A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 13: Perigo! A chegada do Padre

No castelo, alguns minutos antes da explosão, Alvaro movimentava suas forças para salvar a base. Escolheu alguns de seus melhores homens para a missão. Esses compunham um pequeno esquadrão de elite que seguia apenas as ordens do rei.

Correram pelo túnel, a velocidade que tinham os guiou para lá, chegaram em alguns minutos, á tempo de ver chamas azuis consumindo tudo. Assim que viram o brilho, puseram suas mãos para cima e começaram todos em conjunto: — Apareça e inunde tudo, Tu que és filha de Netuno, tome forma e seja meu escudo! Aqua Obice!

Em resposta, um imenso orbe de água apareceu e bloqueou as chamas azuis. Entretanto, era possível ver o vapor, além da exaustão dos assassinos em tentar conter uma Magia de Nível Quatro com uma de Nível Três. Algo humilhante, visto que tinham vantagem de tipo.

As chamas continuavam seu ataque, manter o escudo era cada vez mais difícil. O vapor os cegava, suas mãos começaram a queimar e seus joelhos tremiam com o esforço. Nisso, começaram a recitar outro encantamento.

— Ó filho de Jotuheimn, apareça e tome forma! Glacies! — A barreira de água congelou, a temperatura diminuiu drasticamente. O choque térmico fez com que todos ali quase perdessem a concentração, mas perseveraram. A lealdade para o Rei servia como um poderoso motivador.

Nisso, após alguns instantes, as chamas enfim morreram. Naquela hora, tudo veio abaixo. Apenas a força do Gelo conseguiu segurar as pedras, para o alívio de todos ali. Nenhum deles estava pronto para morrer.

O primeiro deles, o chamado “Braço Direito do Rei dos Ladrões”, sussurrou em uma língua desconhecida e deu um forte soco na parede de gelo. A força foi o bastante para criar uma vibração que explodiu o teto em que estavam.

— Eficiente como sempre, Maximillian. — O segundo em comando deu um tapinha nos ombros, satisfeito com a força do seu líder. — Se me permite, que encantamento era aquele?

— Não posso falar… é segredo da minha família.

Os cinco assassinos seguiram para cima, onde viram a extensão da destruição.

Toda base colapsara. Com isso, mais da metade da cidade caiu em destroços. O segundo em comando se enraiveceu com a visão, pois sabia que toda a papelada da reforma iria para ele. Sons de aço contra aço foram ouvidos, e decidiram seguir a direção de onde isso vinha.

A velocidade deles era grande o suficiente para que chegassem a tempo de ver a conclusão da luta da mulher misteriosa com o “Dragão em Forma Humana”. Viram como ele a poupou, não puderam deixar de sentir certa desconfiança naquela estranha.

Usava o mesmo uniforme, por mais que estivesse chamuscado, o que revelava um pouco do que havia por baixo. A máscara permanecia intacta, e a forma que deixou o adversário fugir, mesmo que desse as costas para si, só serviu para pensarem mais e mais que estava trabalhando juntos.

O mais apressado estava para sair dali para exigir respostas, mas Maximillian o segurou pelo punho. — Ainda não… quero ver aonde isso vai dar. — A mulher suspirou, caiu de joelhos. Sentia-se esgotada, sem qualquer força para sequer sair dali.

Queria ver como seu irmão estava, mas não tinha motivação alguma. “Ainda não…” A ideia de que ainda não podia o encontrar a deixara triste e até um pouco impaciente. Queria vê-lo logo, mas ainda não era hora.

Não até o Destruidor enfim despertar.

Um homem apareceu ao lado dela. Vestia as mesmas roupas, com a mesma escolha de arma. Ofereceu uma mão, que foi aceita graciosamente. Tinham muito o que fazer e não podiam mais ficar nessa cidade.

Assim, ambos escaparam, mas o olhar vigilante de Maximillian nunca a deixou.

— Quantos sobreviveram? — O mais distante de si, um Bestial, pareceu se concentrar em busca da resposta. Esperou com impaciência, queria saber logo a resposta da pergunta que tanto o incomodava, e que girava em torno da mulher.

— Dos 2000 soldados que estavam lá dentro, menos de cem escaparam com vida.

— Perfeito… — Todos ali se espantaram com a calma na voz do líder, não sabiam como reagir a frieza que mostrava. — Desses 100, quantos tem família fora da Guilda? Vran, Ebisque, descubram isso. Hart e Quilja, venham comigo. Temos que nos reagrupar.

— Sim senhor. — Nisso, saíram dali, cada grupo em direções opostas. Chegou na frente dos dois, que eram levados por outro membro da guilda. Maximillian notou, com certa intriga, como a postura do guia pertencia a um amador.

Teria que investigar isso.

— Tudo… tudo foi destruído.

Aquele jovem assassino era alguém que chegou recentemente na Guilda, mas que formou laços com seu esquadrão. Fora mandado para um dos mais carinhosos e calmos, algo que dizia muito sobre sua habilidade como assassino, além da personalidade.

— Sim, mas não temos tempo para ficar remoendo isso. Levante-se, Knives. Tenho uma tarefa para você. — Olhou com tristeza para o superior, transformou-se em raiva e frustração com a calma que demonstrava ante a morte de vários de seus companheiros.

Arqueou as sobrancelhas quando Ethan pôs a mão nos ombros dele, consolava-o. Com um suspiro, levantou-se e olhou para o líder com olhos resolutos. — O que quer que eu faça? — Sua eficiência havia voltado, mostrava a face de um verdadeiro assassino.

— Quero que vá até a Igreja com Quilja e tente descobrir o máximo sobre o novo padre que fora enviado para a cidade. Eu e Hart levaremos Ethan para a segurança. — O rapaz assentiu, ambos caminharam para longe e se separaram.

— Hector! Boa sorte!

Um sorriso caloroso apareceu no rosto. — Para você também!

O grupo de três começou a caminhar, tentavam não cair nos vários buracos que agora enfeitavam a cidade. O olhar de Maximillian estava nas costas do rapaz, algo que não passou despercebido por Hart.

Após alguns minutos, tudo estava completamente quieto, até que algo irrompeu o caos que ameaçava sair descontrolado.

Fuja, ou vai morrer. — Uma cacofonia de vozes na cabeça de Ethan, alta o bastante para causar uma profunda dor de cabeça, rugiu. Seu nariz começou a escorrer o líquido negro de antes. Apenas ouviu o com de aço cortando aço para começar a correr.

— Maximillian… por quê? — O batimento do coração de Hart ficava mais e mais fraco conforme o sangue jorrava da jugular, que tinha um pedaço de sua espada preso. O olhar confuso caiu nas espadas daquele que acreditava ser um irmão, e só então notou o quão pouco sabia do homem. “Essa espada… pareça com a de Sigma…”

Uma lâmina vermelha, com detalhes cinza. É dito que aquela lâmina pertencia a uma antiga família de Samurais e que cortara tantos corpos que a lâmina ficara vermelha. Maximillian apenas seguiu o protocolo de todo assassino e cortou a garganta de Hart.

Olhou então para as costas de Ethan, que corria para longe. Não o deixaria escapar. Com um salto, estava sobre ele. Um tremor tomou conta do chão e fez com que o rapaz perdesse o equilíbrio.

Fora o bastante. A espada pronta desceu na direção da espinha. Sua lâmina o cortou sem qualquer esforço.

Caiu, sem forças, enquanto sentia o homem sobre si, algemando-o.

Após concluir sua missão, Sigma pegou o rapaz e, com imensa velocidade, ambos sumiram.

 

Hector e Quilja observavam a igreja de longe. Ambos tinham o uniforme completo da Guilda, uma máscara emprestada cobria as feições do mais jovem. Pela primeira vez em anos, a Igreja de Seth havia se instalado em Lockust, uma coincidência grande demais.

Caminharam pelas sombras em direção a Igreja, até que adentraram por uma das janelas abertas. Lá, puderam ver o local com mais clareza. Nunca entraram numa igreja antes, e, por isso, o ambiente era estranho para ambos.

Bancos enfileirados para os fiéis, junto a um pódio no centro de tudo.

Acima do mesmo, o Padre rezava. Estava ajoelhado em uma caixa de milho, o que sujou suas vestes brancas com sangue. Acima de si, haviam uma imagem daquele que seria Seth, o primeiro dos homens.

— Saiam de onde estão, irmãos. — A voz era calma, não parecia ligar para o fato de que dois assassinos estavam ali, ou que eram da facção inimiga. — Não há porquê se esconderem na casa de Seth.

Não saíram, nem fizeram nenhum som. O padre soltou um suspiro cansado, virou-se para os dois, que viram a face sorridente e gentil de um senhor de idade, que mantinha dois óculos no rosto enrugado. Não parecia, mas… aquele homem tinha experiência em lidar com assassinos.

— Não poderei contar os segredos que sei sobre a Facção Aristocrática se não saírem daí.

O sangue gelou, e voltou a bombear mais rápido que nunca. Aquela oferta era boa demais para deixar passar. Poderiam conseguir informações fáceis sobre o inimigo e sem correrem riscos. Hector estava para sair da sombra, quando Quilja o parou.

Menou a cabeça, a mensagem era clara. Se saíssem de onde estavam, morreriam. — Bem, parece que o plano A não funcionou… vamos ao plano B então… — O velho sorriu, o sadismo era evidente em suas feições. Estalou os dedos e toda a luz do lugar desapareceu.

Estavam no escuro, sem saber aonde ir.

A escuridão era anormal, densa demais para ver e também tinha um peso que os impedia de ouvir ou sentir qualquer outra coisa. — Ira de Zeus, Apresente-se e traga a punição sob os pecadores, Enlouqueça e tome forma. Ó espírito celeste que me guia, Acenda o mundo num fulgor dourado! Fulgura Diffundunt!

A encantação não fora ouvida, os raios que preencheram a Igreja foram ignorados. Os tremores que chacoalharam a cidade inteira, o sol assumiu uma luz vermelha, as nuvens tempestuosas que apareceram do nada… tudo passou despercebido.

Apenas a dor de receber um raio no peito foi sentida pelos dois. Um grito tortuoso escapou de suas gargantas, e os dois caíram no chão. Um inconsciente, enquanto o outro estava morto. Com um estalar de dedos, as janelas se abriram e as luzes voltaram.

A frente do padre, a figura de Quiljag jazia morta, enquanto Hector respirava com dificuldade. Um brilho dourado era visível no seu peito, algo que o fascinou. — Essa criança tem um sacramento? Mas apenas membros da igreja os recebem… bem, o líder quer o tal de Ethan vivo, logo, acho que não tem problema eu pegar você pra mim.

Um leve riso foi ouvido vindo do ombro do Padre, rastejou na carne do velho até chegar ao ouvido esquerdo. — Carmeliu, acha mesmo que o jovem tem as respostas que queremos? — O tentáculo de carne parecia curioso e intrigado. Nunca fora muito bom com ciência, por isso mantinha contato com alguns membros do alto escalão da Igreja.

— Sim… talvez, com ele, possamos criar algo que não seja instável. Meu predecessor avançou e muito a pesquisa, mas o máximo que pôde fazer era um espécime incompleto e incapaz de resistir a luz dos sacramentos…

Ótimo, ótimo. Com sorte, teremos uma armada de demônios recém-nascidos até o próximo grande eclipse. — Parou e ficou alguns segundos quieto. O Padre começou a sentir certa apreensão, pois seu mestre era perigoso quando se zangava. — Ótimo, ainda está vivo… Kukuku…

Ficou aliviado com a falta de raiva, mas não pôde deixar de imaginar sobre quem Agar falava. Seus pensamentos foram interrompidos com a chegada de um falcão negro, que voou pela janela.

Fora deixado só com o animal, que esticou a pata, que tinha um pergaminho amarrado. Pegou a carta, a letra cursiva fora reconhecida pelo homem, que sorriu ao perceber de quem viera o pergaminho.

Pegou um pedaço de papel duma mesa próxima ao altar, pensava como pôr sua mensagem da melhor forma possível para o seu antigo estudante. Nunca imaginou que seria chamado para a banca de jurados do Exame dos Mármores.

Suspeitava que isso tinha haver com Kai, que começara a se mover de forma lenta e que fizera seu primeiro grande movimento contra o mundo, algo que deixava o Padre orgulhoso. Afinal, por mais que seu predecessor fosse o responsável pela demonização do homem, fora ele que destruiu a mente do que outrora fora uma boa pessoa.

Olhou para o corpo do rapaz, sorriu ao imaginar as possibilidades de pesquisa que viriam, além é claro de poder testar seu mais novo projeto no exame da associação. Mal podia esperar para ver o que sua criação podia fazer…

 

Alvaro olhava para a porta a sua frente com certa frustração, os olhos verdes brilhavam em preocupação. Passou uma hora e ainda não teve notícias de seu braço direito, nem de metade de seu esquadrão. Mesmo que Vran e Ebisque já tivessem reportado, não ouviu nada dos três, algo que deixou um pesar cair no estômago.

Junto aos desaparecidos, Ethan e Hector. Suspeitava o pior, e por isso mandou vários dos Ladinos que ainda estavam vivos procurarem os cadáveres. Estava para levantar-se, próximo a um surto, quando um dos seus soldados chegou ali.

— Meu senhor… trago notícias sobre Hart. — Isso acalmou seus nervos, já estava na hora de saber o que estava acontecendo. Só então reparou na postura do homem, uma que trazia más notícias. — O comandante Hart está morto. Não achamos seu assassino, mas suspeitamos que o corte tenha sido feito por uma Katana.

A postura do rei se eriçou em claro nervosismo. Poucos da Liga ainda usavam Katanas, visto que eram armas muito antiquadas. Por mais que fossem extremamente rápidas, era claro que os assassinos não precisavam disso, visto a incrível velocidade que um Ladino tinha.

Logo, o equipamento mudou para adagas, que eram mais leves, tinham mais fio e seu comprimento dava aos assassinos mais vantagem no combate de curta distância. Por mais que uma Katana tinha uma extensão maior, apenas aqueles mais lentos se beneficiavam disso.

“Céus… faz anos desde que não ouvi falar dele, mas será que está os ajudando?” Caso fosse verdade, essa guerra ficou ainda mais difícil de ser vencida. Não apenas perderam quase todas as suas forças, como a qualidade daquele assassino era muito maior que os que sobreviveram.

Sentiu uma dor aflorar em sua cabeça, apoiou suas costas no trono e deixou seu pesar escapar com um suspiro. Olhou para o Hall, enchia-se de orgulho com as conquistas de seus antecessores, que lutaram em serviço do trono, para o trono e pelo trono.

Tudo que protegeram estava ruindo diante de seus olhos, e não era capaz de fazer nada para impedir tal coisa. Infelizmente, o Rei é uma figura política que a Guilda deve fidelidade, não obediência completa.

Vários dos Reis anteriores serviram como fantoches para os políticos, mas Alvaro não era assim. Invés de se ajoelhar para os desejos dos anciães, permitir que tornassem a vida dos cidadãos de sua cidade mais difícil do que já era, escolheu lutar pelo que acreditava ser certo.

Uma decisão que agora começara a se arrepender amargamente. Acabou atraindo outras pessoas para sua luta, fizera com que vários jovens inocentes entregassem sangue e suor para algo cujo sacrifício deveria partir dele.

Sentira-se enojado consigo mesmo, por um tempo. Hoje em dia, entendia os sacrifícios que teria de fazer. “Tudo por Lockust e pelo seu legado" era o lema e o juramento de sua família, um que cumpriria não importava quantos sacrifícios teria que fazer. Ao menos, até que a pessoa destinada apareça.

“Encontraram o corpo de Hart, mas não dos dois…” Aquilo era estranho. Até onde sabia, a Facção Imperialista queria matar Ethan mas, pelo que parecia, sequestraram-no. Precisava agir rápido, antes de perder o que lhe restava. — Quero que coloquem monitoramento em todas as rotas de comércio. Ninguém entra ou sai.

Com uma saudação, o soldado saiu junto a um mensageiro, que se mantinha escondido nas sombras. Foi deixado para trás com seus pensamentos, sem saber o destino dos dois, nem que tipo de perigo corriam.

 

Numa cela, na manhã dia seguinte, Ethan acordara com uma queimação infernal nas costas. Ardia em febre, sentia-se um cadáver ambulante, que não conseguia nem se mexer. — E aí, voltou para o mundo dos vivos?

Ethan olhou em direção a voz de Hector, que estava na mesma cela, os dois acorrentados com os braços atrás das costas, para evitar ao máximo que consigam se levantar e sair dali. A posição era desconfortável, além da pressão que os grilhões faziam em seus punhos.

Os olhos rondaram o local em que estavam, não era apenas uma cela, mas sim uma caixa de metal com barras, que o privavam da liberdade. Parecia uma espécie de armazém, várias carroças ao redor indicavam que sairiam dali cedo ou tarde.

— Hector… o que houve?

— Fui atingido por um raio e de alguma forma sobrevivi… não sei como foi capturado, mas o adversário provavelmente era um monstro para conseguir passar por Maximillian. — Ao ouvir aquele nome, as memórias do que houve voltaram para si, a raiva que sentira do traidor transpareceu no rosto.

— Foi ele…

— Oi?

— Foi Maximillian que me capturou.

— Ah… — A notícia o afetou mais do que mostrara, algo claro com o desespero que seus olhos transmitiam. — Bem, então já perdemos. Apenas Maximillian tinha alguma chance contra Jack… agora que temos dois inimigos assim, acho que é o fim da linha.

O barulho de algo se chocando contra o metal chamou sua atenção. Para sua surpresa, Ethan havia começado a tentar destruir as barras com os ombros. — Para com isso… — Sua irritação cresceu ao ver que não pararia tão cedo. Invés disso, apenas começou a se chocar com ainda mais força. — Eu disse para parar!

— Me recuso!

A fala só o enraiveceu. — Não adianta tentar quebrá-las. Vê as runas no metal? Elas bloqueiam o fluxo de energia interior, o que impede que alguém com uma força como a nossa consiga sair daqui. — Mesmo com o grito, não parou. — E outra. Caso, por algum milagre consiga sair daqui… o que vai fazer depois? Não sei se percebeu, mas estamos sem nossas armas. Provavelmente tem guardas atrás da porta… como vai passar por tudo isso?!

— Não vou desistir assim tão fácil! Jamais me tornarei um mármore caso o faça! — Os segundos passaram devagar, respirava de forma errática enquanto o Ladino apenas observava suas costas, mordia os dentes em clara raiva.

— Nós vamos morrer, seu idiota! Pare de falar em seu sonho e apenas aceite a realidade!.

— Não!

— Por que não? Você estava tão empolgado com aquele plano suicida mas não tá pronto para DESISTIR DA PRÓPRIA VIDA?

— O plano funcionou, ou esqueceu?

— Sim, mas não muda o fato de que pôs a merda da sua vida em jogo como se não fosse nada! Agora vamos nós dois morrer, e A CULPA É TODA SUA! SE NUNCA TIVESSE VINDO A LOCKUST, EU AINDA TERIA… — Parou de falar, lembrava-se do seu objetivo, daquela que queria encontrar mais do que tudo. Sua irmã. — Ainda teria uma chance de a encontrar…

O rapaz parou e ficou quieto, não sabia como responder aquilo, apenas se virou e olhou para Hector, que mantinha o rosto abaixado. Estava claro para si que não queria morrer, nenhum deles queria, mas como mudar a situação em que estavam?

— Sabe, eu acabei de perceber que… que nunca perguntei qual seu sonho.

— Por que eu te diria?

— Bem, eu disse o meu, não é? O mínimo que podia fazer é me dizer o seu.

Bufou com isso. Que tipo de lógica infantil era essa? — Quero encontrar minha irmã… — Não tinha forças para tentar negar. Apenas se manter acordado já era um grande esforço. — Meus pais morreram quando criança. Eu e minha irmã herdaríamos uma pequena fortuna, mas meu tio… ele roubou ela de nós… enquanto fui vendido como escravo para um nobre de Gália, um bestial com o nome de Sergei, minha irmã mais velha foi vendida para o distrito vermelho, lá no reino em que morávamos…

O rapaz arregalou os olhos com aquilo, incapaz de esconder a simpatia que sentia. — Alguns anos depois, causei um incêndio que consumiu tudo que Sergei tinha, escapei dali e vim para Lockust. Tinha 12 anos na época, mas conseguia me virar. — Tomou um pouco de ar, fazia tempo desde que não se sentia tão aliviado assim… era quase como uma terapia.

— Eu não fazia ideia…

— Poucos fazem. Mas e você? Quer dizer, qual a sua história? Deve ter uma razão pela qual estava tão disposto a morrer para cumprir seu objetivo…

— Por que eu te diria?

O Ladino sorriu e olhou para o rapaz. — “Bem, eu te disse o meu, não é? Então o mínimo que podia fazer é me dizer o seu”. Essas foram suas palavras, não foram?

Soltou um suspiro cansado. Por alguma razão, sentiu-se obrigado a contar. Mesmo que não usasse as suas palavras contra si, ainda sentia que, depois do que ouviu, tinha que falar alguma coisa. — Bem, se quer tanto saber, me responde algo antes… você ouviu sobre o que aconteceu com o Vilarejo Cuckoo?

— Sim, foi uma tragédia… espera. Não!

— Sim. Eu fui o cara que sobreviveu aquilo… Sei o que os jornais dizem. Que foi um grupo de Bandidos que chegou lá e matou todos, mas eu sei o que eu vi. — A expressão se tornou sombria, com uma grande raiva que crescia dentro de si. — Vi meus compatriotas serem morto um por um, tudo graças a um demônio.

Olhou para Knives, que sentiu a tristeza que os olhos de Ethan transmitiam. — Bem… eu quero ser livre… estou disposto a morrer por isso pois sei bem que a minha vida não é só mais minha. Depois de perder todo mundo, de apenas eu sobreviver, tenho mesmo o direito de desistir? Ninguém se sacrificou para me salvar. Mas eu também não salvei ninguém, por isso, não posso falhar. Se eu falhar agora, a morte de todo mundo será em vão!

 

 


Feliz sexta-feira 13 galera!

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