A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Zezin


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 19: Terceiro Complexo da Estrela Solitária

O interior do prédio não era melhor que seu exterior. As paredes tinham várias rachaduras, os cantos estavam pretos e no teto lâmpadas ainda piscavam em seus últimos momentos de funcionamento. Ainda era de tarde, mas o prédio tinha um aspecto sombrio.

As pessoas que viam esse prédio pelo lado de fora apenas tinham medo, e contavam histórias sobre ele, mas para a mulher era diferente. Ela sabia que prédio era esse, o qual era chamado de Terceiro Complexo da Estrela Solitária. Este complexo era uma instalação utilizada para doutrinar infratores que poderiam ser recuperados, porém também existiam pessoas que a usavam para treinar suas mentes.

Esse complexo era um prédio de dez andares com oito apartamentos em cada andar tendo um total de oitenta apartamentos. Cada apartamento era simples com um quarto, um banheiro e uma cozinha. Nas paredes foram gravadas várias formações, entre elas existia uma para bloquear o som e uma para impedir a concentração de mana.

O infrator quando chegava era jogado dentro do apartamentos com provisões para durar o tempo que ele ia ficar, podendo variar em dias, meses ou até anos conforme sua infração. Dentro dos apartamentos ficavam isolados de tudo do exterior, não havia ninguém para conversar, nenhum aparelho funcionava, e tudo que eles têm é o silêncio. A única diferença entre os infratores e os que vem para treinar é que o segundo escolhe quanto tempo vai ficar ali dentro.

Andando pelo térreo do prédio ela viu uma única mulher que estava sentada numa cadeira, dormindo com a cabeça curvada para trás. Ela era uma das guardiãs da instalação. Apesar do local ser importante e prender pessoas poderosas, apenas uma pessoa por vez era responsável por esse lugar.

A mulher chegou perto da outra que estava dormindo, e a cutucou no ombro para acordá-la.

— Hmm!... Ainda tá cedo... Me deixa dormir mais um pouco! — A mulher dormindo resmungou afastando a mão que a cutucava.

Vendo a reação da mulher dormindo, a outra abriu sua bolsa e tirou uma pequena caixa de papelão toda branca, balançando a caixa em frente a ela começou a dizer como se estivesse decepcionada:

— Que pena que minha amiga Lorena está dormindo e não pode apreciar esse belo bolo de chocolate. — Depois dessas palavras ela encarava a reação da Lorena que estava dormindo.

Num instante Lorena acordou, e deu um pulo para frente pegando a caixa das mãos da mulher. Enquanto abria a caixa ela falava:

— Já estou acordada, então, vamos apreciá-lo juntas.

Lorena era uma mulher de aparência madura. Ela tinha a pele negra e lisa que demonstrava os cuidados com seu corpo definido. Seu cabelo era trançado amarrado com uma fita num formato de rabo de cavalo. Os olhos castanhos dela tinham um brilho caloroso.

— Você não tem jeito Lorena. Eles vão brigar contigo de novo se te pegarem dormindo.

— Sem problemas. Neste lugar não acontece nada mesmo. É bom que aí eles me mudam de lugar. Você é a única que veio aqui nos últimos meses. — Lorena acabou de abrir a caixa e o colocou em cima de um banquinho. — Eu vou pegar uns talheres pra gente.

— Não precisa pegar pra mim. Hoje eu vim oficialmente.

— Hum? Vão liberar alguém mais cedo? — Lorena mostrava estar em dúvida sobre isso.

— Eu vim buscar o Carlos.

— De novo? Quantas vezes você já tentou levá-lo embora Letícia?

— Muitas, porém não vou desistir. Dessa vez eu consegui um bom acordo e tenho certeza que ele vai vir comigo. — Letícia, a mulher com roupa de motoqueiro, estava animada.

— Então, tá né. — Lorena não parecia tão certa como Letícia, ela entrou numa sala e os barulhos de metais se chocando foram escutados, mas, de repente, parou e, sua voz foi ouvida no lado de fora. — Isso tem algo a ver com o incidente do Décimo Primeiro Laboratório?

— Você já sabe também?

— E quem não sabe? — Lorena saiu da sala com um garfo. — Alguém entrou no Laboratório e fez uma grande bagunça. Se ele queria atenção, conseguiu. Imagino como aqueles velhotes estão. — Um sorriso apareceu no rosto da Lorena.

— Nem me fale. Aquele lugar tá um inferno. Eles estão tentando descobrir como conseguiram entrar no laboratório.

— Eles já têm alguma pista?

— É por isso que tô aqui. Eu consegui pegar esse caso para o Carlos. Mas... — O rosto da Letícia se mostrou um pouco infeliz quando ela parou.

Lorena percebeu a mudança na Letícia e achou melhor terminar a conversa por ali.

— Já que você está ocupada hoje, é melhor continuarmos a conversa outro dia.

— É… É melhor. Então eu vou subindo. Outro dia te trago mais doces.

Letícia andou em direção à escada e começou a subir. Ela ainda ouviu Lorena falando com ela:

— Não se esquece de mim quando ele ir embora tá!

— Eu não vou.

Letícia subiu seis andares de escadas. A instalação era um prédio importante, no entanto não tinha elevador, então subir pela escada era o único jeito. Apesar de não ser muito desgastante para ela, ainda sim era uma tarefa chata de se fazer.

Depois de dez minutos ela chegou ao sexto andar.

Chegando ao corredor do sexto andar, a aparência ainda continuava a mesma com rachaduras e luzes piscando. Havia poucas pessoas que sabiam o motivo deste lugar ser assim. Teve um momento, em uma outra visita, durante uma conversa Lorena lhe explicou sobre o prédio.

Ela tinha lhe falado que devido a cada apartamento do prédio ter várias formações com utilidades diferentes, a mana ao redor entrava em conflito entre as formações causando o deterioramento do prédio. O Terceiro Complexo recebia muita manutenção, mas estava sempre com esse aspecto decaído.

Os passos que antes eram rápidos diminuíram quando ela viu uma pessoa parada ao lado de uma porta. Era um homem que estava encostado na parede e a olhava se aproximar. O homem tinha uma pele clara que estava bastante pálida, sua cabeça não tinha cabelo e quando ele a olhou, Letícia viu o cansaço expressado por seus olhos. Ele era alto e vestia uma calça jeans e uma camisa social azul, com um corpo bastante magro ele não parecia estar com uma saúde boa.

— Você veio visitá-lo? — Letícia parou perto do homem e foi a primeira a falar:

— Eu vim tentar falar com ele, entretanto parece que ainda não é a hora. — A voz do homem era rouca e falhava, enquanto falava.

— Dê mais tempo a ele. Ele vai entender um dia.

O rosto triste se misturava com a aparência enferma do homem. Os dois ficaram um tempo sem falar nada enquanto os olhares deles indicavam que aquele era um assunto delicado.

— Eu soube que você pegou o caso do Décimo Primeiro Laboratório. Vendo que você veio até aqui, então, você está querendo levá-lo de volta ao trabalho? — O homem mudou de assunto enquanto perguntava para Letícia.

— Não há muito que eu possa fazer por ele, e ele já está assim por muito tempo. Fazê-lo se ocupar com algo pode ajudar.

— Você está certa. Espero que dê certo.

O homem deu um leve sorriso e se afastou da parede com passos leves ele começou a andar em direção à porta das escadas.

— Thiago!

O homem parou em frente à porta quando foi chamado. Ele se virou e viu Letícia que tinha um brilho em seus olhos devido à tristeza que sentia.

— Co-como está seu corpo? — Essas palavras quase não saíram da boca da Letícia.

— Eu estou numa batalha que não posso vencer. Olhando para meu corpo você deve imaginar como ele está. Mas não precisa fazer essa cara eu ainda vou perturbar vocês por muitos anos. — O homem chamado Thiago, deu um leve sorriso, e abrindo à porta da escada  começou a descer. A medida que a porta se fechava ele ainda disse mais algumas palavras. — Eu acredito que ele precisa mais de você do que a mim.

Após Thiago ir embora, Letícia passou a mão em seu rosto e impediu que as lágrimas corressem pelo seu rosto. Ela respirou profundamente e encarou a porta na sua frente. Sua mão foi até a maçaneta e a abriu totalmente.



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