Volume 1 – Arco 1
Capítulo 5: Comissão e Discussão
De volta para Straheim, Giresse Carreras foi de encontro com um dos melhores ferreiros artesãos da cidade.
— Gi-Giresse... Onde diabos você conseguiu isso!!? — gritou Leroy, o pequeno indivíduo barbudo, enquanto agarrava o comerciante pelo colarinho.
— Um cliente meu de oito anos desenhou.
Giresse sabia que, se mentisse para aquele cara, definitivamente viria a se arrepender depois. O barbudo tinha um jeito de farejar mentiras.
Por outro lado, por apenas um momento, ele parecia genuinamente surpreso.
— Impossível! As coisas gravadas nesta planta são semelhantes àquelas dos documentos achados nas ruínas antigas.
— Oh...
Mesmo que tivesse sido instruído passo a passo por Grey antes, Giresse acabou não entendendo muita coisa. Na verdade, ele apenas compreendeu a parte onde as teorias desenhadas naquela planta, além de criar um aparelho desconhecido, dependiam de energia natural.
— Olha, essa é a verdade. Acredite se quiser — declarou o comerciante.
O ferreiro artesão, enquanto mantinha um olhar sério sobre a planta de projeto, arfava continuamente.
— Tra-Traga-o aqui...
— Hã!?
— Traga-o agora mesmo! Ele vai se encontrar comigo como pagamento. Até lá, não vou aceitar uma única moeda de ouro! — esbravejou Leroy.
"Bem... isso aí é complicado…"
Uma vez que a pequena figura barbuda ficava assim, não havia maneira de combater sua teimosia. Logo, a única saída era...
— Certo, certo. No entanto, ele ainda tem alguns assuntos urgentes para resolver... Que tal isso: O que você me diz sobre receber o pagamento após a finalização da comissão?
Não era uma proposta ruim, ambos já se conheciam o suficiente para saber que compririam suas palavras — e claro, além disso, para a criação da Bomba Manual, seria necessário algum tempo. — Portanto, uma vez que fosse concluída, Giresse poderia entregá-la à Grey e fazê-lo vir para Straheim. Já sobre a condessa…
"Ela parece ser gananciosa. Aposto que se eu der algum dinheiro e falar que quero que Grey me acompanhe em minhas viagens, aprovará."
O ferreiro artesão acenou com a cabeça.
— Muito bem. Quando estiver feita, avisarei.
— E, por favor, mantenha isso em segredo.
Com tudo isso concluído, o único problema futuro que restaria seria a questão de quem iria patentear a bomba. Se tal aparelho funcionasse como seu criador havia explicado, certamente traria uma grande mudança para o mundo.
"Já posso ver uma pilha de ordens vindas de todo o império, não, do mundo inteiro."
Giresse, como um comerciante experiente, sabia muito bem do lucro que os esperava. Contudo, do mesmo modo dele, outros comerciantes espertinhos de sua guilda certamente estariam de olho; seria um enorme vacilo caso soubessem sobre aquela planta de projeto.
— Eu não sou tolo! — declarou Leroy, ao devolver um olhar furioso.
Abalado, o comerciante abanou suas mãos em defesa.
— E-Eu sei. Pedi para fazer isto justamente por confiar em você.
— Então tudo certo — falou o pequeno barbudo, enquanto, com a planta em mãos, voltava para sua oficina.
◇◆◇◆◇
Um belo jovem de cabelo loiro olhava fixamente para um pergaminho no qual um comerciante havia transcrito e lhe entregado.
— Você está me dizendo que uma criança de oito anos de idade desenhou isso!?
Seu rosto geralmente calmo, conhecido por ser uma máscara de ferro, estava distorcido em choque.
Este era Rainer Owenheim, o líder da Filial de Comércio de Straheim. Um dos poucos que lidavam com dinheiro em todo o mundo.
— Sim. Acabei de fechar a comissão com um amigo ferreiro meu. Ele deve entrar em contato comigo quando terminar — disse Giresse.
— Quanto a guilda receberá? — perguntou Rainer.
— 30%. Entretanto, se você aceitar algumas condições, não me importo de aumentar isso para 45%.
— Prossiga.
— Não publique o nome do inventor: Grey Millard.
— Você sabe que é obrigatório listarmos os nomes dos inventores em nosso livro de patentes, certo?
— Sim. Eu não me importo caso faça isso depois que ele completar 13 anos. No entanto, até lá, gostaria que a guilda cuidasse dessas coisas. Ninguém vai dar um tratamento especial para um garotinho — declarou Giresse.
Ambos ali sabiam que lidar com grandes quantias de dinheiro era o mesmo que pedir para que assaltantes, vigaristas e outros perigos lhe acompanhassem.
— Em casos especiais como este, precisamos da aprovação do escritório de patentes também. Você quer que eu obtenha isso?
— Sim.
— Hm, o que eu ganho?
— Direi que você, o líder da filial, comigo como intermediário, encomendou a produção da Bomba Manual de Grey Millard.
Como Rainer pretendia ser o próximo Líder da Guilda de Comerciantes, se ele aceitasse aqueles termos, uma enorme quantidade de dinheiro fluiria. Logo, com essa conquista em seu currículo, as chances de seu objetivo se tornar realidade iriam disparar.
— O que mais? — indagou Rainer.
— Grey Millard, o inventor, receberia 50% dos royalties. Eu, como intermediário, receberia 5%, já a guilda receberia 45%. Como isso soa para você?
— Honra para mim e lucro para você… Giresse você é mais astuto do que eu pensava. Está bem, estou dentro.
— Ótimo.
Logo, o líder da filial espalhou a planta de projeto sobre a mesa e disse: — Agora, vamos aos detalhes.
◇◆◇◆◇
Dois dias depois, na presença dos executivos da Guilda de Comerciantes, o pequeno ferreiro artesão montou a Bomba Manual em sua oficina.
Era hora de testar.
— Vamos começar — declarou Leroy, enquanto, com um simples movimento de cabo, fez uma rajada de água sair de um tubo fino.
Os executivos levantaram suas vozes em admiração e aplaudiram em uníssono.
— Simplesmente incrível. É uma revolução na maneira como coletamos água, Giresse-kun — elogiou Rainer, com um sorriso refrescante. — A Guilda de Comerciantes certamente vai lucrar muito com isso.
— Obrigado.
— Parabéns. E sobre manter o nome do criador em segredo? — indagou Leroy ao se aproximar da dupla.
— Não se preocupe, ele não sairá desta sala.
O escritório de patentes da Guilda de Comerciantes possuía membros bastante teimosos e inflexíveis; eles não tomariam nenhuma decisão precipitada só porque o lucro era alto. No entanto, Rainer foi capaz de fazer tudo ocorrer sem proble—
— Lembre-se de manter sua promessa! — gritou animadamente Leroy.
— Claro. Faça dois conjuntos completos o mais rápido possível. Eu com certeza vou trazê-lo para Straheim — respondeu Giresse.
— Certo!
Terminando sua vistoria na oficina, o comerciante partiu para o mercado a fim de reunir os ingredientes que Grey havia requisitado.