Volume 1
Capítulo 34: Reencontro Prenunciado
O sol já se escondia atrás das construções empoleiradas umas às outras. O comércio da cidade, que não descansava nem por um segundo, estava prestes a entrar em sua hora de maior movimento.
— Saiam da frente! Saiam! — Liana ordenava aos pedestres de modo nada gentil.
Sobre o posto de cocheira, a mulher parecia uma verdadeira presunçosa. Os cidadãos que enchiam as ruas de pedra à miravam com ódio, incomodados, abriam caminho para que a carruagem de carga pudesse adentrar e afundar-se nas vias apertadas e amontoadas do centro de Tekai.
A dupla de cavalos parou estacionando o veículo no final da rua, finalmente, Celina e Colth puderam deixar o interior da carruagem desconfortável. O lugar era cercado por prédios altos que davam impressão de serem ainda maiores quando vistos de tão perto.
— Esse lugar é tão movimentado quanto o centro da Capital. — Colth mostrava a sua surpresa enquanto observava o seu arredor.
Mesmo estando no final de uma rua sem saída, o movimento ali era intenso. Comércios por toda a margem da calçada e comerciantes andarilhos em meio à multidão de clientes e cidadãos que desprendiam o seu tempo livre e seu valioso dinheiro em bebidas, produtos e entretenimento.
O ambiente estabelecido pelas pessoas dali era completamente diferente do que em qualquer outra cidade. Nunca antes, Colth havia visto tantas pessoas dos mais diferentes costumes em um só lugar. Algumas com roupas tão exóticas que pareciam personagens saídos de alguma peça de teatro inacabada, outros com trapos que mal podiam ser chamados de roupas, e ainda aqueles que exibiam ternos e vestidos dos mais refinados que dariam inveja até mesmo na mais alta sociedade da Capital.
— Eu nunca vi tantas pessoas assim na minha vida... — complementou Celina ao lado do rapaz, tão impressionada quanto ele.
— Bem vindos a Tekai — disse Liana ao descer da carruagem junto ao garoto Jorge. — Vão encontrar de tudo por aqui, só tomem cuidado com as carteiras.
— É realmente impressionante — sussurrou Colth enquanto as luzes dos postes começavam a ser acesas se destacando no cair da noite.
— Venha Jorge, vou mostrar onde você vai ficar. — Liana concentrou suas palavras no garoto, mas logo se voltou aos outros dois: — Vocês também, não fiquem aí com essas caras, vão acabar sendo assaltados ou enganados por um qualquer.
Não tiveram objeções, ambos seguiram a comerciante experiente para dentro de um dos prédios do final daquela rua agitada. Adentraram pelo que parecia a porta dos fundos do estabelecimento, para então, se depararem com um corredor apertado, todo em madeira rústica iluminado por lanternas à parede, era movimentado por algumas mulheres em uniformes simples de serviçais que se apressavam em meio aos seus afazeres.
— Que lugar é esse? — perguntou Colth seguindo a comerciante pelo caminhar ao corredor e notando um odor relevante de ervas no ar.
— É difícil de explicar... — desconversou Liana sem cessar os seus passos.
— Não me diga que é um... — O rapaz barrou sua própria conclusão ao observar uma mulher de uniforme, peculiarmente com pouco pano, cumprimenta-lo de passagem no corredor.
— Sim — concluiu Liana naturalmente interpretando a frase previamente encerrada. — Mas para vocês, vai servir como uma simples pousada. Mesmo que esse lugar seja exatamente o que você esteja pensando.
— Ah, puxa vida — se incomodou ele com os olhos sobre os seus próprios ombros a quem já passara por eles.
— No que você está pensando, Colth? — Celina se intrometeu com sinceridade e esperou a resposta do rapaz.
Ele se negou apenas com o desviar do seu rosto avermelhado, deixou-a ainda mais confusa e curiosa, mas preferiu adiar a resposta com o aproximar do final do corredor.
— Chegamos. Esse é o quarto de vocês dois. — disse Liana se colocando à frente da última porta naquele canto da construção. Girou a maçaneta desgastada e escancarou a porta para revelar um simples quarto. Sem mais, deu meia volta já se despedindo: — descansem vocês dois, não se esqueçam que é apenas por essa noite. Uma camareira vai trazer umas roupas para vocês. Venha, Jorge. Você vai ficar comigo.
— Espera... — Colth impediu que ela desse mais um passo para longe. — Vai nos deixar, em apenas um quarto?
— Ué? — a vendedora abismou-se e voltou a dar atenção ao rapaz: — Qual é o problema? Vão me dizer que são um casal tímido?
— Não. Não é isso — Colth tentou desconstruir o mal entendido. — Nós nem somos...
— Escuta, já estou fazendo um baita de um favor arrumando um lugar para vocês — Liana aumentou o tom. — Então, vê se para de me aborrecer, e apenas me agradeça. — Deu meia volta mais uma vez. — Vamos, Jorge. Quero te apresentar para uma pessoa.
Colth permaneceu calado, de pé em meio ao corredor, enquanto observava a mulher e a criança se afastarem. Não iria contestar nem mais uma vez. Tinha noção que a comerciante possuía a razão, e não apostaria sua estadia ali contrariando-a. Até porque, não fazia ideia de onde encontrar outro lugar para ficar naquela cidade bizarra.
— Não parece tão ruim assim... — disse Celina já dentro do quarto enquanto observava o lugar simples e descobria uma segunda porta dentro do cômodo: — Tem até um banheiro com chuveiro aqui.
Colth respirou fundo, baixou a cabeça, e adentrou ao quarto fechando a porta.
“Que seja. Eu estou me preocupando muito, por algo tão banal.” Pensou ele. “É só uma colega de quarto, nada demais.”
— O único problema, é ter só uma cama — disse casualmente Celina. — Ainda sim, vai ser melhor do que aquela cama velha da casa abandonada de ontem.
Colth engoliu seco com pensamentos libidinosos que lhe abalaram por milésimos de segundos. Balançou a cabeça negando tudo. Sabia que não poderia nem pensar naquilo. Ela era bela demais, inocente demais, e tudo aquilo seria incoerente demais. Descontentou-se já imaginando a dor nas costas do dia seguinte pela solução óbvia:
— Não se preocupe, eu durmo no chão — foi firme, neutro e categórico. — Com licença, eu vou tomar banho — concluiu inquieto esquivando-se para dentro do banheiro.
***
Após o banho, o rapaz aplicado vestiu o pijama deixada pela camareira. Saiu do banheiro renovado após a água quente lavar o seu corpo. Adentrou ao quarto com um sorriso satisfeito no rosto:
— Pronto, Celina. Eu já acabei, você pode... — fechou o seu sorriso e cessou sua fala assim que colocou os olhos na garota.
Celina estava completamente apagada. Sentada ao chão, com a cabeça e os braços repousados sobre a superfície da cama, ela não aguentou a exaustão.
— Celina... — sussurrou Colth se aproximando.
A garota dormia graciosamente pacífica. Os fios de cabelos claros, derramados sobre o seu rosto delicado, tremulavam pacientemente atingidos a cada respiração suave da própria.
Colth se aproximou mais. Nada passou por sua cabeça, apenas foi capturado pelo encanto harmonioso aos seus olhos. Esticou a mão com esmero e, assim que os seus dedos estavam prestes a tocar os cabelos dela:
— O que você está fazendo? — perguntou uma voz completamente desconhecida.
— O quê? — surpreendeu-se Colth e deu um passo para trás envergonhando-se.
— Não estava pensando em fazer nada estranho, não é? — indagou a voz com ar de superioridade.
— Não. Claro que não — respondeu Colth procurando pelo dono daquelas palavras. Ele completou um giro completo pelo quarto à procura do indivíduo, mas não achou.
— Então, por que você parece tão nervoso?
— Essa é a voz da minha consciência? — perguntou o rapaz sem achar o dono das palavras.
— Não, eu odiaria ser a consciência de um pervertido.
— Eu já disse que não estava fazendo nada estranho. — Colth se irritou. — Pode, pelo menos, se mostrar? É muito injusto ser julgado por alguém sem rosto.
— Aqui — chamou a atenção —, em cima da cama.
Colth voltou seus olhos para a cama arrumada. Em um dos cantos, Celina repousava sua fadiga, do outro, um sapo pequeno, o apelidado de Fofinho pela própria sonolenta, encarava Colth com seus grandes olhos negros. O rapaz despencou os ombros e levantou uma das sobrancelhas:
— Nem ferrando...
— O quê? Que cara é essa? — rebateu o anfíbio.
— Diz que é alguma brincadeira, por favor.
— Não, não é. Eu sou o emissário da deusa de Tera, fui confiado a missão de encontra-los e guia-los até o objetivo.
— Eu não acredito... — Colth manteve-se.
— Pode acreditar e ficar honrado — o animal levantou o focinho e entornou soberbo —, a deusa de Tera é mesmo benevolente e...
— Tem um sapo falando comigo.
— O quê?
— Eu fiquei completamente maluco... — disse Colth colocando suas mãos sobre a cabeça.
— Quanta ousadia! Já chega disso! — reclamou o anfíbio. — Chega mais perto, moleque.
— Completamente maluco. — Colth aceitou o pedido, arqueou-se sobre a cama, sombreando o animal, e esperou pela sequencia do que ele tinha a dizer.
— Mais perto.
O rapaz não contestou, apenas adiantou um passo e, cara a cara com o animal, sentiu-se perder a sanidade.
— O que você tem para me...
Um tapa! Um tapa, vindo da pata dianteira grudenta do anfíbio, interrompeu a fala de Colth de um modo nada sútil. Imediatamente, o rapaz apagou, despencou sobre a cama a exemplo de Celina.
— Eu não tenho nada para te falar, mas Hueh tem — revelou o animal para ninguém mais acordado naquele quarto ouvir. — Tenha um bom sonho, seguidor de Anima.
***
Tudo se tornou escuro, ainda assim, Colth sentia um cheiro conhecido. Não só o odor era familiar, mas a sensação de estar, seja lá onde fosse, era conhecida.
— Colth?
Pronto, não podia ser mais familiar do que aquilo. A voz adulta, severa e gentil ao mesmo tempo, só podia ser de uma pessoa.
— Nya? Nya, é você, irmã? — perguntou o rapaz no escuro, sorriu após ouvir seu nome ser pronunciado por aquela voz aveludada, bem próxima aos seus ouvidos, evocando a luz que ali não existia.
— Escuta, Colth, você está prestes a conhecer uma pessoa muito poderosa. Peço que siga as demandas dele, por enquanto.
— O quê? Do que você está falando?
— É o único jeito de isso dar certo. Eu sei, já tentei de diversas formas, essa é a única que me resta.
Colth se sentiu ainda mais desorientado, mais do que a própria escuridão que o envolvia podia causar.
— Nya, eu não entendo o que você está falando. O que aconteceu? Onde estamos?
— Eu gostaria de conversar mais com você, Colth. Tenho tanta coisa que gostaria de falar, tanta coisa que preciso falar — disse a voz feminina em um tom mais afetivo, retornou a seriedade em seguida: — Infelizmente, não temos muito tempo, por mais contraditório que isso pareça... De qualquer forma, só de te ver bem, isso já me satisfaz.
— O que isso significa...
— Apenas siga as instruções desse deus, por enquanto. Se tudo correr bem, as coisas ficarão como estão. Até mais, tio...
— Tio? Espera, quem...
As luzes surgiram diante dos olhos de Colth o cegando momentaneamente de forma contraposta. O odor, a sensação, o som, tudo ali era diferente. Estava em um lugar completamente diferente.
— Por que demorou tanto? Se perdeu no caminho, foi? — perguntou o homem de cabelo bagunçado em seu roupão esfarrapado. Colth ainda estava confuso, o que rendeu olhares consternados do homem que se pronunciava à frente: — Você lembra de mim, não é mesmo?
— Hã?
Finalmente teve a atenção voltada para o outro único naquela sala luxuosa que já estivera antes. As grandes cortinas claras tremulavam com a brisa vinda da janela que trazia a luz de uma manhã aconchegante. A grande mesa no centro da sala emanava o cheiro da madeira que a compunha enquanto a lareira do outro lado extinguia as últimas fagulhas de sua lenha.
— Que seja. Irei me apresentar, de novo, por mais estranho que isso pareça — disse o homem sentando-se na cadeira ao fim da mesa. — Meu nome é Hueh, sou o deus de Anima.
Colth não se surpreendeu como deveria: “Deus?” Pensou, de pé, diante da mesa sem mudar sua expressão.
— Eu esperava uma reação mais efusiva. — Desapontou-se. — Mas, que seja. Isso significa que se lembra de mim. Imagino, que se lembra de nosso pacto também, correto?
— Pacto?
— Ahh... — Hueh esbravejou o seu tédio e interrompeu o pensamento confuso de Colth. — Eu acho mais fácil mostrar do que explicar... — interrompeu o que dizia — Se bem que, eu não posso te mostrar isso — pensou alto para, em seguida, retroceder: — Que seja, vamos renovar o pacto, aqui e agora, que tal?
— E o que...
— Está decidido! — Levantou-se o deus animado.
O homem elevou sua a mão direita ao ar e estalou os dedos, sem mais.
Imediatamente, as paredes e o teto da aconchegante sala foram expurgados para longe como em uma explosão silenciosa e despercebida. Todo o arredor do cômodo se tornou um dos mais belos dias primaveril. Um infinito campo florido amarelo se estendia além do horizonte até encontrar as margens do céu azul. Colth era aquecido pelo sol do meio dia enquanto uma leve brisa o acertava e o refrescava levando suas angústias para longe.
— O quê? — se perguntou ainda confuso, mas dessa vez, todo aquele belo cenário arrancava sorrisos involuntários.
Ficou completamente envolvido e dispersado com aquele ambiente paradisíaco, a mobília da sala continuava lá, assim como o homem de roupão, mas isso não diminuía a magnificência.
—Tenho inveja do quão esperançoso e sonhador você é, Colth. — disse Hueh, novamente sem ser compreendido, deu de ombros. — Que seja. De qualquer forma, o que vim mostrar a você, é isso. A sua virtude.
— Virtude?
— Sim, Colth. Sendo um guardião, você possui... pode possuir, minha virtude. — O único ouvinte arregalou os olhos enquanto o homem voltava a se sentar na sua cadeira em meio ao campo florido. — O quê? Achou que a sua vida estava sendo jogada fora, quando não conseguiu passar na pré-seleção, não foi?
— Não. Claro que n...
— E então quis dar uma utilidade a essa vida sem direção, se agarrou ao primeiro objetivo que encontrou e, fingiu por todo esse tempo, que estava fazendo algo por alguém. Algo com a sua vida patética.
Colth encarou o homem com seus olhos ardendo em ódio. Aquelas chamas raivosas que iluminavam sua íris tinham mais do que uma única origem. Parte vinha da petulância de que Hueh levava aquele assunto, mas a maior parcela do seu rancor era, sem dúvidas, de si próprio. Não conseguia negar aquelas palavras para o seu eu. Mesmo assim, o fez da boca para fora:
— Não. Você está errado!
— Tá bom, tá bom. Não era o meu intuito aborrece-lo — diminuiu Hueh com um sorriso enfadonho. Em seguida, se virou para sussurrar os seus pensamentos apenas para si próprio: — Engraçado, você não se lembra do pacto ou de sua missão e, mesmo assim, a cumpriu com entusiasmo...
— O que você disse? — perguntou Colth interrompendo a reflexão do homem.
— Que seja. — Voltou-se ao seu convidado. — De qualquer forma, fez muito bem, mantendo a Celina segura até aqui.
— Espera. Então, você... — O rapaz deu um passo adiante de uma forma instintiva, surpreendeu até ele próprio.
— Não, Colth. Eu não pretendo machucar a guardiã de Tera. Se é isso, que você está pensando. Seria tolice a minha, me opor a uma aliada tão formidável quanto a deusa de Tera, você não acha?
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que você fez um ótimo trabalho, Colth. — Hueh se levantou calmamente e se aproximou do confuso a passos lentos. — Trouxe a guardiã em segurança e impediu, por ora, o renascimento da deusa Lux nesse mundo.
— Eu não estou entendo nada do que...
— Que tal um pacto? Um novo pacto.
— De novo com isso? Eu não... — Os pensamentos de Colth, evidentemente confusos, eram atropelados por perguntas e dizeres do homem.
— Vou lhe oferecer a minha virtude, Colth. Você poderá descobrir onde os seus parceiros estão e então ir atrás deles.
— Como você sabe disso? Como sabe dos outros?
— Isso não importa. Com a minha virtude, você vai encontrar a guardiã de Finn, a Garta. E talvez, os seus outros amigos. Parece interessado.
— Disse que é um pacto. O que você ganharia com isso? — Colth tentava de todo modo frear a conversa, ainda não estava convencido.
— Tem razão, uma virtude é algo muito valioso... Muitas pessoas sacrificam a própria vida por uma. — Hueh escondeu os olhos e um sorriso manipulador ao dar às costas ao convidado. — Bom, eu vou fazer um preço bem barato para você, já que me ajudou tanto. Que tal... se tornar o guardião de Anima?
— Guardião?
— Simples. Seguirá minhas ordens e completará tarefas quando for solicitado e, em troca, a magia de Anima e a natureza da mente estará a seu favor.
— Sua oferta é mesmo tentadora. Mas o que acontece se eu recusar atender a um dos seus pedidos?
— Nada demais. Sua alma será consumida imediatamente, seu corpo queimará e sua mente vai sofrer pelo resto da eternidade na prisão do mundo dos renegados.
— ... — O rapaz arregalou os olhos sem resposta.
— Ah, qual é? Foi uma piada. A chance de você negar um pedido é praticamente nula. Além disso, nada disso acontece de verdade. — Sorriu naturalmente como se não tivesse falado um absurdo. — Chega de papo. E então, o que você acha?
— E-eu...
Colth mantinha sua hesitação, foi atropelado por novas palavras de Hueh:
— Bom, eu não me importo muito com o futuro desse mundo, afinal, sou o guardião de outro. Mas eu tenho um pouco de pena das crianças dessa terra. E se isso não lhe convence, garanto que, pelo menos, descobrirão onde os seus amigos estão.
Hueh sabia exatamente o que estava fazendo, era notável as suas habilidades de barganha e convencimento. Atingiu o ponto mais fraco de forma direta e sorrateira.
Colth recebeu a lembrança da sua pequena sobrinha em um flash de luz intenso, grave e marcante em sua cabeça.
Esboçou um sorriso sem graça e balançou a cabeça de modo a se convencer e desvencilhar-se dos pensamentos negativos quanto aquilo. Havia sido completamente fisgado pela ideia de manter a sua família a salvos. Além disso, teve aquela voz familiar na escuridão lhe dizendo para seguir o deus que estava diante dele. Se decidiu, parou de hesitar.
— Certo, eu aceito. Então, o que...
Antes que pudesse terminar a sua frase, Hueh levantou a mão direita e estalou os dedos mais uma vez. Escuridão.
Colth abriu os olhos. À sua frente o rosto sereno de Celina em repouso lhe trouxe a tranquilidade momentânea que precisava. Deu um leve sorriso satisfeito sem se mover.
— E então, como foi? — disse o sapo entrando no campo de visão de seu ouvinte. — Que sorriso é esse? Que tipo de sonho você teve? — julgou com seus olhos negros o quanto pôde. — Não me diga que...
— Não sei no que você está pensando, mas definitivamente não é o caso — afirmou Colth levantando-se da cama.
— Eu não me importo — o sapo reverteu a situação. — De qualquer forma, pronto para tentar usar a magia de Anima?
— Magia de Anima... — sussurrou.
“Por que eu não me surpreendi com isso?” pensou o rapaz enquanto observava a palma de sua mão direita e deixava escapar uma expressão preocupada em seu rosto.
— Pare de moleza! — o anfíbio exclamou resoluto à medida que saltitou pela cama e se aproximou de Colth. — Você quer mais um tapa, é?
— Não, eu só...
— Então pare de pensar — firme e direto. — Escuta, eu sou o emissário de Tera, meu nome é Koza. E eu vou torná-lo um guardião de respeito.
— Um sapo vai me ajudar com minhas habilidades? — perguntou em tom irônico.
— Moleque idiota! — irritado, Koza encarou o rapaz furiosamente. — Eu não sou um sapo, sou o primeiro emissário, nascido da benevolência da deusa de Tera. E você não tem habilidade alguma. O resultado do pacto e da benção de um deus é chamado de magia, é isso que você carrega em seu sangue, idiota.
— Então você não é um sapo?
— Aff... — Revirou os olhos.
— Talvez, uma rã — pensou alto Colth. — Ou então uma salamandra. Salamandras são legais.
—Dá para calar a boca? Você quer entender a magia de Anima, ou não?
— Sim, eu quero. Mas posso te perguntar uma coisa antes, Koza?
— Se for para perguntar sobre algo do meu corpo, pode esquecer.
— Não, não é isso. — Colth voltou ao tom mais sério. — Por que está fazendo isso? Quer dizer, você é um emissário de Tera, e eu um guardião de Anima.
— Não é estranho dois deuses trabalharem juntos. Mas não pense que, nós de Tera, precisamos de você ou de seu deus esquisitão. Só vou ajuda-lo a usar sua magia de Anima para cumprir sua tarefa com minha deusa.
— Sabe que eu sou de Tera também, não? — rebateu o rapaz.
— É claro — Koza reafirmou seu orgulho. — De Anima que você não poderia ser. Afinal, aquele mundo já não existe.
— O que aconteceu com Anima?
— Um mundo não pode durar com dois deuses, é o que parece.
— Dois deuses?...
— Vamos! — Koza mudou o tom e o assunto bruscamente. — Eu vou te mostrar o que fazer para reencontrar a guardiã de Finn, a nominada como Garta. — concluiu certeiro.
— Tá, certo — motivou-se.