Volume 1

Capítulo 21: Cassino

De repente, as nuvens negras que consumiam os céus desapareceram e, uma chuva torrencial começou a cair dos céus, concentrada apenas na ilha Jaisen. Raios continuaram a cair dos céus e Sienna escutou o som forte de uma porta batendo.

Olhou na direção do som e viu Morpheus entrando todo molhado na loja de Afreim. Ele estava encharcado da cabeça aos pés, uma aura sombria o circulava, mas o seu rosto permanecia calmo, encarando com um olhar frio a menina.

Percebendo do que se tratava, a jovem abaixou a cabeça e segurou as lágrimas para não descumprir a sua promessa.

O homem andou na sua direção, colocou a mão no ombro, confortando-a e disse:

— Nós vamos trazê-la de volta. 

Sienna levantou a cabeça e concordou, seguindo os seus olhos em direção ao comerciante que encarava a dupla em silêncio.

— Ele pode nos ajudar! — exclamou, levantando-se, seguiu na direção do homem. — Você vai ajudar.

Afreim engoliu seco e não se atreveu a negar.

Hahaha... Mas é claro!

 

 

— Só existem dois lugares em toda a cidade onde ela possa estar, no Coliseu ou no Cassino — falou, apontando para um mapa rústico da cidade. — Não acredito que ela esteja no Coliseu, pois logo teríamos notícias dela pelas ruas.

— Então a única opção é o Cassino. Tsk! Eu não queria me envolver com esse tipo de gente — Morpheus estalou a língua, ele parecia saber do que se tratava o Cassino, o que surpreendeu Sienna.

— Você sabe o que eles querem com ela? — A menina perguntou angustiada.

— Não sei. Normalmente os piratas venderiam ela como escrava ou algo similar, mas nunca teriam tanto trabalho. Por alguma razão, Amon está obcecado em pegar vocês.

Sienna nunca encontrou-se com Amon, porém possuía uma visão temerosa em relação a ele. Em sua percepção, ele era um louco completo.

Morpheus por outro lado possuía sentimentos mistos em relação ao pirata. Toda aquela obsessão era diretamente ligada a ele. E, o seu rosto resoluto, demonstrava saber do porque.

— A única forma de sabermos onde ela está é indo até o Cassino. Se eles vão vender ela como escrava para alguém da ilha, só saberemos participando da venda.

— Amanhã nós dois iremos até o lugar.

— Está bem. 

Os dois homens concordaram rapidamente, mas Sienna não.

— Vocês querem me deixar para trás?

— Bem... — Afreim gaguejou um pouco. — Você é uma criança, não podemos levá-la até aquele lugar.

— Eu posso ser útil e, além disso, eles conhecem o rosto do Senhor Morpheus, mas nunca viram o meu.

Sienna e os dois homens continuaram discutindo, tentando convencer a menina de que não poderia ir, mas nada adiantou.

— Sienna, os seus cabelos brancos lhe entregariam. Não precisa se preocupar, trarei Ângela de volta.

— Eu acredito em você, porque ela me disse para acreditar e, em troca, quero que você confie em mim apenas uma vez.

Os olhos cheios de força de vontade brilharam como um chama vermelha e o homem de preto fraquejou.

— O que iremos fazer então? 

— Eu tenho uma ideia, mas você não vai gostar.

Todos os olhares focaram em Afreim.

 

 

No chão da loja, vários fios brancos estavam caídos no chão. Sienna vestia-se com uma calça marrom, sapatos fechados e uma blusa amarelada masculina. Na cabeça, usava um turbante de cor acinzentada.

Sienna assumiu uma aparência mais masculina, cortou fora os seus longos cabelos brancos, tudo isto para poder ir com Afreim até o Cassino

Ela não possuía nem um pingo de arrependimento.

O Plano foi revisado por eles. Afreim e Sienna entrariam no Cassino. Morpheus os vigiaria de um lugar seguro e, quando encontrassem Ângela, ele iria criar uma confusão, fazendo com que as pessoas se distraíssem, neste momento, os outros dois agiriam.

Com o plano em mente, eles foram executar as suas tarefas.

Antes de partir, Morpheus invocou um pequeno familiar. Ele criou um corvo todo negro, que possuía uma aura infeliz e olhos tão escuros quanto o próprio breu. 

O corvo voou aos céus em direção ao Cassino. 

Logo, Morpheus saiu da loja, sumindo entre as sombras. Afreim pegou todo o dinheiro que possuía na loja e partiu junto de Sienna em direção ao lugar.

Eles rapidamente atravessaram a cidade e ficaram de frente para o enorme prédio lotado de pessoas.

Sienna surpreendeu-se com o tamanho do Cassino. Ele era muito maior do que imaginou, quase imponente se comparado às demais casas da região.

A dupla passou pelo hall de entrada, onde foram cordialmente recebidos por uma pessoa vestida de maneira elegante.

Assim que entraram, o luxo assumiu a visão do par. A decoração do lugar era de muitas formas exagerada. Parecia que ouro revestia tudo, desde o chão ao teto. Dezenas de mesas de apostas rondavam todas as direções.

Servas serviam bebidas de um lado ao outro, sendo todas mulheres morenas que eram belíssimas aos olhos e possuíam corpos exuberantes.

Homens ricos riam enquanto acompanhados por mulheres encantadoras. O cheiro da luxúria e avareza rondava por toda a parte.

Apenas pisar naquele lugar, fazia com que Sienna sentisse o seu corpo ser consumido por uma corrupção avassaladora.

— Garota, não se distraia e ande perto de mim. Esse lugar é perigoso.

— Você já esteve aqui antes?

— Muito tempo atrás...

Afreim fez uma expressão feia e continuou caminhando para mais fundo dentro do salão.

De repente, assim do nada, uma luta estourou em uma mesa de algum tipo de jogo de cartas.

— Vocês estão trapaceando! Devolva o meu dinheiro imediatamente! — disse um homem vestido com artigos de luxo.

— Senhor, pague a sua dívida e se retire do Cassino. Se não se retirar, terei que chamar a segurança.

— O que você disse, Dealer maldito!?

O Dealer tentou acabar com a situação rapidamente, mas o homem, enfurecido, agarrou ele pela gola da camiseta e ameaçou socar o seu rosto.

Logo, o Dealer soprou um pequeno apito, chamando a segurança.

Sienna e o comerciante tomaram distância da dupla, vendo tudo de longe. A garota olhou um pouco confusa para o salão, pois apenas as atendentes estavam vindo, mas não havia nenhum segurança.

— Onde estão os seguranças? 

— Lá estão elas.

— Elas?

Uma das belas mulheres morenas agarrou o agressor pelo braço com força, fazendo com que ele gritasse em agonia. Outra beleza surgiu por detrás, derrubando o homem no chão e o imobilizado.

Em seguida, um pequeno grupo levou o homem desmaiado para algumas escadas que levavam até outra área do Cassino.

— Desculpem pela confusão, senhores. Já resolvemos tudo — falou uma das atendentes, retirando-se do lugar e voltando aos seus afazeres.

O lugar voltou a calma anterior, como se todos tivessem ignorado aquilo. Sienna ficou boquiaberta com o que ocorreu, mas logo percebeu algo.

— Afreim, eu acho que minha mãe deve estar naquele outro salão. Como chegamos até lá?

O comerciante fez uma expressão infeliz, ele então explicou que aquela era a área vip, apenas para pessoas ricas da região e bons apostadores.

— É impossível chegar até lá com essas mulheres servindo de segurança — comentou o gordo.

— Não tem nenhum  jogo em que possamos tentar a sorte? 

— Existem vários, mas as chances são mínimas.

— Mas é possível, não é?

Vendo a determinação inabalável de Sienna, o comerciante só pode suspirar. Ele sabia o poder que as apostar possuíam, era o tipo de droga mais viciante do mundo, pois o debilitado nem mesmo percebia estar usando-a.

O principal motivo para ele querer destituir Amon era para livrar-se daquele maldito Cassino. 

— Está bem! — Ele cedeu. — Vamos achar algum jogo.

A dupla rodou por todo o salão, mas Sienna nunca ficou satisfeita com nenhum dos jogos que viu. Desde de jogar dados, até tentar adivinhar o número que viria a seguir em uma roleta, nada lhe agradava.

Eles acabaram retornando ao ponto inicial, onde ficava aquele jogo de cartas. Sienna aproximou-se da mesa e viu os homens jogando.

— Afreim, espere aí.

— O que foi? 

— Esse jogo... Eu acho que conheço.

O Dealer entregava um par de cartas para os homens na mesa e, entre si, eles tentavam chegar mais próximos de algum número específico.

Enquanto os homens jogavam, o comerciante se aproximou do homem que entregava as cartas e lhe perguntou sobre o jogo que nem mesmo ele conhecia.

— Com licença, que jogo é esse?

— Se chama BlackJack, senhor. É um jogo inventado por um nobre do norte, então é uma novidade em nosso estabelecimento. Gostaria de tentar a sorte? 

Um baque atingiu Sienna que ficou parada enquanto uma dor de cabeça lhe assombrou junto de um sentimento familiar.

— Afreim... — chamou a menina. Ao olhar para ela, o comerciante ficou pasmo, pois os antes enormes olhos vermelhos da garota, tornaram-se finas e afiadas pupilas de um gato. — É esse jogo. Vamos apostar!

O comerciante sentou-se na mesa, Sienna ficou parada ao seu lado. A garota estava concentrada ao máximo.



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