Volume 1

Capítulo 3: Dois Mundos Se Cruzam

— Aldren! — Celina gritou em um impulso, em seguida, se obrigou a fechar os olhos.

O barulho do corpo do jovem se espatifando ao chão, silenciou o ginásio. Segundos se passaram sem que nada fosse desprendido.

Colth saiu em disparada sendo seguido por Celina, ambos atravessavam a quadra esportiva se esgueirando pela multidão tensa.

O rapaz caiu de quase oito metros de altura e, mesmo assim, quando os colegas do grupo finalmente chegaram próximos a ele, viram Aldren se esforçando ao máximo para se levantar do chão.

— Aldren — sussurrou a garota preocupada imóvel frente a cena.

Colth parou à poucos passos dela e, antes que percebesse, Garta se colocou ao seu lado com uma expressão tão tensa quanto a dele.

— Eu... Tô bem! — disse ao se levantar com muita dificuldade.

Sem olhar no rosto de qualquer um, se virou de volta para a parede e, ao iniciar uma caminhada sofrida em direção a escalada, ficou evidente que sua perna estava totalmente prejudicada, talvez até quebrada. Mesmo se tremendo de dor, com sangue escorrendo pelo seu nariz e braços, e arrastando uma das pernas, ele continuou até a parede.

— O que você está fazendo? — Celina perguntou se contendo.

A voz dela, e o som do arrastar do pé de Aldren, eram as únicas coisas audíveis no ginásio inteiro. Todos, inclusive os participantes da prova no topo da parede, observavam atentamente a situação.

— Não! Eu não vou desistir — disse para si mesmo ao terminar a sua caminhada teimosa.

Ele encostou a sua mão esquerda na parede de escalada e olhou para cima. Ao não enxergar candidatos escalando, cerrou os dentes e tomou impulso para o que viria ser um pulo na tentativa de alcançar as primeiras superfícies escaláveis da parede. Seu salto não alcançou mais do que alguns centímetros de altura, o suficiente para que, no impacto da queda, a sua perna fervesse. Não suportou e berrou devido à dor, a frustação, e o fracasso.

— Ahhhh!!!

— Aldren... — conteve-se Celina em tom lamentador.

Se aquele primeiro salto já havia sido difícil com Aldren em perfeito estado, nas condições atuais era simplesmente impossível o baixinho alcançar àquela altura novamente.

Aldren persistiu, mais uma vez se preparou e então saltou. O resultado era o mesmo.

— Ahhhh!!!

O juiz da prova se aproximou do rapaz frustrado. Com uma prancheta em mãos, advertiu Aldren desesperado em conseguir alcançar a superfície de escalada.

— Candidato Aldren Ren, eu vou dar como concluída a prova se você não consegue completa-la. Você desiste? — perguntou o juiz.

— Ahhhh!!! — O grito de Aldren era resultado de mais um dos seus saltos inúteis.

— Candidato Aldren Ren, você desiste? — insistiu o juiz.

A resposta de Aldren veio com a preparação de mais um salto. Mas antes que ele pudesse de fato se impulsionar para cima, um grito raivoso e, ao mesmo tempo, triste de Celina o interrompeu:

— Já chega! — As palavras da garota ecoaram por todos os quatro cantos da quadra.

Aldren descansou os ombros e baixou a cabeça, apoiando-a sobre a superfície da parede a sua frente, deixou.

— Já chega, Aldren. Vamos para casa. — Ela repetia as suas palavras em um tom suave e confortador ao se aproximar.

Celina segurou a mão ensanguentada de Aldren de modo doce e gentil. Ela geralmente era uma pessoa direta, lógica e, muitas vezes, pouco simpática, mas quando se tratava do Aldren, fazia questão de mostrar que estaria sempre junto a ele.

Aldren se virou e mostrou as suas lagrimas que se misturavam ao sangue escorrido em seu rosto.

— Me... desculpa... Celina — disse ele em tom choroso.

Antes que Aldren fosse ao chão, devido ao seu desgaste físico, Celina o segurou, o apoiou, e o manteve de pé.

— Candidato Aldren Ren está desclassificado por interrupção de terceiros. — anunciou o juiz. — Desse modo, todos os integrantes do grupo dez estão, automaticamente, fora dos exames de seleção dos agentes de segurança do ministério da Defesa.

— Espera! Isso não é justo. — Colth se colocava à frente, indignado com a decisão do juiz. — O Aldren foi golpeado por outro candidato. Todos viram aquilo.

— Os juízes não viram qualquer tipo de infração. Sendo assim, eu declaro como encerrada essa prova — afirmou o juiz com clareza plena.

— Mas isso não é...

— Você gostaria de fazer alguma reclamação, jovem? — A pergunta, em um tom desafiador, vinha das costas de Colth.

Antes que ele pudesse continuar com seu protesto ao juiz, uma pessoa se aproximou. A voz grave e inconfundível do Coronel, fez Colth arregalar minimamente os seus olhos.

Colth estava certo e convicto de continuar com sua reivindicação, mas assim que se virou para dizer suas palavras reclamatórias, viu Celina distante ao fundo fazendo um sinal discreto de negativo com a cabeça diretamente para ele.

A garota apoiava o corpo de Aldren e o ajudava a caminhar para fora do ginásio.

Colth pensou duas vezes e, respirando fundo para largar de mão suas convicções, respondeu desanimado:

— Não, senhor. — Foi sucinto, baixando levemente a cabeça.

— Muito bem. Agora deixe o ginásio — ordenou duramente o Coronel. Em seguida, ao ver o rapaz se virar, não resistiu ao seu lado mais nocivo. — O exame tem que continuar apenas com quem está autorizado a permanecer no local de provas. E você não é um deles, turvo.

— Turvo? — Colth repetiu o insulto com um sussurro, seus sentimentos arderam em chamas. O tom sarcástico e superior do Coronel lhe dava o gosto da injustiça praticada na Capital e a impotência de um mero ninguém. Não se conteve. — Isso tudo é só um teatro de merda! Vocês nem mesmo conseguem esconder! — Esbravejou.

Todos ao redor pararam para ver a discussão curiosos.

O Coronel não demonstrou grande reação, a não ser o fitar de seus olhos encarando o rapaz. Sem perder tempo, Colth se virou e seguiu os passos de Celina e Aldren até o corredor que o levaria para enfermaria.

— Coronel, eu deveria... — O juiz que acompanhou de perto a discussão com o rapaz rebelde, ia de encontro ao seu superior enquanto Colth se distanciava.

— Não. Não faça nada — respondeu o Coronel como uma ordem. — O rapaz só está frustrado. Está tudo sob controle.

— Sim, senhor — respondeu o juiz, colocando um fim ao ocorrido.

O Coronel continuou observando o rapaz se afastando enquanto seus pensamentos lhe diziam para ter paciência. Demonstrou um sorriso amarelo e retornou para os seus afazeres oficiais.

— Então é isso? — perguntou Garta para Colth, assim que ele atravessou a porta de saída do ginásio em direção a ala médica da academia.

Por um momento ele achou que estava entrando naquele corredor sozinho, mas a mulher o surpreendeu, não só com a sua presença, mas também com a sua pergunta.

— Do que você está falando? — retrucou Colth, em tom irritado, sem tirar os olhos do caminho à sua frente.

— Aquilo foi injusto. Você sa...

— E o que você quer que eu faça?! — O rapaz retrucou nervoso e parou os seus passos de fúria. Com um olhar intimidador, encarou a face de Garta, que se viu obrigada a desviar seu olhar. — Acha que eu não sei? Aquilo foi ridículo.

— Então, realmente é só isso? — A mulher voltou seus olhos ao encontro do rapaz.

— O quê? — Colth perguntou para ganhar tempo em seus pensamentos, era a vez dele de desviar o olhar. Em seguida, voltou a encarar Garta de modo determinado. — Você não tem direito de falar nada! Você errou os alvos na prova de tiro de propósito, não foi!?

— ... — Ela calou-se, aquela reação era o bastante para uma confissão de culpa. Não parecia se orgulhar, novamente evitava contato visual com o seu interlocutor.

Com o silêncio confesso da mulher, Colth se virou e voltou a caminhar pelo corredor com seus passos odiosos.

— Então foi isso mesmo. Tudo aqui é tão falso que me dá nojo! — disse o rapaz, em tom ferino.

Garta ficou para trás pensativa, pensou em revidar com mais palavras, mas desistiu.

Assim que Colth entrou na enfermaria, se deparou com Celina no corredor branco como um dia nevado.

O lugar claro com cheiro químico destoava bastante de todo o restante da academia, quase ninguém caminhava por ali.

— Como é que o Aldren está? — Colth perguntou para a garota que se mantinha encostada na parede ao lado de uma porta fechada.

— Bem, a enfermeira está fazendo os curativos. — respondeu Celina, apontando com o polegar para a porta. — Parece que ele não quebrou a perna.

— Sério? Que bom.

— Aquele idiota. — Celina dizia enquanto visualizava a luz refletida pelo piso branco impecável. — Ele podia ter piorado o estado da sua perna machucada com aqueles pulos.

— É. Tem razão. — concordou Colth. Em seguida, se posicionou ao lado da garota, encostando suas costas na parede, a exemplo dela. — Mas ele não parece ser o tipo de pessoa que desiste fácil.

— Hum. De fato, ele não é. — O rosto sério e preocupado de Celina não se alterava.

— Você o conhece há muito tempo?

— Sim, desde criança. O bastante para saber que essa teimosia não é de hoje.

A porta do quarto ao lado se abriu. De dentro, uma enfermeira saiu e apenas cumprimentou eles com um leve balançar de cabeça antes de mudar de direção e caminhar pelo corredor.

Celina deixou de lado a conversa e rapidamente adentrou ao quarto.

Aldren, sentado sobre a cama branca, estava cabisbaixo e completamente desconsolado. A garota parou assim que viu a cena e pareceu travar em meio ao quarto. Colth a seguiu e, ao perceber o silêncio entre eles, tomou a iniciativa.

— Como é que você está? — perguntou sem jeito. O objetivo era animar o colega, mas ele mesmo estava desconfortável com aquilo.

— Desculpa — disse Aldren em tom melancólico. O quarto voltou a ficar em silêncio por um segundo. — Eu sou um inútil.

— Não fala isso. Tá tudo bem. Tem muitas possibilidades além do ministério da Defesa, vai dar tudo...

— Eu estraguei tudo, Colth — interrompeu o rapaz abatido. — Eu arruinei a vida de nós quatro.

— N...

— Tem razão. — Celina respondeu de imediato. Novamente Colth foi interrompido. As palavras sem gentileza e diretas ao encontro dos ouvidos de Aldren, fizeram ele tremer em culpa.

— Celina? — Colth se espantava com as palavras duras da garota.

Essa, definitivamente, não era a hora de culpar Aldren. O rapaz estava destruído, por dentro e por fora. Fazer isso só afundaria ainda mais ele em um sentimento obscuro e depressivo. Mesmo assim, ela continuou:

— Tem razão, Aldren. Você acabou com as nossas chances de entrar para a guarda Real. Satisfeito? — disse suas palavras olhando fixamente para Aldren que mantinha a cabeça baixa. Ela respirou fundo e mais uma vez continuou: — Mas e daí? Vai ficar nesse porão para sempre?

Colth não entendeu aquela fala deslocada, “Porão? Do que ela está falando?” pensou estranhando o diálogo.

— Você é tão injusta — respondeu Aldren. A sua voz melancólica, seguida de seu olhar relutante para Celina, mostrou para Colth o quão perdido ele estava naquela conversa.

— Nada aqui é justo, Aldren — afirmou Celina após se aproximar ainda mais do rapaz sentado sobre a cama.

Mesmo ainda notavelmente abatido, Aldren se esforçou para esboçar um sorriso e concordar com a sua maior amiga.

— Então, o que fazemos agora? Não temos casa para voltar — perguntou ele sincero.

E antes que viesse uma resposta de qualquer um, a porta do quarto se abriu e fechou na sequência. Nesse instante, o rosto de Aldren mudou drasticamente, ficou extremamente espantado repentinamente. Era o único que estava de frente para porta, e o único que havia visto o que adentrará ao quarto.

— Celina! Cuidado! — gritou tenso para a garota a sua frente.

O grito de alerta súbito era devido a uma quarta pessoa no quarto, um homem de capuz e roupas escuras. O desconhecido avançou rapidamente, imediatamente atrás de Celina.

Ela não teve tempo de reagir ao alerta de Aldren. O homem misterioso agarrou seu pescoço e rosto com as duas mãos vindas de trás do pequeno corpo da garota.

Celina se debateu com toda a sua força, apenas conseguiu derrubar um banco de madeira ao chão no centro do quarto, mas não resistiu. O homem a dominará completamente.

Colth congelou com a situação inesperada. Aldren pulou para frente deixando a cama, em um avanço instintivo, a dor de seu tornozelo havia desaparecido por completo, talvez por causa da adrenalina que corria em seu sangue neste momento, ele atacaria o homem sem pensar duas vezes.

Foi um ato de coragem do rapaz, e até de certo modo inteligente, já que havia passado por sua cabeça que o homem de capuz não possuía nenhuma arma além de suas próprias mãos vestidas por luvas negras. Mesmo assim, quando Aldren chegou mais perto com o seu punho fechado, tentando alcançar o rosto coberto do homem, o encapuzado se esquivou com um passo rápido para o seu lado esquerdo. O golpe de Aldren passou perto de seu objetivo, mas seu punho acertou apenas o ar abafado do pequeno quarto.

Mais um passo, dessa vez para direita, e um movimento rápido com apenas um de seus braços enquanto o outro continuava em volta do pescoço da garota, foi o suficiente para o homem acertar em cheio a nuca de Aldren desequilibrado pelo seu próprio golpe ineficiente. O rapaz caiu imediatamente desacordado com uma de suas bochechas pressionando o piso branco.

— Que merda é essa? — Colth finalmente se pronunciava, mas seu corpo não reagira à altura. Ele continuava estático com os olhos arregalados e o rosto esbranquiçado.

— Me solta! — Celina se debatia e se esforçava para se desvencilhar dos braços musculosos do homem, mas era em vão.

— Cala a boca — o homem respondeu os gritos da garota com uma fala esforçada e, em seguida, retirou algo de seu bolso.

O objeto retirado, era um simples trapo de pano branco embebido de algo notavelmente fedorento. O fedor impregnava o pequeno ambiente com uma característica única de irritação. O homem levou o tecido até a região da boca de Celina que, imediatamente, percebeu os planos do malfeitor.

Ela sabia que não poderia nem pensar em respirar o vapor que emanava daquele pano, mas não teve escolha, o homem abraçava com mais força o seu pescoço e a obrigava a buscar o oxigênio que lhe faltava.

“Proteja-a. Agora. Proteja-a!” A voz interior de Colth exclamava uma ação ecoando em sua cabeça.

Os olhos de Celina ficaram pesados e, antes que Colth viesse a reagir a isso, a porta da entrada do pequeno quarto se abriu novamente, dessa vez violentamente.

Colth voltou a se assustar enquanto o homem encapuzado se preparou para o que viria. Através da porta escancarada pelo que pareceu um chute vindo de fora, Garta caminhava para dentro do quarto. Ela cerrou os olhos encarando o rosto do homem que era coberto pela sombra de seu capuz.

— Solta ela, agora mesmo — ordenou Garta. A voz convicta e firme da mulher era recebida com surpresa por Colth.

— Quem raios é você? — O homem misterioso indagava de forma ríspida, ele já não precisava se preocupar mais com Celina, a garota já dormia em seus braços feito uma criança sonolenta.

— Vocês são muito estúpidos. — Garta respondia sem mudar a sua postura determinada. — Achou mesmo que, uma possível guardiã estaria assim, sozinha tão perto de vocês?

— Você também é uma guardiã. Eu deveria saber. — O homem havia esclarecido a sua própria dúvida.

Ele então soltou Celina desacordada ao chão. Ao lado de Aldren, o corpo da garota repousou inconsciente. Em seguida, o encapuzado se preparou com o que parecia movimentos iniciais de algum tipo de luta. Com um dos punhos fechados e a outra mão aberta com a palma da luva amostra, o homem voltou a falar:

— Que seja. Eu só preciso dessa daqui, não vou ter pena de você.

Colth suava frio e tentava não ser notado por aqueles dois que falavam coisas absolutamente sem sentido aos seus ouvidos.

— Como se você pudesse comigo. — Garta arrumou as mangas de sua jaqueta e também se posicionou para o que viria a seguir. Uma luta corpo a corpo, em um ambiente tão pequeno e apertado que, qualquer maior movimento, levaria obrigatoriamente a uma parede.

O homem tomou a primeira ação, ele avançou em direção à mulher com o punho fechado tomando a dianteira de seus movimentos. Como se não fosse nada, Garta apenas desviou seu rosto daquele golpe, e em seguida agarrou o braço do homem. Utilizando da própria força empregada pelo oponente, ela o jogou na parede sem dificuldades. A testa do encapuzada acertou em cheio o concreto do canto do quarto.

— Que decepção. Um simples emissário novato — disse Garta em provocação.

A superioridade da mulher ficou evidente ao usar do canto de seus olhos para continuar observando o homem que se levantava aos poucos após o golpe sofrido.

— Argh. — O homem se preparava novamente com sua postura de luta característica. — Vocês estão encurralados. O guardião de Tera não fara nenhuma diferença.

— Ah? Que ridículo. Se o guardião de Tera é tão irrelevante, por que é que vocês estão atrás de qualquer um que levante suspeitas? — A pergunta retorica de Garta fazia o homem morder os lábios com raiva. — Estão tão desesperados, que mandam até um emissário qualquer, para uma busca de uma possível guardiã. “Ridículo” é pouco.

Aquelas palavras fizeram o homem ferver ainda mais de raiva. Novamente ele partia na direção de Garta. Dessa vez, parecia menos cauteloso, a mão aberta, com a palma voltada para o rosto da mulher, foi a escolhida para a ofensiva.

Levando em conta a postura de luta, e os tipos de movimentos utilizados pelo oponente, Garta se convenceu de que o homem era um emissário com habilidades especificas. Sendo assim, ela sabia que não poderia se deixar ser tocada pelas palmas das mãos do homem, isso não seria problema para ela.

Esperou o momento certo, a mão do homem se aproximou e, quando o golpe passou a ser um movimento sem volta, Garta deu um rápido soco, de baixo para cima, no cotovelo esticado do oponente e, em seguida, socou o rosto parcialmente escondido com o punho completamente fechado.

O emissário chegou a ficar sem chão, seu corpo foi arremessado para trás, caindo no canto do quarto aos pés de Colth. O rapaz não se mexeu e também não conseguiu fechar a boca depois de ver o poder da mulher que já tinha como vencida aquela luta desde o começo.

— Agora, me responda, de qual mundo você é emissário? — indagou Garta enquanto massageava o seu próprio punho que queimava em dor.

— Argh — sofria em dor. Com um dos braços esticados pelo chão, acidentalmente, ele encostou em algo que passava despercebido até então.

O homem agarrou aquilo como a sua última chance de vitória. A mulher ainda não havia notado, mas o emissário segurava o banco de madeira que Celina havia derrubado mais cedo.

— Quantos emissários mais...— Garta interrompeu a sua fala ao ser acertada por algo. O leve banco de madeira voou pelo quarto e encontrou inofensivamente o corpo da mulher. — Argh!

Parecia algo inconsequente, que não levaria a nada, mesmo assim, quando Garta voltou os seus olhos para frente após se proteger do objeto agressivo, se surpreendeu.

Se o homem viesse a ataca-la novamente, seria simples, ela facilmente reagiria com um golpe ainda mais forte do que o último. Mas o que Garta não esperava, era que o homem fosse atrás de Colth. Ele já estava de pé, e esticava a sua mão aberta em direção ao rosto do rapaz.

Garta se viu em uma situação adversa. Temeu que o homem encapuzado tocasse no rapaz congelado, não sabia o quão mortal poderia ser a sua habilidade quanto emissário. Felizmente, ela tinha algo que poderia usar como seu último recurso para evitar um eventual problema daqueles.

Colth se deu conta do golpe do homem, mas não conseguiu reagir a tempo, isso porque era um movimento de luta totalmente inesperado. Ele nunca havia sido atacado daquela maneira, mesmo assim, no seu ponto de vista, estava tudo bem. Colth esperaria a mão inofensiva do homem chegar em seu rosto enquanto ele fecharia os seus punhos para acertar alguns golpes no abdômen desprotegido do homem. Esse era o contra-ataque imaginado por ele, contra aquele golpe estranho e totalmente ineficiente.

Era algo que tinha aprendido no seu treinamento do último ano inteiro com aquele que mais admirava. Golpes ineficientes, tinham que ser contra-atacados, e não defendidos.

Mas algo não ocorreu como o esperado, a palma da mão, até então inofensiva do homem, começou a emanar uma luz amarelada como a de uma estrela distante.

A surpresa de Colth foi grande, pensou em recuar, mas tudo ali já havia sido decidido, não havia como voltar atrás. A mão do homem começou a se aproximar e o brilho a aumentar. O rapaz percebeu que aquilo não era normal e, com certeza, era perigoso. A luz estava tão próxima, com o golpe certo se aproximando, que o melhor que pode fazer, foi fechar os olhos.

Blast! O barulho, nunca antes ouvido por Colth, chacoalhou seus tímpanos.



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