por um breve momento, houve uma pausa significativa. Ionela então estendeu a língua.
— Eu esqueci.
Ela estava mentindo.
No entanto, ele não insistiu.
Raishin parou de falar e começou a observar as coisas no festival, começando por Daedalus.
A rua principal estava mais ativa que o habitual, e ele podia ouvir os vendedores oferecendo seus produtos nas agitadas barracas e lojas.
Ele se lembrou fugaz e silenciosamente da exibição de fogos de artifício que ocorreram nos dois países que visitou com sua irmãzinha.
— Já faz um tempo desde a última vez que eu sa—í…
Ionela olhou com carinho para a luz do sol. Ela agora não parecia uma professora com um cérebro bem dotado, ou uma exibicionista— ela parecia exatamente com uma garota comum da mesma idade de Raishin.
— Ei, Raishin-kun. Compre aqueles.
Ionela puxou a manga de Raishin duas, três vezes e mostrou a ele uma barraca de churros.
— Compre você mesma. Você é uma mulher que pode comprar um navio de guerra, afinal de contas.
— Você não enten—de. Eu quero que um garoto os compre para mim.
Raishin relutantemente tirou sua carteira e comprou um churro com calda de chocolate.
— Aqui está. Você está feliz agora?
— Yep. A nota do Raishin-kun acaba de aumentar de D para C-.
— D? Eu sou uma falha!? Eu tenho uma nota de reprovação!?
— Você está quase sendo expulso da Academia. Então por que não me deixa ficar com a Yaya-chan?
— Você tem sido egoísta o tempo todo! Cresça!
A garganta de Raishin ficou rouca. Hoje ele vinha disparando respostas desde de manhã.
Entretanto, quando ele viu a alegre Ionela com um sorriso amigável no rosto, ele sentiu-se estúpido por ter ficado irritado.
Raishin sorriu ironicamente e olhou novamente para Ionela.
Seu cabelo esverdeado tinha uma coloração ligeiramente incomum. E ao contrário do seu rosto e expressão infantis, seus olhos abrigavam inteligência às vezes. Se mais alguns anos se passassem, ela seria uma mulher incrivelmente bonita.
E ela parecia ‘interessante’ por baixo do jaleco. De fato, ela era razoavelmente—
— Hum? Você se virou de repente. Há algo de errado?
— Na-nada.
— Você se lembrou do meu corpo nu?
— Sua precisão é um desperdício! Você fez isso de propósito, não foi!?
— Eei, estudantes! Quando se trata de servomecanismos, nossa oficina é a melhor do mundo!
Inesperadamente, eles ouviram uma voz vinda de algum lugar ao lado deles.
Raishin não estava interessado— porque, em primeiro lugar, ele não sabia o que era [servomecanismo]— entretanto, Ionela foi até o local, encarou fixamente a mercadoria e logo depois voltou.
— Nada bom, nada bom.
Ela resolutamente o dispensou enquanto comia o churro.
— As peças são muito maçantes. Elas parecem resistentes, mas não são adequadas para autômatos humanoides. Existem muitos artesãos na cidade que são melhores do que isso.
— Eu não sei ao certo, mas o que está sendo vendido por aqui? Peças?
Antes que ele percebesse, as barracas de doces diminuíram em número, ao passo que as barracas vendendo peças de máquinas aumentaram consideravelmente.
Caixas de cabos e engrenagens bem compactadas foram colocadas juntas como se fossem blocos de montar. Aquilo quase não passava a Raishin uma impressão de que fosse algo relacionado a autômatos.
— Humm, o Raishin-kun… é inútil, eu digo isso porque mesmo uma pessoa idiota poderia compreender o que está acontecendo aqui.
— Você reformulou a frase sem motivo? Ou melhor, essa é uma forma malévola de dizer as coisas?
— A última loja é uma oficina que produz [músculos] de autômatos, aquela loja logo ali produz [articulações] e aquela lá atrás produz [vasos sanguíneos].
— Autômatos propriamente ditos não estão sendo vendidos, certo? Por que aqueles caras se dizem artesãos?
— As oficinas especializadas em partes se reúnem aqui nessa área todos os anos.
Raishin estava confuso. Ele sabia que [artesãos] executavam todo o processo por conta própria, desde o corte das peças até a programação dos circuitos mágicos. Isso valia para os artesãos da Família Akabane e também para a Shouko. Mesmo no Oeste, certos famosos artesãos seguiam esse mesmo estilo.
— Seu rosto me diz que você ainda não entendeu. Bom, vamos naquela direção.
Ionela agarrou a mão de Raishin e seguiu na direção da rua principal.
Havia bonecas alinhadas em fila ali.
Várias bonecas tinham sido vendidas, machos ou fêmeas, gigantes e animalescas.
No entanto, nenhuma das bonecas parecia estar “viva”.
Elas não tinham cabelos, olhos ou roupas. Além disso, elas não tinham circuitos mágicos. Os lugares onde seus [Corações de Eva] deveriam estar estavam vazios.
— Essa área possui muitas oficinas especializadas em construções simples.
— Simplificando, [corpos], certo? Há todo tipo de coisa, mas qual é a diferença?
— Hahaa… Raishin-kun, pense que o corpo de uma boneca é como um [recipiente de circuitos mágicos]. Em conclusão, eles são totalmente diferentes. Por favor, veja a tabela de especificações anexada a cada um deles.
Ela indicou um pedaço de papel preso a um dos produtos.
No pedaço de papel, uma grande variedade de números e caracteres incompreensíveis ocupava todo o seu conteúdo.
— Um modelo de poder mágico amigável e o método do programa mágico para o controle estão descritos. Naturalmente, as habilidades básicas também estão descritas.
— Essa boneca, eles reuniram as peças antes?
— Esse tipo de coisa é bastante comum. Os artesãos que produzem até mesmo suas próprias peças estão em falta atualmente.
— Como posso dizer… eles estão aparando arestas.
— Não é bem isso. Eles podem adaptá-las para qualquer circuito— a parte mais complicada é preparar uma constituição básica simples. E a compatibilidade de cada uma das partes. É realmente fácil produzir [modelos] que combinem com seus núcleos. Em um nível profissional, é claro.
Raishin ainda não entendia muito bem, mas parecia haver muita coisa a se aprender sobre a indústria de confecção de bonecas.
— Para começar, isso não significa que todos serão capazes de produzir uma boneca que seja única. Artesãos de pouco renome e similares normalmente são subcontratados e isso torna a vida difícil para eles.
— …Por alguma razão, isso se tornou uma conversa difícil.
— Pegue o exemplo da Karyuusai-sensei. Ela produz todas as partes e isso é extremamente difícil e custa muito dinheiro. Eu também criei um autômato do zero, mas apenas uma vez, no entanto.
Novamente, ele aprendia sobre a grandeza da artesã chamada Karyuusai. Ela fabricava bonecas apenas quando tinha vontade e suas criações eram trocadas por uma extraordinária quantia em dinheiro. Tudo o que ela precisava fazer era vendê-las para um cliente com a qual estivesse satisfeita. Assim como os artistas, as pessoas que poderiam bancar algo assim eram apenas umas poucas.
— Ah, Raishin-kun. Tem uma oficina de softwares logo ali.
Na loja apontada por Ionela, eram vendidas esferas multicoloridas.
Elas eram colocadas em caixas de vidro ou de metal. O tratamento era bem diferente das partes vendidas nas demais lojas.
Aqueles eram circuitos mágicos. Ionela recebeu um item de amostra do vendedor e passou as mãos pela esfera para sentir o poder mágico.
Ela fechou os olhos e se concentrou. “Como esperado”, era isso o que se deveria dizer?
Ela ativou a magia mesmo sem a presença de um autômato. Por um instante, uma chama mágica foi acesa.
— Este é um bom circuito. A eficiência de conversão é ótima.
— Oh! Você tem um bom olho para isso, garotinha! Você entendeu?
— Eu sou uma professora, afinal de contas.
Ionela devolveu o circuito para o vendedor, que estava impressionado, e começou a andar novamente.
— Eles também são magos, não são?
— Mesmo um fabricante de bonecas não pode fazer testes sem ser capaz de usar um pouco de magia.
Agora que Raishin escutava isso, a Shouko também usava magia normalmente.
— No entanto, não tinha nenhum autômato funcionando no seu laboratório, tinha? Então eu acho que sua área de expertise é sua fabricação.
Ionela olhou fixamente para o rosto de Raishin.
— Inesperadamente, você notou até mesmo isso. A nota do Raishin-kun aumentou para um C+.
— Obrigado por isso.
— Essa é minha política. A autômato de que eu cuido é sempre apenas um. Eu quero dar o máximo de amor possível para este autômato.
— …Por quê? Se você tiver mais de um, você ainda assim poderia derramar seu amor sobre eles, não?
Mesmo a Shouko, que era conhecida por não ser prolífica, construiu as três irmãs Setsugekka.
Ionela assumiu uma expressão levemente obscura e disse quase que sussurrando,
— …Porque eles seriam comparados, e todo mundo odeia isso.
Raishin entendia— esse motivo.
Raishin sempre era comparado. Com seu irmão mais velho. E também com sua irmã mais nova.
Ele odiava aquilo e tentou seguir outro caminho.
Mesmo se fossem autômatos, se tivessem intenção, então certamente—
— …Então, onde está esse único autômato do qual você está cuidando agora?
— Eu a confiei para a pessoa que a encomendou. Se a outra parte gostar dela, então eles irão recebê-la… E eu irei montar outra criança na sequência.
— Por que você não parece feliz com isso?
— Bom… é como o sentimento de um pai que entrega sua filha como noiva…
— Você quer dizer uma mãe?
— …Uma mãe, sim, mas indivisível como as mães do mundo.
— Se você não gosta disso, pode mantê-la com você. Não é como se você estivesse fazendo negócios, certo?
— Isso não pode ser feito.
Ionela assumiu uma expressão séria em seu rosto e disse aquelas palavras como se estivesse se convencendo das mesmas.
— Esse é o meu ego. Eu tenho que deixar meus filhos irem para onde eles brilhem mais.
A figura de Evangeline surgiu na mente de Raishin. Aquela foto em que ela estava ao lado de Ionela. Poderia ser que ela era o autômato [feito do zero] e também o [único] autômato de Ionela…?
— Parando para pensar sobre isso, o que você está pesquisando? Circuitos mágicos?
Ionela assumiu uma expressão como se tivesse sido atacada com a guarda baixa. Em seguida, ela fez suas bochechas inflarem para mostrar sua insatisfação.
— Ei, Raishin-kun, você foi ao meu laboratório sem saber disso…?
— Eu li o seu livro, mas não entendi nada. Aquilo é incompreensível.
— Incompreensível—
Ela parecia ter recebido um choque. Ela ficou de mau humor e resmungou.
— Eu não estou pesquisando circuitos mágicos agora. Mas a transferência de poder mágico, um condutor de conversão.
— Conversão… o quê?
— Quando o poder mágico do mago é transformado em magia pelo circuito, o feedback quantitativo é ampliado, enquanto a característica de ativação é mantida—
Ela viu que Raishin estava confuso e suspirou.
— Hum, simplificando, é como um mecanismo… com o qual até um mago fraco poderia usar a magia de um grande mago.
— …É uma coisa incrível, então?
— Com certeza é. Mesmo que a potência mágica seja escassa, ela poderia ser aumentada ao máximo por dentro e fazer o circuito pense que a quantidade de radiação é superior e desestabilize o valor de conversão.
— Pode ser fácil assim?
— Se isso fosse possível, ninguém teria dificuldade! Nossa, a nota do Raishin-kun caiu para E!
— Não me dê uma nota inferior a nota de reprovação!
— Amplificadores simples já estão sendo implementados. Porém, forçar a ampliação da quantidade de poder mágico apenas dificulta as coisas, e faz com que o controle do circuito e da magia propriamente dita não funcionem bem.
— Nesse caso, o que deve ser feito?
— A nota do Raishin-kun caiu para Z!
— Por que minha nota caiu tanto!?
— Até mesmo o Raishin-kun deve estar fazendo isso, certo? Se for feito até certo ponto, o circuito pode ser controlado pelo próprio autômato, não acha? No entanto, é realmente complexo e magia avançada requer que o mago compreenda e controle o circuito.
Sim, o circuito mágico da Komurasaki, por exemplo, [Yae Gasumi]. Se fosse apenas para confundir os sentidos das pessoas, a Komurasaki podia fazer isso por conta própria. Entretanto, para desativar a [detecção] positiva— o sensor ativo do oponente, era necessário que o usuário assumisse o controle.
Komurasaki devia ser capaz de fazer com que o poder mágico se transformasse em uma forma maleável e transferi-lo para uma forma utilizável. Em suma, a combinação de um marionetista e um autômato.
Por outro lado, no que se referia a Yaya, Raishin fazia algo bastante avançado.
Não apenas aumentava seu poder, mas também aumentava sua potência e sua força física. Além disso, ele fazia isso junto com complexos movimentos de artes marciais. Ele era capaz de fazer algo assim porque compreendeu o circuito mágico de [Força sobre-humana] através do treinamento com Yaya.
— Um grande poder mágico por si só não é bom, sabia? Você precisa desmembrar cada um dos fatores e ampliá-los, mantendo um estado de clareza. Por exemplo, uma orquestra— é absolutamente necessário aumentar o som de cada instrumento separadamente. Por apenas uma pessoa, correto?
O marionetista era o maestro. Entretanto, ele deveria estar encarregado da performance musical.
— Além disso, você não pode falhar na apresentação musical. Caso contrário, a magia não irá se ativar. E mais uma coisa, se apenas um som em particular ficar mais alto, ou um determinado instrumento ficar mais baixo, então a música inteira se desfaz, não concorda? É o mesmo para a magia.
— Será possível que sua teoria irá tornar aquilo possível…? Sua teoria é a mesma que o [Kouyokujin].
— Kouyoku?
Raishin hesitou em responder por um momento… mas não havia necessidade de esconder isso a essa altura. O Clã Akabane já estava destruído. Não havia mais essa porcaria de artes secretas da família agora.
— A expressão é diferente, mas a mesma coisa foi descrita nas técnicas secretas escritas por minha família.
Ionela segurou firmemente o braço de Raishin.
*Bonyon*
O braço de Raishin estava ensanduichado entre duas coisas, e seu sangue gelou.
— Isso é interessante. Você irá falar sobre isso em detalhes e sem esconder nada?
— Eu falo! Eu vou falar, então solte a minha mão!
— Ah…
Uma expressão de desânimo apareceu nos olhos de Ionela naquele instante.
— Quero ouvir tudo o que você tem a dizer, mas nós chegamos…
Antes que notassem, eles chegaram à Praça da Fonte, no coração da cidade.
As barracas de rua enchiam toda a circunferência externa da praça e pessoas, que pareciam estar esperando por alguém, estavam paradas em frente a fonte.
Raishin, que encontrou um rosto familiar entre todas aquelas pessoas, estava surpreso.
— Hum? Aquele não é o Professor Redcliffe, da Faculdade de Ciências?
— Yahoo, Radi!
— Você não está atrasada, Io? Já passam das três da tarde.
Os olhos calmos do Professor Radcliffe se voltaram na direção deles— naquele exato momento, as costas de Raishin se esticaram imediatamente.
Raishin estava muito perto de ser reprovado na disciplina de [Prática de Física Mecânica], ministrada pelo Professor Radcliffe.
— Hou, Raishin. Você estava com ela?
— Ah, sim…
— Ehehe, um encontro, não é?
— Co… você está causando um mal-entendido!
— Vocês estão nesse tipo de relacionamento?
— Não estamos!
— Ele é meu namorado. Então ele vai me dar o que eu quiser. Como o autômato da Karyuusai-sensei. ♡
— Eu não vou fazer isso! E também não sou seu namorado!
— Bom, deve ser difícil ter uma namorada igual a ela.
Mesmo que Radcliffe tenha aberto um sorriso irônico,
— De todo modo, Io. A outra parte já chegou. Temos que nos apressar.
— Tudo bem. Raishin-kun, você se importaria de me esperar aqui? Eu vou me encontrar com uma pessoa por um instante.
— Hum? Você não veio se encontrar com o Professor Radcliffe?
— É outra pessoa. Eu vou indo com o Radi.
Aquilo era— um pressentimento? Por um momento, ele sentiu algo suspeito.
Porém, o pobre estudante Raishin não poderia dizer nada para os dois professores. Raishin assentiu em silêncio e viu o jaleco branco de Ionela balançar impotente enquanto ela se afastava.
Parte 4
Alguém olhava para a praça de uma varanda de pedra.
Um bar remodelado de uma antiga casa particular. O nobre, sentado em um assento na varanda do segundo andar, com um ar de compostura e um copo de vinho elegantemente inclinado, estava esplendidamente vestido de preto da cabeça aos pés, desde seus cabelos até as roupas e enfeites.
O bar estava reservado e lotado de soldados Britânicos. Todos estavam acompanhados por cães-máquina. Cães mecânicos feitos inteiramente de materiais inorgânicos. Seus donos, que não estavam calmos, espiavam frequentemente o jovem nobre.
Um general estava ao lado direito do jovem nobre e uma garotinha de vestido estava de pé a esquerda dele. A garotinha era inexpressiva e ficava o tempo todo olhando para algum lugar ao longe sem sequer piscar.
Ionela, vestida com um jaleco branco e acompanhada pelo Professor Radcliffe, entrou naquele local.
— Você está atrasada, Io. Deixar-me esperando é algo muito sério. Eu— o rei do mundo.
— …Rei? Peço desculpas pelo atraso, Sua Alteza Edmund.
— Não se preocupe com isso. Será você que fará de mim um rei, Deusa-sama.
Ionela inclinou a cabeça em perplexidade.
— E a minha Evangeline?
— Ah, você quer dizer essa aqui?
Ele olhou para a garotinha ao seu lado esquerdo.
A garotinha mais parecia uma estátua. Ionela pareceu surpreendida por sua rigidez.
Havia algum problema? No entanto, Edmund estava de bom humor.
— Ela é excelente. Posso dizer que é ainda melhor do que eu esperava.
— É verdade? Então minha pesquisa é um sucesso?
— Sim, claro.
— Se é este o caso, então a Eva poderá salvar o mundo? Ela será capaz de impedir uma Guerra Mundial— é isso que você está dizendo?
— Sim para ambas as perguntas. No entanto, a Eva não irá salvar o mundo. Eu irei.
— …Sua Alteza? Do que você está falando?
Ionela franziu a testa, parecendo desconfiada— e então notou algo decididamente incomum.
— A Eva está estranha… muito estranha! Ela parece uma máquina…
E ela notou novamente. A figura de Edmund que absolutamente não se movia.
Em outras palavras, a estranheza de Eva não se devia a um acidente ou a algum defeito—
— Sua Alteza! O que você fez com a Eva!?
— Ela exigiu muito esforço. Artesãos comuns e analistas eram incapazes de lidar com ela.
Ele admitiu o que estava fazendo enquanto sorria.
— O quê? Eu apenas removi o seu limitador por um momento. Você construiu muitas algemas desnecessárias nela. Então eu finalmente fiz algo um pouco inteligente ontem à noite. Ela não precisa daquele programa desnecessário chamado emoção, ele estava desperdiçando espaço.
Ionela estava chocada.
Entretanto, ela imediatamente voltou a si. Ela ergueu as sobrancelhas e gritou decidida.
— Por favor devolva a Eva! Agora mesmo! A Eva está quebrada!
— O queee? Por sua definição, ela tem estado quebrada há muito tempo.
Edmund torceu os lábios sarcasticamente e disse fatos cruéis.
— Ela já não se lembra mais de você— e apenas atende aos meus pedidos.
Ele abraçou os ombros da garotinha e fez sua língua rastejar suavemente sobre suas bochechas.
O autômato em forma de garotinha não se moveu nem sequer um milímetro. Ele podia fazer o que bem entendesse.
Ionela não podia mais suportar aquilo e virou o rosto para longe.
— Você também, venha para o meu lado. Irei tratá-la com ternura, Io.
— …Do que você está falando? Eu não entendo.
— Estou dizendo que gravarei minha glória— em sua alma!
— Eu não estou entendendo você! Devolva a Eva! Diga alguma coisa, Radi!
Ionela virou-se na direção de Radicliffe e se levantou.
Radcliffe estava sorrindo, apenas sorrindo calmamente.
— Eu concordo com Sua Alteza. É para o seu próprio bem, Io.
Um forte desconforto. Um horror misterioso despertou Ionela.
Ela agarrou a cadeira por reflexo e a bateu contra a têmpora de Radcliffe.
As pernas da cadeira se quebraram e se espalharam pelo chão. No entanto, Radcliffe não foi afetado pelo golpe.
A parte atingida não ficou vermelha. No entanto, uma parte da pele foi rasgada—
Um esqueleto de metal surgiu por baixo dela.
— Um autômato…!?
— Sim, é meu autômato. Da última vez que a vi, o Professor Radian Radcliffe deixou o local e— eu o substituí por um autômato. Ele rejeitou o meu convite e estava tentando dizer coisas desnecessárias para o Rutherford.
*Treme*
As pernas de Ionela tremiam.
Ela olhou ao redor furtivamente.
Os soldados, o General e Eva estavam observando Ionela com olhos frios.
Ninguém naquele lugar era aliado de Ionela.
— Você é mais inteligente que o Radcliffe. Não é, Io?
Ionela reuniu coragem e gritou enquanto tremia como um coelho jovem.
— Devolva a Eva! Eu vou consertar a Eva! Ela será a mesma de antes!
— Você não está sendo razoável. Tudo bem, permita-me mostrar uma coisa interessante.
Edmund encolheu os ombros e deixou que seu poder mágico fluísse enquanto ainda estava sentado.
Não foi uma grande produção. Apenas uma pequena demonstração. A magia liberada não foi mais do que um sussurro. No entanto, no momento em que a magia voou até Eva, ela mudou.
O ar tremeu. Não, ele foi rasgado!
Eva pôs as mãos sobre o peito e abriu seus pequenos lábios.
Uma voz perfeitamente clara reverberou alto.
A melodia cheia de paixão criou vibrações destrutivas.
Tremendos choques pareciam abalar o cérebro. Não, o prédio inteiro estava tremendo. Era uma onda de poder mágico que apenas magos e autômatos podiam sentir. Ela se espalhou como um tsunami.
Ionela arregalou os olhos e olhou para algo no lado de fora.
Em pouco tempo,
*Boom*
…Ela sentiu que um som baixo reverberava—
E de repente, o navio de guerra Daedalus se erguia da superfície.