A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 9: Um perigoso inimigo

Á alguns dias, numa colina na costa de Iron lake, Inasa olhava para a pilha de corpos a sua frente sem qualquer emoção. Haviam mais pedaços de carne do que podia contar, todos podres graças a sua lâmina. Todos caídos, enquanto continuava de pé, orgulhoso.

Ao seu lado, o espaço sofreu uma breve distorção e dali surgiu Beell, que assoviou impressionado com o massacre a sua frente. — Todos esses são pedaços de Agar? Que assustador.

— Sim. Depois de passar os últimos meses matando mais e mais dessas merdas, eu percebi algo interessante. — Sua voz era quieta, não traía nenhuma irritação pelo fato de que deixou o demônio escapar, nem pelas vidas que o mesmo tirou. — Aparentemente, essas… coisas tem uma consciência em forma de colmeia. Todos se sacrificaram para que Agar escapasse.

— Ainda assim, é impressionante que tenha feito tudo isso só. — Olhou para alguns corpos humanos ao redor, todos pareciam cidadãos de Ironjar.— Bem, parece que teve ajuda dos locais.

Nisso, soltou um suspiro cansado demais para alguém no auge da juventude. Era como um velho, que carregava o peso do mundo nas costas. — Eles foram mais um empecilho do que ajuda. Tive que protegê-los toda hora. — Notava-se clara tristeza na voz quebrada.

— E ainda assim, vários deles morreram… você realmente é péssimo em salvar os outros, não? — Por mais que sua voz soasse leve e descontraída, estava claro para Inasa o que exatamente quis dizer com aquele comentário. Não pôde evitar de rosnar, como fazia antigamente.

— O que você quer?

— Apenas dar uma notícia. O presidente quer alguns Mármores em específico para fazer a segurança e servir como um avaliador do exame. Você foi um dos selecionados.

Arqueou uma sobrancelha com aquilo, e com um suspiro, virou-se para frente, novamente encarando os milhares de pedaços de carne. Não entendia o motivo de ter de gastar seu tempo nisso. — Não dá para Fresno fazer isso? Se bem me lembro, é dever do vice-presidente cuidar do evento.

Um olhar sombrio tomou conta do rosto de Beell. Tirou o chapéu e se virou para a pilha de corpos. — Fresno… foi mortalmente ferido numa missão. — O olhar espantado de Inasa não impediu o outro Mármore de continuar a dar a notícia bizarra do que houve. — Foi levado para a cidade de Asclépio, mas os médicos de lá não puderam fazer nada, e ele sucumbiu.

— Está de sacanagem? Não é em Asclépio que os melhores médicos do Mundo Livre estão? Como eles não conseguiram curá-lo? — O sorriso que viu no rosto de Beell mostrava o quão pouco se importava, como se aquilo tudo fosse uma piada de mau gosto, o que, de certa forma, era.

Ninguém imaginária que o Bestial mais forte do Mundo Livre e o segundo em comando depois do presidente poderia ser derrotado… ainda mais por um sujeito que desapareceu à 50 anos.

— Quem fez isso? — Era uma grande perda, mas a pergunta veio para que pudesse se acalmar.

— Seu codinome na associação era: “Bastardo Rubro”. Hoje, acho que prefere seu nome real… Kai, o segundo em comando da antiga Foice da Doninha. — Os olhos abertos ficaram ainda mais arregalados, e perdeu a força nas pernas. — Normalmente, Kai seria um velho hoje em dia mas… segundo o relato de Fresno, nos seus momentos finais, era um jovem que mantinha a mesma aparência de quando era um vice-capitão… talvez estivesse até mesmo mais jovem.

— O que isso quer dizer? Nem mesmo os Humanos Raros tem juventude eterna! Kai era claramente humano, não é? — Não precisava de uma resposta, pois conhecia a história da Foice da Doninha, ainda assim, o choque era enorme. Um homem que desapareceu por 50 anos voltara a vida e mata alguém que devia estar um ou dois níveis acima dele quando ainda era jovem…

— Kai era um humano normal, seu talento era mediano em tudo, menos na estratégia em combate, onde brilhava mais do que todos. Não se sabe como, nem o porquê, mas conseguiu exterminar por completo um dos melhores esquadrões da Associação. Outra coisa que não sabemos como, mas que foi comprovada devido ao miasma que impediu os curandeiros de sequer tocar em Fresno é que… ele se tornou um demônio.

Se antes ainda conseguiu se manter de pé, agora havia perdido por completo sua força. Beell sorriu com o espanto do rapaz a sua frente. De fato, era algo ridículo, mas não impossível. Haviam algumas respostas que apenas aqueles verdadeiramente poderosos na Associação possuíam, como as pesquisas que o governo conduziu à mais de 600 anos sobre demonização.

Não que ele fosse dizer algo para o jovem. Afinal, informação era poder dentro da associação, e, como dizem: “O segredo é a alma do negócio”.

— Bem, já dei a mensagem… agora, se me perdoar, existem outros que devem estar lá.

— E? Quem mais estará lá?

— Dos que você conhece, temos Helena; Vasco; Luxus; e Distra. — Nisso, parou de repente, interessado se devia ou não dar um nome em específico e sorriu, com um brilho brincalhão nos olhos. — Sem falar, para a surpresa de todos, Ittai, a sombra da floresta de Oldale.

Fitou-o com curiosidade e, ao ver que falava a verdade, pensou no motivo que aquele homem pudesse voltar a sociedade depois de 4 décadas em exílio. Nisso, lembrou de um encontro em Cucko, uma cidade próxima a Oldale. — Não…

— Aparentemente, o herdeiro do finado clã “Kageyama” ganhou interesse em Ethan.

 

— Olha só, o que temos aqui? — Um dos vários bandidos comentou, enquanto saia do beco com mãos nos bolsos. Ele parecia ser um Goblin, mas com sagacidade e inteligência no olhar. Algo incomum na espécie. — Um alvo e o traidor que se juntou aos malditos Imperialistas.

— Eladin… — A voz do ladino saiu num rosnado, enquanto via todos os inimigos que teria que lutar, uma raiva e temerosidade cresciam em seu ser e não pôde deixar de pensar que não conseguiria fugir dali… seu protegido, no entanto, tinha outros planos.

Com um grito, Ethan correu em direção ao Goblin, com a espada Bento em mãos. Ouviu o som de flechas em sua direção e imediatamente desviou para a direita, esquivou-se de um soco e usou sua espada para defletir uma lança, que por pouco não perfurara seu coração.

— Não tenho tempo para lidar com vocês, filhotes de encruzilhada! — Seu grito foi acompanhado de um soco no rosto do outro humano, que foi empurrado devido a sua grande força.

Com um balanço de sua espada, o lanceiro caiu com um grande corte em seu peito. Usou de seu trabalho de pés para ir detrás do Meio-orc que quase o socou e perfurou o peito do monstro.

Várias flechas foram em sua direção, mas já se movera. Inverteu a posição em que estava e fez do Meio-Orc seu escudo. Correu em direção de alguns Ninjas, que iam contra si.

Atiraram várias facas, mas conseguiu desviar e se livrar delas. A Bento fizera contato com o ombro de um deles, e então pulou para cima, para esquivar-se dos outros dois.

Usou o fato de que ainda estava no ar para cair sob um deles e cortar a coluna.

“Comparado aquele cara, esses aqui não são de nada…” Várias flechas foram em sua direção, mas já havia se movido para cortar o outro Halfling, que caiu morto.

— Que raios? Esse cara é totalmente diferente do que aquele cara me disse! — O Goblin estava surpreso, afinal, em sua mente, estava indo matar um amador, não um monstro daqueles.

O descuido foi sua ruína, pois das sombras surgiu o Ladino, que cortou a garganta.

O Ladino então entrou nas sombras e começou a lidar com outros bandidos.

Viu que estavam cercando o outro, que já mostrava sinais de cansaço. Apontou sua mão naquela direção. — Mire em meus inimigos e acerte-os! Magicae Sagitta!

Nisso, três projéteis azuis saíram de um círculo mágico e impactaram nos inimigos com uma explosão de fumaça. Não conseguiu ver por um tempo, mas ouviu três ou quatro que cercavam Ethan cair e então saiu da cortina de fumaça em direção a outro adversário.

— Merda! — Mesmo que tentassem se defender, para o crescente desespero daquele grupo, a dupla era implacável. A diferença de habilidade era óbvia, e em pouco tempo, o último dos bandidos caiu, de forma que sobrou apenas o arqueiro, cuja localização já fora descoberta.

Nisso, Ethan foi em direção ao local de onde as flechas vinham, seu emocional era um misto de pavor com o que acabara de fazer, junto a excitação de derramar mais sangue… porém tudo isso fora apagado pela adrenalina que pulsava em suas veias. Nunca se sentiu tão vivo.

— Cuidado! — Ouviu seu companheiro, que cruzou a distância em segundos. Viu o fio branco de outra adaga, que se aproximava cada vez mais de sua jugular. Usou seu instinto puro para pular, e mesmo com toda a força, ainda sentiu a dor aguda do corte em seu ombro.

Para seu temor, a adrenalina começava a diminuir conforme o sangue escapava… tudo girava e não sabia mais o que estava acontecendo. Irritou-se ao bloquear a adaga com a espada. Os movimentos começaram a ficar mais letárgicos, mas a dor de ter o fígado perfurado o despertou.

Gah! — Um segundo Ladino saiu das sombras, e outra adaga vinha em sua direção.

Mordeu os beiços para segurar a dor e esquecê-la, a Bento fincou no peito do Ladino, que olhou horrorizado para o homem na frente, antes de perder a consciência.

Girou a espada, que ainda estava dentro do peito, puxou-a com grande ódio e raiva.

O primeiro, surpreso com a fúria do rapaz, defendeu-se com as adagas, que racharam com a força que aplicou. Não se importou e continuou o ataque, que matou o Ladino.

Mais dois foram contra si, e mesmo que mantivesse sua espada levantada, não conseguiria se proteger a tempo. Não com o sangue que escorria. Mesmo assim, ficou indignado com a mera ideia de desistir. Olhou em direção de seu companheiro, que lidava com outros Ladinos.

Tinha que aguentar! Pisou no chão e avançou contra os assassinos, seus olhos queimavam com uma chama que só acendia quando alguém estava encurralado e para morrer. Seu interior gritava por vida, estava determinado a consegui-la, custe o que custasse.

Sua lâmina chocou com as adagas, enquanto sua mão segurou o punho do outro que se aproximava pela direita. Girou seus pés e o atirou para longe com um grito.

O inimigo fforçou um pouso perto do membro da facção Imperialista e estava para ir contra o alvo, mas sua garganta foi cortada pelo Ladino do lado, que continuava lutando.

— Merda! — Uma flecha perfurou as costas de Ethan, que forçou a lâmina do Ladino para longe. Com um sorriso triunfal, cortou o peito do Halfling e correu para uma área com cobertura. Ofegava e sabia que não conseguiria lutar por muito mais tempo, mas não tinha esse luxo.

Saiu do lugar que estava ao ouvir o som de uma lâmina que atravessava o ar. Teve sorte, visto que a Katana quase cortou sua espinha, algo que o deixou nervoso.

Mais flechas voavam contra si, e agora era pressionado a continuar se movendo. Suas costas tocaram o seu companheiro, que ficou surpreso ao sentir a umidade nas roupas do rapaz.

— Magicae Sagitta! — Diversos projéteis foram em direção aos dois, o Ladino estava para se mover, mas ao ver o outro, que mal se aguentava em pé, teve que tomar uma decisão rápida. Pegou-o pelo ombro e o jogou para longe enquanto recebia o ataque por completo.

— Droga… ainda não… — Caiu de joelhos, seu peito chamuscado com a energia mágica doía, estava indignado com isso. Não podia morrer ainda, não sem antes achá-la. Tentou se levantar, mas teve que se defender de um golpe de outra adaga, que quase cortou sua jugular.

Seu corpo foi empurrado, como uma boneca de pano. — Bem, vamos encerrar aqui.

O tempo movia-se devagar. O Halfling caminhava na sua direção, assoviando uma melodia fria e que prometia morte a quem ouvisse. Pôs sua espada para cima, determinado a continuar lutando. Se fosse morrer hoje, seria como um guerreiro.

Como um espadachim da Foice da Doninha.

— Ó incarnação do fogo, mire em meus inimigos e acerte-os!

Para o alívio dos dois, várias flechas de fogo impactaram nos assassinos, os corpos queimaram em chamas vermelhas. Gritos tortuosos, que despertaram empatia em si, foram ouvidos, até que caíram no chão, mortos.

— Apareça e seja meu escudo! Obice! — Uma muralha amarela se ergueu ao redor de ambos, as flechas que foram disparadas refletiram nela, sem causar qualquer dano. O rapaz sentiu-se seguro e caiu na inconsciência, incapaz de tirar da mente a imagem de vários Ladinos, todos com a mesma máscara.

 

— Ótimo, ele está fora de perigo… agora, e quanto ao outro? — A voz que falou isso era doce, abafada por uma máscara, e que trouxe tranquilidade ao seu coração assustado.

Ao abrir seus olhos castanhos, viu a imagem de uma mulher, que usava a mesma máscara que seu companheiro, e que dava ordens para outros mascarados. — Quem…

— Vejo que acordou. Meu nome é Eleanora Nilven… — Viu a confusão e desconfiança no rosto, e com um suspiro pesaroso, tirou a sua máscara. — Confia em mim agora?

A visão angelical que viu foi algo que tirou sua respiração. A mulher tinha cabelos loiros que caiam até o pescoço e olhos, de um celeste azul, que fitavam-no curiosamente. Acima de tudo, sentiu que já viu alguém parecido com ela antes.

— Você é uma elfa? — Sabia que tinha visto um deles em Oldale, nos três dias que ficou em tratamento. Era uma que acompanhava Inasa, segundo o que havia ouvido, mas não lembrava do nome.

— Conhece minha espécie? Bem, sou elfa sim. Por parte de mãe… meu pai era… ele era humano. — Sua voz falhou um pouco quando falou do pai, e não pôde deixar de pensar que ela tivesse uma relação complicada com ele, mas isso não lhe interessava.

— Me diz, ele vai ficar bem?

A elfa olhou para o jovem que era tratado por outros médicos de seu esquadrão, um sorriso nostálgico brotou em seu rosto. — Vai sim, ele é teimoso demais para morrer. — Nisso, voltou seu olhar para si, e sorriu de uma forma gentil, que aqueceu seu coração. — Você também é assim, não é?

Desviou o olhar, lembrava-se da humilhação que sentiu ao ser salvo de novo e de novo… e sentia isso agora mesmo. Sabia que devia estar feliz por estar vivo, mas não conseguia deixar de se sentir um inútil.

Um grunhido lhe chamou a atenção, e para a sua alegria, o seu companheiro despertou, enquanto dois dos assassinos tratavam seus ferimentos com algumas magias de cura.

— Eleanora? — Sua voz saiu confusa ao ver o rosto dela, e logo reparou aonde estavam. Olhou para seu protegido, certa vergonha em sua postura. “Não fui capaz de protegê-lo… droga, ainda sou muito fraco…”

A meio-elfa suspirou, e então olhou numa direção com clara apreensão em seu olhar. — Temos que chegar logo na base. Creio que Knives já tenha lhe explicado o que está acontecendo. — Seus olhos brilharam, numa amostra de poder. — Não é?

— Claro! — A voz do então nomeado Knives mostrava medo ante a fúria de Eleanora, algo que achou engraçado. — Sabe bem que eu levo minhas missões a sério, capitã.

Sorriu e então se levantou, ofereceu uma mão para o jovem, que a aceitou. — Bem, é melhor irmos para a base, antes que… — Sua voz travou e sua expressão se tornou uma máscara de medo e nervosismo. Os outros de seu esquadrão foram tomados por uma tremedeira.

“O que diabos é isso?” Olhou para sua mão, que tremia em claro medo e então olhou na direção que sentia aquela sede de sangue, que paralisou todos ali. Seu medo não o impediu de pegar sua espada. Ao contrário, era um motivador.

Passos foram ouvidos, as botas de metal tinham um ritmo tranquilo, que mostrava que seu dono não tinha temor ao entrar na batalha. A cada segundo, o dono daquela aura ficava mais e mais perto, e conforme isso ocorria, os instintos gritavam para que todos saíssem dali.

— Não fiquem aí parados! — Eleanora gritou enquanto puxava uma adaga de sua bolsa. — Comecem a convocar suas magias mais fortes, tirem as armas de suas bolsas… não podemos…

Uma voz a atrapalhou, uma grossa e poderosa, com um tom brincalhão e juvenil. — Talvez devessem fugir… vão viver uma vida mais longa se o fizerem.

Todos os olhos se viraram para o beco de onde a voz vinha. Dali, um humano surgiu.

Era grande, mais de dois metros, carregava uma enorme espada, que parecia ter sido feita para cortar cavalos ao meio. Era grossa também, e na mente de todos ali, ela devia pesar mais de 100 quilos, talvez até mesmo 200, mas a forma que a carregava nos ombros, sem qualquer dificuldade, mostrava o quão forte era.

A roupa, uma armadura puramente negra, de aço quase carbonizado, também parecia pesada. Além disso, também portava uma capa vermelha, uma que Knives identificou como couro de Dragão Rubro, um material pesado e resistente.

“Como consegue se mover dessa forma, sem qualquer dificuldade?” A resposta era clara, por mais que não pudesse acreditar. Nunca viu alguém com tanta força, mas haviam indivíduos assim. Monstros cujo poder era inalcançável para si. Aqueles com Status de Nível 2.

— Céus, por que estão tão assustados? Não querem se divertir? — Após essa pergunta sair de sua boca, desapareceu de onde estava. Não, para Knives, Ethan e Eleanora, o homem apenas se moveu rápido o bastante para escapar dos sentidos de humanos comuns. — Afinal… — Reapareceu no meio de cinco dos assassinos do esquadrão de Eleanora, e Knives só pôde arregalar os olhos ao ver o homem brandir sua espada.

— Esse é o dia final de suas vidas! Vamos curtir até não conseguirmos nos levantar!

Foi rápido demais. Num instante estavam vivos e prontos para o combate, e no outro, os cinco soldados que a acompanhavam haviam tido o corpo separado em dois. Com apenas um balançar de sua arma, mais da metade de seus aliados haviam sido mortos como moscas. O sangue que caiu na máscara o despertou do choque, e tentou se levantar, por mais que soubesse que não poderia fazer nada contra um monstro como aquele.

Ainda assim…

Memórias de seus companheiros daquele esquadrão preencheram sua mente. Foi breve, apenas alguns meses, mas foram tempos gratificantes. Não eram pessoas boas, mas havia um laço de irmandade ali, algo mágico em participar de uma guerra de comida, que começou quando um deles sem querer havia derramado molho em outro.

Beber com eles.

Treinar com eles.

Viver com eles…

As memórias acabaram quando um grito agudo foi ouvido. Olhou para o monstro, que segurava sua amada capitã pelo rosto e, com um movimento de seu braço, levou o crânio dela para o chão.

O som de ossos quebrados foi substituído pelo líquido derramado e pedaços molhados da massa cinzenta dela, que caiam para fora. Sim, era uma visão do inferno, que acendeu em si uma fúria como nunca sentiu antes.

— Filho da puta! — Pulou com suas adagas carregadas com a força de seu ódio, porém o monstro que era o cavaleiro do carvão apenas deu um soco com as costas de sua mão no seu rosto. A máscara quebrou e foi mandado contra a parede de uma casa, que quebrou com a força do impacto.

Caiu desacordado.

— Bem, agora que me livrei das moscas… — Olhou para a direita, na direção do único que ainda estava acordado ali, do seu alvo. — Fique de pé, leão. Prove para mim o motivo de ter uma recompensa tão alta!

Balançou sua espada uma vez mais, dessa vez de cima para baixo. Agiu o mais rápido possível, seu medo nublou o choque, e estava de pé, afastado do homem. Puxou sua espada e a empunhou. “O que é isso… parem!” Olhava para suas mãos, tentava fazê-las parar de tremer, mas sem sucesso.

— Tá com medinho?

— Fica quieto! — Estava para avançar, mas a aura assassina do cavaleiro de carvão o parou. Viu sua morte, várias e várias vezes na mão dele e não pôde deixar de sentir enjoo ante as várias cenas que passavam em sua mente… “Merda…”

— Bem, se não vai vir até mim… — Sua fala foi interrompida por uma visão inesperada, mas que o fez gargalhar de alegria. O jovem a sua frente deu um forte soco no próprio rosto. — Bwahahahaha. Você é engraçado, sabia!

“Certo, agora consigo pensar sem ter medo do filhote de encruzilhada. Então, pense… como derrotá-lo?” Caminhou com passos vagarosos para cima, mantinha o seu olhar desconfiado no inimigo, tentava achar uma abertura em sua postura calma e tranquila, uma que não resultasse na sua morte imediata. “O desgraçado está cheio delas, mas sempre que eu penso em atacar, eu vejo a minha morte…”

— Qual o problema? Está satisfeito em só ficar aí? — O rapaz rosnou e decidiu que teria que arriscar, para a felicidade do inimigo, saiu correndo. Quando estava numa distância determinada, o inimigo balançou sua espada num corte vertical.

Viu isso e segurou seu medo, usou-o para esquivar para a direita, onde tinha mais área para lutar. Chegou perto o bastante do homem e tentou uma estocada. “Andorinha Raivosa!” Seu ataque foi rápido e forte o suficiente para arrancar o elmo que protegia o rosto, o que revelou um homem de cabelos cor de areia, feições bem definidas e olhos vermelhos.

Um sorriso feral surgiu nos lábios dele, e o jovem recuou ao ver o brilho naqueles olhos. Usou seu reflexo para por sua espada na frente do corpo, e para seu alívio e terror, sentiu um forte tremor em seus braços. O balanço da arma contra si o enviou para longe.

“Merda… minha espada não para de tremer… quase que ela foi partida em duas com um só golpe!” Olhou aterrorizado para o homem a sua frente, que caminhava tranquilo em sua direção, uma expressão de alegria e êxtase o deixaram assustado.

— Sua espada é de boa qualidade. Não são todas que conseguem resistir a um ataque da minha Zanbatou intactas. — Continuou a caminhar, cada passo o deixava mais próximo do rapaz, que lutava para controlar a tremedeira das pernas e se levantar. — Claro que, o pequeno pulo que deu antes do impacto pode ter ajudado… tem bons instintos, garoto.

Olhou surpreso para o homem e engoliu em seco. Nem ao menos percebera que pulou, mas agora viu que era verdade. Seria cortado ao meio se não tivesse evitado o ataque, tal pensamento fez com que suasse e arregalasse seus olhos com o coração em disparada no peito.

Essa foi a primeira vez que escapou da morte dessa forma. Mesmo o evento de quase seis meses atrás não fora tão perigoso para si. Quase morrera. Escapou da morte não por sorte, mas sim por puro instinto, que tomou conta de seu corpo pelo medo que a presença na frente de si invocava.

“Preciso me recompor…” Nisso, correu em direção ao homem e pôs força nas pernas, com um pulo. — Falcão Ascendente! — Sua lâmina foi parada pela Zanbatou do adversário, que serviu como um imenso escudo de aço reforçado. Com um empurrão, jogou-o para longe, seu corpo impactou contra uma casa, e o cavaleiro de carvão gargalhou.

Tentava sair da cratera, seus olhos mostravam um tanto de irritação. Levantou sua espada e estava para avançar, quando o outro foi até si. Teria que pensar e agir rápido, caso não quisesse ser cortado ao meio.

Com um grande esforço, pulou para a sua esquerda, seu choque foi grande ao ver a casa onde estava cair. Com um simples balanço daquela espada, uma residência inteira foi cortada ao meio.

Levantou sua espada de novo ao ver, para sua frustração, a lâmina ir contra si. Vários destroços voaram com o movimento de arco, e Ethan foi lançado uma vez mais contra o chão. Dessa vez, ficou abaixado, de forma que evitasse os destroços, que seguiram reto.

A sombra pairou sobre si, e pulou para a direita com grande ansiedade. — Andorinha Raivosa! — A Bento foi em direção ao olho do homem, que lançou um olhar predatório na direção do rapaz, que percebeu, com pavor, seu erro.

O cavaleiro mordeu a ponta da espada, parou-a e, com um movimento de seu pescoço, puxou o corpo inteiro do adversário contra si e continuou a balançar o tronco, sentia-se feliz com a luta, algo que transparecia com o sorriso. Jogou o rapaz para longe, o corpo impactou contra outra parede, tirou-lhe todo o ar do peito.

Tentou se levantar, olhava para o adversário, que sorria como um demônio. Sua consciência falhava… e foi ali, no linear, que ouviu aquela mesma voz, uma vez mais. Aquele sussurro do ser antigo e inumano, que o levava a loucura.

Naquele momento, algo estava para despertar no rapaz.


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