Volume 1

Capítulo 12: A Beleza de Jaisen

Sienna e Truman atravessaram uma pequena cerca de madeira e alcançaram uma estrada de pedra. Antes, eles estavam passando por uma estrada de terra pisada, provavelmente criada pela passagem de gado e carroças pelo tempo. No entanto, eles agora alcançaram uma estrada feita de maneira artificial. Os dois, afinal, chegaram a grande cidade de Jaisen.

Os dois começaram a caminhar pelas ruas de pedra cinzenta. Nos arredores, diferente de antes, em que quase não encontravam com ninguém, eles agora passavam por várias pessoas. Observando aquilo, Sienna começou a sentir-se nervosa e sempre caminhava com a cabeça baixa.

O número de pessoas aumentou cada vez mais, deixando o nervosismo da jovem maior. Ela começou a observar os cidadãos que iam e vinham pela larga rua, em seguida observou as expressões alegres em seus rostos.

A cidade de Jaisen era pintada em múltiplas cores, isto graças aos coloridos tapetes que cobriam as casas. Sienna chutou que aquilo deveria ser algo da cultura daquele país. Apesar de achar os tapetes um pouco bregas, ela não negava a beleza e o ar artístico que a cidade possuía.

Além dos tapetes, as mulheres também andavam com belos véus coloridos, feito de tecidos delicados que cobriam apenas o rosto, e turbantes de tecido pesado com cores mais neutras, cobrindo os cabelos e, em alguns casos, caindo e se tornando vestimentas similares a burcas, mas menos restritivas.

Esse estilo único de roupas foi o que mais chamou a atenção dela. Ela não sabia descrever muito bem o sentimento, mas gostaria de usar aquelas roupas e ver a si mesma em um espelho, deslumbrando-se na frente dele. 

Ela retirou aqueles pensamentos de sua mente e continuou percorrendo as coloridas ruas, sempre se surpreendendo com coisas novas e brilhantes e e medo que percorria por sua mente diminuía aos poucos cada vez mais, até tornar-se apenas pura curiosidade.

Os olhos da jovem brilhavam ao ver cada nova tapeçaria, cada nova roupa utilizada pelas belas, que iam e vinham pela cidade, e aquilo não deixou de passar despercebido por Truman, que soltou um sorriso ao notar o rosto de Sienna.

— Essa é a beleza de Jaisen, a pequena joia do mar do limbo! 

Sienna continuou aproveitando a viagem enquanto caminhava e perguntava sobre tudo o que poderia ver, com uma curiosidade ardente que só ela possuía. Ela queria saber tudo sobre tudo, desde o motivo para as mulheres usarem turbantes e lindas máscaras faciais até a razão para existirem os tapetes em todas as casas.

Truman mal conseguia acompanhar a leva de perguntas e muitas delas ele simplesmente não sabia responder com exatidão. Apesar disso, ver a criança feliz também o fazia feliz. Ele sempre foi criado nas ruas daquela cidade e reparou que as pessoas não pareciam ligar para os encantos dela.

“Jaisen? O que tem de bom aqui!” Eram palavras comuns que já havia escutado diversas vezes. As pessoas não valorizavam a própria cultura ou as próprias belezas, apenas olhavam para os de fora e desejavam aquilo que estava longe.

Ver alguém tão entusiasmado com as coisas locais, deixou-lhe também encantado, pois, entre todos ali, ele era o que mais se satisfazia em observar os demais encantados com aquilo que amava. Por um momento, os dois esqueceram totalmente o motivo para estarem ali e apenas andavam com sorrisos, feito duas crianças comuns.

Os dois aproximaram-se de um beco escuro, Sienna deu um passo para trás. O lugar era pequeno, úmido e quase não se conseguia ver o final dele. Truman continuou andando na direção dele e a chamou:

— Vamos por aqui é um atalho... — Ele estendeu a mão, puxando a garota para perto do beco. — A gente vai sair direto na rua principal.

— Por que o atalho precisa ser nesse beco? 

Passando pelo pequeno espaço sujo, Sienna sentiu dificuldade em andar, pois eles estavam quase se arrastando pelo curto cubículo. Entretanto, perto da metade do caminho, ela começou a escutar vozes.

Truman manteve um sorriso no rosto. Ele sabia que a jovem já havia se encantado pelas pequenas coisas que havia visto anteriormente, assim que chegassem na área principal da cidade, ele acreditava que ela estaria em êxtase.

— O que está acontecendo? Que barulho é esse? — perguntou Sienna um pouco nervosa.

— Espere! Já estamos quase chegando e você vai poder ver. — Ele agarrou o braço dela e a ajudou a andar mais rápido.

Ao alcançarem o final do beco, Sienna presenciou a verdadeira cidade. O número de pessoas andando pela rua eram incontáveis , crianças corriam de um lado para o outro, com sorrisos e brinquedos nas mãos.

— Venham comprar aqui! As melhores especiarias! — gritou um homem vestindo roupas pesadas.

Sienna notou que havia vários deles, usando turbantes de cores neutras, com uma quantia muito maior de tecido cobrindo-os, todavia, eles não pareciam estar afetados pelo calor e sorriam vendendo inúmeras mercadorias.

As belas mulheres também andavam de um lado ao outro, comprando os produtos ou apenas caminhando pelas ruas. Elas pareciam desfilar com suas coloridas roupas pela alegre cidade. Além disso, animais também eram comuns, contudo, não eram animais normais. Havia elefantes carregando mercadorias em suas costas, lagartos andavam pelas paredes das casas e alguns até usavam coleiras, também existiam cabras, bois, galinhas e vacas que andavam com tranquilidade ao lado dos seres humanos.

E então, Sienna escutou uma batida. Ela ouviu o estranho som que ressoou pelo beco. Ao virar os olhos, próximo a uma esquina, ela viu uma bela mulher morena dançando. Ela usava um fino véu vermelho no rosto e roupas leves mostrando uma boa parte da pele.

Ao lado da mulher, um homem batia, em um ritmo constante, uma espécie de tambor enorme em ele se sentava. A mulher dançava no ritmo da música e toda a sua beleza parecia aumentar com seus movimentos de cintura e mais, que pareciam serpentes hipnotizantes.

As pessoas que passavam pela dupla, paravam para ver a belíssima dança e batiam palmas no ritmo do som, tornando a atmosfera do lugar festiva.

— Você gostou daquilo? — Truman perguntou com entusiasmo.

— Eu... — Sienna quase engasgou e seus olhos brilhavam como joias — achei incrível!

— Vamos chegar mais perto, você vai ver muito mais!

Pela primeira vez desde que saiu de sua casa, Sienna não desejou retornar. Ela queria conhecer mais sobre o mundo, conhecer todos os seus sons e encantos. Ela estava lentamente moldando um sonho e isto deixou uma marca em Truman.

A dupla se aproximou da esquina, escutaram de perto a música e apreciaram em silêncio a dança. Um momento depois, Sienna começou a bater os pés com o som da música e Truman não deixou aquilo passar despercebido.

— Vamos dançar! — exclamou o jovem.

— Mas... — A garota ainda estava nervosa. 

— O que foi? Deixe disso de uma vez!

Puxando ela para um canto mais próximo dos artistas, ele segurou as mãos da menina e a guiou em uma dança atrapalhada. Eles não dançavam tão bem, pareciam apenas com um irmão mais velho brincando com a irmã mais nova.

Sienna era bem pequena em comparação a Truman, por isso ele quase a guiava por completo. Apesar de tudo, ela estava adorando aquela alegre situação e diversos olhares começaram a convergir na direção deles. A atmosfera festiva tornou-se ainda maior.

Vendo os dois jovens, outras crianças também começaram a dançar e outros artistas de rua surgiram. A calma esquina, tornou-se uma verdadeira festa em pouquíssimo tempo. Com palhaços, dançarinas, músicos e outras diversas pessoas.

A dupla terminou sua dança desengonçada e saiu do meio da confusão até outro canto da rua. Sienna tinha um enorme sorriso. Suor escorria pelo rosto da jovem, fazendo o seu cabelo tampar os olhos, mas Truman rapidamente retirou com cuidado os fios do rosto da menina.

— Truman, está ocorrendo algum tipo de festival? — falou um pouco cansada.

— Não, não temos esse tipo de coisas por aqui.  

— Então por que as pessoas comemoram tanto? — Uma pergunta sincera e inocente. 

— Por que não comemorar? Estamos vivos, não é? A vida é uma festa!

Assim como Sienna havia deixado uma marca em Truman, ele também estava deixando uma marca na garota. Ela se lembrou da conversa no navio, onde Truman lhe perguntou qual era o seu sonho, porém ela não possuía nenhum.

“Eu quero ter um sonho...”, pensou com o peito cheio de emoção.

— Sienna, por aqui. Logo chegaremos ao porto. 

A menina de cabelos brancos estava com o rosto abaixado, pois recuperava o fôlego. Ao levantar a cabeça, tomou um rápido susto.

— Truman?! — O jovem havia sumido do seu campo de visão. — Truman?!



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