Volume 1

Capítulo 20: A Fúria de Morpheus

O grupo retornou para a loja do comerciante. Morpheus se certificou de que ninguém os havia seguido, ele prontificou a sua atenção nisso e também criou um familiar para vigiar os arredores, criando um ambiente um pouco seguro.

Apenas um Mago ou Assassino de alto nível poderia aproximar-se do lugar sem que ele percebesse. Isso lhe fez relaxar um pouco, mas nunca baixou a guarda.

Logo que chegaram ao lugar, Sienna com muito nervosismo perguntou:

— Ângela!... Como Ângela está?! — O rosto apreensivo da jovem brilhou na noite escura.

— Ela está bem — Morpheus respondeu fechando uma janela dentro da loja

— Onde ela está? Ela acordou?

— Não, eu a deixei no navio.

Assim que falou isso, o rosto de Sienna ficou branco, ela deu um passo para trás e caiu de joelhos.

— Não... não! Truman, o marujo que me levou, ele disse que o Capitão do barco vendeu a Ângela. Ele vendeu ela para os piratas!

Ao escutar aquilo, as pupilas dele afinaram e uma grande flutuação de mana ocorreu.

Morpheus não pensou duas vezes. Ele abriu a janela e começou a correr na direção da costa. A velocidade do homem ultrapassava em muito o normal, parecia apenas um vulto negro passando em meio a escuridão.

Ele culpava-se por ser descuidado, não deveria ter baixado a guarda e muito menos ter deixado Ângela sozinha naquele lugar. Em um tempo relâmpago, chegou à costa, onde o navio encontrava-se parado.

Rapidamente entrou no convés, mas já era tarde demais. Não havia uma única alma em todo o lugar. Ele passou um tempo vasculhando, contudo não encontrou nem resquícios da Ogra ou dos tripulantes.

Entrou na cabine, observou a cama onde Ângela descansava e deu um soco em uma parede, destruindo por completo a madeira.

Em toda a sua longínqua vida poucas foram as vezes que Morpheus irritou-se. Houveram quatro, exatamente quatro vezes e, em todas, um desastre ocorreu.

As sombras que se escondiam dentro do corpo de Morpheus vazaram aos céus, cobrindo toda a ilha de Jaisen em uma escuridão sem fim.

 

 

Sienna continuava sentada no chão com o rosto branco. O seu coração estava pesado e a preocupação que sentia não poderia ser medida.

— O que houve, menina? — perguntou Afreim, notando o estado triste de se ver em que a garota estava.

— Minha mãe... Ela estava em coma dentro do navio em que nós viemos.

— Não se preocupe. Aquele homem vai trazer ela de volta, né?

Sienna olhou para trás, vendo o rosto gentil do comerciante; isto acalmou o seu coração, mas ela ainda estava receosa. Olhando para a janela que foi aberta anteriormente, observou o céu que se enegrecia por uma gigantesca nuvem negra.

— Senhor Afreim... — Ela chamou, o homem se aproximou devagar e os dois olharam o céu. — Aquilo é normal?

— Isso não é um bom sinal...

As nuvens no céu tinham rostos nelas que pareciam clamar em sofrimento enquanto furiosamente rugiam trovões negros.

 

 

Amon e uma dúzia de homens atravessaram um enorme corredor luxuoso, com quadros e prataria servindo de mobília.

No fim do corredor, havia uma grande porta de madeira. O pirata aproximou-se dela e deu um chute forte, quebrando o trinco de ferro que a mantinha presa. Em seguida, o grupo adentrou no salão.

Dentro da sala, um único homem encontrava-se de pé, encarava um livro com parcimônia, encantado com a sua leitura, e tinha uma aparência nobre, vestindo roupas incomuns para a região.

Usava um blusa social branca com um colarinho de mesma cor. Também usava um monóculo de ouro que estava preso por uma pequena corrente próxima ao ouvido. Os seus cabelos loiros criavam uma sintonia estonteante com o lugar luxuoso.

— Como sempre... um bruto! — exclamou o intrépido, observando aqueles que invadiram os seus aposentos. — O que lhe traz aqui, Amon?

Rapidamente os piratas cercaram a grande sala. Como um bando de arruaceiros, eles se comportavam como crianças em uma loja de doces. O homem de blusa branca encarou-os com ódio.

Amon sentou em uma cadeira, pôs os pés na mesa, bateu com a sua grande espada no chão e exclamou:

— Onde está o monstro, Leon!?

— Não sei do que está falando. — Leon, o intrépido homem, fechou o seu livro com força e manteve uma expressão calma e inabalável. — Ei, Ei, Ei! Se alguma coisa sumir do meu escritório você irá pagar.

— Eu não estou brincando. Meus homens tem olhos na cidade inteira, eles viram Willy vindo nessa direção e logo depois um enorme caixote sendo carregado por uma dúzia dos seus homens.

Leon caminhou pela sala, encarando os rostos dos piratas e até dando o tapa na mão de um deles que tentou roubar um dos itens do salão.

— Aparentemente você não cumpriu com o seu acordo... Sabe, Amon, algumas pessoas ficam magoadas quando você arranca um dos dedos dela.

A cimitarra foi puxada com força, destruindo um pedaço do chão de madeira. Ela passou com velocidade, cortando o ar ao redor e foi pressionada com força no pescoço do elegante homem.

— Não irei perguntar três vezes. Onde está o monstro? Me diga antes que eu destrua esse lugar inteiro atrás dele!

O intrépido homem finalmente percebeu que Amon não estava de brincadeira.  Respirando fundo, ele levantou as mãos em rendição.

— Você sabe que não tenho controle sobre isso. Eu vou te contar, mas primeiro... Abaixe essa arma, o ferro me dá alergia. — Amon bufou e colocou a espada para baixo. — Nossa! Achei realmente que você me mataria. Você nunca bateu muito bem da cabeça, mas tentar me matar, conhecendo as consequências que isso traria é simplesmente loucura

— Me conte logo.

— Uh! Está bem! — Desta vez, Leon foi aquele que soltou uma bufada. — Ela foi levada ao Leilão de escravos no Reino Salles. Vai ser a principal atração do show.

Amon sentiu uma indignação sem precedentes, destruindo a mesa onde anteriormente colocou os pés.

— Droga! — esbravejou em fúria.

Leon nunca havia visto Amon agir daquela maneira, então acreditou que havia algo mais profundo entre ele e aquele monstro.

— Conhecia aquela criatura?

— Não! — Ele bateu outra vez na madeira.

— Então por que tamanha obsessão?

De repente, um raio caiu perto de onde eles estavam. O som furioso ressoou, destruindo até uma das janelas de vidro do escritório. Todos olharam para o lado de fora e a visão assombrou suas almas.

Amon sabia muito bem o que estava ocorrendo.

— Por causa disso... O verdadeiro monstro se irritou.

Leon encarou o seus e o rosto complacente se desfez em um choque real.

— Magia do mais alto nível... Não! Isso é algo mais perigoso.

Amon cuspiu no chão e começou a sair da sala, chamando os seus subordinados para vir com ele.

Ei! Aonde você está indo? — Leon perguntou ainda um pouco chocado.

— Lhe aconselho a fechar as portas, Leon. Abra um grande sorriso, pois irritamos o próprio diabo e provavelmente ele virá atrás de você primeiro.

O pirata abriu esse largo sorriso e saiu caminhando junto dos seus homens. Leon ficou sozinho no lugar ainda encarando o céu negro.

“Uma tempestade se aproxima”, pensou puxando um relógio dourado do bolso com a marca de um escudo, nele estava estampado, um cavalo, um sapo, uma espada e vários flores circulando-o por inteiro.

 

 

Enquanto Amon e seus homens saiam do enorme corredor, duas mulheres carregavam um jovem amarrado para dentro da sala. As duas eram beldades morenas, mas Amon as ignorou por completo e apenas prestou atenção no garoto.

Tinha uma leve impressão de que o conhecia, porém nada vinha à mente. Ele também não iria perguntas, pois conhecia o poder aterrorizante que possuíam, até ele que acabou de subir de grau teria que tomar cuidado ao enfrentá-las.

Concluiu que não era nada demais e seguiu o caminho. O jovem sendo carregado pelas duas mulheres não era ninguém menos que Truman desacordado.



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