Volume 1
Capítulo 14: O Covarde e a Esquisita
— Ah. Então tem moradores. — O policial mais alto dizia sem se empolgar em um tom manhoso enquanto o mais baixo, com o rosto enfarruscado desagradado, coçava a sua volumosa barba em observação ao casal à sua frente. Ambos carregavam em seus braços mosquetes Sathsai que faziam questão de mostrar.
— Por que demoraram tanto? — disse o barbudo em tom ameaçador.
— Demora? Que demora? — Aldren desconversava em um tom patético ao lado de sua “esposa”. — O que os trazem aqui, senhores?
O rapaz sorriu para os homens e disfarçou qualquer olhar suspeito enquanto Celina, ao seu lado, não escondia o mirar observador.
— O senhor não ouviu no rádio? — O mais alto perguntava em estranhamento. — A polícia recebeu ordens para verificar se um fugitivo criminoso está se escondendo pela região. Podemos entrar para fazer uma averiguação?
— Bem que eu ouvi mesmo. Onde que eu estava com a cabeça? — mentiu Aldren sorrindo nervosamente. — Criminosos são muito perigosos. Ainda bem que temos vocês para nos proteger.
— E então?
— Então, o quê?
— Como “o quê”? Podemos entrar, ou não? — indagou o policial impaciente com a falta de jeito do rapaz. — É para a sua proteção.
O homem levantou de leve o mosquete em suas mãos com o rosto fechado.
— Claro, claro. Por favor, entrem. — respondeu Aldren abrindo espaço na porta. Celina, ao seu lado, se mantinha calada sem demonstrar mais do que o esboço de um sorriso gentil integralmente falso.
Ambos os homens fardados entraram pela porta da casa. O de barba começou a caminhar pela sala rústica enquanto observava os retratos pendurados nas paredes. O mais alto, por sua vez, após entrar e se aclimatar, continuou a conversa na entrada:
— Quais são os seus nomes, mesmo?
— É... Dawson e... Rose... Dawson e Rose Barnan. — interpretou Aldren suando frio.
— Barnan? Igual ao cantor?
—Isso... Exatamente. — respondeu quase agradecendo ao homem por acreditar em algo tão ridiculamente falso.
Colth, no interior do armário ao lado da situação, ouvia tudo com as mãos tremulas enquanto segurava firmemente a faca de cozinha e torcia para não precisar usa-la. O rapaz administrava a sua respiração ao máximo para não gerar ruídos.
Enquanto isso, ao fundo da sala, Garta seguia o outro policial com os olhos por entre as frestas da porta do armário de onde estava.
— O senhor é o dono dessa casa? — O mais alto continuava com o breve interrogatório sobre a suposta vida pacata de Aldren, ou melhor, do senhor Barnan.
— Ah, não. É alugada, estamos aqui faz pouco tempo. — respondeu ele com as primeiras palavras que vinham à sua cabeça.
— É uma casa grande para um casal jovem. — retrucou o oficial em observação ao ambiente.
— Você acha? Não é tanto, não. É só impressão.
— A senhora não é muito de falar, né? — perguntou o oficial colocando os olhos na garota.
Celina se distraiu ao observar o outro policial se aproximando do armário onde Garta estava escondida. O barbudo parecia bem mais intrusivo em suas averiguações, se chegasse ao armário, com certeza tentaria abri-lo. A garota voltou a sua atenção repentina ao oficial à sua frente quando o percebeu impaciente.
— Ah, Eu? Não...
— Minha esposa é muito envergonhada — interferiu Aldren absolutamente deslocado.
O homem levantou uma de suas sobrancelhas em suspeitas, mas não fez mais além do que isso. Ao invés disso, quis saciar sua própria curiosidade voltando-se ao rapaz:
— Você tem algum parentesco com o Barnan? O cantor.
— O quê? Não, não — respondeu Aldren com um sorriso desconfortável.
—Haha. É claro que não. Se tivessem, não estariam vivendo tão próximos da divisa. Nesse esgoto. Hahaha.
— Hehehe. — Aldren forçava uma risada e se atentava ao outro policial prestes a abrir o armário nos fundos da sala onde Garta estava.
— É uma pena. — complementou o oficial após a sua risada alta. — Meus filhos adorariam um autógrafo com o Barnan.
— Quem não gostaria?
— As músicas dele são muito boas e...
— Policial! — gritou Aldren em direção ao fundo da sala interrompendo a falação casual do oficial mais próximo. Seu chamado era endereçado ao homem barbudo que já tinha as mãos sobre o puxador da porta de madeira do armário — É... Senhor — disfarçou — Por favor, não abra esse armário.
O rapaz caminhou a passos acelerados até o outro lado da sala e se juntou ao oficial mais baixo. Celina se manteve no mesmo lugar, próxima ao outro desconfiado, ela encontrou os olhos de Colth escondidos entre a fresta da porta e se conteve.
— Por que não? — O homem da barba volumosa perguntava com suspeitas em seu olhar.
— Aí dentro, tá uma bagunça. Roupas e mais roupas. Se você abrir, vai ser uma avalanche. — respondeu Aldren sem criatividade.
— Está falando sério? — duvidou o homem. Continuava com a mão sobre o puxador da porta.
— Como eu disse. Acabamos de nós mudar. As roupas ainda estão bagunçadas.
— Sabe, eu dei uma olhada pela sua casa. Ela é bem aconchegante. — O policial apontava com os olhos para todo o ambiente.
— Obrigado.
— Um quarto, um banheiro, uma cozinha, e uma sala. Só isso? É só vocês dois?
— Somos só eu e a minha querida esposa, não precisamos mais do que isso para viver. — Aldren mantinha seu sorriso falso estampado na cara.
O homem respirou fundo, como se achasse a resposta para algo. Desistiu da porta e se virou completamente para o rapaz.
De costas para o armário, o policial voltou a segurar o seu mosquete com ambas as mãos enquanto mostrava um sorriso sarcástico sobre Aldren. Continuou:
— Possuem uma dúzia de fotos na parede, mas nenhuma tem vocês nelas e, além disso, não sabe nem quantos quartos há na casa. — Deu um passo ameaçador em direção ao rapaz. — São dois quartos. Sabe o que eu acho? Acho que vocês não são daqui.
Assim que terminou a sua fala, o policial apontou o mosquete para o peito de Aldren que, após um passo recuado, paralisou-se.
— O que estão escondendo? — perguntou o policial crescendo frente ao rapaz.
O barulho repentino de chute na superfície de madeira ressoou pela casa.
A porta do armário às costas do ameaçador, se abriu repentinamente. Garta, usando o mosquete que carregava consigo, deu uma coronhada no homem em um só movimento. A mulher foi tão rápida que o oficial não teve tempo nem de colocar o seu dedo no gatilho da arma que carregava, em seguida ele apagou sem saber o que havia lhe acertado.
De fato, a guardiã tinha razão, aqueles dois policiais eram totalmente despreparados e as suas experiencias se resumiam a fiscalizar vendas de produtos no mercado de rua.
Em meio a movimentação repentina, Celina empurrou o segundo policial em meio a sala, que surpreendido, caiu ao chão. A garota correu ofegante para longe enquanto o homem se levantava rápido.
Quando o homem finalmente se ergueu do chão, apontou seu mosquete para o primeiro alvo que viu, Aldren, do outro lado da sala. Teve tempo de notar o seu parceiro de patente já desacordado ao chão enquanto a mulher de cabelos negros e óculos reluzentes lhe fixava em sua mira.
Ambos se contiveram em ameaças estagnadas.
— Tsc.
Um em cada canto da sala, Garta e o policial, se encaravam e acariciavam o gatilho de suas armas. Um movimento em falso e a casa se tornaria um campo de guerra.
A guardiã apontava seu mosquete a pólvora em direção ao símbolo da polícia bordado no uniforme do homem enquanto ele possuía Aldren na mira do seu mosquete Sathsai.
— Abaixe a arma! Ou a cabeça do seu amigo vira cinzas! — Exclamou o policial inexperientemente abalado.
— Você pode sair se quiser! — Garta gritava em direção ao oficial, mas sua verdadeira intenção era a de que Colth entendesse a mensagem, deu certo.
— Eu não vou à lugar algum. — respondeu o policial sem notar a porta do armário às suas costas abrindo devagar. — Eu sirvo ao império. Tenho luz no meu sangue. Não corro de inimigos, muito menos de rebeldes.
Sorrateiramente, Colth se aproximou do homem que tentava manter a postura, levantou a faca até as proximades do colarinho do uniforme da policia e hesitou.
O rapaz com a faca continha o seu nervosismo. Estava com o rosto nitidamente apavorado enquanto suas mãos tremiam em transparecer.
“Eu não consigo. Eu não consigo.” Pensou. Na sua cabeça aquilo era inadmissível. Estava prestes a ferir uma pessoa e, se não bastasse, seu alvo era um oficial do império.
— Eu não consigo. — deixou escapar o seu pensamento em um sussurro quase choroso entre os dentes.
— O quê? — surpreendeu-se o homem.
Com o susto, o policial se virou bruscamente buscando levar a mira de sua arma para quem quer que estivesse às suas costas, seu movimento foi interrompido, mesmo assim, puxou o gatilho sem pensar. Garta fez o mesmo em resposta ao movimento súbito. Tudo durou apenas frações de um segundo.
Bang! Swooish! Os sons diferentes, primeiro da pólvora explodindo e, em seguida o da energia do cristal de Sathsai queimando o ar, se misturavam e ecoavam para além da sala. O completo silêncio veio para elucidar o ocorrido.
Celina, em um movimento inconsequente, interrompeu o movimento da arma do policial evitando que ela se alinhasse ao corpo trêmulo de Colth. O rastro de luz deixado pela energia do disparo do oficial, passou tão perto do pescoço da garota, que alguns fios dos seus belos cabelos claros tiveram as pontas carbonizadas.
O disparo vindo do mosquete do homem cortou a sala em um rastro luminoso, atravessou a fina parede de madeira queimando-a e deixando para trás uma abertura circular perfeita do tamanho de uma moeda. A energia só parou sua destruição ao chocar-se com a parede de tijolos no exterior da residência. Quanto ao outro disparo, o policial não teve a mesma sorte da garota.
O silêncio era rompido pelo barulho do corpo falecido caindo sobre o tapete empoeirado da sala.
— Merda... — sussurrou Colth em pavor, congelou.
— O que você fez!? O que você... — Celina partiu para cima do rapaz paralisado, seu rosto era manchado por gotas de sangue vindas do corpo que esfriava diante de seus olhos.
— E-eu...
Colth estava completamente assustado e estático, continuava a observar o cadáver sendo abraçado aos poucos por uma poça melosa de sangue ao chão.
— Você podia ter nos matado. — Celina segurou o colarinho do rapaz em ameaça imprevisível. Colth não deu a mínima atenção, continuava imóvel com os olhos fixos no cadáver. — Seu. Seu...
— Celina, não! — Aldren se colocava na frente da garota enfurecida. Ele segurou as mãos da garota que realmente parecia estar disposta a dar alguns socos em Colth.
— Aldren... Você poderia... — Celina tentava justificar a emoção entalada em sua garganta. Lágrimas brotavam dos cantos de seus olhos em uma tempestade sentimental que ela não saberia comedir.
— Se controla, Celina. Agora não... — implorava Aldren enquanto acariciava os ombros da garota.
O coração da garota ardia e sua respiração falhava. Buscava o oxigênio do ar, mas seus pulmões pareciam não se encher.
— Você... — Perturbada, Perdeu as forças em suas pernas e caiu enfraquecida.
— Celina... — Aldren arregalou os olhos e segurou a garota para impedi-la de machucar os joelhos na queda ao chão.
A dois passos dali, Colth continuava transtornado a observar o cadáver do policial:
— E-ele tinha filhos... Nós somos assassinos.
O rapaz aflito estava em um estado tão caótico quanto o da garota. Seus olhos tremiam assim como as suas mãos, evidenciavam que a visão daquela morte era algo que violentamente o impactou.
— Celina... Calma, Celina. — Aldren seguia na tentativa de acalmar a garota.
— Ahhh! Eu não consigo respirar, Aldren. — sussurrou Celina com o pouco de ar que lhe restava em meio a dor absoluta sobre o peito. Parecia estar se afogando, mesmo não tendo motivos para isso. — Eu não consigo respirar... Eu não...
— Que merda é essa? — Garta lançava os seus pensamentos ao ar. Jamais esperava por aquela cena desastrosa.
Colth débil paralisado de pé no canto da sala, Celina ao chão tentando recuperar o seu fôlego, e um cadáver jorrando sangue sobre o tapete do cômodo. A guardiã não fazia ideia de como resolver nada disso.
— A Celina entrou em pânico... — disse Aldren quase em um pedido de ajuda. Era o único são além de Garta.
— Merda... — repetiu Garta hesitando.
— Eu tô aqui. Eu tô aqui, com você. Respira... — o rapaz continuava a socorrer e acalmar a garota em seus braços.
— Não é hora para isso. Os outros policiais devem ter ouvido os disparos. — Garta sabia que essa afirmação não serviria para nada, mesmo assim o fez em meio ao estresse.
— Isso, Celina... Calma. Bem calma.
— Fuuuu... — finalmente ela respirou fundo. Começava a atenuar o seu caos interior com a ajuda de Aldren.
O rapaz foi tão rápido e certeiro em suas ações, que era notório já ter experienciado aquele tipo de situação antes.
Swooish! Zuniu o disparo realizado do lado de fora da casa. O feixe de luz arrebentou o vidro fino da janela e adentrou à sala rasgando o ar próximo da cabeça de Garta.
Imediatamente, a mulher se agachou, seguiu para debaixo da mesma janela por onde a energia vinda do disparo passou. Por sorte, o restante do grupo estava fora de vista do atirador na rua.
— Aqui é da polícia da capital! Saiam da casa, imediatamente! — Gritou o homem do outro lado da rua.
— Primeiro atiram e depois avisam? — sussurrou Garta para si mesma tendo a proteção da parede exterior da casa.
Nesse momento, se sentiu agradecida ao ver os colegas em lugares não visíveis para os que estavam fora, mesmo assim tinha que apressa-los.
— Eles já estão aqui! Aldren! — gritou Garta recarregando o seu mosquete a pólvora.
— Tá! Eu já percebi — respondeu o rapaz sem tirar os olhos de Celina que, finalmente, respirava com todo o potencial de seus pulmões. — Colth, me escuta — Aldren dava dois passos rápidos até o amigo ainda em estado de choque. — Eu sei que é difícil. Mas era nós ou eles.
Colth finalmente movimentava as suas pupilas em uma direção que fizesse sentido. Sentia o calor das mãos de Aldren em seus ombros e parecia ter retomado parte da consciência.
— Não foi sua culpa, tá bom? Todos sabemos disso — sensibilizava Aldren em busca de alguma resposta do rapaz.
Um balançar de cabeça positivo vindo de Colth, sem palavras, foi o que conseguiu arrancar do pobre recém traumatizado.
Bang! O estouro da pólvora chamou a atenção. Garta foi quem disparou, acertou a superfície das pedras da rua. Aquele era um tiro que tinha como objetivo atrasar a dupla de policiais que tentava se aproximar da casa. Eles se escondiam atrás da grande lixeira na calçada do outro lado da rua enquanto miravam para a janela da sala caótica.
— Aldren! — Garta em tom de urgência.
— Me escuta, Colth. Eu preciso que você vá com a Celina lá para o porão. Você pode fazer isso? — Aldren se utilizava da gentileza ainda que tenso e apressado.
— ... — A resposta de Colth era apenas um aceno positivo com a cabeça. Visivelmente abatido.
— Ótimo. Vão para lá e esperem.
Colth confirmava novamente com o aceno. Se esgueirou abaixado acompanhando Celina até a cozinha, longe da confusão.
Aldren pôde finalmente focar no combate que estava por vir. Rapidamente pegou a arma ensanguentada do policial morto há pouco e se escondeu atrás da parede da sala, a exemplo de Garta. Em lados opostos da janela, eles se olhavam apressados.
— Aldren, você já usou uma dessas? — Garta sabia a resposta, mesmo assim perguntou.
— Nunca. — O rapaz respondia observando o estranho mosquete de Sathsai em suas mãos.
— Aqui. Troca comigo. — entregou o seu mosquete e recebeu o do colega com o cuidado de não se deixarem visíveis pelos homens no exterior.
— Tenho que dizer que eu também não tenho muita experiencia com essa aqui.
— Não precisa ter experiência. Eu só preciso que você dispare na direção deles e os distraia. Eu faço o resto. — atestou Garta segura de si.
— Se você está dizendo...
O rapaz se preparava para o que estava por vir. Seu dedo já estava posicionado no gatilho.
A dupla de homens do outro lado da rua, ainda atrás da mesma lixeira, esperava por um único vacilo de quem estava dentro da casa. Continuavam a apontar os seus mosquetes e se atentavam a qualquer movimento vindo da janela.
— Espere o meu sinal —ordenou Garta. — Eles ainda não sabem de você. Se não for de primeira, perdemos o fator surpresa.
— Isso quer dizer que só temos uma chance?
— Espera o meu sinal, Aldren.
A mulher repetia a instrução que era atendida com o silêncio do rapaz. Garta fechou os olhos e respirou fundo. Um, dois segundos.
— Agora!
Aldren se mostrou na janela e em seguida puxou o gatilho. O artefato de chumbo lançado pelo mosquete atravessou a rua passando longe dos homens, acertou a parede de tijolos logo atrás deles. Isso foi o suficiente para ambos voltarem a suas atenções e, o mais importante, suas miras para o assustado rapaz na outra extremidade da janela.
Swooish! Swooish! Os disparos visavam Aldren, mas passaram pela janela sem acertar alvo algum. O rapaz já havia se encoberto atrás da parede, não estava mais visível. Em seguida, um terceiro disparo ecoou pelas apertadas ruas do norte e iluminou a sala da casa.
Swooish! O feixe de luz desenhou uma perfeita reta na horizontal começando da janela, cortando a rua, e chegando até os homens na calçada. Acertou em cheio a testa de um dos policiais.
Mesmo depois do seu disparo, Garta continuou com seu corpo à mostra na janela. Havia deixado a sua arma de lado, e agora apontava a palma da sua mão direita em direção ao único homem restante do outro lado da rua.
— Garta, o que você está fazendo? — perguntou Aldren assustado.
A mulher fitava os olhos e encarava o policial. Ele tinha a mira da sua poderosa arma de Sathsai apontada para o único alvo na janela.
— Garta, sai daí! Você vai... — Em meio aos gritos desesperados de Aldren, uma fraca luz tomou conta da palma da mão da guardiã.
Blast! Após o estranho som vindo do exterior, o silêncio reinou.
— Pronto. — Garta respirou ofegante antes de baixar o braço e voltar os olhos pouco expressivos para o colega ao seu lado.
— Pr-pronto?
— Vamos ver como estão os outros.
— Espera. I-isso foi...
— O deslocamento? Sim. — Garta resumiu as palavras não encontradas pelo rapaz surpreso.
Aldren manteve-se boquiaberto enquanto Garta caminhou em direção a cozinha.
O rapaz bem que tentou, mas a procura pelos inimigos do outro lado da rua, não rendeu em nada. Só enxergou a lixeira sobre a calçada e um único cadáver com a testa em brasas.
— Você mandou o policial para o outro mundo? — Tirou os olhos da janela para acompanhar a guardiã.
— Sim, para o mundo de Finn. O meu irmão vai cuidar dele.
— Incrível. Mas porque você se expôs tanto. Quer dizer, o policial poderia ter te acertado antes de...
— Não. Ele não podia. Se pudesse, eu não estaria aqui falando com você, não é? — respondeu diretamente em tom ríspido.
— Por que não? — Em meio a cozinha, Aldren interrompia seus passos parando frente à mulher de rosto fechado.
— Quatro segundos. Esse é o tempo que um mosquete de Sathsai leva entre disparos. — Garta desviou-se do rapaz obstáculo e seguiu até a porta que levava ao porão.
— Quatro segundos? Isso é loucura... — sussurrou Aldren engolindo seco.