A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Eduardo Jesus


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 36: Um novo jeito (2)

— O que você quer dizer com uma ação? — A confusão estava expressada no rosto do Kishito; ninguém antes tinha lhe falado sobre uma ação.

A garota parecia bastante eufórica para respondê-lo e seus lábios se movimentavam rapidamente enquanto palavra após palavra saia tão rápido quanto podia.

— Para poder se conectar a magia usando apenas um sentimento, você precisaria de um sentimento puro, mas, esse tipo de sentimento é encontrado normalmente em crianças, por que eles desconhecem o mundo. No momento que uma pessoa envelhece, ela não consegue se conectar ao sentimento puro e precisa de uma ação para isso.

— … — Kishito ouvia atentamente a garota.

— A ação se torna uma ligação com o sentimento que te possibilita se conectar a magia. Esse tipo de método é utilizado para aqueles que começam tarde a se conectar a magia. Sem falar que a ligação com a magia é diferente do que aqueles que usam apenas o sentimento puro, pois tem um pequeno atraso na hora da circulação de mana.

Quando terminou de falar, a garota soltou a respiração. Ela tinha falado muito em tão pouco tempo que nem ao menos estava respirando direito. A jovem se acalmou e deixou a respiração voltar ao normal enquanto Kishito a esperava.

— E como eu faço isso?

— Não há muita diferença do que você já estava fazendo, — a garota disse franzindo — apenas que, ao invés de encontrar um sentimento, você vai encontrar a ação. Todas as pessoas têm pelo menos um momento na vida onde algo aconteceu que definiu quem ela é.

A garota apontou para o peito do Kishito e continuou:

— Pense nesse momento e tente se lembrar de tudo que aconteceu, de tudo que levou a ele. Quando se lembrar, no entanto, não pense em como se sentiu. Você não é mais uma criança que age pelo seu sentimento. — A mão da garota se levantou quando ela apontou para a testa do Kishito. — Naquele momento, você agiu. Mesmo que contra seus sentimentos você agiu. Ou, talvez, era aquilo que você desejava fazer. Bem, isso não importa tanto. Você precisa se lembrar do que o levou a agir, então, se agarre a isso para se conectar a magia.

“O modo que agi? Me lembrar o que me levou a agir?” As palavras da garota fizeram com que Kishito tivesse um novo modo de olhar em como se conectar a magia. Ele pensou que achar uma ação seria bem mais simples do que encontrar um sentimento.

Agir é algo que não importa o sentimento, pois, quando você agir em um momento crítico, a última coisa que alguém faz é ‘sentir’. Somente quando tudo acaba, a pessoa pensa em tudo que sentiu durante aquele momento.

— Hidori-sama.

Enquanto Kishito pensava sobre o que aprendeu com a garota, ouviu alguém chamando. Quando se virou, viu um garoto, que também tinha um cabelo vermelho se aproximando deles. Esse jovem tinha um olhar orgulhoso e seus olhos negros brilhavam. Usando o mesmo uniforme que o seu e andando a passos rápidos. A garota tinha um olhar tranquilo vendo o garoto se aproximar.

— Sim, Hiiro-kun. — A garota chamada Hidori respondeu ao garoto chamado de Hiiro com um sorriso.

Hiiro se aproximou deles em pouco tempo. Seu olhar passou por Kishito, porém, não permaneceu por muito tempo e logo voltou a olhar para a garota.

— Hidori-sama, o avô está lhe chamando. Ele está querendo saber sobre as preparações.

Quando o garoto terminou de falar, o sorriso que estava no rosto da Hidori sumiu e toda aquela animação desapareceu num instante. Essas preparações a qual o garoto chamado Hiiro comentou não pareciam ser algo do agrado dela.

— Sim, vamos. — Hidori disse enquanto começou a caminhar ao lado de Hiiro indo embora.

Sob seu olhar, os dois estavam se afastando indo em direção a escola. Um garoto e uma garota com cabelos vermelhos andavam lado a lado enquanto Kishito os observava. Ele estava para voltar o seu olhar para a árvore quando a garota parou e o olhou.

— Eu espero não te encontrar novamente neste lugar. — Hidori disse sorrindo e se virou para continuar a andar.

Kishito não achou que as palavras da garota eram rudes, ao contrário, ele as achou como um modo dela lhe dar boa sorte em se conectar a magia. Se ele não aparecesse de novo perto da árvore significava que conseguiu se conectar a magia e não estaria mais perdido.

“Mas, como ela sabia sobre isso?”

Esse pensamento passou pela mente do Kishito, no entanto, ele achou melhor não se concentrar nisso e sim em colocar em prática o que a garota lhe disse sobre a ação.

O que garota lhe apresentou foi um novo jeito de se conectar a magia. Ela também falou que esse método tem uma leve deficiência, que seria o atraso na circulação de mana. Nesses dias que tentou encontrar o sentimento, Kishito já pensava que não o encontraria. Agora, mesmo que com esse método possa ser prejudicial a ele no futuro, seria o único jeito dele conseguir se conectar a magia.

Encontrar o sentimento era algo que ele não poderia fazer, então, ele começou a pensar em sua vida e procurar a ação que o faria se conectar a magia.

Os olhos do Kishito estavam desfocados, pareciam perdidos virados em direção a Árvore da Luz Escarlate. Várias imagens de seu passado passavam rapidamente pela sua mente. O tronco da Árvore da Luz Escarlate emitiu um leve brilho escarlate que foi percebida por Kishito.

Seus olhos antes desfocados voltaram a ter um brilho e as imagens em sua mente pararam. Olhando para a árvore que brilhava, uma memória parou na sua mente e uma expressão séria apareceu no em seu rosto.

Aquela memória trazia consigo o momento onde, para Kishito, foi o acontecimento mais importante da vida. Foi a partir desse momento que tudo mudou.

Uma e outra vez a memória foi repetida. A cada vez que ela era repassada na mente dele, mais esclarecedor se tornava. A cada repetição, o barulho se tornava mais alto, os gritos carregavam mais sofrimento, a tristeza aumentava e a dor durava mais.

Uma memória que trazia tantos sentimentos juntos, a partir dessa memória foi que ele percebeu que basear sua magia num sentimento era impossível. Tendo passado todos esses dias procurando um jeito de se conectar a magia foi em vão. No entanto, nesse momento, depois de conversar com a garota, ele teve a oportunidade de fazer isso.

As imagens passaram mais e mais rápido, até o momento que se tornaram apenas um borrão. Nesse instante, Kishito percebeu um pequeno ponto preto no tronco da Árvore da Luz Escarlate. Esse ponto preto se movia pelo tronco e era bastante chamativa em meio aquele brilho vermelho.

Kishito se concentrou naquele ponto preto e percebeu que era uma pequena formiga que andava no tronco. A formiga andava sozinha, alheio a tudo que acontecia com Kishito. Suas pernas se movimentavam rapidamente enquanto andava.

Observando essa formiga, Kishito teve um esclarecimento sobre tudo que ele viu naquela memória e levantou sua mão até a árvore. Ele esticou seu dedo indicador em direção a formiga. Vários sentimentos e imagens passaram por sua mente enquanto seu dedo chegava cada vez mais perto.

Em meio a tudo aquilo, seu dedo chegou até ela e, com um movimento rápido, o pressionou em cima da formiga, a esmagando entre seu dedo e o tronco. O som da formiga sendo esmagada não era alto mas, poderia ser ouvido por ele claramente.

Quando aquele som chegou aos seus ouvidos, dois símbolos se formaram bem a frente de seus olhos. Aqueles dois símbolos formavam uma palavra que, para ele, carregava todo um significado para sua vida.

Tudo que ele passou, tudo o que ele fez e agora tudo que ele irá fazer no futuro seria baseado nessa única palavra que agora estava em sua frente. Os lábios do Kishito arquearam em um sorriso torcido; seus olhos brilhavam enquanto contemplava a palavra que começou a brilhar.

Naquele momento, o rosto do Kishito se tornou sério novamente quando percebeu um pequena luz circulando dentro do seu corpo. A luz era do tamanho de um grão de arroz, porém, parecia vivida e piscava como se estivesse feliz de ter sido encontrada por ele.

Concentrando-se nessa luz, Kishito a seguiu enquanto ela ia em direção ao seu peito. Ela piscava e piscava até chegar perto do peito. No instante que ela chegou lá, Kishito percebeu que várias outras pequenas luzes começaram a piscar e, tendo como ponto de partida o seu peito, se espalharam por todo o corpo.

Sob esse estranho acontecimento, em um instante, haviam pequenas luzes piscando por todo o seu corpo.

Kishito recuou a mão da Árvore da Luz Escarlate e a olhou. Um brilho se concentrou em sua palma e um pequeno fogo apareceu do mesmo tamanho daquelas luzes em seu corpo. Mas ele não sentia nenhum calor vindo desse fogo enquanto permanecia acesa em sua palma.

O olhar do Kishito permaneceu nessa pequena chama por muito tempo antes de finalmente perceber o que havia acontecido. Aquelas pequenas luzes que viu em seu corpo eram a mana circulando; depois de vários dias ele tinha acabado de se conectar a magia.

A felicidade estava estampada em seu rosto quando fechou as mãos e extinguiu a pequena chama que estava em sua palma. Sob essa alegria, murmurou:

— Eu consegui!



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