Volume 1 – Arco 1
Capítulo 33: O meu sentimento
— Aff! Eu estou cansada!
Alicia reclamou quando, preguiçosamente, deixou o corpo cair em cima da mesa; era de manhã e estava na sala de aula.
— Foi muita maldade o que eles fizeram. Eu quase não dormi essa noite.
Os olhos da Xia estavam vermelhos. Sua aparência não estava muito melhor do que Alicia, mas, ela se manteve sentada na cadeira. O único que não estava diferente era Donavan; apesar de que sua aparência normal já era um pouco estranha.
O motivo deles parecerem tão cansados foi a tarefa que receberam do Yago. Eles tiveram que procurar as trezentas esferas, nadando naquele mar por onze horas sem parar. No começo, era fácil encontrar as esferas, mas, para as últimas, se tornou algo muito difícil. Cada uma das esferas tinha uma leve flutuação de energia mana dentro dela que era utilizada para eles encontrarem elas, porém, por essa flutuação ser muito fraca eles precisavam se concentrar muito para achá-las gastando muito de suas energias sem falar da utilizada para permanecerem naquele mar.
A energia usada para essas duas tarefas não era muito grande, mas, se manter nesse estado constantemente por onze horas seguidas se provou ser muito cansativo. Quando foram dormir, já era muito tarde. Eles tiveram poucas horas de sono antes de terem que se levantar para ir para a escola.
Agora, dentro da sala de aula eles estavam cansados e com os olhos vermelhos por causa da falta de sono. A tarefa que foi dada a eles era uma que precisava de resistência e quando eles pensaram que deveriam fazer isso de novo, ninguém podia culpá-los por suspirar.
— E você, Kiki, como foi?
— Eu? Yago me falou sobre o conceito e as leis da magia, depois, eu fiquei deitado na grama, tentando sentir a magia.
— Você só fez isso? — Alicia perguntou levantando as sobrancelhas.
— Foi. Eu fiquei quatro horas deitado.
— Aff! Que sorte foi a sua. — Alicia tinha um olhar perdido. — É mesmo, Kiki, eu queria te perguntar… você já tinha visto a Laila antes? Ela parece se dar muito bem com você.
— Hm? — Kishito estava pensando para responder — A primeira vez que a vi foi a alguns dias atrás. Agora, sobre nos darmos bem, eu não sei te explicar. Parece tão natural eu me dar bem com ela.
— Então, foi no dia que a Xia esteve na sua casa que você conheceu ela?
— Sim, foi nesse dia.
— Oh! Então a Xia já esteve lá em casa antes?
Kishito ouviu uma voz bastante fria depois que ele respondeu a Alicia. Ao ouvir a voz, uma gota de suor escorreu pela suas costas. Ele tinha um olhar temeroso quando se virou e viu uma garota o encarando. Aquela era Rika, que o encarava com um olhar frio.
Vendo o olhar da Rika, Kishito se virou para os outros parecendo pedir ajuda e nessa hora, viu o sorriso da Alicia.
“Ela fez isso de propósito? Sua…”
— Sim. Ela teve um problema e eu estava ajudando ela. — Kishito pensou rapidamente numa resposta com um sorriso estranho.
— Hm? — Rika olhou para ele fixamente por um tempo antes de mudar de assunto. — Eu to precisando comprar algumas coisas e queria que viesse comigo. Tudo bem nos encontrarmos depois das aulas?
— Eu não posso ir, Rika.
— Hã? Por que não?
— Porque hoje eu tenho treino.
— De novo? Você já não teve ontem?
— Eu to começando a aprender ainda e vou ter aula todo dia nesse mês.
Os olhos da Rika começaram a brilhar, ela parecia triste olhando pra ele quando disse com uma voz chorosa.
— Mas… mas a gente não passou nenhum momento juntos depois que eu voltei.
Aquelas palavras acertaram em cheio o coração do Kishito. Ele e a Rika ficaram vários meses separados e só se falavam pelo telefone. Rika tinha voltado a três dias mas ele não tinha ficado com ela por muito tempo.
Os dois sempre foram bastante próximos desde crianças, quase que inseparáveis. Por isso, eles acabaram criando uma relação onde um dependia bastante do outro. Mas nesses últimos meses, desde o aparecimento da Xia, Kishito, sem perceber, teve pequenas mudanças e o tempo longe da Rika tinha diminuído sua dependência dela. Já Rika, por outro lado, por ficar muito tempo longe dele, estava querendo um tempo com seu irmão.
— Me desculpe, Rika, mas hoje eu não posso ir com você. Que tal nós irmos outro dia?
— Não quero! — A resposta da Rika foi curta e decisiva estufando as bochechas.
— Não faça isso Rika. Isso é importante pra mim.
— Poxa, mas e eu? — Os olhos da Rika brilhavam ainda mais.
— Eu juro que vou recompensar. — Kishito fala se desculpando então ele junta as mãos e continua. — Que tal quando eu acabar, a gente faz algo a sua escolha?
— Pode ser qualquer coisa?
— Hm! Qualquer coisa que você quiser, é uma promessa.
Aquelas palavras foram simples e de coração, Kishito também queria passar um tempo com a Rika mas com os últimos acontecimentos ele sabia que teria cada vez menos tempo então fazer essa promessa também aliviava o coração dele.
— Certo, eu vou cobrar você por isso.
Rika se virou e saiu da sala, ela parecia um pouco melhor depois da promessa do Kishito.
— Aff! E ela conseguiu de novo. — Alicia comentou depois de suspirar.
— Hã?
Kishito não entendeu o comentário da Alicia e olhou para Xia. Quando ele viu o rosto da jovem, percebeu que Xia parecia concordar com Alicia e depois virou o rosto.
Apesar da Xia ter sido enganada na última vez, não era estúpida. Na Makuredan, todos falavam que ela sempre caia nas armadilhas criadas pelas palavras, mas, sua compreensão era maior do que uma pessoa comum. Porém, ela não estava rodeada de pessoas comuns. Os guerreiros da Makuredan não eram treinados só para lutar; também treinavam no uso das palavras.
Xia era boa para lutar, mas, uma das piores em usar as palavras. Estava acima das pessoas comuns, no entanto, não podia vencer contra alguém acostumado a criar armadilhas com as palavras e atuações. No entanto, ela estava atenta com a Rika dessa vez e percebeu o que ela estava fazendo.
— Que ‘hã’ o que? — Alicia falou um pouco irritada, porém, sem se levantar o corpo da mesa. — Preste mais atenção. Sua irmã acabou de te enganar e você fala ‘hã’. Se continuar desse jeito, você vai acabar falando o que não deve.
Foi apenas nesse momento que Kishito percebeu que foi enganado pela Rika para fazer o que ela queria. Agora, o que resta é saber o que ela quer fazer para enganá-lo de novo.
— Me desculpe, eu vou tomar cuidado.
Logo depois, o sinal tocou e o professor entrou na sala. Kishito sentou na cadeira perto da janela não se importando muito com o que a Rika acabou de fazer. Ele a conhecia muito bem e não se importava com esses esquemas que fazia.
Era algo bastante comum Rika fazer esses esquemas com ele, nos quais sempre terminavam do mesmo jeito; os dois passando um tempo lado a lado. Ela nunca o forçou a fazer algo que não queria, pois, no final, era sempre algo que faziam juntos.
As palavras que Alicia disse foi para alertá-lo quando estiver interagindo com outras pessoas para não se perder na conversa e acabar falando o que não devia. Kishito não quis refutar, mas, a única pessoa que ele baixava a guarda era pra Rika; para todas as outras pessoas ele era bastante atento com o que fala.
Todo mundo tem segredos e Kishito não era alguém diferente. Tinha coisas que não queria que ninguém descobrisse e ele também guardava segredos de outras pessoas que não poderia ser dito. Quando se precisa guardar segredos dos quais qualquer frase errada poderia revelar tudo, necessitava saber bem o que falar. Ele sabia muito bem disso e por isso ficava sempre atento ao que dizia.
No entanto, nesse momento, Kishito não estava preocupado com segredos e sim em como se conectar com a magia.
Depois de um momento assistindo a aula, Kishito não prestava mais atenção e estava olhando pela janela para a árvore de cerejeira mais uma vez. Ele pensava sobre o que Yago lhe falou sobre se conectar a magia.
A magia está em todo o lugar. Ela está em cada coisa que você enxerga e também nas que não consegue ver. Somente aqueles que se conectaram com a magia podem vê-la e senti-la.
Quando Kishito estava deitado dentro da Formação de Distorção Espacial, Yago tinha lhe falado que, para se conectar com a magia, precisava encontrar um sentimento em comum com a mesma. O jovem precisava encontrar qual era o sentimento mais forte que existia dentro dele. E só então, ao partir desse ponto, apresentar tal sensação a algo da natureza que representa o que há dentro de si.
Enquanto pensava, Kishito ficou várias horas deitado na grama dentro da Formação de Distorção Espacial, tentando encontrar seu sentimento mais forte; porém, não encontrou nada. Uma vez que encontrasse sua convicção, começaria a sentir a magia e melhorando passo a passo.
No momento, cada pensamento de Kishito vagueava enquanto tentava encontrar a resposta.
“Qual é meu sentimento mais forte? Qual é o sentimento que me faz seguir em frente?”.