Volume 1 – Arco 1
Capítulo 35: Um novo jeito (1)
Era o quarto dia desde o início do treinamento de Kishito. Desde que começou, ele vêm tentando se conectar a magia e sentir a mana, mas, foi em vão.
Durantes os dias que passaram, o jovem seguia uma rotina simples: De manhã, ia pra escola e gastava parte do tempo pensando em como se conectar a magia; depois da aula, ia para a Makuredan treinar com o Yago e ficava na Formação da Distorção Espacial até a noite; quando o treinamento acabava, caminhava para casa e continuava a pensar do porquê não ter conseguido ainda.
Kishito estava se sentindo frustrado por não ter feito nenhum progresso até agora. Yago lhe contou que Laila tinha altas expectativas e tinha dito que ele iria entender rapidamente. Porém, isso não aconteceu e seu treinamento estava estagnado.
Vendo a frustração do Kishito, Yago lhe contou que era normal demorar um pouco para se conectar a magia. Havia pessoas que demoravam de meses a anos para se conectar.
Apesar de serem palavras reconfortantes, essas não lograram entrar no coração do Kishito, pois ele sabia que não podia demorar o mesmo tempo de uma pessoa normal. Ele precisava ultrapassar a todos e se tornar forte para cumprir o desejo da Laila, que era também o seu desejo.
*****
O sinal tinha acabado de tocar quando Kishito se levantou da cadeira, ainda pensativo sobre como se conectar a magia e começou a andar para fora da sala. No entanto, antes de dar o segundo passo, alguém falou com ele.
— Aonde você está indo? — Xia perguntou quando o viu tentando ir embora.
— Eu vou dar uma volta. — Kishito respondeu, parando seus passos.
Xia tinha observado Kishito nos últimos dias e percebia sua preocupação por não ter conseguido se conectar a magia. O viu andando para todos os lugares com um olhar perdido e pensou que ele estava se perdendo. Se continuasse assim, conseguir a conexão seria quase impossível.
— Olha pra mim. — Xia pediu calmamente.
Kishito se virou a encarou. Ele não esperava ver o olhar dela de preocupação. Sob aquele olhar, cada palavra dela parecia ter um efeito mais forte em seu coração.
— Se você pensar demais sobre quem você é, nunca irá encontrar a resposta. Eu demorei quase trinta dias para me conectar a magia e no dia que eu consegui, estava tomando sorvete. — Xia terminou a frase com um sorriso.
— …? Que tipo de sentimento você usou? — Confusão apareceu no rosto do Kishito ao ouvir o que Xia falou.
— Isso é um segredo. — Xia estava com um sorriso radiante. — O que estou querendo te dizer, é que pare de pensar em encontrar o sentimento que lhe conectará a magia. Continue vivendo normalmente, faça as coisas que fazia no dia-a-dia e assim, quando o sentimento aparecer, se agarre a ele. Mas, se continuar tentando achá-lo, você pode nunca conseguir.
Kishito continuava a olhar para Xia e não sabia como responder. As palavras dela entraram em seu coração e ele sabia que iria lembrá-las. Kishito não sabia porquê, mas, essas palavras pareciam fazer mais sentido do que quando Yago tinha dito palavras semelhantes antes.
Encarando aquele olhar da Xia, Kishito se virou e acenou positivamente com a cabeça. Logo depois, saiu da sala, deixando uma última frase no ar.
— Eu não estou me sentindo muito bem, vou para casa.
Pela primeira vez nos últimos dias, Kishito não estava pensando em seus sentimentos. Nos corredores da escola, andava sem rumo, com a mente vazia e um olhar que não demonstrava nenhuma preocupação.
O corpo dele parecia se mover sozinho; a cada passo, mais longe ia; a cada passo, uma aura estranha parecia envolvê-lo.
Kishito se movia entre as pessoas sem percebê-las. Quando se deu conta de onde estava, um grande tronco de uma árvore na sua frente o fez parar.
Ele levantou a cabeça e reparou na cena ao seu redor. Folhas amareladas caiam à sua volta e alguns pássaros voavam de um galho a outro. Kishito ficou alguns minutos embaixo da árvore, olhando aquela paisagem. Seu olhar continuava perdido quando ouviu uma voz suave.
— Ela é bela, não é?
Nesse instante, o olhar do Kishito voltou ao normal. Quando se virou para encontrar o dono da voz, a surpresa ficou estampada em seu rosto.
Lá, estava uma garota com cabelos escarlates o encarando. Ela tinha um rosto infantil e os olhos cor de mel. O uniforme feminino que usava era o mesmo da sua escola, com uma saia que ia abaixo dos joelhos. As tranças no cabelo estava jogadas acima dos ombros e caiam na frente do corpo até a altura da barriga.
— Essa não é a primeira vez que o vejo olhando para ela. Você conhece a história dessa árvore? — A garota não parecia se importar com o rosto surpreso de Kishito.
Perdido admirando a jovem, passou alguns segundos até Kishito finalmente conseguir falar.
— E-eu… eu… — Kishito balançou o seu rosto e continuou — Eu apenas soube que ela nasceu depois de um grande incêndio, a mais de cem anos.
— Sim, isso mesmo. Mas, o que não contam foi que um meteoro causou o grande incêndio — a garota falou enquanto se aproximava da árvore e encostou nela — as pessoas que moravam próximo diziam que a semente veio do cometa. A primeira família a chegar na árvore viu ela crescendo em meio ao fogo. Eles acreditavam que era um milagre e deram um nome a ela.
— A Luz Escarlate!
— Nos primeiros anos de vida dessa árvore, o tronco era da cor vermelha escarlate. É um nome apropriado para ela, não acha?
— Eu acho um nome estranho para uma árvore.
— Hahaha… — a garota riu. Ela tinha um sorriso bonito que deixaria qualquer um fascinado. Cada movimento em seu rosto tornava sua expressão perfeita — Eu também achei a mesma coisa.
Depois de olhar aquele lindo sorriso no rosto da garota, Kishito levantou a cabeça para observar os ramos da Árvore da Luz Escarlate. Com a história que ouviu, ele agora imaginava uma pequena árvore vermelha resistindo ao fogo vindo de um cometa.
Uma árvore que ignorava as estações do ano e resistiu a um grande incêndio a mais de cem anos atrás. O que essa árvore é agora e o como ela sobreviveu poderia se tornar um mistério.
Um momento de silêncio passou antes da garota se virar para Kishito com um olhar curioso. O mesmo percebe e seus olhares se encontram; o silêncio permaneceu por um tempo.
— Para você estar aqui, quer dizer que tem algum problema. Porque não me conta o que é? Talvez eu possa te ajudar. — A garota quebrou o silêncio, sendo a primeira a falar.
— Hã?
— A Árvore da Luz Escarlate tem mais um mistério nela; ela atrai aqueles que estão perdidos como um farol. — A garota falava empolgada enquanto gesticulava com as mãos — Então, se você está aqui, quer dizer que está perdido.
— Eu não estou perdido. Estava andando e pensando sobre algumas coisas e quando vi, já estava aqui.
— Não existe apenas um jeito de estar perdido. Vamos, me diga qual é o problema! — Os olhos da garota brilhavam esperando Kishito lhe contar.
— Tudo bem, tudo bem. — Encarando aqueles olhos Kishito falou. — Eu estou tentando encontrar qual é o sentimento que me define para me conectar a magia.
“Hã!”
Apenas após um momento que Kishito percebeu o que havia feito. Ele tinha acabado de contar a uma desconhecida sobre seu problema de se conectar a magia. A garota na frente dele lhe dava uma sensação de familiaridade que sentia apenas quando estava com a Rika.
Kishito tinha abaixado a guarda para uma pessoa que não conhecia. O rosto dele mostrava a preocupação de ter dito o que não devia. No entanto, a garota tinha olhado para baixo e colocado a mão no queixo. Ela parecia estar seriamente pensando sobre seu problema e não percebeu sua expressão.
— Talvez, você esteja procurando do jeito errado.
A garota murmurou olhando para baixo, mas, Kishito a ouviu e perguntou:
— Como assim errado? — Quando Kishito ouviu a garota murmurando, ele não pode deixar de perguntar.
— Você está procurando um sentimento para se conectar a magia, mas, esse modo só é efetivo quando se tem um sentimento puro — a garota levantou o rosto e olhou para Kishito — ou seja, quando se é uma criança, você pode ter um sentimento completamente puro para se conectar a magia. Mas você não é mais uma criança, então, para se vincular a magia, você precisa de algo a mais.
— O que seria? — Kishito perguntou apressado.
Kishito estava tão ávido para se ligar à magia que qualquer dica que pudesse receber o deixaria bastante animado. Ele nem ao menos contestava o fato da garota ter conhecimento sobre a magia.
— Seria uma ação.