Volume 1
Capitulo 36: O vento do caos (2)
Quando a cerimônia celebrando o lançamento da Sociedade do Dragão Azul terminou, Dam Soo-Cheon sentou-se em sua cadeira em silêncio enquanto Shim Won-Ui conversava animadamente com Seo-Moon Hye-Ryung.
Eun Ha-Seol sussurrou no ouvido de Jin Mu-Won: "Ei, você não acha que eles parecem idiotas?"
"Hein?"
"Sabe, toda essa... rituais e orações e tal."
Eun Ha-Seol não conseguia entender por que as pessoas rezavam para os deuses. No mundo em que foi criada, os vencedores sempre levavam tudo e apenas os mais fortes podiam viver confortavelmente. Não havia lugar para os deuses em um mundo dominado pelos desejos humanos.
Para ela, o ato de buscar reconhecimento de uma força superior era sinal de fraqueza. Tudo o que significava era que alguém queria evitar assumir a responsabilidade por seus próprios atos e decisões.
"Hahaha!" riu Jin Mu-Won. Ele concordou com Eun Ha-Seol. Embora os três do Cume do Céu tenham fingido que ele era a testemunha dessa farsa, na verdade, ele era apenas uma ferramenta para alimentar o ego deles.
"Tolos!"
"Essas pessoas são tolas, de fato, mas são tolos perigosos que vão ditar o futuro das Planícies Centrais."
"Você tem medo deles?"
"Hein?"
"Não há necessidade de ter medo."
"!?"
"Enquanto estivermos juntos, você não precisa ter medo de ninguém. Não importa o que aconteça, eu vou te proteger."
Os olhos de Jin Mu-Won se arregalaram quando ele olhou para Eun Ha-Seol. O rosto dela estava vermelho de vergonha por suas palavras piegas.
Jin Mu-Won sorriu e disse: "Obrigado."
"...Eu estou falando sério, pare de rir!"
Obrigado, Ha-Seol. Se eu estivesse sozinho aqui, o isolamento e a solidão poderiam ter me enlouquecido.
De repente, Dam Soo-Cheon se levantou e se aproximou de Jin Mu-Won, dizendo: "Ei, posso falar com você a sós?"
Jin Mu-Won assentiu, levantou-se da cadeira. Eun Ha-Seol observou enquanto os dois homens saíam da Sala de Jade Lustrosa.
Quando saíram, alguém se sentou ao lado dela. Era Seo-Moon Hye-Ryung.
Seo-Moon Hye-Ryung sorriu graciosamente: "Olá, Senhorita Eun."
"......"
"O que achou da comida hoje?"
Eun Ha-Seol olhou fixamente para Seo-Moon Hye-Ryung. Em um tom grave, ela disse: "Você. O que você estava pensando!?"
"Como assim?"
"Tenho certeza de que você sabe o quão miserável aquilo o fez. Quanto mais você vai fazê-lo sofrer até ficar satisfeita?"
"......" O sorriso de Seo-Moon Hye-Ryung desapareceu num piscar de olhos.
“Você não precisava convidá-lo aqui hoje, mas o fez. De propósito.”
"Como eu disse antes, precisávamos de uma testemunha. Se achou isso ofensivo, por favor, aceite minhas desculpas."
"Quem você pensa que é?"
"O que!?"
"De quem foi essa ideia?"
"Chega, Miss Eun." O rosto de Seo-Moon Hye-Ryung ficou vermelho de raiva com a hostilidade de Eun Ha-Seol.
"O que está acontecendo, Unnie?" perguntou Shim Soo-Ah de repente, notando a tensão entre as duas mulheres. Ela se aproximou e ficou ao lado de Seo-Moon Hye-Ryung.
Eun Ha-Seol encontrou o olhar de Shim Soo-Ah. Havia hostilidade aberta naqueles olhos. Por alguma razão, essa jovem a odiava absolutamente, e isso a estava deixando inquieta.
"Não se preocupe, não é nada."
Seo-Moon Hye-Ryung tentou afastá-la, mas Shim Soo-Ah sentiu que ela estava tentando esconder algo e continuou confrontando Eun Ha-Seol.
Eun Ha-Seol franzia a testa. Os sentimentos que ela tinha reprimido até agora pareciam prestes a explodir. Essas duas mulheres não eram a única causa, mas eram certamente o gatilho.
"Não ouse fazê-lo sofrer mais. A vida dele já é difícil o suficiente sem você mexer com ele."
"Não é você quem está fazendo as pessoas sofrerem agora? Você está sendo má!" interrompeu Shim Soo-Ah.
"Não se meta quando não sabe de nada!"
"Ohh, agora entendi. Você é quem está fazendo ele sofrer, não nós. Ele nem está reclamando, então por que você está fazendo um escândalo em seu lugar? O que te dá o direito de falar por ele? Vocês podem ser parentes, mas há algumas linhas que você não deve ultrapassar."
"Soo-Ah, por favor, pare", implorou Seo-Moon Hye-Ryung, mas Shim Soo-Ah apenas lhe lançou um olhar amargo.
"Essa mulher é uma convidada, assim como nós. Você não concorda que ela está sendo muito presunçosa? É como diz o ditado, 'o caminho para o inferno é pavimentado com boas intenções'. Ela pensa que está ajudando ele, mas está apenas o machucando."
Seo-Moon Hye-Ryung disse planamente: "Isso é o bastante, Soo-Ah."
Embora quisesse amenizar a situação, ela já havia deixado Shim Soo-Ah falar mais do que o necessário. A tensão no ar estava no seu ápice, e tanto Eun Ha-Seol quanto Shim Soo-Ah estavam prontas para explodir a qualquer momento.
De repente, Eun Ha-Seol estremeceu. Um arrepio percorreu sua espinha, e sua pele parecia ser picada por cem agulhas.
Essa sensação é? Não pode ser!?
☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆
Fora da Sala de Jade Lustrosa, Jin Mu-Won perguntou a Dam Soo-Cheon: "O que você queria me dizer?"
"Eu queria me desculpar, além de discutir algo com você."
"......"
"Olha, eu sinto muito por não ter te contado sobre o que estávamos planejando fazer antecipadamente, e por te forçar a ser nossa testemunha. Além disso, minha resposta à pergunta que você me fez antes é: Sim, eu quero ajudar a reconstruir o Exército do Norte."
Agora que estavam sozinhos, Dam Soo-Cheon sentiu que era hora de revelar suas verdadeiras intenções a Jin Mu-Won. A maioria das pessoas não compreendia o verdadeiro valor do Exército do Norte, algumas até ao ponto de serem sacrílegas, mas não ele. Ele sabia que essas pessoas estavam simplesmente em negação sobre o fato de que o Exército do Norte em seu auge poderia facilmente destruir suas seitas e removê-las do poder.
No entanto, as opiniões dos jovens do murim eram exatamente opostas. Em vez de temer o Exército do Norte, eles ansiavam por sua força. Todos haviam crescido ouvindo histórias de glória; de guerra; de tragédia; de vitória e derrota. Era um lugar onde podiam ir de zero a herói.
Os jovens guerreiros do murim são os que mais desejam reconstruir o Exército do Norte.
A geração mais velha do gangho via esses jovens como meros filhotes, mas Dam Soo-Cheon não concordava com eles. Ele sentia que se pudesse reunir todos os guerreiros da geração mais jovem, seria capaz de despedaçar o delicado equilíbrio do regime atual e abrir caminho para uma nova era.
Os jovens guerreiros podem não estar no auge de sua força ainda, mas assim como um Zhuge Liang morto assustou um Sima Yi vivo,[1] ele usaria o Exército do Norte como fachada para fazer com que o gangho acreditasse em sua força e o aceitasse como líder de uma nova superpotência.
Para fazer isso, no entanto, ele precisava garantir a cooperação de Jin Mu-Won. O reconhecimento do último sucessor do Exército do Norte era essencial para a legitimidade de suas reivindicações. Foi por essa razão que Dam Soo-Cheon e Shim Won-Ui decidiram fazer de Jin Mu-Won sua testemunha. Dessa forma, ele se tornaria cúmplice deles, querendo ou não.
Isso é humilhante. O que eles pensam que o Exército do Norte é, uma ferramenta descartável para suas ambições? Jin Mu-Won disse: "Você quer ajudar a reconstruir o Exército do Norte? Ok. No entanto, será que as Planícies Centrais realmente vão deixar você fazer isso?"
"Eu não me importo com o que eles pensam. Já tomei minha decisão de fazer isso."
"Wow, você é incrível", elogiou Jin Mu-Won, um sorriso sarcástico no rosto. Embora ele tenha conseguido se conter de rir em voz alta, ainda assim não pôde deixar de sorrir. Ahh, as ambições irrealistas de alguém que nunca experimentou o fracasso. Haha.
"Eu sei como isso deve estar te irritando. Mesmo assim, por favor, aceite minha oferta. Eu estou te implorando."
"......"
"Junte-se à Sociedade do Dragão Azul. Juntos, mudaremos o mundo." Dam Soo-Cheon estendeu a mão; uma mão forte, firme e coberta de calos. Era a mão de um homem com a capacidade de mudar o mundo.
Por um momento, Jin Mu-Won foi tentado a agarrar aquela mão. Se escolhesse fazer isso, o caminho à sua frente se tornaria muito mais fácil. Ele não precisaria mais se preocupar com sua sobrevivência diária. Era muito tentador.
No entanto, no final, Jin Mu-Won resistiu à tentação e balançou a cabeça, dizendo: "Acho que já contribuí o suficiente para a sua causa sendo sua testemunha. Agradeceria se você não me envolvesse nem ao Exército do Norte em seus planos futuros."
Dam Soo-Cheon ficou atordoado em silêncio. Parecia que a recusa de Jin Mu-Won o surpreendeu muito. Ele olhou para Jin Mu-Won com seus "Olhos de Dominação", mas o homem mais jovem não desviou o olhar. Ao contrário de todos os outros que ele havia conhecido, Jin Mu-Won não era facilmente intimidado.
Além disso, não apenas Jin Mu-Won era intrépido, seus olhos estavam calmos. Dentro dessa calma, Dam Soo-Cheon podia sentir o espírito poderoso e inabalável do Exército do Norte.
No futuro, esse homem pode se tornar o maior obstáculo para meus planos...
O corpo de Dam Soo-Cheon tremeu enquanto era consumido por um intenso pressentimento, como se o pensamento que acabara de cruzar aleatoriamente sua mente se tornasse realidade com certeza. Ele não sentia isso há muito tempo... então decidiu desistir de tornar Jin Mu-Won seu subordinado.
Às vezes, é melhor ter um rival em vez de um amigo. Mais importante ainda, o homem chamado Jin Mu-Won é digno de ser meu rival.
"Desculpe, isso foi rude da minha parte. Você e eu, somos iguais. Não somos pessoas que se curvam voluntariamente aos outros."
"Somos..."
BOOM!
O som de uma explosão ecoou de repente por toda a Fortaleza do Exército do Norte.
Os dois trocaram um olhar sombrio.
Notas da gringa:
[1] Um Zhuge Liang morto assustou um Sima Yi vivo: Na Batalha das Planícies de Wuzhang (5ª batalha das Expedições do Norte, vá ler/ver Romance dos Três Reinos), o estrategista de Cao Cao, Sima Yi, retirou seu exército por precaução quando viu Zhuge Liang liderando seu exército em retirada, pensando que era uma armadilha. No entanto, ele não tinha ideia de que, naquele momento, o verdadeiro Zhuge Liang já estava morto. Isso resultou no exército de Shu se retirando com sucesso da batalha. Depois da batalha, quando as pessoas questionaram sua decisão aparentemente estúpida, ele riu e disse: "Posso ser capaz de prever os pensamentos dos vivos, mas não posso prever os dos mortos."