A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 27: O rei dos ladrões vs. O Titã Enegrecido, parte 2, o despertar do deus Primaveril

Mais uma vez o choque do punho com a espada derramou sangue. O titã enegrecido agora era coberto pelas sombras que controlava, forçando o rei dos ladrões a desviar de várias lanças.

Ainda que fosse rápido, a área dos ataques forçava Alvaro a se colocar numa postura defensiva, quase acuada. Seu oponente via isso e forçava mais e mais a benção da Magna Restitutio.

Aquela magia era uma faca de dois gumes. Mesmo que desse um aumento na regeneração física e espiritual, ainda precisava tirar aquela energia de algum lugar.

Por restituir a Mana do usuário, ela tinha outra fonte. Uma bem mais poderosa…

Anos de vida.

Quanto mais alguém usava aquela magia, mais a vida dele se esvaía. Não tem uma proporção exata, mas a média é um mês de vida a cada segundo. Claro, isso depende do controle que o usuário tem sobre a magia e o quanto ela é forçada.

O monstro a frente de Alvaro sabia disso e, por isso mesmo, fez o possível para sempre estar na ofensiva.

De fato, essa era uma luta de resistência.

Cansado de defender-se, usou mais e mais feitiços do elemento Luz para afastar seu adversário. Vendo isso, o mesmo não pôde fazer outra coisa se não correr. Seu corpo era a sombra.

O chão, tingido de negro, se expandiu e buscou o consumir, mas sua lâmina cortou a prisão. Afastando-se, notou que havia perdido o rastro do oponente.

Merda…” pensou, tentando sentir a presença dele. Contudo, não apenas isso era impossível, o Titã também não lhe deu tempo de pensar. Invés disso, vários espinhos e correntes o perseguiam, destruindo tudo no caminho. O rei dos ladrões olhou para o estado da cidade e sentiu dor.

Proteja-a… Alvaro, é seu dever proteger essa cidade, que existe desde antes do princípio do Mundo Livre. — Seu pai pediu em meio a tosse e fraqueza. — Nem eu, nem seu avô conseguimos cumprir as nossas juras para com essa cidade… Alvaro, quando eu me for, você deve usar seu poder para restaurar Locust a sua antiga glória…

Desviou de mais uma saraivada de espinhos enquanto lembrava mais e mais do passado.

A rebelião que estourou não teve seu início naquela batalha, mas sim no berço da inveja de um Infernal que desejava o trono usurpado por um homem que quebrou várias promessas.

Naquela época, Nevra estava em constante conflito e, temendo pelo futuro de seu filho, o avô de Alvaro fez algo impensável para qualquer rei. Colocou interesses próprios antes da Cidade, da Liga.

Após aquele dia, o título de Rei dos Ladrões passou a ser um insulto para ele e sua linhagem. Era necessário um rei que fosse escolhido a dedo pelo conselho e pelo antecessor. Todos sabiam disso, e talvez por esse motivo a linhagem Heliosville ficou conhecida como uma família de assaltantes sem honra alguma.

Por esse motivo que, desde o nascimento, Alvaro teve de suportar tentativa atrás de tentativa de assassinato. Além de, é claro, ter de assistir o pai morrer lenta e dolorosamente devido a uma maldição. Se Alvaro pudesse, ele desistiria do trono. Nunca quis ser rei, nunca quis ser um assassino, um monstro.

Porem, aquele era seu destino. Seu fardo. Um que nunca passou para ninguém, nem passaria. Ele era gentil demais para passar essa maldição para outro.

Pensa…” Buscou uma solução para o problema atual enquanto desviava de mais ataques. Seu povo estava sofrendo, algo inaceitável. “Meu povo…”

Mais uma vez, memórias vieram a sua mente.

Um rei serve ao seu povo… e o povo serve ao rei… — falou, olhando fundo nos olhos do seu filho, o pequeno Alvaro Heliosville. — Nunca esqueça desse fato… nem inverta a ordem.

Sua mãe foi encontrada morta no dia seguinte. Ela saiu para fora do castelo, indo para o pequeno centro beneficente que montou, e foi morta no caminho, apenas por alguns tostões. O funeral foi breve, seu pai não ficou lá mais do que cinco minutos, tendo que lidar com outros assuntos referentes a rebelião.

Alvaro, que não tinha mais do que cinco anos, guardou aquela memória nas profundezas do seu ser, usando-a para não esquecer de sua mãe ou do carinho que ela tinha… Invés de seguir o caminho da vingança, respeitou os desejos de sua mãe e jurou tornar de Locust um lugar melhor, para que ninguém mais sofresse daquela forma.

Uma sombra o agarrou e o jogou contra uma construção. Virando o eixo no ar, evitou de ser empalado por pouco, e começou outro cântico.

Sim, ele odiava a posição de rei, mas não a entregaria para ninguém. Não há uma pessoa na visão de Alvaro que mereça perder tudo que lhe é mais importante por algo que não dá valor. Assim como não há uma pessoa que continuaria a jura que fez naquele dia.

Chamas sacras, ofereçam vosso auxílio… — Desviou de mais e mais golpes enquanto buscava uma saída da espiral de sombras que o rodeava.

Ele não cairia ali. Protegeria seu povo e sua cidade!

Em nome do sagrado, eu renuncio tudo que é carne e sangue…

Príncipe Alvaro, sua mãe deixou uma mensagem… — Um dos guardas disse, aproximando-se da porta que levava ao quarto dele. — “Descubra o que é um rei… Quando fizer isso, você se tornará…”

Eu não lembro o que eu me tornarei… naquele dia, eu chorei muito depois da mensagem, mas não consigo me lembrar o que ela significava… O que eu me tornarei?” Suspirou enquanto olhava para o mar de sombras que avançava logo acima de sua cabeça. Inconscientemente, ele liberou o segundo Céu.

Então venha e tome forma! Flama Animarum!

Um enorme pilar de fogo queimou tudo na cidade. Felizmente, a maioria evacuou, mas alguns dos infelizes que não conseguiram viraram cinzas. A área da chama começou de alguns metros acima da cabeça de Alvaro, derretendo a parte de cima de várias construções e destroços.

Olhando para cima, após a pilastra de fogo surgir, notou as nuvens que o calor gerou e suspirou. Normalmente, não liberava mais do que o primeiro Céu, independente do tipo de inimigo. Contudo, esse aí forçou a sua mão.

O pior de tudo era que o titã não estava morto ainda. Alvaro sentiu, pela primeira vez, a presença da criatura, que, escondida, o encarava com receio de chegar perto.

Aquela coisa lembrava muito a escuridão e o medo que sentia dela quando era criança. Um monstro cuja fome e ambição desconhecem limites.

Suspirou uma vez mais e olhou na direção do Titã, que emergiu das trevas. Diferente de antes, o manto negro não voltou, dando a ele a chance de ver, pela primeira vez, o que se escondia por trás daquela presença.

Impressionante… nunca achei que um humano conseguiria romper a camada ao meu redor — disse, flexionando os músculos. Sua pele era escamada e verde, e havia dois chifres de bode na cabeça.

Há muitos outros que são bem mais fortes que eu… — sussurrou, lembrando da reunião que teve com o presidente da Associação dos Mármores. — Não pense que eu sou algo especial ou pode acabar tendo uma surpresa desagradável.

Obrigado pelo aviso… — Ambos ficaram quietos por algum tempo, analisando um ao outro. — Diga-me, no que tens fé? Seguras essa espada de luz mas não parece o tipo religioso.

Tenho fé em mim mesmo… e em minhas juras.

Assim que disse isso, os dois correram um contra o outro e trocaram vários golpes. Socos, chutes, cortes e estocadas. Cada ataque buscava tomar a vida do opositor, e nenhum tinha vantagem.

O Titã agora estava mais cuidadoso, evitando ficar muito tempo próximo ou num só lugar. Alvaro aproveitava disso para atacar com o máximo de ferocidade que conseguia, criando alguns cortes superficiais nas escamas. Isso o deixou com a respiração pesada e o cansaço começava a dar sinais.

Os dois lutavam em uma velocidade muito acima do que estavam acostumados, os golpes causavam ondas de choque, cujos ventos levantavam poeira.

Era uma catástrofe.

Vendo a diferença de força entre os dois aumentarem, o Titã decidiu parar de lutar apenas com instinto. Sua tribo se orgulhava do grande poder de seus corpos, mas isso não queria dizer nada contra um oponente rápido e inteligente. Por isso que, decidido a alcançar o rei, permitiu que uma sombra viajasse silenciosamente enquanto ocultava suas intensões.

Ele conhecia a arte que os humanos desenvolveram para combater demônios. Sabia de suas fraquezas e forças, por isso, tinha certeza que teria de acabar com isso rápido, antes que o Rei decidisse liberar o seu “Eu verdadeiro”.

Caso isso acontecesse, ele perderia.

Alvaro notou uma mudança no oponente e ficou cauteloso enquanto tentava discernir qual era o plano. Contudo, sua força vital já estava acabando e, se não agisse rápido, poderia morrer antes de levar o monstro consigo. Seu corpo já estava sob muito estresse e, decidido a encerrar o confronto o quanto antes, desapareceu e tentou decapitar o Titã.

O mesmo viu isso e, segurando todas as emoções, liberou um pilar de sombra, que saiu diretamente debaixo do teto onde eles estavam e perfurou o estômago do rei, empalando-o e então o atirou longe.

Alvaro caiu no chão, seu corpo ensanguentada perdeu o controle das magias e o chão já começara a queimar sua pele. Tossindo um pouco de sangue, lembrou mais uma vez da sua jura, e das últimas palavras de sua mãe.

Olhou aos arredores e notou, triste, o quão destruída estava sua cidade. Corpos infestavam o local, alguns queimados, outros viraram cinzas. Os prédios, que não eram muito, agora estavam desmoronados e varridos… Em meio a tudo aquilo, enquanto tentava lembrar do que ele se tornaria se tornaria caso descobrisse o que é um rei, o Monarca ouviu um choro.

Olhando para o lado, ele viu uma garotinha coberta de cinzas e sujeira. Ela tentava, apesar do calor infernal que a assolava, levantar destroços de uma casa. Embaixo deles havia uma mão, junto de sangue.

Deve ser a mãe dela…” pensou enquanto o sangue escorria livremente. Ante aquela visão, o que Alvaro sentiu não foi tristeza pela tragédia, simpatia pela criança, ou raiva do inimigo que se afastava mais e mais do local. Não, era algo muito mais simples, mas, ao mesmo tempo, algo que abriu os olhos dele.

Era admiração.

Admiração pela força de espirito.

Admiração pelo amor.

Admiração pela beleza que podia ver em tudo aquilo.

Descubra o que é um rei… quando fizer isso, você se tornará…”

Sim, é mesmo” pensou, levantando um pouco o corpo e liberando um pouco mais de seu “Eu verdadeiro”. O sangue parou de jorrar e pequenas plantas começavam a crescer naquela paisagem infernal. “Lembrei… O que é que ela queria dizer… Estava tão na cara…” A energia ao seu redor cresceu, criando uma espiral laranja e ventos cobertos de brasa. Os cabelos loiros adquiriram uma coloração vermelha e a pele ficou um pouco mais bronzeada.

Você se tornará um deus Primaveril.”


Bem, desculpa a demora... Tô tendo uns problemas pessoais e estou tentando focar em Dualidade.

 

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