Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: Invenção Revolucionária

Num piscar de olhos, 4 meses se passaram. 

Em meio a esse tempo, enquanto explorava a Floresta Anciã, coloquei todo o meu empenho na coleta de ingredientes e materiais, como as Pedras Mágicas. Porém, claro, eu tinha plena consciência dos meus limites, logo, não fui muito a fundo.

Já em relação a novos feitiços, acabei não fazendo tanto progresso quanto esperava; havia muitos que exigiam materiais raros, como Pedras de Fogo e Vento. 

Por outro lado, fui capaz de elevar os meus atributos até chegar no rank médio em todos os elementos mágicos.


Turbilhão Cortante

Rank: Alto — Mestria: Dominada


Descrição:

Dentro de uma Distância Fixa, Manipulando e Circundando o Vento ao redor, crie um Redemoinho Afiado.


Cântico: 

Revogado.


Os ingredientes necessários para aprender este feitiço foram 100 Pedras Mágicas de rank G-, 10 Pedras de Vento e 10 Chifres Ventosos — os chifres vieram de um monstro chamado "Cavalo de Vento", a maioria dos seus atributos eram G+ ou até melhores. — Esta magia me permitia destroçar qualquer coisa em uma certa distância, como um liquidificador de ar ambulante. Depois que a dominei, pude reduzir em muito o tempo de caça.

A seguir, os meus atributos:


Grey Millard Raça: @¿$?#

Título: Monstro Intelectual


Atributos:

HP: F (22/100%) — MP: E- (31/100%)

Força: F (29/100%) — Resistência: F- (90/100%) — Agilidade: F+ (3/100%)

Magia: E- (94/100%) — Resistência Mágica: F (2/100%)

Sorte: F (90/100%) — Taxa de Drops: F+ (10/100%)

Sabedoria: ΛΦΨ — Potencial: ΛΦΨ


Devido ao fato de eu caçar mais usando feitiços que habilidades físicas, os meus atributos de Magia e MP cresceram muito comparados com o de Força. Mas, por acabar não sofrendo danos suficientes, o meu HP e Resistência permaneceram baixos.

Ah, sim, nesse meio tempo também acabei fazendo uma nova descoberta sobre o atributo "Taxa de Drops", que melhorou recentemente. Descobri que, ao matar uma Slime, havia possibilidade dela deixar cair uma Pedra de Água junto a outras Pedras Mágicas normais — assim, à medida que isso acontecia, a porcentagem do atributo subia — logo, um drop raro como este acabou se tornando muito mais comum.

Bem, devo tudo isso ao Cliff e às suas reclamações. Se não fosse por eles, eu não teria passado tanto tempo caçando ou pegando "emprestado" panelas e frigideiras velhas do armazém da mansão e feito a minha própria comida na Floresta Anciã.

Claro, nem tudo era perfeito; mesmo fazendo o meu próprio rango, acabei não encontrando sal e outros temperos na vila. Parecia haver uma grande escassez para qualquer coisa relativamente saborosa por lá...

Também não demorou muito para os responsáveis por Grey Millard, antigo proprietário deste corpo, retornarem da capital — parece que ambos foram convocados para a cerimônia de posse do novo imperador. — A primeira impressão que tive do seu pai, Rais, não foi nem negativa nem positiva, mas a de um homem de pouca vontade. Diferente da sua madrasta, Valéria, que era bem orgulhosa e assertiva.

Naturalmente, como não somos parentes de sangue, o meu tratamento consistia em desprezo constante; recebia o auge da frieza de um coração.

No entanto, tudo continuava indo de acordo com o plano.

— Parasitas deveriam se mostrar ao menos úteis. Se apresse, vá buscar água no poço — ordenou.

— Espere, madame, esse tipo de tarefa ainda é difícil para o jovem mestre Grey... — aconselhou o mordomo. 

— Está tudo bem, Sebastian. Obrigado — declarei e fui em direção à cozinha.

Eu podia entender o porquê daquele indivíduo estar preocupado. Com a minha altura atual, abaixar o balde do poço seria bem difícil, quem dirá puxá-lo de volta, cheio de água — seria necessário uma quantidade razoável de força e, obviamente, para uma criança conseguir isso, seria preciso ambas mãos — então aquela tarefa era bem perigosa, eu podia acabar caindo. 

Era provável também que a condessa já soubesse disso e só quisesse ver a minha cara de choro quando falhasse. 

Carregando um grande jarro, cheguei ao meu destino; logo comecei a enchê-lo com a água que coletava através do balde fixado no poço. 

Aquela tarefa, que deveria ser naturalmente difícil para uma criança, havia se tornado fácil. Tudo por conta dos meus atributos atuais.

Splashhh...!

Momentos depois, de maneira repentina, senti que alguém me observava por trás — e, assim que virei o meu rosto — acabei me deparando com a expressão de frustração da minha madrasta e os olhos bem abertos do mordomo.

— Madame… posso ajudá-lo?

Rangendo os dentes, a minha madrasta declarou de maneira invulgarmente forte: — Faça o que quiser!

Slam!

Em histeria, ela bateu a porta do quintal e voltou para dentro da mansão. 

"Que mulher irritante..."

— Jovem mestre, eu levo isso —  disse Sebastian enquanto pegava o grande jarro cheio d'água.

— Obrigado. Será de grande ajuda.

Com o meu atributo de força, eu acabaria nem suando fazendo uma tarefa como essa. Mas o meu corpo atual era o de uma criança; eu não estava afim de parecer anormal.

A partir de então, continuei com a minha tarefa de pegar água no poço enquanto o mordomo me ajudava. 

E bem, não me parecia certo não contribuir com nada em casa, portanto, fiz tudo sem reclamar.

◇◆◇◆◇

No dia seguinte.

— Se apresse! — gritou a minha madrasta com o seu jeito histérico único. 

Ela franzia as sobrancelhas à vista de uma garota de cabelo vermelho brilhante que tirava água do poço sem descanso. Não, dizer que ela estava tirando água não é muito correto; a jovem mal conseguia levantar o balde.

Aquela mulher devia ser uma sádica com um parafuso a menos, que não conseguia viver sem ver alguém sofrer pelo menos uma vez por dia — portanto, por saber que eu não falharia com nada que ordenasse fazer, ela optou escolher outra figura para aliviar o seu estresse. — Já a garota, Satella, tinha uma personalidade especialmente franca e costumava responder… no fim, sempre levando a pior.

— Grey tem apenas oito anos e já consegue. Não há como você que tem dez anos não conseguir! — esbravejou.

Que linha de pensamento ridícula. Fazer uma criança pegar água no poço para si mesma já não é normal, mas agora está degradando-a sem motivo…

"Porque ela, uma adulta, não faz isso?" pensei.

Satella tentava desesperadamente erguer o balde de água enquanto segurava as lágrimas.

Logo achei que já estava na hora de um adulto se apresentar — quando comecei a dar um passo à frente, uma mão agarrou o meu ombro por trás — me virei para ver Sebastian, com um rosto sombrio, parado.

— Eu irei. Se você fosse, teria o efeito oposto — declarou ele.

Era verdade; o fato de que o seu estresse tem origem em mim é imutável.

— Certo. 

O mordomo logo se aproximou da sádica com um parafuso a menos, esboçou um sorriso e se curvou com elegância. 

— Madame, o chá está pronto. Há também lanches que vieram da capital.

"Lanches da capital?"

Os Millards não eram tão ricos e, ainda assim, gastavam o seu dinheiro de forma tão frívola?

— Ótimo, obrigada — ela sorriu.

E, antes de voltar para a mansão, olhou para trás e gritou: — É melhor você tirar água direito!

Sério, ela era a pior.

Indo pelo que escutei dos outros criados, a sua ousadia vinha do fato de Aqua não estar aqui. Afinal, apesar da menina possuir um gênio inigualável, era tão íntegra que eu mal podia acreditar que fazia parte dessa família. O mesmo se repetia para Sebastian: Eu não fazia ideia do porque ele quis servir uma casa como essa; aposto que se não estivesse aqui, os Millards cairiam na pobreza em questão de segundos. 

Bem, honestamente, não me importo com o que acontece com o lixo da minha família, mas devo uma a Aqua; ficaria incomodado se não a ajudasse a se tornar uma dama apropriada.

— Troque comigo — declarei sem esperar pela resposta de Satella e comecei a erguer o balde do poço…

Juntos carregamos dois jarros cheios de água de volta para a cozinha.

— Chegamos com a água e alguns ingredientes.

— Meu deus! Obrigado como sempre, jovem mestre Grey.

Enquanto respondia, Dom aceitava alegremente os jarros; ele, além de ser um cara barbudo, era o único chef de cozinha da família.

Ah, hoje foi a vez da Satella. É ela quem você deveria agradecer.

— De novo!? Aquela bruxa maldita... — praguejou Dom enquanto uma grande veia aparecia em sua testa. 

"Como que esse cara não foi demitido...?"

Bem, na verdade, seria um erro; tal figura era a única capaz de fazer algo comestível a partir desses ingredientes meia boca. Ele era definitivamente habilidose e provavelmente nunca teria que se preocupar com comida…

Na verdade, também estou confuso quanto ao porquê de alguém do seu calibre trabalhar para uma família tão pobre.

— Você pode fazer algo pra ela comer? — perguntei ao cozinheiro.

— Claro que sim. Deixe comigo!

Ele me deu uma joinha e rapidamente começou a preparar a carne de pássaro que eu havia trazido.

— Obrigada...

Ao sair da cozinha, senti como se tivesse ouvido Satella dizer algo, mas apenas ignorei — desta vez, devido à perspicácia de Sebastian, nada de ruim aconteceu a ela — embora eu soubesse que a minha madrasta continuaria... 

Ao menos, felizmente, esta manhã o rumor de que certo homem ter vindo a Mirage circulava por aí…

◇◆◇◆◇

Na Floresta Anciã. 

— Incrível… — Giresse murmurou em surpresa enquanto me via empilhar diversas Pedras Mágicas, assim como outros materiais e ingredientes. Bem, mal ele sabia que aquilo era menos de 1% do que eu tinha armazenado. 

Claro, os comerciantes também tinham os seus próprios tipo de armazenador de itens; por isso eu não podia exagerar. 

— Tenho algumas coisas pra comprar desta vez. Ah, você conhece algum artesão habilidoso? — comecei.

Eu gostaria de comprar um pergaminho, uma boa quantidade de sal e um livro relacionado a grimórios sobre os quais eu havia perguntado antes.

O sal era por causa de eu não suportar mais refeições sem sabor — especialmente porque tenho muitos ingredientes agora. — Giresse já visitou muitos outros locais, por isso deveria ter acesso a ele.

— Certo. Deixe-me ver suas mercadorias logo — declarou enquanto começava a verificar meus itens.

Esperei por uns minutos, mas logo depois que vi o seu rosto escurecer, indaguei: — Há algum problema?

— Tudo está tão… fresco. É como se você tivesse acabado de recolher.

— Bem, é óbvio. Qualquer coisa dentro dos inventários é congelada no tempo.

Hahaha... — riu secamente. — Você é um comediante e tanto, Grey-kun¹.

Inclinei o meu pescoço para o lado em confusão.

 — Uh, isso não foi uma piada… é sério.

— … — O seu rosto se contraiu. 

Se agachando, Giresse agarrou a cabeça e balançou de um lado para o outro… assim que se recompôs, voltou a falar hesitantemente: — Vo-você está ciente do quanto esse tipo de habilidade é valiosa…?

— É bastante útil — admiti.

Eu já estava bastante familiarizado com o quão conveniente ela era — ainda assim, não tinha ideia da base científica da sua criação, e, por mais valiosa que seja, não era como se eu pudesse reproduzi-la. — Não havia muito valor em poderes ou habilidades que só eu pudesse usar.

Giresse apoiou o rosto nas mãos e deu um grande suspiro.

 — Sabe, nós, comerciantes, daríamos um braço e uma perna para apenas conseguir esse tipo de habilidade. Você é basicamente uma loja ambulante… Só a sua presença é suficiente para fazer o dinheiro fluir.

— Eu nunca pensei sobre isso dessa maneira.

— É sério. Ei, Grey-kun, cê não quer vir para Straheim?

— Agora?

— Bem, ouvi dos aldeões sobre sua situação... Você pode perguntar aos seus responsáveis também.

"Ir embora agora hein…"

Eu nunca considerei isso — Giresse também parecia pensar que a minha família se importava com a minha ida ou algo assim. — Bem, conhecendo a minha madrasta, ela aceitaria a proposta facilmente. Mas...

— No momento, tenho um motivo para não poder ir. Mas vou pensar sobre isso até você voltar dentro de quatro meses. Está tudo bem assim?

Não posso deixar Satella sozinha, independentemente de qual seja o nosso relacionamento: Um adulto nunca deve abandonar uma criança.

— Entendo... eu provavelmente estava apressando um pouco as coisas também. Ainda assim, você não deveria mofar em um lugar como este. Então, por favor, considere vir ao nosso negócio em Straheim — declarou Giresse.

— Eu adoraria ir um dia.

Claro, se eu pudesse consertar a situação de Satella, esse seria o meu próximo passo.

Enfim, as minhas vendas totalizaram 633 moedas de ouro; mas com 300 delas comprei todo o sal e pimenta que o comerciante tinha em mãos.

Normalmente, não se pode comprar tais itens do mesmo comerciante, eles geralmente planejam vender em outros lugares. No entanto, como eu tinha vendido a Giresse uma grande quantidade de carne fresca e outras coisas, ganhei uma exceção.

E, por conta da sua bolsa — aquela que ele usava de inventário e tinha uma Pedra Gélida equipada, fazendo todo o seu conteúdo ficar frio, e evitando qualquer degradação — o comerciante não poderia ir a outros vilarejos e prolongar a sua viagem, pois nada era imediatamente congelado e meio que havia um tempo limite. No fim, ela apenas o fez começar a planejar a sua volta para Straheim.

◇◆◇◆◇

Na véspera da sua partida, estávamos jantando no nosso local habitual; no refeitório do primeiro andar do Ripple.

Peguei uma planta de projeto que na verdade era um pergaminho rabiscado e entreguei a Giresse. 

— Eu gostaria que um bom artesão fizesse isso, vou pagar 200 moedas de ouro. Se isso ainda não for suficiente, pago a diferença na próxima vez que nos encontrarmos.

— O que é isto? —  perguntou ele, olhando atentamente para a folha.

Normalmente, uma planta de projeto é bem detalhada, no entanto, eu não sabia ler ou escrever, então a minha consistia em apenas um layout rabiscado básico. 

E claro, eu até havia tentado aprender, no entanto, na mansão, não tive permissão alguma para ler um único livro; já no vilarejo, não havia nenhum. Se Aqua estivesse por aqui até poderia me emprestar algum, mas infelizmente, ela ainda continuava em Bextraheim.

Ontem eu pedi a Sebastian que me ensinasse a escrever números e unidades, então logo, fui capaz de criar a planta de um projeto.

— É um aparelho que ajuda a tirar água de um poço. Com ele, até mesmo crianças poderiam fazer esse trabalho sem cansar — expliquei.

Desenvolvido no período Taisho² no Japão, tal ferramenta ajudou a apoiar as famílias japonesas até que os poços fossem substituídos por um sistema mais sofisticado.

Os olhos de Giresse brilharam.

— Tirar água…

Bem, de acordo com Sebastian, muitos nobres e ricos usavam Pedras de Água e não tinham necessidade de um poço. No entanto, ao utilizá-las desta forma, elas secariam rapidamente. Assim, 99% dos cidadãos do império preferiam e dependiam da água proveniente de poços.

Naquele pergaminho rabiscado havia o projeto de uma ferramenta que deveria ser uma invenção revolucionária neste mundo.

— Então… se você pressionar isso, pode tirar água? Mas não há nenhuma ferramenta mágica para fornecer energia — falou Giresse.

— É pressão.

Dentro do cilindro, um pistão se move repetidamente para cima e para baixo, puxando a água com pressão.

— Pressão? 

— Sim. Há uma energia que está naturalmente ao nosso redor. A bomba só vai fazer o uso dela — clarifiquei.

— Uma força desconhecida sem ser magia... interessante. Quando eu voltar para Straheim, mandarei fazer isso imediatamente. 

— Agradeço.

— Sou eu quem deveria lhe agradecer. Afinal, consegui ter uma conversa super emocionante.

Haha. Agora, eu vou explicar o resto, por favor, preste atenção — solicitei e logo comecei a explicar as especificações da bomba manual...

Ao respirar fundo, depois de terminar de explicar tudo, comecei a ser encarado por uma cara séria.

— Se importa se eu lhe perguntar algo? — indagou Giresse.

— Vá em frente.

— Você realmente tem oito anos?

— Foi o que eu disse antes. Pode perguntar a qualquer um na vila.

— Sim, mas... esse conhecimento, a maneira como fala. Às vezes quase acredito que estou conversando com alguém mais velho.

"Bem, eu sou mais velho."

Ah, há algo que quero pedir para a próxima vez — anunciei, dirigindo a conversa para outra direção.

O comerciante se inclinou para frente em antecipação. 

— O que você quer?

— Eu quero que você arranje soja e riso. O máximo de soja possível e, tudo bem se você conseguir apenas um pouco de riso.

Neste mundo, o arroz era chamado "riso" e a soja, bem, era soja — quando perguntei ontem ao Dom, ele me ensinou isso alegremente. — A soja era um alimento básico no noroeste, então deveria ser simples o suficiente para se obter. Riso era um ingrediente usado no lado oriental do império, mas deveria ser vendido no mercado em Straheim.

— Soja e riso, que combinação estranha... — falou Giresse.

De fato, as únicas pessoas que não pensariam isso seriam outros japoneses.

— Talvez. Mas, isso é tudo o que eu quero.

— Certo, vou ver o que consigo. Agora então, rezo pelo nosso lucro mútuo. Saúde!

— Saúde! — Ao declarar isso, brindamos.


Notas:

1 – Kun é uma das formas de tratamento honorífico que existe no Japão, utilizado principalmente para designar aqueles que são jovens e do sexo masculino.Este é um título honorífico também de respeito, no entanto com mais “suavidade” e proximidade do que os típicos “san” e “sama”.

2 – O período Taishō foi um período cheio de problemas políticos e econômicos para o Japão.
Ocorreu de 30 de julho de 1912 até 25 de dezembro de 1926, ou seja, durante o reinado do Imperador Taishō.



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