Volume 1 – Arco 1

Capítulo 6: Reunião Entre Criados

Três semanas se passaram.

Recentemente, tenho comido com os criados.

Bem, na verdade, foi minha madrasta quem ordenou — ela deveria pensar que isso me insultava de alguma forma. — Contudo, naturalmente, essa ordem veio como uma bênção.

De acordo com Giresse, os ingredientes que eu possuía eram todos de alta qualidade e, claro, além de Dom estar os cozinhando, eu tinha sal e pimenta.

Sendo bem honesto, só agora, desde que reencarnei, que consegui gostar das minhas refeições.

— Grey-sama, isso é delicioso~!

Enquanto mordia alegremente a carne, Satella também parecia apreciar. Já os outros criados apenas assentiram vigorosamente com a cabeça com seu comentário.

— Sim, se a carne é de alta qualidade, basta salpicar sal e pimenta por cima para que se torne ainda mais deliciosa — respondi.

— Jovem mestre, a qualidade dela está em outro nível, parece que foi pega por um caçador experiente! — declarou Dom enquanto bebia sopa.

— Bem, minhas habilidades com o arco melhoraram.

— Quem me dera poder deixar meus pais comer este tipo de comida.

Com as palavras repentinas de outro criado, um clima triste caiu sobre o rosto das figuras presentes.

Todos ali tinham plena consciência de que o território Millard era pobre — sua população nem ao menos praticava a criação de animais e os produtos que obtinham eram limitados. — Já em relação à refeição, além de muitas vezes serem acompanhadas por plantas silvestres e qualquer carne encontrada nas montanhas, o centeio sempre atuou como um ingrediente principal.

Resumindo, eles viviam um estilo de vida onde comiam o que lhes era concebido; seja saboroso ou não.

— Bem, se você não tiver nenhum sistema agrícola instalado, os estilos de vida deles não irão melhorar — falei.

— Sistemas agrícolas? — perguntou o criado.

— Olha, vocês não podem sempre confiar na caça e coleta. Em primeiro lugar, a caça de carne depende das habilidades do caçador. Já a coleta das plantas silvestres depende do conhecimento do coletor para distinguir as comestíveis das não-comestíveis.

— Então, o que você proporia, jovem mestre? — perguntou Sebastian; um ato raro para alguém tão calado.

— Em vez disso, deixe-me perguntar: Por que vocês acham que este território é pobre?

— Não é porque suas terras são inférteis? — respondeu outro criado.

— Exatamente. O clima também é seco por aqui, portanto a taxa de retenção de água no solo é baixa — expliquei.

— Então não há nada que possamos fazer quanto a isso…

— Isso não é verdade. Se a terra é infertil, basta torná-la fértil. Primeiro, você precisaria comprar o gado. Depois, plantar um pasto cheio de trevos e outras plantas.

— O que são trevos?

— São plantas semelhantes à soja.

Oh...

— Essa planta tem em suas raízes bactérias que absorvem grandes quantidades de nitrogênio para sintetizar proteínas; algo que ajuda o solo. Elas também são cheias de nutrientes, de modo que você pode engordar seu gado as usando.

Neste momento, estou falando sobre o método Norfolk de fertilizar terras.

Ele era um método onde três campos seriam utilizados: No primeiro, eram cultivadas leguminosas que fixam o nitrogênio no solo. Já no segundo, na intenção de esgotar esse nitrogênio, trigo de inverno ou centeio era usado. E no terceiro...

Notei que todos me olhavam fixamente; Satella até parecia um pouco entediada.

"Acho que exagerei."

Era provável que eles não tivessem entendido — até porque este conhecimento só surgiu no futuro, depois que milhões de pessoas morreram de fome — eu deveria mudar de assunto.

— Grey-sama, por favor, continue — declarou o velho mordomo.

A-Ah, certo.

Ao me deparar com as palavras que ignoravam tudo o que eu havia acabado de pensar, acenei com a cabeça e continuei:

— Já os excrementos produzidos pelo gado podem ser usados como fertilizante; eles aumentariam a produção e amadureceria os trevos — acrescentei. — Com todos esses passos feitos, o resto se tornaria muito mais fácil. Seria até possível cultivar arroz, trigo e outras safras… Claro, quando o inverno estivesse chegando, o ideal seria começar a estocar. As batatas seriam uma boa escolha para isso, já que duram por muito tempo e têm um alto rendimento em proporção à quantidade de solo usado.

— O-Onde você aprendeu tudo isso, jovem mestre? — indagou Sebastian boquiaberto.

— Li em um livro que comprei daquele comerciante que raramente aparece por aqui. 

Era mentira — já faz muito tempo desde que tenho conhecimento sobre. — E basicamente, o método Norfolk ainda não foi inventado neste mundo. 

— Entendo... 

Logo então decidi mudar de assunto e voltar para a comida.

— Enfim, vamos comer antes que esfrie.



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