Volume 1

Capítulo 10: A Fraqueza do Morpheus

Morpheus concentrou-se na mana ao redor, percebeu suas flutuações, o poder brutal que vinha e, com o leve movimento dos dedos, guiou essa energia. O sangue flutuou e formou uma esfera vermelha nítida e reluzente que refletia o rosto do seu Invocador.

Amedrontados, os homens deram alguns passos para trás. O cheiro de vômito assaltava as narinas de todos. O único que não recuou pela visão terrível foi Amon, que encarou o homem de preto com certo fascínio. Ele buscou entender o que via e se surpreendia por não conseguir.

Um movimento brusco foi feito pelas mãos de Morpheus. A esfera de energia começou a se moldar, ela começou a comprimir e alongar-se, tornando-se cilíndrica e cada vez menor. O corpo humano adulto possuía em média cerca de 5 litros de sangue, tudo isso se comprimia e alongava até formar uma longa lança vermelha.

— Capitão! É um mago! — exclamou um dos piratas.

— Cale a boca, idiota. Você acha que eu não sei o que é um mago, mas que tipo de mago é esse?

Amon conseguia sentir a flutuação de mana no ar, ela era muito anormal, nunca antes viu flutuações desse nível.

“A quantidade de mana que ele absorveu... É imensa e o seu elemento...”, pensou o pirata , ele achava que o homem era um mago de água, mas o elemento que ele usava era algo mais profundo.

A lança estava completa em pouco tempo, a cor do sangue estava mais próxima do preto do que do vermelho. O sangue comprimido pulsava e reverberação, como se um coração ainda batesse ali.

O vermelho percorre tudo, ele controla a vida e a morte. O sangue é o ferro que perfura a alma dos inimigos, ele é a fonte da morte que domina o coração dos fracos. Em meio ao Carmesim, eu me ajoelho. Desejo que esse poder perfure meus inimigos. Magia de sangue de nível alto: Lança Carmesim. 

O encantamento foi completo. Com um último pulsar, a lança voou com rapidez em linha reta, seu objetivo era Amon.

Vendo aquilo vir em sua direção, Amon percebeu que não conseguiria desviar rápido o bastante. Com um rápido reflexo, ele puxou um dos seus subordinados para perto, colocando-o no caminho destruir da lança.

O pirata não teve tempo nem de perceber que morreu, sua cabeça explodiu em pedaços que sujaram o chão de madeira de vermelho. No entanto, para a surpresa de Amon, a lança continuou percorrendo o seu caminho, imparável.

Seu poder destrutivo havia apenas aumentado, mas sua velocidade diminuiu, possibilitando que o capitão pirata pudesse escapar, mas não saindo ileso. A ponta da lança ainda acertou seu rosto, cortando o canto do seu rosto e arrancando um pedaço da orelha dele.

Um baque ressoou um segundo depois, quando a lança alcançou o outro lado do navio e atravessou a parede, parando apenas quando bateu no casco do navio.

Morpheus, vendo que seu ataque não foi efetivo, decidiu passar para um combate corpo a corpo. Ele sacou um par de lâminas e respirou fundo, sentindo sua garganta queimar por dentro. O sol estava o destruindo.

Por um segundo, Amon ficou pasmo. Ele colocou a mão no rosto, sofreu com a dor e, ao puxar ela de volta, percebeu o líquido vermelho que escorria. Um sorriso enlouquecido surgiu em seu rosto. 

Amon era conhecido como, A Enguia, pois, assim como uma, ele era quase intocável. Nem um dos seus homens, em todos os anos que estiveram juntos, viram seu capitão ser ferido em combate. Como uma enguia, ele era ágil e poderoso, atacando por trás aqueles que atacavam pela frente. A última coisa que suas vítimas viam era o sorriso aterrorizante do homem.

O sorriso que Amon demonstrava naquele instante era idêntico ao que ele fazia quando matava um inimigo, aterrorizante!

Hahahahah! — A risada do homem reverberou pelo navio. — Matem esse homem!

Abaixando o corpo, Morpheus partiu para o ataque. Ele apontou o par de lâminas para frente e, dando um impulso com todo o corpo, correu até o pirata mais próximo. Desesperado, o bandido sacou o sabre e o posicionou na sua frente, mas, assim que recebeu o ataque, a sua espada foi cortada ao meio, logo em seguida, a lâmina tocou seu peito, rasgando a carne.

Sem pensar muito, o homem de preto puxou sua outra lâmina para cima, arrancando alguns dedos do desarmado. O homem gritou de dor para os céus. Morpheus terminou o trabalho enfiando a lâmina na garganta dele.

Todos ficaram em silêncio por um segundo, pois não conseguiam entender o que havia ocorrido. Por um momento, eles acreditaram estar sonhando, mas o baque suave do corpo no chão os acordou desse sonho.

Morpheus puxou a lâmina vermelha e a limpou com a própria língua, esse movimento não passou despercebido por Amon. Ele levantou-se e puxou a sua própria arma, encarando a besta à frente.

Os movimentos do assassino eram rápidos, uma velocidade surreal. Amon se arrependia de pensar que ele era apenas um mago, pois aquilo não poderia ser apenas um mago, mas também não era um guerreiro.

A pele de Morpheus queimava constantemente, ele queria acabar com aquilo o mais rápido possível. Ele encarou o rosto de sua próxima vítima e correu. O próximo pirata nem teve tempo de reagir, a lâmina alcançou seu pescoço em um segundo e penetrou profundamente até o outro lado da cabeça. O ataque foi tão forte que quase decepou a cabeça dele.

Partindo para o próximo inimigo, ele concentrou seus olhos em Amon e encurtou a distância entre os dois em um segundo, cortando com uma das lâminas para cima. Para a surpresa dele, o inimigo desviou e atacou com a própria lâmina.

Ao receber o ataque, Morpheus nem mesmo tentou desviar. A lâmina perfurou o seu peito e atravessou até o outro lado, fazendo com que, por um instante, o ritmo frenético da luta se interrompesse.

Amon abriu o seu famigerado sorriso, mas acabou percebendo que o adversário continuava a pegar fogo.

— O que merda é...! 

A mão de Morpheus segurava a outra lâmina moveu-se, ele colocou a adaga para baixo e atravessou de cima a baixo, estraçalhando tudo pelo caminho. A cicatriz no peito de Amon agora possuía uma terceira linha na vertical.

Cuspindo uma grande quantia de sangue, o pirata deu um passo para trás, puxando o seu sabre. Olhando para o seu atacante, ele percebeu que a ferida que fez nele curou quase que de imediato, as únicas que não se curavam eram as queimaduras causadas pelo sol.

Morpheus tentou dar um passo para frente, nesse momento, sentiu algo dentro de si. Um momento depois, ele deu meia volta e correu para a sua cabine. A velocidade em que ele voltou a esconder-se na escuridão foi ainda mais rápida do que sua velocidade de ataque.

Caído no chão, Amon concentrou os olhos dentro da cabine e presenciou uma cena grotesca.

Uma massa negra começou a ser expelida por todo o corpo do misterioso  homem de preto, havia dezenas de rostos desesperados que clamavam pela própria morte e rasgavam pela carne dele que se regenerava ao mesmo tempo.

Hahaha! — A risada enlouquecida ressoou. — E eu achando que o ogro era um monstro! Hahahahah! O verdadeiro monstro está ali! — Ele apontou o dedo para dentro da cabine, onde a imagem dos rostos demoníacos se retorciam em agonia.

Dentro da cabine, Morpheus usava toda a sua força para conter a massa negra dentro do próprio corpo. O choque do lado de fora passou. Os demais piratas foram socorrer seu capitão.

Morpheus aproximou-se da porta da cabine e os seus olhos negros encararam o rosto de Amon.

— Onde está a menina? — esbravejou ele.

Confuso, Amon socou a cabeça e acordou Willy. O gordo abriu os olhos e deparou-se com a terrível cena de cadáveres na frente de seus olhos. Ele tentou fugir, mas, mesmo ferido, Amon ainda o agarrou e ameaçou.

— A menina, me conte! Onde ela está?

— A menina... — Ao ver a lâmina do sabre na frente dos olhos e a terrível expressão de Amon, ele fraquejou. — Truman! O meu navegador levou ela.

— Seu idiota! Ele levou a garota para onde?!

— Jaisen! Ele só poderia levar ela para lá.

Ao terminar de escutar, Amon pegou o homem e arremessou contra uma parede.

— Recuem! Não podemos vencer esse monstro. — Os piratas ficaram duvidosos por um momento, mas, ao ver o estado deplorável de Amon, decidiram seguir as ordens. 

Morpheus viu tudo com olhos vazios, pois ainda lutava contra a massa negra. Ele colocou a mão na borda da porta e quebrou a madeira com um único aperto.

— Monstro! — exclamou Amon. — Eu vou pegar aquela garota e vamos nos encontrar de novo! Ouviu! Monstro!

Os piratas recuaram para o navio deles e logo soltaram tudo o que os prediam ao pequeno veleiro. 

— E-eu... não vou deixar — murmurou Morpheus. Reunindo uma grande quantia de mana, ele preparou o seu contra ataque.

Amon percebeu o ataque iminente e ordenou

— Atirem! Usem tudo!

O cheiro de pólvora no mar aumentou em uma grande quantidade, até os marujos conseguiam sentir o cheiro. Uma dúzia de canhões foram apontados para o navio veleiro e estavam prestes a ser disparados.

De dentro da cabine, ele manipulou uma quantidade de mana extremamente densa, era visível a olho nu, um nível de mana ainda maior do que o usado por Ângela para sobreviver a queda de milhares de metros. Os marujos conseguiam até mesmo ver a mana.

Ventos fortes sopravam, tão poderosos que faziam com que os homens nem acreditassem que estavam no tranquilo Mar do Limbo. Essa sensação não foi sentida apenas pelos marujos, os piratas também tremiam presenciando aquilo. Vendo de fora, o evento era ainda mais aterrorizante, uma massa vermelha de sangue se formou nos arredores do navio, tornando até mesmo maior que o próprio navio pirata.

Suor cobriu o corpo de Amon, mas o sorriso em seu rosto não diminuiu. 

— Preparem-se bando de idiotas! Eu acabei de enfurecer o monstro! — Mesmo ferido Amon não perdia sua loucura. — Atirem com os canhões! Descarreguem tudo!

Assim como ordenado, todos os canhões dispararam em sequência. 

Morpheus estava com uma profunda raiva, ele gostaria muito de usar todo aquele poder para afundar o navio pirata, contudo, precisava proteger Ângela e os marujos, mesmo não se importando com eles.

“Eu vou cumprir com meu acordo Ângela, você está me devendo dois favores agora.”

O vermelho percorre tudo, ele controla a vida e a morte. O sangue é o escudo que protege a alma dos aliados, ele é a fonte da vida que domina o coração dos fracos. O Líquido vermelho enviado pelos céus para proteger todos. Em meio ao Carmesim, eu me ajoelho. Desejo que esse poder proteja a todos. Magia de sangue de nível nobre: Escudo do nobre vermelho!

Toda a mana e o sangue dos homens que matou se condensaram acima do navio, criando uma enorme esfera vermelha escura, era aterrorizante presenciar tal cena.

Os canhões dispararam, as bolas de ferro voaram em alta velocidade para se chocar com o casco do pequeno navio, porém o choque não ocorreu.

A esfera de sangue criou uma enorme cúpula ao redor do pequeno navio, nenhuma das bolas de fogo sequer chegaram perto de acertar o mesmo, todas chocavam-se contra o escudo de sangue, perdiam velocidade dentro da densidade de sangue e caiam, vermelhas, dentro do mar.

 

Outra sequência de tiros foi disparada, mas a barreira permaneceu inteira. Após mais meia dúzia de sequências de tiros os ataques pararam.

— Atirem! Seus desgraçados, onde estão os tiros?! — esbravejou Amon.

— As balas de canhão acabaram — contou um dos piratas.

— Droga, recuem para ilha Jaisen. Eu vou atrás da menina e poderei reencontrar com o monstro!

O navio pirata virou seu curso na direção da ilha Jaisen, após mais alguns minutos, Morpheus que tinha sangue e suor escorrendo de várias partes do corpo soltou seu controle sobre a mana.

Um pouco tonto e tropeçando em seus próprios pés, ele se apoiou na mesa que estava na cabine.

A esfera de sangue se desfez, uma boa parte do sangue caiu no mar, mas uma quantidade razoável cobriu todo o navio e seus marujos de vermelho. O sangue era tão denso que era difícil até caminhar no navio.

“Apesar de todo esse barulho você continua dormindo...”, pensou Morpheus olhando para Ângela que continuava a dormir tranquila.

— Agora o mais importante, onde que a Sienna foi parar...



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