A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Eduardo Jesus


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 34: Investigação

Eu não pensei que eu pegaria um caso como esse logo ao retornar a ativa. Gabriela deve ter cobrado alguns favores para dar essa chance ao Carlos.

Desde o dia que busquei o Carlos, nós não paramos um minuto de trabalhar. Esse caso que pegamos é bastante incomum. Fazia tempo que ninguém ousava a fazer algo em nosso território. A última organização que tentou foi aniquilada alguns dias depois; não sobrou nem ao menos um prédio em pé.

Essa não foi a primeira vez que destruímos uma organização por ir contra a gente, mas, não há muito o que fazer. O conselho trata qualquer ataque como uma ação hostil, respondendo com a aniquilação. Nesse caso em particular, não acho que eles chegarão em outra decisão.

Logo após buscar o Carlos, fomos para o Décimo Primeiro Laboratório para investigarmos. Eu pensei que, com a investigação do caso, ele melhoraria, mas, assim que pisou no lugar, pegou uma garrafa de bebida e entrou mais a fundo no laboratório enquanto bebia.

Nós caminhamos por pouco tempo, no entanto, parecia uma eternidade sob os olhares das pessoas que trabalhavam coletando pistas. Olhavam Carlos passando por eles enquanto bebia e murmuravam sobre ele.

O que aconteceu com Carlos não era nenhum segredo e no meio de tantas pessoas, existem opiniões diferentes. Haviam pessoas que simpatizavam com ele por perder tudo depois da morte de seu amor e outros zombavam, por ter chegado a tal estado por testemunhar a morte de um conhecido.

Eles eram guerreiros e viviam numa linha tênue entre a vida e a morte. Não era algo incomum testemunhar a morte de um companheiro, porém, isso não significava que era fácil superar. Aqueles mais velhos que sobreviveram a muitas batalhas nem ao menos se importavam com a morte dos seus aliados, entretanto, alguém jovem ainda sofria a cada morte de seus companheiros.

Já para Carlos, a pessoa que viu morrer foi sua amada, Thamires. Cada pessoa lida com a morte de um jeito diferente e ele não lidou muito bem.

Porém, agora é uma boa oportunidade dele se recuperar, nem que seja aos poucos. Eu sei que nossos amigos estão preocupados e por isso eu ficarei ao seu lado até que esteja bem. Não importa o tempo que irá levar.

Enquanto estava perdida em meus pensamentos, um cheiro familiar chegou ao meu nariz; era o cheiro de sangue. Esse cheiro não é incomum para mim, mas, o que me deixou surpreendida foi o ar de morte no lugar; eu nem ao menos cheguei aonde estavam os corpos e já podia sentir.

Carlos, que estava na minha frente, andou mais um pouco antes de parar em frente a uma porta. Eu me lembro dessa porta. Antes, era uma simples porta de vidro que dava acesso ao principal laboratório do Décimo Primeiro Laboratório. No entanto, dessa vez, a porta estava pintada de vermelho. A cor era um vermelho escuro, que impedia de ver através dela.

— Você já sabe quantos foram mortos? — Carlos abaixou a garrafa que estava bebendo e perguntou.

— Ainda não temos um número exato, mas, estima-se ser setenta e três pessoas, com a maior parte das baixas na área da segurança.

Minha resposta não pareceu ter deixado Carlos surpreso. Fazia tempo que aconteceu tantas mortes em nosso território; para alguém matar tantas pessoas aqui é claramente uma afronta a nós.

Carlos abriu a porta e foi o primeiro a entrar. Ele estava bastante calmo quando entrou, porém, seus passos logo pararam. Não era estranho pois quando entrei fiquei paralisada.

A cena na minha frente era estranha. Esse laboratório era para ser uma sala simples com algumas mesas espalhadas. A última vez que estive nela foi quando estávamos pesquisando sobre as propriedades da minha faixa. Eles estavam tentando replicar algumas propriedades dela para criar novos itens de suporte a equipes médicas.

Naquela época, as pessoas que trabalhavam nesta sala estavam bastante animados e corriam de um lado para o outro, mostrando os resultados que conseguiam. Foi a primeira vez que vi um laboratório animado como esse. Os outros que visitei pareciam mais sérios e concentrados ao invés de estarem rindo e conversando como as pessoas daqui. Se eu não fosse uma guerreira, até que gostaria de estar num lugar como esse era.

No entanto, essas pessoas que trabalhavam bastante animadas estavam agora em pedaços. Os corpos dessas pessoas foram esquartejados e espalhados por toda a sala. Grandes poças de sangue estavam por todo o laboratório e as paredes respingadas quase completamente pintadas de vermelho.

No teto, havia alguns corpos sem membros pregados com o sangue escorrendo pelos seus corpos e pingando no chão. Seus rostos tinham feições de horror, medo e dor. O cenário era horrível. Eu nunca tinha visto alguém fazer algo como aquilo antes.

— Que crueldade… — Não pude deixar de falar.

Carlos virou para mim e tomou mais um gole da bebida. Ele tinha um olhar de desinteressado quando perguntou:

— Já sabemos o que foi levado?

— Isso que é estranho. Ainda não foi relatado nenhum item que esteja faltando. A única sala do laboratório que foi atacada foi essa. Todos os itens e equipamentos catalogados estão aqui e não há indícios de que arquivos do servidor foram coletados. É como se… — Hesitei um pouco.

— Como se eles viessem apenas para criar essa cena?

— Hm! —  Concordei com ele.

O Décimo Primeiro Laboratório não tinha dados importantes e suas pesquisas eram consideradas de baixa prioridade. As pesquisas, em sua maioria, eram no campo médico de grande consumo para tratamento em campo de batalha, ou seja, pílulas para aumentar a adrenalina, pílulas para aumentar a taxa de recuperação de mana e coisas assim.

Um laboratório como esse não era muito visado, ainda mais perto dos outros que nossa organização possui. Se alguém veio até esse lugar e não levou nada consigo, então, isso significa que veio para matar ou sequestrar uma pessoa específica.

— Ou então vieram procurando alguém. O que acha? — Eu falei depois de pensar um pouco.

— Antes de nos precipitarmos, vamos a sala da segurança. Eu preciso ver a imagem daquela câmera. — Carlos estava olhando para uma câmera que estava no canto da sala do laboratório.

— A sala da segurança? Todas as gravações foram apagadas, inclusive as do servidor externo. Não temos nenhuma imagem.

— Eu não quero as gravações, eu quero o que ela está gravando agora.

Logo depois Carlos tinha tomado outro gole da bebida e saiu da sala. Eu ainda não estava entendendo o que ele queria ver, mas, o segui.

Meu trabalho é ajudá-lo nas investigações e, como amiga dele, eu preciso ajudá-lo a superar a morte da Thamires.

Nós andamos por alguns minutos. Devido ao ataque, o lugar estava quase vazio, sendo que apenas pessoas ligadas à investigação andavam pelos corredores. Passamos por vários corredores desertos, mas, quando nos aproximamos da sala da segurança, nos deparamos com rastros de sangue no chão. Alguém tinha sido arrastado pelo corredor e foi levado para a sala da segurança.

Quando chegamos na sala, a porta tinha sido arrombada e mais três corpos estavam no chão. Pela roupa que usavam, eles deveriam ser alguns dos guardas do laboratório. Diferente dos outros, seus corpos não foram esquartejados, porém, eles tinham buracos por todo o corpo, como se tivessem sido perfurados por algum objeto pontudo.

— O que você espera encontrar olhando a câmera?

— As partes dos corpos não estavam espalhadas aleatoriamente no laboratório, foram arrumadas. — Depois de deixar a garrafa numa mesa Carlos começou a me contar enquanto digitava no teclado.

— Eles deixaram uma pista?

— Eu diria que deixaram uma mensagem. — Depois de responder, Carlos fixou o olhar na tela e me chamou. — Dá uma olhada nisso.

Eu fui para o lado dele e olhei a tela. Nela, estava mostrando a imagem da câmera dentro do laboratório. Pela imagem, dava para ver as partes dos corpos espalhadas por todo o lugar. Depois do impacto inicial, olhei para eles e comecei a entender sobre o que Carlos havia me falado.

Olhando pela visão da câmera, as partes dos corpos estavam posicionadas de um jeito que formava um símbolo. Essa era a mensagem que querem nos passar?

— Eu não conheço esse símbolo. — Eu falei para o Carlos. — Você o conhece?

O olhar do Carlos continuou fixo na tela por um tempo antes dele se virar para mim, ele voltou a pegar a garrafa e tomou mais um gole da bebida.

— Nenhuma das organizações que eu conheço usa um símbolo como esse.

— Será uma nova organização tentando ganhar nome?

— Pouco provável. Deve ser um recém média organização que não tem conhecimento sobre nós e atacou.

— Mas, eles não levaram nada, então, por que deixar esse símbolo? — Eu estava confusa e não conseguia entender o raciocínio do Carlos. — Eles queriam que fôssemos atrás deles?

— Sim. — Carlos bebeu mais um gole.

Meu olhar voltou para a tela e vi aquele símbolo novamente. A pessoa que o desenhou teve um mal gosto em fazê-lo usando partes dos corpos. Se não tivesse sido feito dessa maneira, o desenho seria uma imagem bonita. Aquele era um desenho de um belo pássaro...



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